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Análise – Steel Division 2

Há sensivelmente dois anos, analisámos um pequeno grande jogo de estratégia em tempo real passado na Segunda Guerra Mundial. Na altura, Steel Division: Normandy 44 levou-nos a um gigante campo de batalha na frente ocidental da Normandia. Agora Steel Division 2 leva-nos para o outro extremo do vasto mapa deste conflito.

A frente oriental da 2ª Grande Guerra opôs as disciplinadas mas fatigadas forças Alemãs da Whermacht, apoiadas por uma relutante Finlândia, contra as indisciplinadas mas numerosas forças de defesa Soviéticas e a desesperada Polónia. Reza a história que foi nesta frente que se verificaram os confrontos mais vastos e violentos de todo o conflito. Nem só pelo conflito armado, note-se. Muitos foram os deportados, deslocados e chacinados pela fome, doença e holocausto. Dos quase 85 milhões de mortos nesta 2ª Guerra, 30 milhões perderam a vida nesta frente. E para muitos historiadores, foi aqui que a Alemanha Nazi começou a perder a guerra, enviando recursos e exércitos em demasia, não conseguindo, de facto, suprimir as forças Soviéticas, cujas práticas inumanas criavam exércitos numerosos.

Em Steel Division 2, estamos em plena Operação “Bagration”, em que a União Soviética está a tentar rechaçar a invasão Nazi do seu território na Bielorrússia. Aqui, a Alemanha enviou o seu 4º e 9º exército de infantaria e o seu 9º exército Panzer, apoiados por forças vindas da Hungria. Do lado Soviético… bom, foi colocado tudo o que se podia no terreno. O que levou a uma guerra de atrito e persistência, com muito improviso e emboscadas. Como já disse, os historiadores apontam para o desfecho desta batalha, uma enorme e quase definitiva vitória Soviética, como o princípio do fim da ofensiva na frente oriental da campanha Nazi.

Está dado o mote para Steel Division 2 que, assim, deixa as batalhas costeiras acompanhando a invasão de Americanos, Ingleses e Franceses, para dar lugar a esta luta quase desigual. Há muitas ocasiões em que o jogo nos coloca embatalhas quase assimétricas e que, de certa forma, contrastam bem com o jogo anterior. É que nesta frente, as divisões de Panzers foram muitas vezes confrontadas com infantaria sapadora do lado eslavo. E a luta entre “David e Golias” nem sempre pendia para o lado dos monstros de aço. Ainda assim, já sabem, neste jogo a história também se pode reescrever com vitórias improváveis. Por isso, não desesperem com os vossos tanques.

Sempre que falo num jogo que seja uma sequela, tento sempre fazer a ponte entre os dois títulos, confirmando também se devem ou não jogar o anterior antes de pegar no mais recente. E, regra geral, neste caso de jogos de combate com recriações históricas, não costuma ser necessário. Afinal, se querem seguir o “enredo” aqui, terão de pegar num livro de História. Contudo, há um outro motivo que me leva a aconselhar a que joguem (mesmo) o primeiro Steel Division antes deste. Confesso que já não o jogava há já algum tempo, desde o último DLC do ano passado, praticamente. Por isso, foi com alguma apreensão que vi que Steel Division 2 não tem qualquer tutorial disponível.

Ora, embora o jogo possua uma interacção francamente idêntica ao primeiro título, algo que nenhum veterano da série verá como negativo, qualquer recém-chegado (ou “enferrujado” como eu), terá sérias dificuldades em entender (ou recordar) as mecânicas. Embora o interface seja francamente intuitivo, existem imensas estratégias, comandos e atalhos que não estão prontamente descritos no ecrã, nem há qualquer informação ou dica nesse sentido. Apenas umas quantas novidades nos ataques são descritas aqui e ali. O que é francamente escasso. Se o primeiro jogo foi exaustivo no seu tutorial, algo compreensível num RTS, neste somos “largados aos lobos” sem uma única introdução à jogabilidade.

E, deixem que vos diga, há muito para aprender neste jogo. Entender teclas e comandos é absolutamente essencial, como devem calcular. A minha experiência foi um misto entre o primeiro título, onde regressei para passar novamente o tutorial e umas quantas batalhas Skirmish para tentar recordar das principais mecânicas. Também me aventurei pelas Batalhas Históricas para conferir como está o grafismo (que já falarei) e as diversas mecânicas nas batalhas de larga escala. E, sim, o multi-jogador está intacto, com as batalhas cooperativas ou competitivas (até 10 vs 10) em mapas igualmente enormes e cheios de caos. E até há um modo de jogo que tem imenso potencial.

