Análise – Tennis World Tour 2
Ao longo dos anos, paralelos aos demais deportos singulares e colectivos recriados em videojogos, o Ténis tem sido dos géneros mais populares e divertidos de jogar. Mas, nem sempre tivemos bons jogos, capazes de nos dar verdadeiro controlo na raquete. Tennis World Tour 2 é uma importante tentativa dos Big Ant Studios nesse sentido.
Tudo depende, claramente, do conceito e abordagem a este tipo de jogos. Algumas séries apostavam na perícia ou no efeito da bola. Outras apostavam mais na estratégia de posicionamento. Na verdade, todos estes elementos contam, idealmente integrados num jogo que saiba conjugar tudo isso numa jogabilidade capaz. Quem sabe o pior elemento dos jogos de ténis que não deixaram grande memória, será mesmo a complexidade no controlo da raquete. Alguns jogos dificultaram tanto e outros simplificaram demais. É que no desporto real, a posição, movimento e ângulo da raquete é extremamente importante para garantir a orientação, efeito e força da bola. Mas, também é preciso que se evitem complexidades de controlos e teclas a bem da paciência do jogadores. Como é que isto se traduz num videojogo? Bom, Tennis World Tour 2 tem aqui algumas boas ideias.
Se bem se recordam, este não é o primeiro jogo de Tennis deste ano vindo da Nacon. Nem sequer é o primeiro jogo deste desporto dos Big Ant Studios. No início do ano tivemos também o apreciado AO Tennis 2. Na altura, dissemos que era “uma evolução técnica nesta sucinta série, aprendendo com os erros do seu antecessor”. O que foi uma importante avaliação, mesmo considerando que “a concorrência também não é grande”. Do que mais gostámos nesse outro jogo foi, de facto, a inclusão do modo de carreira. Contudo, a jogabilidade é que poderá ser um dos seus maiores destaques, trazendo-nos uma interacção verdadeiramente equilibrada e, não sendo perfeita, bastante agradável.
Ora, não é de estranhar que Tennis World Tour 2 herdasse alguns dos pontos positivos de AO Tennis 2. Esse outro jogo era focado no Open da Austrália e este é focado no circuito mundial do campeonato nesta época. De resto, todo o empenho em criar um jogo realista e cheio de vontade em ser superior ao seu antecessor, está aqui também. Apesar do esforço da produtora Breakpoint Games com o primeiro jogo desta franquia, não faltaram reservas nesse jogo. Já nem falo no inexplicável atraso na inclusão dos modos multi-jogador. Mas, este jogo foi um “projecto inicial de uma produtora algo desconhecida” que se tornou “demasiado ambicioso”, “visualmente mediano e sonoramente fraco”. Onde falhou mesmo foi na “jogabilidade que está muito longe de ser a ideal”. A Nacon ouviu os fãs, felizmente.
Não vamos já partir do suposto que Tennis World Tour 2 é perfeito. Mas, de facto, há aqui uma evolução clara no design e na interacção. Falando primeiro da jogabilidade, que é o que mais interessa, finalmente parece que estamos no bom caminho. Algo que me faz recordar a mítica série Top Spin, é a posição e o tempo certo de toque na bola, em que temos de lidar com a precisão no toque e com a força com que rematamos. Temos à escolha formas de tocar na bola (flat, top spin ou slice) e temos coordenar esse timing para o melhor toque possível. A opção dos “tiros” mais fortes (power shots) necessita de ainda maior precisão mas a recompensa é fantástica. Sobretudo naquele remate forte e indefensável para o canto do adversário.
Não é um sistema perfeito, notem. Vai frustrar os menos pacientes e nem sequer temos alguma forma de controlo alternativo. É francamente penalizador enquanto não entram no ritmo e uma pequena falha no tempo a falhar completamente o voley. Dão efeito ou força a mais e a bola sai do campo. Força a menos ou efeito fora de tempo e podemos, literalmente, entregar uma bola fácil ao adversário. Honestamente, depois de entrar no ritmo, adorei cada momento mas, até lá, achei que o jogo era simplesmente demasiado exigente nestes timings. E estes são erros não forçados ao jogador. Ainda teremos de contar com os golpes e contra-golpes dos adversários a forçar o nosso deslize.
Uma vez dominada esta técnica, chegamos ao ponto de nos debatermos com os melhores do mundo. Tal como no desporto real, não é qualquer um que chega ao topo do ranking mundial, por isso, não esperem facilidades. Há uma clara linha de evolução que notarão, consoante vão dominando a posição e os tempos certos que menciono acima. Começamos por perder muitos jogos, depois começamos a ganhar sets e, a dada altura, já estamos no tal jogo de atrito à procura do primeiro erro de um dos lados. É quando conseguimos contrariar este atrito e fazemos um golpe mais preciso que surpreende o adversário, que começamos a ganhar mais sets e inteiras partidas. E, então, estamos viciados.
