SnowRunner (hd)

Análise – SnowRunner

Como se não bastasse tanta lama nesta série, o novo título SnowRunner quer agora mandar-nos também para a neve, com um pouco de gelo à mistura. E não é só o novo piso que nos dá desafio. A ambição deste novo título é tão grande como o peso dos seus veículos. E quando assim é, temos de ter cuidado para não ficarmos atolados.

Desde o jogo que deu origem a esta série, tenho alguma dificuldade em descrever a sua jogabilidade. Spintires era um jogo rude, punitivo e desprovido de ajudas, mais uma simulação de um conceito, que propriamente um jogo. Depois, a Saber Interactive pegou na fórmula, criou MudRunner e deu-lhe imensa vida, aproximando-o efectivamente de um jogo. Agora temos SnowRunner, como uma evolução bastante considerável do conceito, mesmo sendo ainda complicado de descrever. É um simulador de condução todo-o-terreno, com especial foco na condução em pisos extremos, como a lama. Mas, também é um jogo de transporte de carga, de resgate de veículos acidentados e até de estratégia. Tudo isto tem de ser habilmente misturado numa dose correcta de realismo, não apenas de um bom visual, sobretudo na condução. Ainda para mais se o seu âmbito foi tão expandido.

O que a produção fez foi mais que adicionar neve à equação. Quase tudo o que (ainda) não estava aprimorado em MudRunner, foi polido, mesmo depois de umas quantas expansões que beneficiaram esse anterior título. Começo por onde sempre achei que o jogo falhava, no seu interface. Embora tudo pareça familiar, quase todos os menus, legendas e HUD foram modificados de alguma forma. O objectivo foi claramente modernizar este interface, para que não se parecesse tanto um jogo dos anos 80. Por outro lado, perde-se o conceito de “experiência singular em mapa” e passamos a ter um completo modo de carreira disponível com várias etapas, níveis de progresso e dinheiro angariado para melhorias e novos veículos. Tudo isto faz de SnowRunner, finalmente, um jogo moderno e com um competente conceito de jogo a solo ou cooperativo até quatro jogadores online.

Esta nova forma de jogar traz consigo, também, uma nova orientação para os jogadores. Se nos títulos anteriores o objectivo era quase só explorar o mapa e descobrir alguns segredos, com as missões de carga um pouco em segundo plano, aqui a carreira tem uma lógica exactamente ao contrário. Sempre achei essa orientação dos jogos anteriores um pouco estranha. Tudo bem, as físicas dos veículos e a condução “off-road” são realmente fantásticas, mas qualquer jogo que se preze tem de nos dar um fio condutor, um objectivo concreto e um convite a regressar. Se só a condução interessa, então teremos este jogo com uma distracção descartável, que ao fim de umas horas dizemos “está visto”.

O modo de carreira de SnowRunner está muito bem pensado. Começamos no primeiro mapa de quatro de uma das três regiões, neste caso, Michigan, Estados Unidos. Aqui teremos umas primeiras missões simples em jeito de tutorial, seguindo-se as primeiras missões reais de carga e exploração. Agora, temos tarefas dadas por empresas que precisam de bens e também missões de objectivos concretos, como chegar a um ponto ou procurar algum veículo perdido, por exemplo. Todas as tarefas oferecem-nos pontos de experiência e dinheiro virtual. Agora, os veículos disponíveis estão limitados aos que encontramos no mapa, aos que compramos na loja virtual ou aos que se desbloqueamos pelo nosso nível. Ou seja, a nossa progressão não prossegue apenas por explorar o mapa, mas também por cumprir missões e coleccionar os camiões presentes.

O que achei muito interessante é que algumas missões transitam entre mapas. Ou seja, teremos missões em que angariamos bens num mapa e entregamos noutro. Isto cria uma ideia de um “mundo” transversal, entre o qual navegamos por convenientes acessos que agem como ecrãs de carregamento. Isto obriga a uma estratégia importante, como devem calcular. Podemos colocar um camião mais pesado no centro do mapa, usar camiões mais pequenos para ir buscar a carga às várias fontes e depois, uma vez carregado o camião mais pesado, seguir finalmente o caminho. Isto, porque, se já conhecem esta série, as estradas são todas péssimas e os camiões possuem todos comportamentos diferentes.

Divididos entre categorias, temos camiões ligeiros (na verdade, o que chamamos por cá de jipes ou pick-ups), camiões de estrada, camiões pesados e camiões dedicados ao off-road. Todos possuem pesos, limites e características distintas, ideais para cada trabalho ou função. Um camião de estrada, por exemplo, dificilmente será a melhor solução para transitar um caminho afundado num rio. Também um camião pesado jamais subirá uma montanha íngreme. É aqui que entra o trabalho de estratégia. Por outro lado, muitas das estradas estão cortadas por falta de pontes ou acidentes. Estas são outras tarefas importantes a fazer se queremos transitar pelo mapa com alguma celeridade.

Isto porque, dentro ou fora de estrada, o jogo vai sempre punir a nossa pressa. Para que conheçamos o que o jogo oferece em termos de condução, temos o tal tutorial que nos ajuda a discernir o que é um diferencial ou tracção integral. Mas, por mais que tenhamos experiência a conduzir, este tipo de condução é muito particular. Evitar a lama ou a neve é praticamente impossível. E mesmo que consigamos algum progresso nas estradas mais complicadas, há uma grande diferença entre transitar com o veículo vazio ou carregado. Em caso de ficarmos atolados, podemos usar o célebre guincho, é certo, mas este utensílio não faz milagres. É possível que tenham de ir buscar outro veículo para ajudar, talvez um que carregue uma grua e material de reparação. Ou, simplesmente, pedir a recolha para a base.

