BATTLEFRONT-II-HEADER

Análise – Star Wars Battlefront II

Depois de um campanha promocional que levantou imensas expectativas, estávamos todos a aguardar que Star Wars Battlefront II nos arrebatasse. O primeiro jogo da DICE sob a alçada da Electronic Arts não foi perfeito, este tinha todas as oportunidades de o vingar.

Quando falamos de jogos deste calibre, surge sempre a ideia que o visual vende mais que a jogabilidade, embora saibamos que quase nunca é assim. O primeiro Star Wars Battlefront também era um colosso visual, sobretudo na aclamada versão PC com um realismo impressionante. No entanto, faltou muito “miolo” a esse primeiro jogo. Para começar, não possuía modo de carreira a solo. E além dos modos multi-jogador competitivos, os modos para jogar cooperativamente eram escassos e sem grande convite à repetição. Vieram muitas adições e correcções, além de mais DLC, mas estas adições não fizeram milagres. De facto, a dada altura a produção parecia já estar com a cabeça neste segundo título. Aprendeu com os erros? Estamos a falar da DICE que já fez muitos “milagres” na série Battlefield.

Nesta análise, tenho de começar pelo que menos gostei. Não é porque seja algo inesperado, mas porque eu creio estar a fomentar uma tendência grave nesta indústria. A não ser que vivam em alguma galáxia muito, muito distante, não se deram conta de uma grande polémica em torno das microtransacções deste jogo. Foi algo que notámos na Beta e que depois a própria produção teve de esclarecer. Battlefront II foi apontado como sendo um jogo “pay to win”, em que comprando divisa de jogo com dinheiro real dava uma vantagem assinalável aos jogadores. Fiquei um pouco mais descansado quando soube de algumas melhorias nesse esquema, Mas, após pegar no jogo em acesso antecipado, apercebi-me que, se calhar, as palavras de desagrado não são assim tão escusadas.

Os problemas destas microtransacções estão associados às cartas Star e ao falível esquema de progressão. Simplesmente por jogar, a vossa progressão será absolutamente inócua. Embora ainda existam alguns desbloqueios (armas ou personagens) por nível de jogador, nenhum é francamente um incentivo. Ao fim de cada sessão, são dados pontos para evolução passiva do ranking e uma porção ínfima de divisa do jogo (créditos) que, literalmente, não chega para nada. Os modos a solo ou Arcade também nos dão alguma divisa ou outros bónus, mas nada de extraordinário. Existem também diversos objectivos que conferem também alguns montantes e pequenos bónus quando completados. Assim, nada é particularmente rápido ou recompensador. 

A única forma de evoluir concretamente as personagens, é mesmo via cartas Star que conferem modificadores e bónus que dão mesmo muitas vantagens, sejam em tropas, veículos ou heróis. São divididas em comuns, incomuns, raras e épicas, sendo estas últimas as que conferem maiores bónus. São absolutamente essenciais para ter alguma vantagem no campo de batalha. Mas, há um problema grave na forma como as obtemos e evoluímos neste jogo: ganhamos essas cartas via caixas de loot. E estas caixas só podem ser compradas com divisa de jogo ou cristais comprados com dinheiro real. Sim, poderão comprar mais caixas por jogar e ir ganhando créditos. E até podem “criar” cartas por angariar mais material de crafting. Mas, neste caso, alguém disposto a gastar dinheiro vai lá chegar muito mais depressa.

É por isto acima que os jogadores afirmam que SW Battlefront II é um jogo em que, quem desembolsa mais, vai ganhar. Como sempre, quem paga para ganhar vantagem, também não deve estar muito interessado em jogá-lo. Contudo, mesmo no acesso antecipado era notório alguns jogadores com cartas de elevado nível fazerem a diferença nas sessões. O que, dado o pouco tempo de jogo lançado e o seu rank geral baixo, só podia significar que tinham ajuda de cartas Star de elevada raridade, muito possivelmente vindas de caixas compradas com dinheiro real. Convenhamos que algumas personagens como Darth Vader ou Leia, só podem ser compradas com um elevado montante de divisa de jogo, que as cartas Star são aleatórias e que alguns upgrades só podem ser feitos a partir de determinado nível. Mas, estas medidas não chegam, quanto a mim.

