samshoheader

Análise – Samurai Shodown

Os jogos de luta evoluíram bastante desde os seus primórdios nas arcadas. Títulos como Street Fighter e Mortal Kombat, só para nomear dois dos mais importantes, têm vindo a evoluir o género de forma regular. E Samurai Shodown, o reboot de uma série lendária dos anos 90, chega agora com vontade de disputar uns combates.

Com 11 títulos nesta série da SNK, ainda assim, é bem possível que estes jogos tenham passado ao lado de muitos, inclusive os seus spin-offs e adaptações em series de manga e de filmes. Não deve ter contribuído mesmo nada para a sua popularidade a fraca recepção de Samurai Shodown: Edge of Destiny em 2008, um jogo francamente mal concebido e que quase, quase ditou o fim da série. Ainda assim, a SNK não baixou os braços. A publicação de uma antologia dos jogos todos da franquia no ano seguinte, era sintoma de que respeitava o legado desta importante linhagem de jogos de combate. Sensivelmente, dez anos depois, aqui está um autêntico reboot desta série, desta vez com bastante mais empenho e interesse em inovar, tendo por detrás a mesma equipa de The King of Fighters XIV.

Se seguirem complexa linha de história destes jogos, este novo jogo situa-se entre Samurai Shodown V e o título original de 1993. Ou seja, é uma sequela da prequela… ou algo assim. O que vos interessa saber, na verdade, é que estamos no ano de 1787 na era Tenmei, em pleno Japão Feudal. Uma devastação arrasou o país deixando-o em ruínas, deixando a população faminta. No meio deste caos, Shizuka Gozen, uma jovem falecida e presa no reino dos mortos, ameaça a completa destruição do que resta do Japão. Cabe a um grupo de guerreiros, vindos das mais diversas regiões do país, reunir-se para tentar travar o ímpeto de Gozen, ao mesmo tempo que disputam entre si os direitos de ser considerdo herói.

Há dois pormenores interessantes na escolha deste período de tempo que antecede o jogo original. Por um lado, permite aos jogadores recapitular os eventos passados que, com dez anos de separação, deve ser um processo bem vindo. Por outro, quem quer que seja que nunca tenha jogado nenhum dos jogos anteriores, não será prejudicado, servindo esta história como excelente introdução à franquia. OK, não quer dizer que seja realmente importante conhecer a história destes jogos. Contudo, desde que se introduziram modos de história neste género, é sempre bem vindo um enquadramento credível entre combates. Neste caso, a história de Samurai Shodown ajuda a justificar a pancadaria.

Contudo, não pensem que vão ter mesmo uma campanha de longa duração aqui. O modo de história não é tão profundo como em outros jogos recentes de combate, não apostando sequer em cenas intermédias de longa duração ou demasiado orquestradas. Podemos optar por uma personagem pontual e seguir depois a sua história, que é contada entre rondas de pancadaria, tendo também um final único. E é só isto. Tudo bem, é uma evolução do clássico modo “arcade” desta franquia, dando-nos um certo contexto a bem de uma narrativa. Mas, também não esperem algo com a qualidade de Mortal Kombat, por exemplo. Cumpre em dar-nos um fio condutor e pronto.

Mas, isto não quer dizer que o jogo não aposte numa apresentação mais cinematográfica. Não nessas cenas intermédias quase inexistentes, mas nos combates em si. Não há aqui grande espalhafato visual mas, de facto, o trabalho realizado nas animações e efeitos visuais é bem mais elaborado e bem mais “over the top”, especialmente quando aplicamos um golpe super-especial (um por combate) numa animação prolongada. O design do jogo lembra-me um pouco o de Street Fighter V, diria, emprestando até mesmo alguns efeitos de cell shading e os modelos anatomicamente exagerados dessa outra franquia rival. E, como esta aposta se traduz num visual bem polido, funciona muito bem.

À disposição, temos 16 lutadores, cada um com golpes e técnicas distintas. Existem mais quatro lutadores disponíveis como DLC, com a benção de poderem obter o passe de época de forma gratuita se comprarem o jogo nestes primeiros dias de lançamento. Assim, ficamos com 20 lutadores no total. A escolha do lutador é, obviamente, uma preferência pessoal, seja a solo ou contra outros jogadores. Todos nós temos um “Scorpion” ou um “Ryu” em cada jogo deste género. Para mim, Haohmaru enche-me as medidas, não só por ser o protagonista do jogo, mas porque é o mais equilibrado. Aquilo que noto, ainda assim, é que cada personagem é mesmo única, o que nos dá muita variedade nas vinte opções.

