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Análise – Shadow of the Colossus (Remake)

Nem todos os exclusivos de uma plataforma são assim tão icónicos. Contudo, a plataforma PlayStation tem alguns jogos únicos que marcam gerações. Shadow of the Colossus é um desses marcos. Recordado com carinho, recriado agora para esta geração PS4.

O original de 2006 para a PlayStation 2 arrebatou-me desde a primeira hora, graças ao seu grafismo deslumbrante e jogabilidade inteligente. Depois surgiu uma remasterização em 2011 para a PlayStation 3 e pareceu-me que o jogo havia envelhecido muito bem. Quando soube que a Bluepoint Games estava a preparar, não uma nova remasterização mas um total Remake fiquei apreensivo. Uma coisa é trazer de volta um clássico com melhorias de texturas e resolução, outra é reconstrui-lo de raiz. Se os vídeos promocionais me deixaram mais tranquilo, nada me preparou para o que experimentei no jogo final. Será possível que este jogo seja ainda melhor que o original? Uma pergunta ousada que merece uma resposta estruturada. Estamos numa era de remakes, remasters e reboots, nem todos com a qualidade desejável. Vejamos o que este regresso nos reserva.

É difícil atribuir um género a este jogo. Possui componentes de um bom título de acção assimétrica, ao mesmo tempo que introduz brilhantes secções de plataformas, misturando alguma exploração e puzzles de simples interpretação. Mais que definir um género, porém, Shadow of the Colossus definiu uma era. Muitas das convenções dos jogos de então foram postas de lado, firmando um autêntico legado do criativo Fumito Ueda e da sua produtora Team ICO que nos trouxe antes o não menos icónico Ico e mais tarde o recente The Last Guardian, que infelizmente não atingiu todas as marcas.

A fraca recepção desse The Last Guardian faz-me pensar que, se calhar, este tipo de jogos tão artísticos e pouco convencionais podem já não ter lugar no panorama moderno. The Last Guardian foi um trabalho moroso de 10 anos, com mudanças de equipas e de estúdios pelo meio. Quando chegou, talvez a fórmula se tenha perdido numa geração mais habituada a jogos de recompensa imediata e que buscam outras sensações. Por isso, Shadow of the Colossus pode vir a sofrer com esta lógica. Podemos estar perante um grande jogo mas talvez esta geração procure outros tipo de aventuras. Isso não significa que este não seja um colosso (piada fácil) que devem capturar. Para mim, qualquer pretexto para voltar à sua acção é válido. Ainda para mais se aprimoraram a experiência.

Tudo o que diz respeito à história do jogo está perfeitamente intacto neste Remake. Fiel ao original, não há alterações à narrativa ou à forma como o jogo nos conta o seu enredo. Na maior parte do tempo, a interpretação fica ao cargo da nossa imaginação. Começamos por acompanhar a epopeia de Wander, um jovem em missão urgente para salvar Mono. A jovem sacrificou-se por causa de um destino incerto e o herói está disposto a arriscar tudo para a ressuscitar. Para isso, dirige-se a um templo na Terra Proibida onde uma entidade chamada Dormin estabelece um acordo. A entidade ressuscitará Mono se Wander matar 16 colossos que deambulam pela terra. Armado com uma espada e um arco, na companhia da seu fiel cavalo Agro, parece uma tarefa impossível.

Ao longo dos anos, o enredo deste jogo foi alvo de algum escrutínio. É lógico que a aventura de Wander é uma inspiração directa dos contos de fadas em que o herói salva a donzela. Contudo, há também espaço para algumas analogias mais profundas, algumas de perfil moral e religioso. Para muitos, esta é a metáfora da luta de um homem disposto a matar para salvar o que é seu. É uma história meio recorrente e que já inspirou muitos outros contos, mas há uma nuance a ter em conta. Os colossos são seres pacíficos… até os atacarmos. Matamo-los e vemos claramente os seus “espíritos” a ajudar-nos a regressar ao templo. Há quem defenda que Wander é o verdadeiro vilão, embora iludido por Dormin. Há também quem vá mais longe e até ache que os 16 colossos representam medos e fobias que os interlocutores precisam derrotar. Enfim.

É esta a extraordinária capacidade do enredo de Shadow of the Colossus: a de deixar tudo em aberto para nossa interpretação. Como nada é profundamente explicado, talvez com uns laivos de dramatização de algumas das personagens, tudo é deixado em aberto para sermos nós a darmos algum sentido. Não há muitos jogos que façam com que a experiência acabe por ser tão pessoal. Neste remake a Bluepoint podia desvirtuar esta capacidade única por introduzir algumas cenas intermédias, algum texto adicional ou até introduzir mais narrativa para dar suporte aos desenlaces. Não o fez, deixou tudo como estava. E só posso ficar contente com essa decisão.

E intacta também está a acção. Quando chegamos ao controlo de Agro, é normal que não saibamos bem onde temos de ir ou o que é preciso fazer realmente. Habituem-se a esta ideia. Shadow of the Colossus não pretende dizer-nos tudo o que temos de fazer a seguir. Inicialmente, teremos pequenos tutoriais, como usar a espada para reflectir a luz do sol e orientar-nos para descobrir os colossos. São pequenas dicas esporádicas, que depois surgirão também durante a exploração da Terra Proibida ou nos combates em si. Ou estamos atentos ou facilmente as ignoramos. Felizmente, a trama é linear e não há muitos detalhes para nos distrair dos objectivos.