Para ajudar na jogabilidade, a produção empenhou-se para criar todo um novo lote de animações e efeitos que emanam a devida credibilidade. É, assim, possível prever golpes e movimentos do adversário, consoante a sua linguagem corporal e posição da raquete, algo que os melhores jogadores do mundo aprendem a interpretar. Contudo, ainda há muito para fazer aqui. As transições nestas animações precisam de uma revisão urgente, porque, por vezes, os movimentos parecem “cortados” ou simplesmente estranhos. Também as físicas da bola parecem um tanto imprecisas por vezes, com a bola a “decidir” para onde vai.
O modo de carreira continua a ser a melhor forma de jogar este tipo de jogo. Com a experiência da produção em AO Tennis 2, este modo está ainda melhor. Voltamos a ter uma agenda preenchida, com gestão de carreira extensiva e com muito para fazer entre partidas, treinos, gestão de lesões, etc. Continua a ser uma espécie de jogo de estratégia, adicionando uma divisa em jogo para comprar habilidades e bónus para dar uma mais valia em campo. Obviamente, alguns destes bónus removem o necessário realismo e podem ser algo complexos, como qualquer “jogo de cartas” inspirado no “rei” FIFA Ultimate Team. Mas, entendo que muitos jogadores encontrarão aqui mais um ingrediente viciante.
Achei apenas que os itens que desbloqueamos na evolução são um pouco desinspirados. A personalização do jogador está limitada até que desbloqueemos peças de vestuário ou equipamento mais interessante. Entendo que a produção quisesse que “joguemos mais” para “termos mais” mas, não faria mal nenhum temos mais cosmética no arranque do modo de carreira. Provavelmente, o jogador mediano escolhe uma indumentária e assim se ficará para o resto da carreira. Quando finalmente desbloquear aquela fatiota gira, já nem terá interesse nela. É isso que digo que é desinspirado.
Visualmente, Tennis World Tour 2 consegue também evoluir. Já falei como as animações dos jogadores são bastante realistas, por exemplo, mesmo com algumas falhas nas transições e nas físicas. Graficamente, porém, ainda não é desta que vai ganhar grandes prémios de realismo. Os jogadores em campo têm um certo “quê” de banda-desenhada que não consigo ultrapassar. E jogando numa PlayStation 4 Pro (versão analisada), não consigo compreender como a definição da imagem é tão baixa, criando alguns efeitos indesejados de desfoque em texturas e objectos. Não é que “fira” os olhos, notem, mas esperava melhor, confesso. Mas, hey, qualquer coisa é melhor que o aspecto do último jogo desta franquia.
E temos de falar de como este título está disponível para compra. A versão base pode ser aquirida por um preço relativamente baixo de 49,99€. Mas, nessa versão não terão hipótese de disputar o torneio de Roland Garros… só o torneio mais importante do circuito Europeu. É algo que eu não consigo entender, na verdade. Se quiserem jogar todos os torneios e ainda receber alguns bónus, terão de adquirir a Edição Ace que inclui o passe anual de conteúdo e custa… 69,99€. Ou seja, a versão base não parece fazer qualquer sentido, é só mesmo uma versão delapidada a preço reduzido. Qualquer fã de ténis quererá jogar em Roland Garros, optando pela versão a preço normal.
Por fim, o infame modo multi-jogador. Se bem se recordam, até já toquei nesse ponto lá em cima. O anterior Tennis World Tour, apesar de anunciado como tendo modos multi-jogador no arranque, só os adicionou mais tarde numa actualização. Por essa altura, o mal estava feito, como devem imaginar. Felizmente, jogar online nesta sequela é possível e as partidas online são devidamente competentes. Nas partidas que joguei, não notei problemas de lag ou algo do género, o que foi positivo num jogo de desporto. A adição das partidas de pares até quatro jogadores é uma excelente ideia, já agora.
Veredicto
Depois de uma arrancada “em falso”, nas mãos dos Big Ant Studios esta série está no bom caminho para nos trazer o derradeiro jogo de ténis que há tanto tempo reclamamos. Ainda não podemos dizer que Tennis World Tour 2 encontrou a fórmula perfeita, é certo. Mas, a sua jogabilidade viciante, baseada no tempo e posição certa e a sua clara evolução de conteúdo, dão boas razões para finalmente voltar aos courts a tempo inteiro. Tenho reservas no visual ainda pouco refinado e também no modelo de negócio escolhido pela Nacon. Ainda assim, admito que é uma excelente reviravolta positiva numa série que parecia banal (sendo simpático).
- ProdutoraBig Ant Studios
- EditoraNacon
- Lançamento24 de Setembro 2020
- PlataformasPC, PS4, Xbox One
- GéneroDesporto
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Jogabilidade mais refinada e viciante
- Uma clara evolução do último jogo
- Modo de carreira com muito para fazer
- Algumas transições nas animações
- Visualmente ainda precisa de trabalho
- Versão base sem Roland Garros
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.