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Análise: Quantum Break

A promessa de Quantum Break é enorme: oferecer um videojogo que vá para além da sua jogabilidade, com uma dispendiosa experiência multimédia a expandir o enredo. O esforço tanto no trabalho da produtora Remedy, como da própria Microsoft chega agora para escrutínio de todos.

Antes de analisar o jogo em si, tenho de recordar que este tipo de produções são raras. Sim, é normal que quando há um enorme investimento financeiro se contratem actores de renome para interpretação de personagens. Alguns jogos, porém, sofrem com esse desnível de investimento, orientando a atenção para uma cara famosa, esquecendo um pouco o jogo em si. Por outro lado, a primeira sensação que temos com um jogo que tem episódios de mais de 20 minutos de “Live Action” é que a jogabilidade costuma ser dispensável. Contudo, a Remedy já no passado nos contou excelentes histórias, com boas interacções, como Alan Wake. E, logo à partida, duvidei que Quantum Break não fosse uma boa experiência no seu todo. Mas nada como testá-lo e tirar as dúvidas.

De notar que a nossa cópia Xbox One do jogo chegou com quase um mês de antecedência. Neste tempo tive oportunidade de o jogar de forma constante e aperceber-me de uma clara evidência: A sua análise iria ser algo complicada de fazer. Não porque não soubesse do que falar e não porque não conseguisse passar a minha experiência. Apenas fiquei na dúvida se estava a gostar do jogo ou da série televisiva associada. Ou seja, estaria eu a gostar mais do enredo e das excelentes performances dos actores na série ou do jogo de acção na terceira pessoa no seu “intervalo”?

A história do jogo é relativamente simples. William Joyce e Paul Serene estão prestes a dar um importante passo científico. Perante a relutância de William, Paul decide convidar o protagonista do jogo, Jack Joyce, irmão de William, para o visitar e “ajudar numa experiência científica”. Essa experiência, porém, não corre muito bem, uma vez que se dá uma ruptura no espaço-tempo que danifica a continuidade desse mesmo tempo. Jack e Paul, porém, são afectados de outra forma: ficam com poderes de manipulação do tempo. Só que Paul tem um plano bem menos ético para o uso desse poder e Jack acaba no outro lado da barricada a tentar travá-lo.

A trama é mais complexa que tudo isto. Apenas abordei uma pequena porção do início do enredo que depois se desenrola no jogo e na série que age como cenas intermédias. Há muito tempo que não via um enredo tão ramificado e com tantas implicações na história. Cada personagem que entra no jogo ou na série tem interferência no seu desenrolar. O melhor de tudo é que os actores são todos de elevada qualidade, mesmo nos papéis secundários. Notem só o casting dos principais actores: Jack é interpretado por Shawn Ashmore (X-Men), o seu irmão William Joyce por Dominic Monaghan (Lost), estando os antagonistas Martin Hatch e Paul Serene ao cargo de Lance Reddick (Fringe) e Aidan Gillen (Game of Thrones).

Se a mega-produção televisiva não vos impressionar, talvez impressione as fiéis reproduções faciais de cada um desses actores no próprio jogo. Adiantando-me ao que costuma ser o nosso formato de análise, tenho de dar o devido destaque à qualidade visual do jogo na Xbox One. A todos os níveis, Quantum Break é uma experiência visual de elevada qualidade. Notei alguns problemas menores ao nível de efeitos visuais, como o excesso de grão de filme em zonas mais escuras, mas não só nos faltou a última versão (actualização “day one” só chegaria no dia do lançamento) como estou certo que a Remedy se terá empenhado na melhor experiência possível no Windows 10. Infelizmente, porém, apesar das cópias para a imprensa disponibilizarem a versão Win10, o jogo não esteve disponível a tempo.

Para falarmos da interacção, ou seja, na jogabilidade em si, temos de a dividir em duas partes: A acção directa e a indirecta. Na acção directa, Quantum Break acompanha os desenvolvimentos da batalha de Jack para travar Paul. É um jogo de acção na terceira pessoa que combina tiroteios com os poderes de controlo de tempo de Jack. Os poderes variam entre fazer sprints parando o tempo para os demais, um escudo que trava balas no ar ou até explosões que pode matar adversários instantaneamente. Os poderes possuem todos “cooldowns” para não abusarmos e podem ser melhorados com upgrades, mediante pontos ganhos com com coleccionáveis (luzes brilhantes) escondidos nos níveis.

No que diz respeito aos tiroteios, Jack pode apanhar diversas armas de fogo, desde pistolas as metralhadoras pesadas para lutar. Não havendo mira, porém, usamos apenas o cursor no meio do ecrã, conferindo-lhe um estilo mais arcade. O sistema de cobertura é automático e não podemos fazer “snap”, ou seja, não podemos seleccionar ficar “colado” na cobertura. Jack curva-se automaticamente para se proteger, mas isso também significa que se ergue facilmente se não estivermos na posição certa. Dada a dificuldade de alguns níveis e de adversários imunes à maioria dos nossos poderes, os tiroteios podem ser algo frustrantes e o sistema de cobertura não funciona sempre bem. É pena que definindo-se como um TPS (Third Person Shooter), é mesmo aí que o jogo não convence muito.

No que diz respeito à acção indirecta, passaremos imenso tempo a descobrir formas de passar de A para B, passando secções de plataformas, com ou sem o uso dos poderes de controlo do tempo. Há alguns puzzles para resolver com objetos que estão “presos” no tempo ou em loop instável que podemos parar ou desacelerar. Ao explorar os mapas em busca de segredos, tudo o que encontramos tem uma história para contar, sejam emails que consultamos, panfletos, cartazes e outras fontes de informação. Há também “flashbacks” de diálogos e acções de terceiros que podemos “rever”, alguns importantes para passar secções. Muitos destes objectos e interacções desbloqueiam também variações na série televisiva, alterando a trama. Por isso, não deixem de os procurar para obterem novas cenas.

Tanto na acção directa como na indirecta, porém, há algo que poderá irritar, mesmo os mais persistentes. O sistema de checkpoints, ou seja, os pontos para salvar o jogo. Regra geral, estes estão localizados antes de uma fase mais complicada de jogo, sobretudo antes de lutas com inimigos mais difíceis. Só que estes checkpoints estão muito espaçados e não possuem pontos intermédios. Se morrermos a meio de uma dessas fases mais complicadas, temos de voltar demasiado atrás. Isto é mais evidente em determinadas zonas de maior dimensão. Torna-se aborrecido repetir tudo de novo. Felizmente podemos saltar as cenas intermédias repetidas.

Há ainda outra interacção interessante na acção do jogo. Jogando como Jack ou como Paul Serene teremos determinados momentos importantes para o desenrolar da história em que temos de tomar uma decisão. Há dezenas de “pontos de junção” que alteram o desenrolar do enredo. Por exemplo, será que Paul ordena a execução de uma manifestante contra a sua empresa, caindo na ira popular mas dando uma imagem de austeridade? Ou deixa-a viver sendo a cara de uma campanha de mentiras contra Jack Joyce? Por um lado ela vive, mas “sabe demais”. As decisões não são óbvias e têm sempre repercussões. Podemos prevê-las antes de decidir. Depois, vemos tanto no jogo como na série televisiva os efeitos dessas opções.

Isto transmite ao jogo um convite para a sua repetição. Isto porque há dezenas de desenlaces que só são possíveis mediante os coleccionáveis que encontramos ou estas decisões acima descritas. É normal querermos ver o que aconteceria se tivéssemos tomado outras decisões. Queremos assistir a todas essas opções de enredo, sobretudo nos quatro episódios que seguem, sobretudo Martin Hatch e Paul Serene, editados de acordo com as nossas descobertas e escolhas. Isto, além das repercussões dessas mesmas decisões no jogo em si que afectam Jack Joyce e os seus companheiros.

Para terminar, devo assinalar que a série televisiva teve alguns problemas de sincronismo de imagem, som e legendas. Ao todo, são 75GB só para a série televisiva que podemos descarregar como DLC para visionar mais tarde ou através de streaming. Para jogarem Quantum Break, aconselho a libertarem espaço na vossa Xbox One ou PC com Windows 10 para instalarem a série e não recorrerem ao streaming. Irão perder qualidade visual quando o download estiver a decorrer e há imensas pausas e quebras até o “buffering” estar completo.

Veredicto

Gostaria de falar mais de como gostei do enredo e da experiência como um todo. Mas corria o risco de vos estragar o enredo todo por revelar pontos-chave. Acima de tudo Quantum Break é uma boa história contada, com qualidade narrativa quanto-baste e algumas boas ideias de jogabilidade à mistura. A nível do combate com armas de fogo, já vimos melhor, mas o que oferece com os poderes de manipulação do tempo, puzzles e os desenlaces dignos das melhores séries televisivas, compensam. É capaz de ser uma das melhores experiências de videojogos dos últimos tempos, com uma produção digna de Hollywood e muita qualidade visual. Considero-o essencial para quem tiver uma consola Xbox One ou um PC com Windows 10.

NOTA: Conforme dissemos acima, até à data da publicação desta análise não nos foi possível experimentar a versão PC no Windows 10. A conseguir acesso à versão PC no futuro, condicionada que está por um bug na Windows Store e caso se justifique, actualizaremos esta análise.

  • ProdutoraRemedy Entertainment
  • EditoraMicrosoft Studios
  • Lançamento5 de Abril 2016
  • PlataformasPC, Xbox One
  • Género
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Streaming da série com problemas
  • Tiroteios são pouco convicentes
  • Checkpoints...

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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