Mesmo assim, quando nos deparamos com seres de dezenas de metros de altura e com atitudes hostis, observamos o nosso pequeno Wander a galope com Agro e pensamos que isto é completamente impossível. Contudo, este também é um jogo de plataformas. E, olhando para o Colosso, já estamos a ver um padrão. É preciso escalar o seu corpo e de alguma forma derrotá-lo. Ao levantar novamente a espada ao sol, o reflexo revela emblemas brilhantes no corpo do colosso. Estes só podem ser pontos fracos. Trepamos, agarramo-nos com afinco, porque a forças são limitadas. Depois de alguma luta a escalar (e a cair), chegamos ao objectivo e tentamos a sorte. Um golpe disferido no emblema e o monstro perde energia. Agora é só repetir e ter cuidado para não cair (outra vez).

Parece simplista… mas não é. Cada colosso é diferente e possui uma estratégia definida. Alguns são bastante lineares e só precisamos de os escalar e atingir os alvos. Outros precisam que usemos o cenário, como numa situação em que é necessário usar um templo subterrâneo para fugir e iludir o colosso a agachar-se. Há ainda alguns encontros que necessitam de um timing perfeito, como um colosso voador em que é preciso saltar no tempo certo para o seu dorso. No meu caso, recordo-me bem dos 16 colossos originais, tendo passado tanto tempo a experimentar estratégias. Não me recordo de nenhum ser menos memorável. E tudo é aqui reproduzido, com um excelente esforço por manter quase tudo bastante intuitivo, com uma ou outra dica a ajudar.

Esta variedade de abordagem aos colossos permite quebrar a rotina de um jogo que poderia ser apenas uma história repetitiva com 16 inimigos gigantes para destruir. Cada colosso é um puzzle gigante para decifrar e é óbvio que a dificuldade só vai aumentando com o passar do tempo. Há também alguns colossos que precisam ser derrotados em várias fases, obrigando a estratégias diferentes em cada uma. Quanto ao uso das armas, parece inicialmente limitado, no entanto, há uma lógica inteligente no uso da espada e do arco, já para não falar na importância de Agro em alguns destes puzzles.

História intacta, acção idêntica, então o que é que a Bluepoint Games teve de recriar para chamar a isto um remake? Mais que um aumento de resolução, melhorias das texturas e alguma definição de modelos, entende-se que o jogo seja recriado quase de raiz, mas mantendo as mesmas características e aspecto geral próximo do original. Na minha interpretação, porém, um Remake também precisa de se modernizar ao nível de controlos ou de outras convenções de jogabilidade que estejam datadas. Por mais que adore recordar os bons momentos que tive neste jogo, já passaram quase 12 anos desde que o joguei, sem contar com a remasterização de 2011 que virtualmente me trouxe o mesmo jogo, apenas um pouco mais polido. Muito mudou nos jogos modernos.

O trabalho da Bluepoint é sobretudo notório no visual do jogo. Todos os cenários foram revistos e trabalhados para dar mais detalhe e definição. Toda a arte do jogo foi recriada para usar a capacidade de processamento da PlayStation 4, incluindo efeitos visuais e distância de renderização. O resultado é uma experiência moderna e incrivelmente bela. Na nossa análise usámos uma PlayStation 4 Pro e pudemos escolher a opção de jogar com resolução UHD 4K a 30FPS ou em Full HD a 60FPS. Qualquer uma destas opções traz-nos uma fantástica aventura cheia de qualidade visual, onde quase tudo foi melhorado. Para apreciar os melhores momentos, nada como pausar a acção no modo de fotografia, recorrendo a filtros e efeitos para capturar aquele momento épico.

Também algum trabalho foi feito no que toca ao interface. Confesso que nunca fui fã do esquema de controlos do jogo original na PS2. Invariavelmente, acabava por cair do colossos porque largava a tecla de agarrar o pelo dos monstros ou porque me enganava na arma a usar. Também nunca atinei com a lógica de movimento de Agro que obriga a pressionar teclas de forma constante para o fazer andar e usar os analógicos para virar. Neste Remake, foram implementados alguns esquemas de controlo novos, mas continuo a achar que o problema está mais nas lógicas de base que nas teclas usadas. Pode ser uma questão de hábito, mas já passaram 12 anos e está… quase na mesma.

Veredicto

Shadow of the Colossus é, sem dúvida, um clássico quase intocável que marcou uma geração. Relançá-lo agora pode ser uma manobra arriscada se a geração actual parece não apreciar tanto este tipo de jogos. Contudo, a Bluepoint Games fez um excelente trabalho que homenageia tão bem o original, melhorando-o onde tinha de ser melhorado. Só tenho pena que ainda hoje me debata tanto com os controlos, mesmo com algumas melhorias nos esquemas deste Remake. Esta é uma aventura emocional, com momentos épicos e inesquecíveis. E este remake é absolutamente essencial para quem quer apreciar uma verdadeira obra-prima, agora na sua edição definitiva.

  • ProdutoraBluepoint Games / Team ICO
  • EditoraSony Computer Entertainment
  • Lançamento6 de Fevereiro 2018
  • PlataformasPS4, PS4 Pro
  • GéneroAventura
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

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Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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