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Análise: Ori and the Blind Forest

Já lá vai um tempo em que um jogo surpreende, talvez porque o mercado está saturado de alguns géneros dominantes. Mesmo assim, de quando em vez, aparecem-nos pequenas pérolas que devemos estimar. Ori and the Blind Forest, da produtora independente Moon Studios e editado pela Microsoft Games é um desses casos.

Muitos de nós crescemos com lendas do mundo dos videojogos, como Metroid e outros tantos jogos de plataformas 2D de exploração que nasceram daí. A designação “Metroidvania” aplica-se muito bem a Ori and the Blind Forest. Aliás, a própria produção não esconde as influências de Super Metroid ou Zelda. De facto, há um sentimento de nostalgia ao jogá-lo, embora a ênfase seja mais dada às plataformas em si que à componente RPG, que está apenas superficialmente presente.

O pequeno Ori é um espírito guardião que cai numa floresta para receber os cuidados de Naru, com quem desenvolve uma amizade. Infelizmente, um cataclismo atinge a floresta e na escassez de víveres, Naru acaba por falecer, deixando o pequeno Ori sozinho e fraco. No entanto, durante a exploração dos mistérios por detrás da destruição desta Floresta, encontramos uma pequena luz de nome Sein. Esta não só nos guia, como abre portas e ataca inimigos instigados pelo némesis, a coruja Kuro, por detrás dos eventos destrutivos no jogo.

As mensagens fortes de perda, coragem e espírito de sacrifício estão bem esculpidas ao longo da história. Nas poucas falas do jogo, vamos podendo desvendar o enredo que nos parece algo vago, talvez intencionalmente. Percebemos que este jogo é diferente, quando logo no arranque somos confrontados com uma cena emocionalmente forte que dita o tom do resto que falta contar.

Falando do jogo em si, como já disse, estamos a falar de um título de plataformas 2D com convite à exploração, seja da superfície da floresta, nas árvores e montes, ou nas profundezas das cavernas. Ori precisa de procurar os recursos de Água, Vento e Calor para fazer a floresta recuperar a vida. As acções são intuitivas entre correr, saltar e evitar obstáculos. Muitas das plataformas são ultrapassadas com a lógica de percorrer o mapa entre pontos, mas algumas precisam de poderes especiais para ganharmos acesso.

A evolução dos poderes de Ori significa que nem todas as áreas dos mapas estão acessíveis ao início. É bem provável que tenham de regressar a uma zona, agora sim com o necessário para aceder a uma certa entrada. Esta evolução também implica que tenham de se adaptar a novas dinâmicas. Por exemplo, ao início, apenas podem correr e saltar mas, mais lá para a frente, também passam a poder trepar paredes ou até a pairar. Também Sein ganha novas habilidades como atingir inimigos com raios por maior distância ou mesmo fazer rebentar paredes. A adaptabilidade aumenta o desafio deste jogo.

É aqui que entra a tal componente RPG. Com todos os inimigos que destruímos, ganhamos pequenas bolas de poder. Embora apanhemos ao longo do jogo, fragmentos azuis de cristais que nos permitem salvar o progresso (já aprofundo este ponto) e rebentar determinadas paredes ou ainda esferas verdes que nos recuperam energia, as que precisamos para evoluir são as esferas amarelas que nos conferem pontos de experiência. Estes podem ser trocados por evoluções dos poderes, que são muito importantes à medida que o jogo evolui e se torna cada vez mais complexo.

Há ainda outros dois coleccionáveis importantes. Os fragmentos de mapa, permitem desvendar o mapa da floresta de modo a planearmos a navegação e, também, os fragmentos de chaves para abrir portas, essenciais para transitar de nível. E boa sorte para encontrarem todos os coleccionáveis. Até mesmo as esferas de “power-up” que nos ajudam a evoluir Ori mais depressa podem estar ou em locais aparentemente inacessíveis (há sempre uma maneira) ou bem escondidos no mapa, atrás de um tronco ou algo do género. Fiquem atentos.

Infelizmente, apesar da sua jogabilidade intuitiva e relativamente fácil de aprender, Ori and The Blind Forest possui uma dificuldade acrescida nalguns pontos. O design dos níveis é quase sempre o mesmo ao início, mas após algumas horas, começamos a ver um desejo (quase sádico, digo-vos) da produção em dificultar a progressão e evolução de Ori. De facto, ou dominamos as dinâmicas e evoluímos constantemente ou é bem provável que fiquemos presos num ponto complicado.

Também não ajuda muito o esquema de salvar o jogo. Não há savegames automáticos, mas sim um esquema que recorre às nossas esferas azuis. Quando está pelo menos uma completa, podemos activar um “Soul Link” que é, nada mais nada menos do que um Checkpoint. Neste, salvamos o jogo e podemos aceder à tal árvore de poderes para evoluir. Não é bom podermos criar pontos de restauro onde pudermos? Se pensarmos que as tais esferas azuis são importantes para, não só destruirmos certas paredes mas também destruir inimigos mais fortes, a gestão de como activamos ou não esses checkpoints é ingrata. Podemos até nem ter esferas azuis sequer para salvar o jogo.

Assim, a dificuldade acrescida nalguns pontos dos mapas, aliada a essa complicada gestão de recursos e savegames, torna o desafio algo exagerado nalgumas partes. Se o checkpoint for mal posicionado podemos repetir secções vezes sem conta, sempre a morrer. Não é impossível, mas torna-se frustrante. É uma opção de design que, honestamente, gostava de ver aprimorada porque quebra muito o ritmo do jogo.

Resta falar de como a arte do jogo é quase mágica. Todos os cenários são pintados à mão e as animações como as da relva ao vento, por exemplo, parecem trazer autênticas pinturas à vida. A palete de cores é impressionante e cada parte dos mapas são novos quadros para apreciar. Também as animações das personagens e os efeitos de luz e poderes são inteligentemente integrados no dito cenário. A transição entre cenas intermédias e a acção do jogo é feita sem paragens ou “loading screens”. Tudo isto é um bom atestado à qualidade da optimização do motor gráfico Unity, usado pela Moon Studios neste jogo. Uma nota também muito positiva para a banda sonora, aliás para todo o áudio do jogo que consegue recriar uma atmosfera própria entre os momentos mais calmos e a acção.

Veredicto

Na batalha entre a sua beleza visual e a sua dificuldade oscilante, Ori and the Blind Forest é um título que deslumbra ao mesmo tempo que desafia os amantes dos jogos de plataformas. Há muita oferta Indie neste campo, mas penso que a Microsoft apostou muito bem neste pequeno grande jogo. Gostávamos que mais jogos tivessem mensagens tão profundas ou que a arte visual fosse tão bela e não tanto preocupada com “texturas realistas”. Fazem falta jogos como este, nem que seja só para nos lembrar como eram alguns dos jogos que tanto gostávamos.

  • ProdutoraMoon Studios
  • EditoraMicrosoft Games
  • Lançamento11 de Março 2015
  • PlataformasPC, Xbox 360, Xbox One
  • GéneroPlataformas
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Sistema de Save
  • Desnível de dificuldade ao longo do jogo

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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