Considero que tanto as físicas como a condução neste jogo sofreram bastantes alterações positivas, algumas subtis, outras bem à vista. Para já, é bem mais fácil ficar preso na lama. Realmente, preso, não apenas restrito em movimento, algo que nem em Spintires acontecia assim tão frequentemente. Isto dá-nos alguma prudência adicional para evitar precipitações. Por outro lado, os danos causados por quedas e embates são agora mais frequentes, mesmo que os considere ainda algo tolerantes. O uso do guincho é bem mais regrado, havendo mesmo secções sem áreas disponíveis para o ancorar. E também achei que o peso dos veículos é mais assinalável. Jamais um Hummer irá conseguir puxar um International carregado, por exemplo. E tenham muito cuidado a descer declives porque a inércia é bem menos tolerante.

Tudo isto é uma demonstração de como a Saber Interactive soube capitalizar nas excelentes físicas e dinâmicas que aprendemos a apreciar nesta série. Dados os diferentes tipos de piso, entre os pântanos do Michigan, as neves do Alasca e as estepes da Sibéria, o desafio está melhor que nunca. Os camiões possuem todos a capacidade de melhorar motores, caixas de velocidade, tipos de diferencial, altura da suspensão, tipos de pneu (sim, também com correntes para a neve), snorkel, pára-lamas e muitos outros itens de mecânica ou cosmética. Quando uma estrada não parece transitável, vamos buscar um camião ou aplicamos um upgrade e, de repente, parece uma autoestrada asfaltada…

OK, nem tanto…

Nas novas garagens, podemos personalizar e estacionar os nosso camiões, guardá-los em armazém ou até comprar e vender veículos. Esta é uma nova forma de gestão da frota, algo também muito bem vindo nesta série. É que cada um destes camiões de marcas licenciadas como a Ford, Freightliner ou Chevrolet é incrivelmente detalhado e recriado com rigor. E cada novo item instalado e cada pintura nova, dá-nos uma elevada dose de personalização. Como há alguns veículos e melhorias que só ficam disponíveis encontrando-os pelo mapa ou subindo na carreira, esta garagem, única em cada mapa, é também uma espécie de sala de troféus, como devem imaginar.

E tudo o que já mencionei até agora tem óptimo aspecto. Houve um enorme trabalho de aprimoramento visual que não se fica apenas pelos camiões. Todos os cenários foram criados com enorme cuidado, entre a vegetação, as pequenas vilas, as fábricas, as quintas e todas as outras estruturas e traços de civilização. Também há um excelente ambiente, cheio de animações e sons típicos de cada região, modificados pelo ciclo de dia e noite e pela meteorologia variável. Só tenho pena que este terceiro jogo ainda não aposte em dar mais vida a estes mapas. Temos alguns (poucos) animais que surgem esporadicamente, mas todas as localidades estão desertas. Não admira que as estradas estejam em tão mau estado, não há ninguém para as reparar!

Infelizmente, chegamos àquela secção que, de certa forma, age como reviravolta para um jogo que, se terminasse esta análise no parágrafo acima, era tido como um excelente título. Não deixa de ser um bom jogo para os amantes de condução em pisos impróprios… se os bugs nos deixassem jogar mais. Por onde começar… Desde savegames corrompidos, camiões e trailers duplicados no mapa, perdas de camiões comprados, carga que desaparece da plataforma, trailers que sobem ao céu, camiões que afundam no mapa… Das várias horas de jogo que passei a gozar a sua óptima condução e as suas vistas, tive de reiniciar a carreira pelo menos duas vezes e é frequente ter de reiniciar o próprio jogo por ficar bloqueado nos menus da garagem.

Não é novidade que alguns jogos são lançados com problemas. Também não é novidade que hajam erros que só são encontrados pelos jogadores depois do lançamento. O problema é que a produção teve aqui uma ambição enorme de expandir quase tudo, criando um jogo francamente gigante e com imenso para fazer… mas, o básico, como a simples capacidade de salvar o jogo sem perder progresso, devia ser um dos principais objectivos. Não bastava o desafio da sua condução extrema, com estradas que duvido sinceramente pudessem existir na realidade (ou que se possam sequer chamar de “estradas”), o próprio jogo desafia a nossa paciência. Patches urgentes pedem-se, Saber Interactive.

Veredicto

Tudo é maior em SnowRunner. Há mais veículos, há mais mapas, há mais missões, há mais elementos de jogabilidade, até temos um verdadeiro modo de carreira e tudo. Também o visual foi francamente melhorado e, pela primeira vez na série, nem me queixei da infame câmara exterior dos dois jogos anteriores! Mas, com tanta coisa nova e alterações positivas, também vieram tantos bugs e erros que parece que a produção se precipitou um pouco. E, tal como na sua condução, onde se nos precipitarmos ficamos em apuros, espero honestamente que a Saber Interactive não fique atolada na neve por muito tempo. Usem o guincho ou chamem o reboque, pessoal!

  • ProdutoraSaber Interactive
  • EditoraFocus Home Interactive
  • Lançamento29 de Abril 2020
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroCondução
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Sem pontuação

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Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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