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Análise: République

Como será viver debaixo de um regime opressor em que a mera leitura de um livro pode enviar-nos para o cárcere? George Orwell trouxe-nos essa perspectiva na sua fantástica obra “1984”. République tenta recontar esse mesmo enredo num futuro tecnologicamente avançado, mas mentalmente retrógrado.

Este jogo da Camouflaj foi lançado de forma episódica ao longo do ano passado para PC, depois de uma bem sucedida campanha no Kickstarter. O último episódio foi lançado exactamente no dia em que a versão PlayStation 4 chegou, esta incluindo todos os episódios. A recepção de République no PC foi positiva, com os jogadores a apreciarem a jogabilidade e o grafismo. Só agora, no entanto, temos a versão final do jogo completo, incluindo o esperado desfecho do enredo. Logicamente, quisemos aguardar pela versão completa na PS4, que analisamos aqui.

A história deste jogo acompanha Hope, uma jovem nascida e criada numa instituição dentro da cidade de Metamorphosis na mítica République. Com o título de “Pre Cal”, a jovem vive debaixo de um regime totalitário dos Prizrak que efectuam experiências nos “Pre Cals”. Confrontada com um livro proibido, Hope depressa descobre que tem de tentar a fuga, questionando a moral dos Prizrak, sobretudo na pessoa da implacável Mireille Prideaux. Para a fuga, Hope contacta a única pessoa que a pode ajudar: nós! Em contacto permanente, vamos acompanhar e ajudar na sua fuga, contando com algumas ajudas pontuais de outras personagens.

À partida, République parece apenas mais um jogo de acção furtiva. No entanto, ao contrário de outros jogos do género, a acção não é sempre linear. Isto porque, na maioria dos casos, estamos a observar toda a acção através de câmaras de vigilância, podendo em determinadas ocasiões fazer hacking a portas para destrancar ou trancar, distrair guardas ou prever o seu trajecto. O objectivo é evitar que Hope seja descoberta e novamente encarcerada. Pelo caminho, recebemos ajudas e dicas de uma misteriosa personagem que nos fala por texto, mas na maior parte das ocasiões temos de agir por instinto.

Este é, então, um jogo de acção furtiva. Mas não pensem que vão assassinar guardas incautos ou colocar explosivos nalgum ponto do mapa. O objectivo é fugir e não ser detectada. Qual Solid Snake em Metal Gear, Hope precisa passar por salas com guardas, uns estáticos outros em movimento, estudar os trajectos e cronometrá-los de modo a atingir o destino. Caso seja descoberta, Hope pode apanhar gás pimenta (mace) ou Taser que apenas neutralizam temporariamente o adversário. Se for vista os guardas entram em fase de alerta e até podem chamar reforços e, aí, não há Taser que a salve.

A interacção com Hope faz-se pelo seu movimento, quase sempre agachada ou atrás de obstáculos, ou a correr em secções específicas. De resto, toda a nossa acção faz-se controlando câmaras de vigilância, fazendo hacking a portas ou a cofres, lendo informação ou propaganda e obtendo novas formas de ajudar Hope a fugir. Todas as acções de hacking param o tempo, dando-nos tempo para pensar. Mas também consomem bateria, pelo que é preciso procurar centros de recarga dessa bateria. Nestes centros, podemos evoluir o nosso sistema “OMNI View” numa obscura loja online. Aqui podemos adicionar funcionalidades como um sensor de movimento que permite prever onde os guardas vão passar ou um chamariz para atraí-los.

No início, a jogabilidade até parece simples. Andamos por mapas mais ou menos elaborados em que os guardas deambulam de forma robótica. Aliás, dentro da dificuldade oferecida, a inteligência artificial do jogo parece-me sintética demais, repetindo trajectos e atitudes. Sim, é possível que todos os guardas em patrulha em qualquer jogo me pareçam autómatos repetidores, mas neste jogo são muito previsíveis e demasiado fáceis de enganar. Mais à frente, porém, a dificuldade começa a aumentar com salas maiores e com mais guardas, onde temos de usar todos os recursos e astúcia para passar Hope para o outro lado.

É possível ver a influência da série Resident Evil no design destes mapas, com salas amplas desenhadas com muitos obstáculos. E notem que é normal regressarem às mesmas salas que já passaram anteriormente, desta vez com o nosso sistema actualizado, permitindo acessos que antes não conseguíamos ter e com guardas mais evoluídos. Há alguns coleccionáveis importantes para descobrir nos mapas ou cuidadosamente roubando directamente dos bolsos dos guardas e é bem possível que não os consigam apanhar à primeira passagem. Também é preciso abrir cacifos e cofres para angariar os tais maces e Tasers. Mas, de resto, o objectivo é sempre ir de “A” para “B” de forma furtiva.

Há três coisas que adorei neste jogo. Em primeiro lugar a sua fantástica arte visual. O design e qualidade geral de cenários, com muito cuidado em modelos e texturas, mantendo sempre um aspecto clássico, contrastando com a atmosfera austera dos Prizrak, com traços “Soviéticos”. Toda a ambiência do jogo é fantástica, mesmo que passemos boa parte do tempo a observá-la através de câmaras. Só tenho pena que as perspectivas e o zoom das câmaras não nos permitam explorar mais do cenário, só podendo movê-las em direcção.

Em segundo lugar, apesar do assunto sério e do drama que constantemente se desenrola, o jogo está pejado de humor. Seja no enigmático contacto constante com Cooper que não se priva de nos presentear com constantes piadas de melhor ou pior qualidade, seja nas inúmeras chamadas de atenção para pequenos easter eggs que piscam o olho à indústria. Por exemplo, quando roubamos os guardas, estamos a coleccionar disquetes de jogos clássicos, que Cooper prontamente descreve.

Por último, tenho de destacar o excelente casting de vozes para este jogo. Quem diria que um jogo financiado por crowdfunding tivesse nomes tão sonantes a dar voz às personagens? De facto, as cenas intermédias ganham outra profundidade com o talento de Rena Strober na pele de Hope ou os veteranos Jennifer Hale (Mireille) e David Hayter (Zager). E os diálogos ficam bem mais credíveis com as feições desses actores reproduzidas nas personagens.

Veredicto

République é uma mistura de várias influências dos seus produtores. Seja na inpiração da famosa obra “1984” de George Orwell que empresta muito ao enredo, seja na acção furtiva de Metal Gear ou no design geral de mapas de Resident Evil. É um jogo sobre a liberdade de expressão e a opressão de um regime tirano, com a eterna luta contra o “Big Brother”. Tem um enredo sólido suportado por um excelente casting de vozes, bons cenários e um grafismo exemplar. Talvez a interacção seja algo repetitiva e a inteligência artificial bastante previsível. No entanto, a história que conta prende-nos ao longo dos cinco episódios, agora completos tanto no PC como na PS4. Vale bem a compra, se procuram uma aventura invulgar e bem contada.

  • ProdutoraCamouflaj
  • EditoraNIS America
  • Lançamento22 de Março 2016
  • PlataformasMac, PC, PS4
  • GéneroEstratégia
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Inteligência Artificial
  • Alguma repetição

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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