Embora não seja um especialista nesta série, noto que no combate, Samurai Shodown é um jogo de táctica. Bom, na verdade todos são, obrigando-nos a efectuar golpes e contra-golpes no tempo certo. Contudo, noto que a SNK optou por simplificar o movimento nos combates, sendo mais uma medição de forças, um estudo do adversário, que puro “button-mashing”. Um modo de jogo, permite-nos jogar contra a AI num “fantasma” que “aprende” connosco, aumentando o desafio. Achei esta mecânica muito interessante e demonstradora do tipo de jogo que é. É um título de paciência e de tácticas apuradas.

Algo que notarão logo à partida é que as personagens não andam constantemente em acrobacias, nem mandam “mortais encarpados invertidos” por tudo e por nada. Podem fazê-lo, mas os duelos são bem mais regrados. Este é um jogo de combates mais terrenos, mais compassados, mas claro que não é bem um título de combates convencionais. Ainda assim, tal como um embate com katanas entre dois combatentes reais, há certos movimentos mais letais que outros, com contra-golpes que tiram quase metade da energia. Isto cria uma imprevisibilidade nos embates, obrigando-nos a apostar bem mais na defesa e contra-ataque, que propriamente a saltar pelo cenário ao pontapé.

Claro que isto também pode causar situações injustas. É que a simplicidade aparente do jogo, na verdade, esconde uma lógica um tanto punitiva. Temos de dominar bem os desvios, bloqueios e saber quando aplicar os tais golpes especiais, sendo algo que fará toda a diferença nos combates. Aconteceu-me umas vezes estar quase a ganhar um confronto e um deslize na minha defesa permitiu ao adversário disferir um contra-golpe letal. Isto, quando tudo parecia encaminhado para a minha vitória. Talvez tenha sido fruto da minha experiência com outros jogos mais “directos ao assunto”. Mas, também percebi que, neste jogo, “o melhor ataque é uma boa defesa”… desculpem o cliché.

Por esta altura, a pergunta que estarão a fazer é: “no panorama dos jogos de luta, o que justifica a minha compra deste jogo?” Bom, não tem a espectacularidade de Mortal Kombat, não aposta numa lógica de combos de Street Fighter, não é tão visualmente apurado e nem sequer tem o ritmo frenético destes títulos. Por outro lado, tem pouco conteúdo, com uns quantos modos offline, meras variações do modo arcade, além de um multi-jogador online, vá lá, cumpridor, sem que nenhuma forma de o jogar seja memorável ou inovadora. Nem sequer o conteúdo adicional via DLC é assim tão apelativo, uma vez que os novos lutadores, embora igualmente únicos nas suas habilidades e golpes, não adiantam muito ao jogo.

A minha resposta é simples. Samurai Shodown é um título de combate com algumas ideias claramente inspiradas nos melhores do género, mas que não os plagia propriamente. É um jogo algo diferente no seu género, tendo um apelo muito seu. Conforme já falei, o combate é sobejamente mais cerebral, sem os vulgares combos ou malabarismos avulsos. É também “amigo” dos jogadores mais causais, permitindo até boas prestações (até mesmo online), bastando que aprendam e usem as habilidades e timings correctamente. A sua passada mais calma pode afastar alguns jogadores mais “ritmados”, é certo, mas vai certamente agradar aos que não possuem reflexos de “jogador de ping-pong”.

Veredicto

Com a SNK a voltar atrás no tempo com este reboot de Samurai Shodown, também se redimiu de alguns erros de conceito e de técnica dos jogos anteriores. Consegue trazer-nos um título que honra bem o seu legado de arcada, ao mesmo tempo que mantém os seus combates mais tácticos e sem a habitual complexidade do género. Trata-se de uma boa revisita, actualizando a série para um padrão moderno, sem comprometer a sua jogabilidade única. Só peca um pouco pela falta de conteúdo e de um modo de história mais envolvente. Ainda assim, não deverá desapontar veteranos ou mesmo os novatos à procura de um título realmente diferente num género com tanta oferta.

  • ProdutoraSNK
  • EditoraSEGA
  • Lançamento27 de Junho 2019
  • PlataformasPC, PS4, Switch, Xbox One
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • História merecia modo de carreira concreto
  • Falta de mais modos de jogo
  • Alguma injustiça em pequenos deslizes

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários