8c4b21a3733515fbb46b8c7754dd5bfb20dc3c63.jpg__0x529_q85_upscale

Análise: The Crew

A Ubisoft teve este ano quatro grandes lançamentos, estando este jogo, The Crew, entre eles. As coisas não correram bem com todos os lançamentos e este jogo de condução esteve debaixo da mira de todos depois de uma série de testes Beta que não impressionaram ninguém. Vejamos o que a Ivory Tower, cuja equipa possui experientes membros de projectos de sucesso no passado, nos trouxe neste novo título. 

Que saudades tenho da liberdade de exploração de Test Drive Unlimited ou da capacidade de personalização de carros, provas improvisadas e fuga à polícia dos primeiros (verdadeiros) Need For Speed. Não é por mero acaso que The Crew nos parece tão familiar. A equipa da Ivory Tower é composta por ex-membros das equipas originais tanto de TDU como NFS. Nota-se no seu ADN algumas das melhores ideias destes jogos de condução, repensadas em The Crew. Outros jogos foram claramente inspiradores para algumas lógicas. Conseguimos notar algumas coisas que nos lembram Forza Horizon, como as corridas off-road sem pista definida, por exemplo.

Confesso que durante a fase Beta tive algum receio do produto que iríamos ter em mãos. O motor gráfico era estranho (para não dizer deficiente), haviam inúmeros problemas de crashes e perdas de ligação ao servidor, além de físicas nos automóveis e a própria condução ficar aquém do espectável. Felizmente, parece que a Ubisoft aprendeu com os problemas que surgiram em  AC Unity. Um exemplo disso foi o lançamento suave do excelente Far Cry 4. Resta-nos pegar no volante deste The Crew e ver se as Betas e respectivas chuvas de reclamações dos testers surtiram efeito.

https://www.youtube.com/watch?v=bDiplfxeCI4

A promessa deste jogo é algo complicada de cumprir: Juntar num gigante mundo aberto diversos tipos de provas em que podemos concorrer a solo ou em modo cooperativo até quatro jogadores, de modo a escalar uma tabela de liderança e resolver um crime pelo meio. Sim, leram bem, a personagem deste jogo não se resume a ser um rockabilly que gosta de fazer curvas em slide a fugir à polícia. Aprendemos no início do jogo que Alex Taylor está sob custódia do FBI de modo a ajudar esta organização policial a resolver um crime e tramar um agente corrupto. Para isso, tem de ganhar reputação nas ruas como condutor, se quiser infiltrar-se nas fileiras da organização 510 e interferir com as guerras de facções. O objectivo é chegar ao topo, desafiar o assassino do seu irmão e revelar o agente do FBI corrupto que tenta incriminar Taylor.

Começa a ser uma constante que as histórias dos jogos sejam cada vez menos interessantes e a apostar mais na acção que no enredo propriamente dito. Mas… hey! É um jogo de condução! Até é de louvar que a Ubisoft insira aqui um pouco de história para justificar toda esta condução aleatória e a escalada pelo topo da tabela. Se é um enredo meramente acessório? É! Mas a actuação do actor Troy Baker e o restante excelente voice-cast, confere envolvência e dá-nos vontade de continuar para revolver a trama.

Nestes Estados Unidos recriados na sua inteireza, embora numa escala muito menor, é fantástico percorrer as autoestradas entre Estados e experimentar a diferenças de paisagem e tráfego. Percorrer costa a costa, por exemplo, terá uma duração aproximada de duas horas. Isto se não pararem pelo caminho para apreciar pontos de interesse ou fazer uma prova. Entre o “free roam” e os eventos ou provas, porém, a escolha é difícil. É muito divertido pegar na nossa crew e partir à descoberta mas são as provas fixas que conferem pontuação, que nos ajudam a progredir no ranking e a obter veículos ou peças novas.

Desde simples drag-races onde ganha o veículo com mais cavalos até provas de ponto a ponto, passando por competições de slalom ou até “takedowns” de outros veículos, terão de ganhar perícia na condução de estrada ou fora dela, em diferentes veículos e diferentes pisos. Tudo isto com a polícia a aparecer nos piores momentos para apimentar a dificuldade. Dentro e fora das provas, já agora, cada perícia, como curvas em slide, andar em contra mão evitando o tráfego, ultrapassagens perigosas, etc, somam-se para criar pontuação em cadeia.

Mas o foco mesmo, está nos veículos. Com tanta estrada para percorrer, há veículos para todos os gostos, devidamente licenciados. Não estão com níveis “dementes” de detalhe como no já mencionado Forza, mas cumprem. E a personalização é qualquer coisa de surreal. Imaginem um Porsche 911 transformado para todo-o-terreno… agora imaginem uma prova em que terão de competir com uma Ford pick-up transformada para velocidade… Classes? Para que serve isso? Na verdade podemos apenas escolher um único veículo e percorrer todo o jogo com o mesmo, independentemente do tipo de prova. O nosso SRT Challenger vermelho-cereja, por exemplo, já fez provas de performance, street e dirt com um só clique nas transformações. De muscle de Detroit a lamacento, ou pinoca do tuning, à distância de um dedo. Interessante para quem gosta de pintar o carro muitas vezes e para quem quer modificação extrema no seu bólide, péssimo para os puristas. Claro que todas estas alterações conferem diferentes tipos de condução… em teoria…

E é mesmo a condução que é o problema. Ironia das ironias, já que este é um jogo de… condução. A suspensão e direcção de qualquer veículo neste jogo é deplorável. Parece que estamos a conduzir carrinhos de choque na feira, até porque quando estes embatem o efeito de impacto assemelha-se a borracha. Pior que tudo isto é que mesmo um veículo de elevada transformação sofre do mesmo, não interessa quais os upgrades que adicionemos. Dentro ou fora de estrada, basta dar mais ou menos travão, mais ou menos direcção e parece que estamos a conduzir sobre água, seja qual for o tipo de pneus que usemos e quer sejam ou não apropriados para o piso. E nem quero falar de como bater num lancil de passeio vos desacelera, independentemente do tipo de suspensão ou pneu que tenhamos. As curvas são inexplicavelmente difíceis de abordar e basta um pequeno erro e somos ultrapassados pela AI demasiado perfeita, acabando em sexto ou sétimo lugar num ápice. Por outro lado, o facto do jogo ser permanentemente online cria alguns erros de sincronismo que só pioram a fraca condução.

No já mencionado modo “Takedown“, por exemplo, temos de embater contra outro veículo para o inutilizar. Ora, se estamos com falhas de sincronismo, o veículo adversário irá aparecer aos soluços, mas mesmo que não o faça, as fracas físicas de condução vão tornar esta missão um fracasso na maioria das vezes. Outro exemplo são as provas de velocidade em que, ao atingir velocidades elevadas, qualquer manobra tem de ser feita com cuidados redobrados. Com uma guinada menos bem conseguida perdemos os controlo, uma travagem mal calculada perdemos o controlo, uma ultrapassagem mais “à queima” perdemos o controlo… Esperem reiniciar muitas corridas, digo-vos.

Se forem como eu, é muito possível que queiram conduzir estes jogos dentro do carro com o tablier. Mas rapidamente irão querer usar uma das câmaras fora do veículo. Tive de usar a câmara de capot porque ou nas provas de dirt a vegetação me tapava a visão ou os impactos e inércias me tiravam a visão da estrada. Até porque, assim, apreciam a visão exterior e a beleza do cenário, certo? Certo? Bom…

Digamos que The Crew podia muito bem ter sido lançado há uns 5 anos atrás e ninguém tinha dado o seu dinheiro por mal empregue. Não me entendam mal, notem que o jogo possui bons gráficos e efeitos visuais, apenas não deslumbram e parecem datados. Desde a Beta que achei que o grafismo ficava muitos furos abaixo do que se consegue hoje em dia. Na versão que analisei, a da Playstation 4, não senti que este jogo estivesse a puxar pela capacidade gráfica da consola. Há diversas questões de optimização que deviam ser revistas, como algumas texturas e efeitos pouco impressionantes e a modelação de objectos com baixos polígonos tornando-os facetados. Estou certo que a Ivory Tower teve em conta que estamos a falar de um mundo massivo, o qual sem optimização se tornaria impraticável, mas se esse é o compromisso a fazer, pelo menos um pouco mais de trabalho nas texturas era bem vindo.

Então mas onde é que este jogo vale a pena? Na componente social! Seja jogar em modo cooperativo com amigos ou em matchmaking, The Crew brilha quando é jogado online. Apesar do seu interface intrusivo e cheio de notificações confusas, entrar numa missão pode ser feito a solo ou em Co-op e existem inúmeras provas competitivas para entrar. O que é mais divertido é passar missões com a ajuda de amigos e usar o voice-chat para trocar impressões. Até quatro elementos podem compor a nossa equipa, cada um com o seu veículo personalizado. Espalhar o caos, bater recordes e fugir à polícia é mais divertido acompanhado.

Veredicto

The Crew tinha todos os ingredientes para ser um título arrebatador. Boas ideias, embora nenhuma realmente original, bom conceito de cenário de mundo aberto semi-realista, boas ideias de provas transversais na estrada e fora dela, ambiente online e em comunidade… Mas, quando se tenta juntar tudo o que existe, ou existiu, num só pacote, é normal que não se aprimore tudo convenientemente. The Crew não tem especialidade. Ora tenta ser um Need For Speed, ora tenta ser um Test Drive Unlimited, ora pisca o olho a Forza, ora sai da estrada embatendo contra uma árvore. Um projecto deste calibre demoraria anos a concretizar com qualidade. Por agora, é um divertido jogo para jogar com os amigos, explorar o mundo aberto e criar aberrações automobilísticas… se não esbarrarem na parede…

  • ProdutoraIvory Tower
  • EditoraUbisoft
  • Lançamento2 de Dezembro 2014
  • PlataformasPC, PS4, Xbox 360, Xbox One
  • GéneroCondução
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Condução precisa de aprimoramento
  • Grafismo é algo datado
  • Não se consegue definir no género

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários