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Análise: Stellaris

No ano 2200 a Humanidade pode já nem existir. Mas, se ainda cá andarmos, talvez o futuro se pareça com Stellaris. Será que um dia vamos discutir os destinos da nossa Galáxia com outras civilizações? Será que vamos colonizar, guerrear ou negociar noutros planetas? Para já, vamos, mas só durante esta nossa análise a este novo jogo da Paradox Interactive.

Já não há muito para inventar nos jogos de Real Time Strategy (RTS). A estratégia em tempo real só pode ser aprimorada a nível visual e ter algumas mecânicas inovadoras. De resto, o género está bastante definido por outros títulos dominantes no mercado. Mesmo assim, a Paradox quis lançar um jogo complexo dentro da sua simplicidade aparente, cheio de actividades paralelas para nos manterem ocupados. Resta só saber se a formula resulta, sobretudo num mercado algo saturado de jogos de estratégia espacial.

Tirando proveito do ADN dos jogos de estratégia em carteira (Europa Universalis, Crusader Kings) da Paradox, Stellaris é um jogo com uma enorme curva de aprendizagem. Não é por mero acaso que terão uma inteira página Wiki inserida no menu de ajuda. Tudo tem de ser lido, na verdade, para não estragarem a vossa evolução e serem avidamente destruídos por uma civilização alienígena. Na verdade, o jogo até tem uma opção de tutorial dando descrição de alguns passos com áudio. Mas não podem somente cingir-se por aí. Porque razão estou eu a perder dinheiro? Porque não posso construir uma base ali? Porque não posso entrar nestes outros sistemas? Porque estou a ser atacado por esta civilização?

Confesso que esta curva acentuada de dificuldade me deixou frustrado. Não esperava que fosse simples, mas também não esperava que não houvesse uma espécie de nível de introdução para me explicarem as mecânicas todas antes de me “lançarem aos lobos”. Para dizer a verdade passei muitas horas a ler a tal página de Wiki do jogo a tentar perceber, por exemplo, o que raio são aquelas linhas tracejadas ou como expandimos as nossas nuvens coloridas em volta de um sistema planetário. Ao que parece, o jogo pretende mesmo que sejamos tal e qual os pioneiros da exploração espacial que o jogo retrata: completos ignorantes que precisam descobrir a custo tudo o que há de novo na Galáxia.

Não me julguem mal. Eu adoro um bom desafio. Ao fim de duas horas, com duas civilizações completamente devastadas, uma por invasão extraterrestre outra por revolta popular entre planetas do meu império, lá consegui estabilidade. E o que descobri nesse périplo foi um jogo incrivelmente complexo e ramificado, com inúmeras interações em simultâneo. Basicamente, tentei seguir os alvos de missão e do tutorial, cumprindo cada passo da evolução. Questões militares, científicas, políticas e até sociais precisam ser abordadas. Para isso, o jogo possui uma panóplia de menus de fácil acesso (no menu do topo superior ou nas teclas “F” do teclado) para decidir quem nomear para os cargos, quais as políticas a seguir, configurações da frota, desenvolvimentos científicos, diplomacia, entre outras.

Mas é no ecrã principal que a acção se desenrola. Apesar de parecer meramente 2D, o mapa principal é tridimensional e apresenta duas configurações: Do sistema solar actual ou da galáxia inteira. O objecto, como é lógico, é conquistar e explorar sistemas, por construir bases em planetas habitáveis ou em postos de controlo. Podemos fazer toda a gestão nós próprios, gerindo exploração, políticas e recursos de cada base, ou criar sectores para que cada área se gira a si própria. Contudo, a estratégia militar, diplomática e expansionista é sempre nossa.

Acontece que o jogo pode ser muito injusto e imprevisível. Aqui estamos nós, recém-chegados para expandir o nosso império e cedo as civilizações alienígenas começam a fazer o mesmo. Como tudo exige dinheiro (minérios) e energia, estamos limitados ao que podemos fazer ao início. Um mísero planeta-base (também ele precisa de investimento), uma frota militar patética e fronteiras cada vez mais próximas. Precisamos construir postos de fronteira para expandir a nossa influência, mas são caros e possuem elevados custos de manutenção. Então vamos minerar os vastos planetas em redor. Mas há piratas que atacam as nossas naves. Então vamos enviar naves militares. Mas há civilizações que se irritam com a presença militar e declaram guerra. Tudo está num ténue fio de equilíbrio ao início.

Mas depois de tudo isto dominado, vem ao de cima o grande potencial de Stellaris. A partir do momento que começam a negociar com outras civilizações, conquistam sistemas pela lei da força ou exigem vassalagem de um sistema menor, começamos a ver que afinal até é simples. Deixamos a gestão dos sistemas para o seus governadores regionais e concentramos o foco na expansão. A Galáxia é mesmo nossa… até encontrarmos alguém que se oponha e esteja mais avançado. Aí fazemos um tratado de paz, aguardamos que a nossa frota se componha e voltamos à carga.

Jogabilidade evolutiva à parte, o interface é também uma parte integrante de um bom RTS. Como já mencionei, há menus para interagir e passaremos uma boa parte do tempo a olhar para números de investimento, capital e perdas, além de interagirmos com outras civilizações. Confesso que algumas mecânicas foram e, de certa forma ainda são, algo confusas e pouco intuitivas. Há opções que não fazem sentido, como não poder negociar a paz quando uma civilização é notoriamente mais poderosa e sei à partida que não tenho hipóteses quando declara guerra. Ou em contraste, quando entrei numa Aliança e não podia declarar guerra a civilizações hostis. Não faz sentido e espero que a Paradox se aperceba disso.

Também é importante que um bom RTS acompanhe a acção com boa arte visual. Aqui não vão ficar desapontados. Apesar do jogo nem ter muitas opções gráficas porque até nem é um colosso visual, possui uma agradável representação de modelos de naves, bases espaciais, sistemas planetários (desde sóis a pulsares com planetas em órbita, não esquecendo os buracos negros), tudo com efeitos visuais interessantes. As batalhas espaciais são visualmente intensas e do melhor que já vimos no género, dando vontade de pegar nos comandos e ir lá para o meio desancar invasores. Até mesmo a sua banda sonora é agradável e até chega a ser apaziguadora nos momentos mais frustrantes.

Veredicto

Como já disse, adoro um bom desafio. E Stellaris é mesmo isso: um desafio para aprender, um desafio para dominar e um desafio para ir mais além. Infelizmente, pode intimidar os recém-chegados. Demorei algum tempo para perceber muitas das lógicas e mecânicas, mesmo com um tutorial algo sofrível pelo meio. Mas, depois de compreendido, descobrimos um jogo visualmente agradável, que nos desafia constantemente, tendo até alguma imprevisibilidade. É possível chegarmos a um ponto de estagnação, mas nessa altura podemos apimentar relações e declarar guerras. Nada como um pouco de caos para aumentar a ordem e o progresso.

  • ProdutoraParadox Interactive
  • EditoraParadox Interactive
  • Lançamento9 de Maio 2016
  • PlataformasPC
  • GéneroEstratégia
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Curva de aprendizagem acentuada
  • Menus podiam ser melhores
  • Tutorial dispensável

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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