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Análise – Outcast: Second Contact

Quando o jogo original foi lançado em 1999, o mundo dos videojogos era francamente diferente. Outcast: Second Contact surge agora numa era bem mais exigente. 18 anos depois e uma “operação plástica” pelo meio, vejamos como é regressar a Adelpha. 

Na altura em que Outcast surgiu, veio como uma enorme surpresa. Houve até quem dissesse que, pelas suas características, mais parecia um “Zelda para PC”. Na verdade, os jogos de mundo aberto estavam ainda a iniciar-se neste meio, surpreendendo então por ser um género realmente inovador. Alie-se essa inovação a um motor gráfico impressionante (para a altura) e tínhamos um dos melhores jogos desse ano. A surpresa foi ainda maior uma vez que a produtora Belga Appeal até nem era muito conhecida no meio. Anteriormente, a equipa só se tinha aventurado num modesto shooter chamado “No Respect”, com resultados menos positivos. Portanto, Outcast foi um achado histórico para quem o descobriu. E agora chegou a vez desta geração o redescobrir, logicamente com outros padrões a ter em conta.

No “longínquo” ano de 2007, o ex-Navy SEAL Cutter Slade é reactivado ao serviço por causa de um buraco negro que ameaça a própria Terra. Na origem dessa ameaça está uma sonda que foi enviada para um universo paralelo e que foi danificada por alienígenas. Slade tem a tarefa de escoltar três cientistas para reaver essa sonda e tentar repor a normalidade. Contudo, ao fazer a viagem para a outra dimensão, Slade é separado do grupo e a nova raça que o descobre, acha-o uma deidade chamada de Ulukai. E estes Talan, como são conhecidos, não estão dispostos a facilitar. Até porque têm problemas que só o seu “messias” pode solucionar.

A história está praticamente intacta em relação ao jogo original. É incrível o poder criativo demonstrado pela equipa de produção. Tudo ou quase tudo, tem uma profundidade narrativa assinalável, sobretudo no que toca à história passada desta nova cultura e os desenlaces intrincados no enredo. Slade aglomera em si quase todos os clichés de um herói de acção dos anos 90, cheio de carisma e com o devido tom de durão. As personagens com que nos cruzamos possuem também a sua devida profundidade, num título claramente criado para nos contar uma história interessante. Aí, admito, torna-se uma experiência única, como poucos jogos conseguem proporcionar. Mas, não é tudo…

Sabem quando as vossas memórias de jogos fantásticos são completamente destroçadas quando regressamos ao dito jogo alguns anos depois? Regressar à companhia de Cutter Slade tem esta conotação devastadora. Confesso que o meu contacto com Outcast original foi breve, mas apercebi-me que, de facto, estava ali um jogo muito bonito e tecnicamente avançado. A questão é que os meus gostos de então eram outros. Curiosamente, as minhas actuais preferências até vão de encontro com o seu género. Um jogo de acção, com elementos de exploração em mundo aberto e até alguma componente RPG? Sim, por favor! Só que é preciso não esquecer que esta é uma remasterização de um jogo de 1999.

17 anos depois, com uma reconstrução profunda de cenários, modelos e efeitos, este jogo parece conseguir mesmo atingir um proprósito: apelar aos nostálgicos. Sim, é bem possível que quem não conheça o jogo sinta que está aqui uma aventura muito interessante. Mas, o mesmo jogo que era um colosso visual no final dos anos 90, acusa o peso da idade, mesmo com algum esforço notório da produção. E nem só o design parece datado, infelizmente. A maioria das animações e interacções, assim como os seus menus e opções, são igualmente arcaicos, mesmo com algumas essenciais revisões para esta reedição.

A primeira diferença notória está na modelação do jogo. Passar de voxels para polígonos tridimensionais, era essencial, tendo a tecnologia evoluído significativamente nos mais recentes motores de jogo para este tipo de modelação. Contudo, essa evolução trouxe consigo outros desafios, como um aumento de resolução que não beneficia muito as texturas dos mapas renderizados à distância. Também as transições nas animações das personagens são algo mecânicas e nem sempre correm bem. O mais notório será uma incrível sensação de dejá vu em objectos, personagens e texturas francamente repetidas.

Para esta remasterização, há algumas novidades assinaláveis. A produção decidiu dar-nos a opção de escolher entre regeneração automática da energia ou a opção mais “old school” de usar medikits. Também temos agora os nomes e descrições das personagens no topo das mesmas e até podemos adicionar a tradução dos termos dos alienígenas nos subtítulos, para facilitar a compreensão dos diálogos. Tudo visa melhorar um pouco a experiência dos jogadores que em 1999, basicamente, tinham de se “fazer à vida”. Contudo, nada disto ajuda nas demais falhas que já eram assinaláveis no original.

Este é o mesmíssimo jogo que conhecemos no nosso velhinho Pentium. E é o mesmo jogo relançado em 2011 com o nome de Outcast 1.1 na plataforma Steam. Devemos a sua existência ao facto desta ser a versão também lançada na PlayStation 4 (versão analisada) e Xbox One. No entanto, como disse no início, os nossos padrões são agora outros. Há tanta coisa em que a produção podia aproveitar para rever numa remasterização. Por exemplo, a falta de orientação nos mapas, a forma como nos podemos perder sem um guia concreto, os objectos que que parecem clonados, as mecânicas de tiro francamente lentas e pouco intuitivas, as paredes invisíveis, os sons pouco trabalhados, tanta coisa podia ser melhorada.

Afinal, a questão aqui nem é tanto alegrar os veteranos, como já disse. Estes vão recordar um excelente jogo que aprenderam a gostar há uns anos, mesmo que, para eles, já exista uma já mencionada versão para PC bem mais nostálgica. Esta versão parece ter sido criada para esta geração, talvez com a ideia de cativar novos jogadores. E aí, penso eu, não atingiu o seu potencial. As suas faltas saltam à vista, sobretudo com outros títulos modernos ao lado. O potencial está lá todo, com a história bem construída, toda uma cultura à descoberta, muita exploração e até o combate, que podia ser francamente interessante. Porque quer manter-se tanto no passado, porém, pode não atingir a finalidade de cativar novos fãs.

Veredicto

Nem sempre ser fiel ao original é sinónimo de sucesso. Outcast: Second Contact é uma remasterização com melhorias algo complexas na modelação, mas que mantém muitos elementos originais intactos. O resultado é um jogo com uma forte vontade de ter uma nova vida, mas que mantém muitas mecânicas ultrapassadas que não aproveitam para se reinventar para a geração PS4 e Xbox One. Continua a ser um excelente título de aventura que aconselhamos descobrirem. Sobretudo os veteranos saberão valorizar esta remasterização que é um autêntico trabalho de paixão da produção. Apenas não esperem que faça frente a outros jogos do seu género.

  • ProdutoraAppeal
  • EditoraBigBen Interactive
  • Lançamento14 de Novembro 2017
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAventura
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Visual podia ser mais refinado
  • Mecânicas algo ultrapassadas
  • Oportunidade perdida de recriar o jogo

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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