syndrome

Análise – Syndrome

Depois do fantástico jogo Mechs and Mercs, a produtora Portuguesa Camel 101 mudou de género. Arriscou em criar um Survival Horror com claras referências aos melhores jogos de terror que já tivemos oportunidade de jogar. Syndrome é o seu nome.

Anunciado em 2014, este é um jogo de sobrevivência na primeira pessoa com elementos de terror bem ao estilo de System Shock 2, Alien: Isolation e até mesmo Dead Space. Contudo, consegue interligar o melhor de cada um desses títulos de forma exemplar. Um ano depois do seu anúncio, em 2015, passou a estar integrado no programa Steam Greenlight. Entretanto, acabou lançado para PC no mês de Outubro de 2016, onde permaneceu por um ano até ser lançado também para as consolas. Finalmente, tivemos acesso à versão para PlayStation 4 e é essa que vamos falar hoje.

Os acontecimentos de Syndrome têm lugar no interior da Valkenburg, uma nave espacial que está à deriva devido a algo que correu mal e acabou por matar a maioria da tripulação. O jogador tem controlo sobre um dos sobreviventes que acorda com amnésia da criogenia e rapidamente percebe que algo está errado. O objectivo principal passa por descobrir o que aconteceu e fazer o que for possível para sobreviver a este pesadelo. O resto da história é contado através de logs, que preenchem todas as lacunas da trama, um ponto muito característico de System Shock 2 e outros jogos inspirados por esse clássico.

Para o nosso auxílio, existem duas personagens adicionais, a Neomi que trabalha com os militares e pede a Galen para se dirigir até ao seu local para a ajudar. Mais tarde, um misterioso técnico chamado James Marko avisa-nos que não podemos confiar em Neomi, que tem vindo a disparar contra qualquer sobrevivente para conter a situação. Este sugere a Galen voltar a ligar a energia da nave para que se possam deslocar para um sistema populado e pedir ajuda. Em qual destas personagens devemos confiar? O que é que realmente aconteceu à tripulação?

Este título é muito centrado no terror psicológico. O protagonista, Trent Galen, dá por si com várias alucinações, nunca percebendo o que é real e o que não é. Mas, uma coisa é certa, grande parte da tripulação está morta. Ao longo do caminho dei de caras com corpos pendurados e outros mutilados pelo chão. Contudo, a parte mais assustadora do jogo está no seu ambiente. Com uma atmosfera sombria e sons de arrepiar até os mais corajosos.

As acções do protagonista não estão limitadas a correr e esconder, podendo também envolver-se em situações que requerem alguma coragem para enfrentar os inimigos. Contudo, as armas disponíveis e as munições são muito limitadas. E esses inimigos, apesar de algo tímidos ao início, começam a ser numerosos lá mais para a frente. E, tendo em conta que os recursos são limitados, obrigam-nos na maior parte das vezes a recorrer à célebre estratégia de fugir para nos mantermos vivos. Bem ao estilo de Alien: Isolation. 

Em termos de mapas e de exploração dos mesmos, a Valkenburg está dividida em oito sectores por onde irão passar frequentemente e, infelizmente, revisitar cada um deles para completar os objectivos. Esta lógica torna o jogo muito monótono e chega mesmo a quebrar a narrativa, fazendo parecer mais um jogo de recados entre diferentes pontos, do que o jogo de sobrevivência que prometia ser. Esta questão deixou um pouco a desejar em relação à variedade e pareceu-me um subaproveitamento de algumas situações que o jogador poderia experimentar.

Sim, sei que não se trata de um shooter convencional e que o ritmo do jogo é mais lento do que os habituais jogos de acção, focando-se mais na exploração. No entanto, como já disse, a quantidade de vezes que tive de voltar atrás para sítios que já tinha passado outra meia dúzia de vezes, quebrou imenso o meu ritmo de jogo. Para não falar nas quantidades de vezes que fiquei literalmente preso no cenário. Numa delas, ao abrir um cacifo, a porta por qualquer razão, decidiu empurrar-me, ficando entre ela e uma mala de ferramentas. Resultado: tive de reiniciar o jogo. Tendo em conta que os saves são manuais, foi uma situação algo frustrante, como devem imaginar.

Quanto a recursos, é preciso um equilíbrio ou a jogabilidade pode frustrar muita gente. Os kits de emergência e as armas são tão escassos como os sobreviventes desta nave. E quando finalmente encontram um destes recursos, irão deparar-se com um sistema de acção datado. As armas não têm um comportamento satisfatório e o combate corpo a corpo parece-me mais uma questão de sorte. E os inimigos demoram imenso tempo para serem eliminados, seja qual for a arma usada. Claramente, devem apostar na acção furtiva e evitar o contacto directo o mais que puderem.

Como já disse, os saves são manuais e recorrem a umas máquinas onde podemos gravar o nosso progresso, algo que me lembra bastante, tanto Alien: Isolation como o clássico Dead Space. Isto significa que os saves não podem ser feitos através do omnipresente menu, nem existem checkpoints automáticos. Esta constante necessidade de gravar o progresso em máquinas específicas para o efeito, adiciona mais alguma tensão no jogo.

A nível visual, nenhum jogo deste calibre sobrevive se não for minimamente credível. Apesar do grafismo de Syndrome não ser “o último grito” da tecnologia, está muito bem conseguido e a atenção aos detalhes é muito grande. O uso das luzes e das sombras é de assinalar, principalmente porque o jogo se passa apenas dentro de uma nave. Apesar de, a dada altura, terem uma sensação de que as salas e os corredores são todos iguais, a iluminação inteligente consegue sempre realçar alguns detalhes do cenário.

O uso dos sons, como qualquer jogo de terror, tem um papel muito importante e a atmosfera criada pela Camel 101 é genial. Só o facto de nos momentos de menor acção, conseguirmos ouvir todos os sons de fundo é suficiente para ficarmos irrequietos. O mais interessante é que a Inteligência Artificial dos inimigos é capaz de ouvir os nossos passos ou portas a abrir ou até um simples tossir de Galen quando passa por condutas de ar. Por este motivo, os efeitos sonoros são um dos pontos que mais gostei neste título.

Antes de terminar esta análise, devo ainda mencionar que este título é compatível com os dispositivos de Realidade Virtual, tanto com o Steam VR, como também o Oculus Rift e PlayStation VR. Contudo, a jogabilidade oferecida neste modo VR não se trata do jogo na íntegra, mas apenas de um modo Survival. Este modo único coloca-nos a enfrentar várias ondas de inimigos até ao final inevitável. Tendo em conta que não fiquei particularmente fã do sistema de combate, este modo não me seduziu muito.

Veredicto

Syndrome faz-me lembrar a popularidade de títulos no seu género como Amnesia ou Slenderman que também tiveram as suas falhas, mas que reuniram bastante popularidade. A atmosfera está entre as melhores que já joguei, principalmente devido aos efeitos sonoros. Como tal, deve ser jogado por qualquer amante de jogos de terror. Afinal de contas é um jogo que cumpre o que promete: ser uma experiência claustrofóbica, assustadora e muito tensa. Apenas devem fugir bastante e não esperar muito do combate directo.

  • ProdutoraCamel 101
  • EditoraBigmoon Entertainment
  • Lançamento6 de Outubro 2017
  • PlataformasLinux, Mac, PC, PS4 Pro, PSVR, Xbox One
  • GéneroSurvival Horror, Terror
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Sistema de combate
  • Exploração repetitiva
  • Alguns bugs frustrantes

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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