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Análise – Scarlet Nexus

Uma fórmula invulgar governa Scarlet Nexus. A tecnologia no seu mundo avançou tanto, que as habilidades psíquicas de alguns dotados lhes permite ligar a uma espécie de rede neural, ameaçada por mutantes. Mas, nem é esse o elemento mais estranho neste jogo.

Sendo um título de produção interna da Bandai Namco, este é role playing game com elementos de acção. Capitalizando bastante na sua imagem Anime, seria de esperar que juntasse a um bom enredo, uma jogabilidade brilhante e que nos cativasse, como qualquer outro bom JRPG. Sem querer adiantar-me, porém, Scarlet Nexus acaba por não conseguir esse objectivo. Confesso que não tinha qualquer expectativa sobre este jogo, parecendo-me uma compilação de estereótipos no seu género. Inicialmente, porém, fiquei intrigado com a sua narrativa única. Quis mesmo gostar deste jogo. Mas, como irão ver, as coisas não correram bem entre nós…

No jogo podemos escolher protagonizar Yuito Sumeragi ou Kasane Randall, dois operacionais da chamada Other Supression Force ou OSF. Como já expliquei, neste futuro longínquo, a humanidade está ligada nesta vasta rede neural que, literalmente, junta os seus cérebros como uma enorme internet de pensamentos. Acontece que algumas das substâncias geradas nos cérebros de alguns, também lhes conferem poderes sobrenaturais. O trabalho da OSF é usar essas pessoas especiais para proteger os residentes de New Himuka de uns tais de “Others”, uns mutantes disformes que surgem de um local sombrio, chamado de Extinction Belt.

Se tudo o que acabei de descrever soar estranho, sim, estão no sítio certo. Eu já tinha avisado que este jogo usa uma fórmula invulgar. Não menti. Senti alguma dificuldade em seguir este enredo tão peculiar e julgo que muitos terão a mesma questão. Não me entendam mal, eu até gosto das histórias rocambolescas, por vezes “silly”, de algumas séries de jogos nipónicos. Contudo, penso que a Bandai, na sua tentativa de fugir a estereótipos de outras histórias do género, acabou a lançar-se num poço sem fundo de imaginação distorcida. O resultado são 20 horas de sobrolho franzido e muitas perguntas do género “Hã?”, “O quê?”, “Como?” ou… “O que acabou de acontecer?”

A questão é que este enredo, ao contrário de muitos outros contos anime que me cativaram ao longo dos anos, acaba por ser bastante superficial e que não aprofunda grande coisa. Não é um mau enredo, notem, apenas não se prende em detalhes e torna-se bastante previsível. Penso que a principal questão com este enredo é o seu ritmo, ora rápido demais a desenrolar, ora aborrecido de tão lento a desenvolver. Nada é muito profundo, tendo alguns momentos bastante prosaicos. Penso que a produção se terá apercebido disso, porque na segunda parte do jogo há algumas partes da história que são aceleradas sem grande justificação.

Para compensar, o jogo introduz um engenho para nos obrigar a jogar uma segunda vez. O que pode justificar um pouco a sua superficialidade geral. Embora não seja algo novo, a história de Scarlet Nexus tem de ser passada em duas vezes por causa dos dois protagonistas. Yuito é um rapaz educado e filho de gente rica, Kasane é uma agente talentosa mas muito fechada na sua atitude. As suas diferentes perspectivas acabam por ser interessantes de seguir nas duas passagens, embora os eventos-chave, de modo geral, acabem por se desenrolar quase sempre da mesma maneira. Mesmo assim, é possível encontrar ligeiras nuances nas duas campanhas.

O jogo também possui um interessante lote de personagens secundárias que acabam por trazer alguma personalidade ao jogo. Quanto mais tempo passamos com estas personagens nas missões secundárias, mais eficazes todos serão nas missões mais importantes. As suas personalidades e algumas habilidades, acabam por ser um bom catalisador da nossa vontade de jogar um pouco mais e de as conhecer melhor. Este é um grande trunfo dos JRPG, já agora, a construção das personalidades dos companheiros de aventura. Penso que aqui a Bandai entendeu bem esta fórmula da camaradagem, mesmo que depois os demais eventos não sejam propriamente cativantes.

Com um enredo superficial, resta-nos a salvaguarda de que a jogabilidade seja realmente recompensadora. Se considerarmos que uma boa porção deste jogo é passado em cenas intermédias, com uma produção digna de um filme Anime, convém que o resto do jogo, quando interagimos realmente, seja cativante. Mas, faltou aqui mais inspiração. Basicamente, passamos por muitas áreas desprovidas de detalhes em busca de seres mutantes, os tais “Others” para desancar, quais polícias psíquicos da OSF. E, pouco mais que isto, na verdade.

Estas áreas e estes seres, especialmente lá mais para o meio da vossa passagem, começarão a repetir-se bastante. Embora o design das áreas de jogo seja bastante apurado e muito polido, não há grande variedade nestas áreas, com algumas zonas delapidadas e destruídas, sem qualquer tipo de incentivo à exploração e com pouca interacção. O que é pena, porque muitos destes locais possuem um estilo muito interessante. Não esperava propriamente um mundo aberto à exploração mas a linearidade dos mapas onde jogamos não ajudam muito a mitigar esta sensação de repetição.

O combate é, talvez, um dos pontos fortes deste jogo. Usamos os poderes psíquicos de Yuito ou Kasane para derrotar estes monstros bizarros. Podemos levitar objectos do ambiente e arremessá-los contra estes seres, além de usar combinações básicas com algumas armas de forma competente. A combinação de várias mecânicas acaba por ser bastante satisfatória. Só tenho pena que este combate não evolua muito, apesar da árvore de evolução presente. Também os adversários são bastante repetidos, o mesmo acontecendo com os bosses em jogo. Uma vez mais, os ataques especiais dos companheiros é que acabam por conferir a desejada variedade.

Resta-me falar do visual. Conforme já deu para entender, este jogo aposta forte no aspecto de filme de animação, ora não contasse com tantas cenas intermédias inspiradas na Anime. Tive a oportunidade de jogar numa PlayStation 5 e gostei bastante do visual do jogo, com excelentes efeitos visuais de arregalar o olho e uma igualmente excelente integração com o feedback háptico e gatilhos adaptativos do comando DualSense. Ignorando a sua crónica repetição, no design e no visual, este é um jogo brilhante. Pena que não o seja assim em todas as áreas.

Veredicto

Gostava de poder dizer que Scarlet Nexus é um dos JRPGs de acção mais bem produzido dos últimos tempos. Posso, pelo menos, dizê-lo em termos de polimento e design geral. Infelizmente, o resto não acompanha esta apreciação. Parece-me um tanto superficial nos dois elementos onde deveria mais brilhar: na narrativa e na jogabilidade. Diverte-nos com um combate sóbrio, umas quantas boas ideias e um visual bem concebido. Mas, depois, falha em cativar-nos com uma história a precisar de mais profundidade e um interacção que se repete em demasia.

  • ProdutoraBandai Namco Studios
  • EditoraBandai Namco
  • Lançamento25 de Junho 2021
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
  • Género
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Combate e inimigos repetitivos
  • Narrativa algo superficial
  • Falta de profundidade em quase tudo

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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