Infelizmente não foram só as cartas Star ou as microtransacções que minaram o esquema de progressão. De um modo geral o jogo é, diria, mesquinho a compensar os jogadores pelas horas perdidas. Vejam um outro modo que seria muito interessante, o Arcade. Seja sozinho ou com um amigo, podemos enveredar por uma série de missões dos dois lados dos vários conflitos, desde as Clone Wars até às batalhas da Resistência contra a First Order. É um modo interessante e desafiante em que escolhemos uma personagem e depois temos um cronómetro ou uma contagem para atingir, enquanto vagas de inimigos nos confrontam. É possível também fazer um duelo com o nosso amigo ou que ele nos ajude a vencer cada desafio. Serve até de treino para o muito mais exigente modo multi-jogador.

Só que, a cada missão cumprida, são-nos dadas míseras quantias de divisa de jogo e, pior, esta divisa possui um limite máximo diário. Dos 16 cenários presentes, cada um deveria oferecer 100 créditos. No entanto, ao fim de cinco desafios é melhor pararem, porque não vão ganhar mais. E não interessa se são mais desafiantes, por cada desafio só ganham essa quantia até aos 500 diários possíveis. Esta foi uma das medidas da DICE para evitar farming de divisa de jogo através deste modo. Se fizermos as contas, porém, a 100 créditos cada, se não houvesse o limite diário, teríamos de jogar umas quarenta sessões Arcade para comprar uma caixa de loot Trooper. Não me parece que alguém se dispusesse a isso. E o que é pior, EA? Farming por jogar o jogo, ou comprar vantagem numa loja?

Com isto tudo, ainda não falei do muito esperado modo de carreira a solo. Situando-se entre os eventos de Episódio VI – Return of the Jedi e o mais recente Episódio VII – The Force Awakens, vamos acompanhar a luta pessoal de Iden Versio, filha de um Almirante Imperial e líder da Inferno Squad, uma espécie de unidade de operações especiais do Império. Não considero que o enredo seja algo realmente soberbo, mas é uma história até interessante, com um desenlace um tanto ou quanto previsível. É uma narrativa paralela aos filmes que mostra um lado inédito, o do soldado imperial que se vê a braços com uma decisão importante entre o cumprimento do dever e os seus valores morais. Cada vez que se fala de Star Wars, o destaque vai sempre para o enredo. E, finalmente, temos um modo de carreira cumpridor em Battlefront.

Infelizmente, há muita coisa também aqui que podia ser melhor. De um modo geral, as vozes e performances dos actores são competentes, mesmo as imitadas dos actores que conhecemos. Gostei particularmente das interacções da personagem Shriv, sobretudo com Lando Calrissian. Não gostei muito das prestações dos actores que simularam a voz de Mark Hamill (Luke) ou Harrison Ford (Han Solo), mas estão lá perto, pelo menos. O problema desta campanha também não é a acção, devidamente equilibrada entre combate furtivo ou directo, a solo ou com elementos de equipa, no chão ou em naves, passando por imensas localizações dos filmes e não só. O problema é que a campanha é curta, totalizando umas 5 horas jogando descontraidamente. Há a promessa de mais DLC com expansões na história, algo que fica bem patente no final deste modo. Veremos.

