rambo-the-videogame

Análise: Rambo: The Videogame

Estão prestes a ler acerca uma das análises mais dolorosas que tive de fazer. Há pequenas pérolas vindas de Hollywood que temos de aceitar como fetiches. A saga “Rambo” é uma delas, mas como a tradição dita que as adaptações de filmes para videojogos são más, salvo algumas raras excepções, nada como uma série de filmes de qualidade duvidosa transportados para um videojogo ainda pior para confirmar essa premissa. Vamos falar de um jogo que pensei (até ao momento de o correr pela primeira vez) que tudo o que sabia sobre ele era exagerado. Rambo: The Videogame tenta renascer o mito criado pela personagem encarnada por Sylvester Stallone nos idos anos 80. Mas a única coisa que consegue é fazer-nos desejar que isto nunca tivesse acontecido.

Convenhamos que John Rambo nunca teve direito a jogos decentes ao nível da “qualidade” da trilogia e do quarto filme repescado em 2008. Independentemente do que achamos hoje em dia dos três filmes originais, estes marcaram uma geração. Tudo bem, nenhuma força especial Americana andava pelo terreno de batalha em tronco nú a mostrar a musculatura e com uma fita vermelha na cabeça. Mas éramos jovens e aquilo parecia o melhor que Hollywood podia dar. Houve até umas passagens tímidas pelos desenhos animados e pela Mega Drive com “Rambo III”. Mas já lá ia um tempo.

De repente, em pleno 2014, a Reef Entertainment lança Rambo: The Videogame. O enredo do jogo passa pelos três filmes originais: Rambo – First Blood (“A Fúria do Herói” Quem é que arranja estes nomes para os filmes em Portugal?), Rambo – First Blood II (“A Vingança do Herói”, estão a ver?) e Rambo III (“Rambo III”, vá lá…). O objectivo seria contar novamente a história do herói John Rambo ao longo dos eventos dos três filmes. E até consegue… mas de uma forma absurda.

O jogo começa por nos apresentar umas cutscenes do funeral de Rambo (ele tinha de morrer um dia, não é?). Isto é absolutamente anti-climático, começar com a morte de um fulano que vai salvar meio mundo e resiste a milhões de balas e explosões. Logo nesse arranque somos presenteados com algumas das piores texturas e animações que há memória. Além de apenas Sylvester Stallone e Richard Crenna (Coronel Trautman) possuírem umas feições “próximas” dos actores originais, dá a entender que foram literalmente coladas faces aleatórias nas personagens. Lições de anatomia também faziam falta a quem modelou o corpo de Rambo, com um tronco fininho e uma cabeça gigante (John “Matraquilho” Rambo). Tudo isto aliado aos gráficos aberrantes dignos de um Pentium de 2004.

A versão do jogo que recebemos foi para PC e durante a instalação notámos que o programa correu uma instância para instalar o DirectX 9.0c. Hã? Não podem estar a falar a sério! Quem sabe destas coisas sabe que este API já vai na versão DirectX 11.2. O 9.0c foi lançado em 2004! Há 10 anos atrás! E nota-se bem que estes gráficos têm essa maturidade (leia-se “Velhice”). As texturas são pobres, os modelos e animações são muito fracos (efeito ragdoll nos mortos é digno de uma sequência dos Monty Python), os efeitos visuais chegam a ser piores que os próprios filmes (um feito). Não são absolutamente maus (vejam as imagens na galeria), mas são datados e sem primor.

Até o próprio som tem a qualidade de uma cassete pirata dos anos 80. Por exemplo, no fim de cada missão ouvimos uma gravação, no mínimo hilariante, de Stallone a dizer “mission… eh… accomplished” que parece ter sido gravada com recurso a um gravador de cassetes ao pé da coluna da nossa televisão a passar os filmes em VHS… Tecnicamente, este jogo é deplorável.

Mas é na jogabilidade que esta pérola recebe a pior das críticas. Ou a melhor, depende do ponto de vista. O que é que faz um jogo Rail Shooter em pleno século XXI? Lembram-se dos clássicos de arcadas como “Virtua Cop” que fizeram as nossas delícias em… 1995? Pois, já lá vão quase 20 anos em que gastávamos moedas de 50 Escudos para pegar em pistolas de cor duvidosa para dar cabo de bonecos que apareciam atrás de obstáculos por fazer mexer a mira.

Este Rambo é mesmo um glorioso Rail Shooter, ou seja, um falso First Person Shooter. Se esperavam navegar pelas ruas da cidade de Hope, pelas selvas do Vietname ou pelas montanhas do Afeganistão, esqueçam. Andam por lá, sim, mas a única coisa que controlam é uma pequena mira vermelha que com o rato apontamos e disparamos. Não fazemos mais nada. Bom, até fazemos… há quick-time events (QTE) em que temos de pressionar teclas no momento certo para fingir que estamos à luta com um meliante ou a fugir furtivamente. Não há qualquer sensação de realismo, há só a mira a mexer e a capacidade de nos agacharmos aqui e ali. Gostava de ter jogado na Playstation 3 com a pistola do PS Move. Mas não pude. Não creio que melhorasse o jogo, mas será que o justificava?

E é assim durante umas horas… Usando pistolas ou metralhadoras, matamos meliantes com toda a dose de herói sanguinário que Rambo foi outrora (ou desarmamos polícias, o que, com uma metralhadora pesada M60, é uma obra de arte). Com o célebre arco, ou matamos Vietcongues ou Russos de forma silenciosa ou usamos as setas explosivas para explodir cabanas. Há momentos em que podemos disparar rockets contra alvos maiores ou ainda as já mencionadas cenas de reacção rápida (QTE) em que o jogo até nos avisa “Get Ready!” Há repetição? Há! Apetece repetir? Não! Então porque o fiz? Até à meia-hora de jogo, a nostalgia atingiu-me e quis jogar o jogo somente para relembrar as cenas icónicas dos três filmes. Depois disso, não sei explicar porque o continuei, honestamente.

Veredicto

Eu avisei que esta análise era dolorosa. O jogo também é. Mesmo que queiram matar saudades de Rambo (porque o haviam de fazer?), este jogo só vos vai fazer chorar pelo dinheiro que gastaram. A sério. Para mim aqui no WASD, deve ter sido a análise mais difícil de fazer. As horas que gastei a jogar foi por pensar que até podia vir a gostar de algo para vos dizer. Mas não consegui. Chamem-me masoquista, porque joguei isto quase até ao fim. Queria ver como o jogo podia assassinar os três filmes de rajada (viram a piada?). 4324 mortos depois, só posso dizer que este foi um dos piores jogos que joguei até hoje.

  • ProdutoraTeyon
  • EditoraReef Entertainment
  • Lançamento21 de Fevereiro 2014
  • PlataformasPC, PS3, Xbox 360
  • GéneroFPS
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Quase tudo...
  • Mesmo quase tudo...

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários