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Análise – Predator: Hunting Grounds

Ah, o Predador… Que personagem icónica do mundo do cinema… tão mal representada em videojogos, com poucas excepções. Coube à produtora Illfonic tentar novamente, com Predator: Hunting Grounds, aproveitando uma fórmula que já tinham testado.

Há dois elementos essenciais para que um jogo com o Predador tenha o mínimo de qualidade: representar o infame extraterrestre de forma exemplar e ter a música icónica do filme de 1987, realizado por John McTiernan… OK! Precisará de bem mais que isso, obviamente. Quando disse que o lendário caçador galáctico foi mal representado em jogo, falei em algumas excepções. Mesmo tão limitado nos dias que correm, Aliens Vs Predator (Rebellion, SEGA) de 2010 é ainda uma experiência bastante positiva de acção, representando relativamente bem o Predador. E não posso esquecer a aparição do mítico caçador como convidado na série Mortal Kombat. Agora, num jogo exclusivamente dedicado a si, não há grandes memórias a reter, nem mesmo dos inúmeros jogos mobile nos últimos anos. Por isso, o anúncio de Predator: Hunting Grounds foi muito bem vindo.

Olhando para o conceito, tirando o “anátema” que motivou tanta discussão online de ter um Predador feminino com seios, a produtora não quis arriscar demasiado. Basicamente, pegaram numa receita que já tinham experimentado com Friday the 13th: The Game. Ou seja, combate online assimétrico, com um jogador a controlar Jason Voorhees o Predador e os outros quatro jogadores a representar sobreviventes juvenis soldados em missão. O grupo de humanos tenta executar missões em regime de mundo aberto e escapar com a vida. O vilão tenta caçá-los sem piedade. A fórmula até resultou bem em Friday the 13th, com análises medianas a apontar um pouco para a falta de conteúdo, mas enaltecendo a diversão de jogar com amigos, além do óbvio serviço aos fãs.

Visto que este jogo apostava tanto numa jogabilidade semelhante, a expectativa era que se repetisse a mesma jogabilidade assimétrica. Ainda assim, é incontestável que existe muito mais potencial no lore do Predator. Podia dar-nos uma acção bastante diferente, pelo menos mais táctica e não tanto baseada nos “sustos” do assassino da máscara de hóquei. Afinal, este caçador extraterrestre tem camuflagem electrónica, armas poderosas, agilidade impressionante, uma visão térmica bastante mais vantajosa e uns urros e frases pré-gravadas, essas sim para assustar. Do outro lado, os soldados também possuem armamento mais poderoso, contando também com a vantagem de jogar na primeira pessoa, ao contrário da perspectiva na terceira pessoa do Predador.

Só que a Illfonic levou essa estratégia de “jogar pelo seguro”, quanto a mim, um pouco longe demais. Não tanto na jogabilidade, com muitas diferenças para o jogo anterior da produtora, mas pela sua dimensão igualmente reduzida. Só tem um modo de jogo chamado “Hunt”, disputado em apenas três mapas (Overgrouth, Backwater e Derailed). Embora cada sessão possua missões específicas para o lado dos humanos, são francamente descartáveis e, por vezes sem nexo, como uma para procurar porcos infectados… Pelo meio, há inimigos da IA para nos dificultar, mas nem vou comentar como são acéfalos, ficando por vezes no meio do mapa a atrair balas. Do lado do Predador, então, a missão é ainda mais simplista: matar os humanos e ponto final. Há mais verticalidade (e parkour) no lado do extraterrestre, mudando a acção. Mas, até preferi jogar como humano, confesso.

Durante as suas várias Betas, notei algum espaço para muita variedade em modos de jogo. Mas, a Illfonic não foi mais longe que isto. Não quero dizer com isto que este seja um projecto fechado, até porque não faço ideia do que está planeado. É bem possível que se esteja a pensar em expandir a acção com mais opções de jogo ou mais mapas. Mas, esta é a versão de lançamento, aquela que já estão a vender na PlayStation Store (PS4) e na Epic Games Store (PC). Convenhamos que um curto tutorial, um singelo modo de jogo, uma opção de sessão rápida, outra de sessão privada, em apenas três mapas, é pouco… muito pouco. Porque não um modo cooperativo para caçar o Predador controlado pela IA? Ou ao contrário, com um Predador a caçar humanos da IA? Porque não um modo PvP com vários Predadores jogáveis? Oportunidade perdida, quanto a mim, pelo menos por agora.

Falando dos pormenores que mais gostei, é de assinalar o nível de personalização, tanto do Predador como dos soldados, ambos com várias classes e slots de personalização diversa. Tudo bem, é preciso jogar (e muito) para ganhar itens ou angariar dinheiro virtual e “comprar” algumas das opções de cosmética e equipamento. Uma boa parte das melhores peças de equipamento, sejam armas, utensílios ou cosmética, também estão bloqueadas pelo nível de “carreira”, que avançamos através de pontos de experiência. E, sim, muito deste equipamento pode ser ganho com… caixas de loot. Por agora, todas as caixas são ganhas em jogo ou compradas com divisa ganha em cada sessão. Contudo, pouco será preciso para implementar micro-transacções com dinheiro real. A possibilidade está lá, se calhar escondida por alguma “camuflagem digital”.

Mas, até que ponto os jogadores quererão investir o seu dinheiro neste jogo? Visualmente, este não é um título que vá surpreender muito, seja num PC artilhado, seja numa PlayStation 4 Pro, ambas versões que pude testar para esta análise. Embora se note imenso trabalho de modelação para criar ambientes realistas de selva, pouca coisa realmente brilha por si só. Mesmo a modelação das personagens parece apenas cumpridora. Não tanto no seu aspecto, que teve imenso cuidado nos detalhes, especialmente no lado dos Predadores. O que falo é em algumas animações algo “mecânicas” ou a precisar de algum polimento. A sonoridade até é cumpridora, diria, com muitos efeitos sonoros e… sim, o mítico tema musical electrónico do filme. O som podia ser melhor, no entanto. Tal como o visual, não impressiona muito. Talvez nos fantásticos efeitos sonoros do Predador que tanto nos cativaram no filme de 1997… “over here…”

Tive alguns problemas na ligação online. Na versão PC, tive problemas no matchmaking, levando a procuras de sessões demasiado prolongadas nas primeiras horas de jogo, certamente provocados pela sobrecarga de jogadores no primeiro dia. Ao fim de umas horas melhorou bastante mas ainda notei alguma demora depois também na PS4. E muitas vezes o matchmaking pareceu falhar em termos regionais, com muitas sessões com jogadores de ping demasiado elevado. Outra questão que se nota amiúde, é a diferença de resposta entre os jogadores de PC e da PS4 via cross-play. Não vou comparar o uso prático de um Dualshock 4 ou do teclado e rato, obviamente. Esta diferença que notei só foi mais evidente porque joguei nos dois lados. Foi talvez causada pelo célebre “input lag” na consola. Ainda assim, era de esperar que, depois de várias Betas públicas, a produção tivesse optimizado melhor a jogabilidade entre as plataformas.

Haverá então alguma salvaguarda a reter de Predator: Hunting Grounds? Claro que sim. Já disse como este conceito assimétrico é divertido para jogar entre amigos, sobretudo se um deles está no papel de Predador. Afinal, no seu núcleo, é um competente “shooter”, com boas lógicas de armamento e muitas opções destrutivas para ambos os lados. E há aqui imenso serviço aos fãs, com o fato original do Predador do filme de 1987 e até a M134 “mini-gun”, a “Old Painless” do lendário Blain, entre outras surpresas (BANHO DE LAMA!!!) e itens desbloqueáveis. Também há imensos sons e efeitos visuais que nos recordamos com saudade do filme icónico protagonizado por Arnold Schwarzenegger. Será que isto chega para vender um jogo a 39,99€? Talvez não… mas, os fãs agradecem, obviamente.

Veredicto

Embora ache que o Predador recebe aqui um jogo interessante para replicar a sua proficiência como caçador implacável, o que podemos fazer em jogo é muito escasso. Predator: Hunting Grounds também não surpreende ou inova em nenhuma das suas propostas. Proporciona umas quantas horas de diversão entre amigos, com um shooter relativamente sólido, muitas opções de personalização interessantes para incentivar a progressão e enche o ecrã com bastante serviço aos fãs. Mas, é só mesmo isso. Estou disposto a ignorar o espectro das micro-transacções a pairar mas, não posso ignorar o facto de ter apenas um modo de jogo em três mapas. Estou certo que a produção vai resolver as falhas que encontrei, mas é mais urgente que encha o jogo com mais conteúdo. Se não o fizerem, esta é mais uma oportunidade perdida para este super-vilão, que há tanto tempo reclama o seu devido lugar de destaque no género de acção.

  • ProdutoraIllfonic
  • EditoraSony Interactive Entertainment
  • Lançamento24 de Abril 2020
  • PlataformasPC, PS4
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Muito pouco conteúdo
  • Apenas um modo de jogo
  • Problemas online nos primeiros dias

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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