Ainda falando de longevidade curta, tenho de falar do modo de carreira multi-jogador, o tal pejado de problemas de progressão. Com 16 localizações absolutamente fantásticas, com diversas classes em jogo, desde soldados a heróis sem esquecer as suas naves, estão aqui todos os ingredientes para um modo de jogo fantástico. Não entendo porque, num jogo claramente focado no online, só temos cinco modos de jogo. Sim, leram bem, cinco. Há apenas um modo de jogo massivo, o Galactic Assault para 40 jogadores, um modo de combate espacial chamado de Starfighter Assault, o infame modo Heroes Vs Villains, o modo Blast (praticamente um Team Deathmatch) e um modo rápido de objectivos para oito jogadors, chamado Strike. E é tudo.

Na verdade, o modo Galactic Assault está muito bem pensado com diversas fases de jogo, que misturam conquista de bases, escolta ou sabotagem de pontos. O modo Starfighter Assault também é interessante, com a mesma lógica mas, desta feita, exclusivamente em naves. Contudo, gostava de que, pelo menos, os modos mais populares e que aprendemos a gostar no primeiro jogo regressassem. Particularmente, sou fã do modo Supremacy, uma espécie de Conquest de Battlefield adaptado ao primeiro jogo. Fico particularmente desapontado pela falta desse modo e que não existam outros modos mais diversificados que os presentes. Até porque vejo que Blast e Strike raramente possuem sessões completas. Battlefront sempre foi composto por batalhas massivas e não confinadas.

Então, nada me agrada neste jogo? Felizmente, há pormenores positivos. A promessa da DICE de, pelo menos, duplicar a oferta foi cumprida. Já falei na quantidade de localizações, todas devidamente recriadas dos filmes ou do universo expandido da Saga. Também tenho de dar o devido destaque ao novo esquema de classes de jogo, que confere papéis muito interessantes e concretos. Os soldados de Assalto são as unidades ligeiras, os Heavy são os que carregam as armas mais pesadas, os Oficiais possuem boosts para as tropas e uma útil torre automática e os Especialistas são os snipers de serviço. Também as naves possuem papeis e habilidades únicas para cada classe. Esta é uma boa ideia que nos obriga a usar uma classe específica com os seus bónus particulares em cada fase de jogo. No primeiro título apenas podíamos mudar as armas para dar alguma alteração na jogabilidade.

Obviamente que o maior dos destaques neste jogo vai para o seu visual. Regressando ao ponto que falei ao início, sim, o visual de um jogo pode não ser tudo, mas chama muito à atenção. Estou certo que muita gente se vai “apaixonar” por este jogo depois de o ver em acção. Mapas, personagens, naves, tudo é francamente bem reproduzido da atmosfera que os fãs já conhecem. Combater a bordo da Death Star, pelas ruas de Mos Eisley em Tatooine, pelo castelo de Maz Kanata, revivendo muitas cenas dos filmes, encontrando muitos “easter eggs” pelo caminho. Tudo tem um aspecto fantástico e cheio de pormenor e efeitos visuais e sonoros dignos de Hollywood. Se falhar em tudo o resto, este jogo será, pelo menos, um dos jogos mais bonitos jamais lançados na Saga.

Veredicto

Visualmente fantástico, com muito mais conteúdo e oferta disponível Star Wars Battlefront II, ainda assim, fica aquém do esperado. Já no primeiro jogo aconteceu o mesmo, pelo que podemos sempre apontar as culpas às nossas expectativas. Contudo, depois desse primeiro título, esperei sempre que a DICE aprendesse com os erros e trouxesse algo melhor. Infelizmente, apesar de alguns passos no bom sentido, a curta campanha, a fraca oferta de modos online e a pouco generosa compensação na progressão, fruto da polémica em torno das microtransacções, impedem-no de ser melhor. Resta-nos, uma vez mais, esperar que a produção se esmere com melhorias significativas e mais conteúdo no futuro próximo.

  • ProdutoraDICE
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento17 de Novembro 2017
  • PlataformasPC, PS4 Pro, Xbox One X
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Microtransacções
  • Progressão é lenta e pouco recompensadora
  • Poucos modos multi-jogador
  • Modo de Carreria curto

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários