Mais infoProdutora: Insomniac GamesEditora: Sony Interactive EntertainmentLançamento: 11/06/2021Plataformas: Género: ,

Não poderia haver nova consola PlayStation sem um novo título Ratchet & Clank. Esta dupla é presença assídua nas consolas da Sony e esperávamos com muita curiosidade para ver o que a Insomniac Games conseguiria fazer na nova PlayStation 5 com Ratchet & Clank: Rift Apart.

Agora que a Insomniac faz parte dos estúdios PlayStation, estamos certos que o incentivo era elevar este jogo até um patamar nunca antes alcançado na série. O sucesso do primeiro jogo de 2002 criou um conceito que angariou a sua legião de fãs. Por isso, manter esse legado bem vivo, ao mesmo tempo que puxava os limites criativos, era uma tarefa complicada mas que sempre confiei que a Insomniac conseguiria cumprir. Aqui estava uma franquia bastante madura e definida em termos de história, personagens e jogabilidade. Depois, há todo o carinho da Sony por esta dupla de heróis, ao ponto de lhe dedicar um filme de animação e dar-lhe presença assídua em todas as consolas, inclusive as portáteis. Restava uma nova e poderosa consola para “ir mais além”.

Esta é uma sequela directa dos jogos anteriores, onde esta dupla sai do anonimato para salvar a galáxia… mais que uma vez. Para quem não conhece (quem?), Ratchet é um Lombax, uma espécie estranha e “orelhuda”, bastante rara, hábil com a usa chave-inglesa enorme a desancar meliantes. Clank é o cérebro mecânico, uma espécie de C-3PO de Star Wars, versão compacta (e bem mais prestável). Ao longo dos anos, estes dois heróis combateram várias ameaças e estão agora a gozar a sua merecida fama. Para celebrar, uma enorme festa é organizada, um evento em que Clank pretende oferecer um presente muito especial ao seu amigo. Porque o Lombax tem o desejo de encontrar outros da sua espécie, nada como um aparelho para viajar entre dimensões.

Claro que o Dr. Nefarius, o eterno vilão desta franquia, tem ideias muito diferentes. E é óbvio que vê no presente de Clank uma enorme oportunidade. Já que todas as suas tentativas de conquista fracassaram perante esta dupla, porque não tentar a sua sorte noutras dimensões? Ao bom jeito do vilão mecânico, porém, nem tudo corre bem e uma enorme fenda entre dimensões começa a abrir portais e… bom, o caos entra em cena. Sem querer falar muito mais deste enredo, Ratchet e Clank acabam por transitar para outra dimensão. É lá que conhecemos a nova heroína Rivet, outra Lombax que… mais não digo. O que posso prometer é que a Insomniac nunca deixou de contar uma história divertida, com alguns desenlaces e muito humor à mistura.

Há dois pormenores além da história, que sempre gostei nesta franquia. O primeiro é óbvio, o visual que salta logo à vista e que a cada nova consola parece brilhar cada vez mais. Já vou falar nesse assunto, com é lógico. Contudo, o outro aspecto que mais gosto nestes jogos é mesmo a jogabilidade. Novamente, este é um jogo de acção com plataformas e puzzles simples, desta vez com a interessante mecânica das viagens entre dimensões e outros pequenos detalhes que variam um pouco a acção. Ainda assim, todos os veteranos da série entrarão automaticamente no ritmo, com uma jogabilidade que mistura tiro, com combate próximo, muitas explosões e efeitos visuais de arregalar, além de algumas lógicas de plataformas e puzzles bastante familiares.

A série sempre nos deu jogos que, por momentos, são como uma montanha-russa que não pára. Sinto que neste jogo o ritmo é muito variado, com muito menos secções rápidas. Senti falta mais secções de carris, que foi algo que eu sempre achei fantástico, jogando com golpes no tempo certo, troca de carris e alguma perícia. Em compensação pelas poucas secções a deslizar em carris, temos uns estranhos insectos velozes para montar, o que me parece uma boa cedência. O combate permanece divertido, com algumas armas clássicas a fazer aqui o seu regresso e com novas ferramentas de destruição, algumas francamente divertidas. Como sempre, nada aqui deve ser levado a sério, nem mesmo a constante falta de munição que me irritou um pouco. Acontece sempre nos piores momentos.

Claro que continuamos a ter de destruir imensas caixas e outros objectos para ganhar peças que poderemos trocar por novas armas, além dos importantes cristais que temos de encontrar para as evoluir. Aqui está tudo praticamente intacto, não se preocupem. Apenas não esperem a loja do Sr. Zurkon. Nesta dimensão, quem manda lá em casa é a Sra. Zurkon, um contraste bastante divertido já que aqui a Sra. é bastante medrosa. Confesso que nem todas as armas me entusiasmaram. Uma em particular que transforma adversários em arbustos, devo ter usado uma ou duas vezes. É tudo uma questão de gestão das armas mais indicadas, especialmente com os bosses que encontramos.

Noutras novidades, temos uns quantos novos níveis com Clank que agem como enormes puzzles, sem a habitual acção. Também temos uns níveis de uma aranha mecânica (spider-bot) que ainda estou para entender o verdadeiro intuito. Estas duas secções parecem uma adição algo acessória, que quebra bastante a acção principal. Servirão para dar variedade ao jogo, não tenho dúvida, mas como elemento distractivo podem não agradar todos. Para dizer a verdade, tornam-se um pouco enfadonhas ao fim de um tempo. Felizmente, não são muito frequentes.

Outra novidade importante é Rivet, claro. É uma excelente adição ao universo desta franquia, por vários motivos. Como já mencionei, os Lombax são uma espécie rara e é interessante conhecer outra “versão” de Ratchet. Por outro lado, é uma personagem com muita profundidade, especialmente com uma importante amizade que fará lá mais para a frente na trama. Ainda assim, nos combates achei que Rivet tem poucos elementos que a diferenciem de Ratchet, uma vez que partilham todos os movimentos e golpes. Felizmente, Rivet compensa com um carisma e linhas de diálogo únicas, havendo mesmo secções dedicadas a si, alternando entre missões suas e outras com Ratchet, sendo Clank a ponte entre os dois.

Onde verdadeiramente a produção deu largas à imaginação para modificar a jogabilidade, é na tal transição de dimensões. É possível alterar completamente o cenário por mudar de dimensão em algumas secções específicas. Podemos transitar por uma base cheia de inimigos, mudar de dimensão e esta aparece abandonada e destruída, por exemplo. Alguns puzzles jogam muito bem com esta dinâmica, obrigando-nos a saltar de dimensão em dimensão para transitarmos secções. Estas transições também proporcionam momentos fantásticos, quando podemos abrir portais para fugir de inimigos implacáveis, ou simplesmente usá-los para nos teleportar para uma plataforma inacessível.

Outras alterações surgem nas personagens. O Capitão Quark, por exemplo é agora um valente pirata, ao invés do cobarde tornado herói. Skid deixa de ser o inútil surfista e passa a ser um herói da resistência. O Dr. Nefarius é… o mesmo Dr. Nefarius, só que agora é adorado por meia galáxia. Isto é possível porque não estamos na mesma dimensão, claro. Na realidade, é como se a Insomniac decidisse inverter tudo e dar-lhes novas histórias e aspecto. O resultado é muito bom, dando-nos uma sensação de jogar algo novo, ao mesmo tempo que nada soa a estranho. E ao visitar personagens e locais dos jogos anteriores, nas suas dimensões, é também uma ideia muito bem vinda. Mistura novidade com nostalgia de forma brilhante.

Para que tudo funcione, é óbvio que a interacção tem de estar no seu melhor. E é claro que a Insomniac não perdeu a oportunidade de usar o comando DualSense no pleno das suas capacidades. O feedback háptico é absolutamente perfeito, os gatilhos adaptativos, diferentes para cada arma são igualmente fantásticos. Aliás, o gatilho esquerdo tem dois modos, com um pressionar leve a mirar a arma e um pressionar mais profundo activa o tiro secundário mais poderoso. Requer algum hábito, é certo, mas quando dominarem esta lógica, concordarão que é um uso engenhoso das capacidades do novo comando.

Claro que o hardware faz a diferença neste jogo. Acredito que na PS4 o jogo pudesse brilhar mas muito do que vemos no ecrã só seria possível na nova PlayStation 5. Já nem falo na aparente ausência de ecrãs de carregamento (eles estão lá se souberem encontrá-los), porque é óbvio que estamos a “anos-luz” dos velhinhos HDD da geração anterior. O que é preciso realçar é a qualidade insana que modelos, texturas, efeitos visuais e animações que nos maravilharam. É certo que tudo tem um aspecto de banda-desenhada, mas é impossível ficar indiferente ao constante deslumbre. É bem possível confundir cenas intermédias com os momentos de jogo. Acreditem, isso aconteceu comigo várias vezes.

Os detalhes são realmente impressionantes. Desde o pêlo de Ratchet ou de Rivet, até à escala das enormes batalhas com bosses, sem esquecer o constante jogo de iluminação, sombras e efeitos de luz excepcionais. Como tem vindo a ser hábito, há várias opções visuais para escolher e tirar proveito da performance da nova consola. Pessoalmente, escolhi o modo de Performance a 60FPS com Raytracing e não fiquei nada desapontado. Junte-se a isso um casting de vozes perfeito, uma banda sonora épica e temos aqui um autêntico showcase técnico do que melhor se pode fazer na nova consola. Já tivemos jogos igualmente fantásticos no plano técnico mas arrisco dizer que este é o jogo que irá demonstrar verdadeiramente a PS5.

Veredicto

De todos os jogos que foram lançados para as novas consolas, de todos os jogos desta franquia e de todos os jogos que tenho vindo a jogar nestes dias, Ratchet & Clank: Rift Apart foi sem dúvida o que mais me divertiu. A jogabilidade é a mesma de sempre, a história é empolgante, nem que seja para conhecermos as novas personagens, tem momentos que me deram sorrisos e tem muitas chamadas a jogos anteriores, com alguns “piscar de olho” a outras franquias. E sabem que mais? Há mais para a Insomniac Games nos dar. Não apenas nesta plataforma, mas também nesta franquia de longa data. Mal posso esperar para ver o que esta dupla nos trará no futuro.

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.