Na verdade, é todo um novo “jogo dentro do jogo”. Army General é um modo de jogo de estratégia por turnos numa campanha dinâmica. Aqui, controlamos diversas as divisões (reproduções realistas, já agora) de toda a Operação “Bagration”, escolhendo uma facção numa estratégia de combate por turnos. Confesso que achei este modo algo limitado se só podemos comandar 3 divisões de cada vez, como os turnos me parecem algo reduzidos e como estamos limitados em tempo para concluir a ofensiva. Por isso, o tal potencial que falei acima, fica um pouco aquém. Há muitas questões de balanço de forças, com uma IA muitas vezes “emburrecida” ou suicida, por exemplo. E tenho de falar mais na IA…

Na acção directa em tempo real, não sei o que aconteceu desde o último jogo. A Inteligência Artificial do primeiro Steel Division foi até um dos meus destaques, bastante cumpridora, avançando e recuando de forma mais ou menos credível. Agora, não sei se tem a ver com o “desespero” do conflito real mas, de facto, a quantidade de tropas que são geradas e enviadas para as frentes pela IA são muitas vezes insanas e em catadupa, um contraste.

Se bem se recordam, neste jogo temos um sistema de “tickets” para gerar novas tropas. Depois, em grupo ou individualmente, podemos comandar estas secções ou esquadrões de forma pontual. Ora, a IA parece não ter estas mesmas limitações, chegando a saturar tanto o campo de batalha com unidades, que chega a nem sequer fazer sentido. Há alturas em que uma frente inteira é chacinada e só vejo mais unidades a chegar, sem que eu tenha a mesma cadência de unidades disponíveis.

E depois há momentos frustrantes em que a IA tem uma precisão enervante. Como no jogo temos uma espécie de “fog of war”, só vemos as unidades quando temos linha de vista. Se uma unidade se infiltrar numa floresta, por exemplo, perdemo-la. Ora, as unidades de artilharia da IA conseguem a proeza de nos alvejar sempre a largas distâncias e parecem ter munição quase infinita. E nem quero mencionar a precisão absolutamente insana dos aviões.

E tenho pena que, uma vez mais, o raio do temporizador da missão persista. Acabamos muitas batalhas com um empate, não porque não tivéssemos hipótese de reconquistar um dos dois objectivos do mapa, mas porque o tempo acabou. Vi imensas queixas online desta lógica, que tantas vezes nos inibe de desfrutar de uma vitória total num cenário. Ainda assim, a Eugen Systems manteve esta lógica estranguladora intacta no segundo jogo. Por um lado, infere uma certa dose de urgência na missão, por outro dá muitos empates (e até derrotas) de forma injusta. As batalhas reais não tinham data limite para terminar. O seu fim era ditado por uma vitória total, uma rendição ou uma retirada. Não havia lá ninguém a apontar para o relógio a dizer que a “guerra vai encerrar, por favor despachem-se”. Enfim.

Mas, nem tudo é negativo, felizmente. De facto, as qualidades do primeiro jogo foram perfeitamente exacerbadas aqui. E isto é manifestamente mais evidente no grafismo e sonoridade do jogo, onde nem faltam os diálogos em Russo ou Alemão. A secção no menu dedicada à visualização dos modelos das unidades, dá-nos um vislumbre da qualidade da recriação de unidades com rigor histórico. E em jogo, sim, também os efeitos visuais e sonoros nos dão grandes espectáculos, nesta nossa perspectiva aérea. Dá mesmo vontade de descer lá abaixo e tomar conta daquele Tiger II para o controlar. De facto, ainda hoje procuro um bom RTS como este que nos deixe “entrar” numa unidade e comandá-la na primeira pessoa. Quem sabe um dia?

Veredicto

Steel Division 2 tem todos os ingredientes do primeiro jogo para ser igualmente um RTS de enorme valor. Tecnicamente, é o mesmo jogo noutra frente de combate, o que para os veteranos é fantástico. Introduz umas pequenas novidades, alterando ligeiramente o interface, mas nada de realmente transformador. Não sou particular fã do modo Army General mas entendo que é uma forma de jogar interessante e que só precisa de um balanceamento para ser relevante. Agora, quem chegar aqui pela primeira vez, não vai ter grandes facilidades, graças à ausência de qualquer tutorial. E a Eugen Systems bem que podia deixar de lado os temporizadores das missões.

  • ProdutoraEugen Systems
  • EditoraEugen Systems
  • Lançamento20 de Junho 2019
  • PlataformasPC
  • GéneroReal Time Strategy
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Total ausência de tutoriais
  • A IA é inconsistente e demasiado precisa
  • Os temporizadores do primeiro jogo
  • Modo Army General precisa de balanceamento

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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