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Análise: Ōkami HD

Há pouco mais de dez anos, este foi um dos jogos que marcaram a geração da PlayStation 2, surpreendendo os jogadores com a sua arte e acção criativa. A Capcom trouxe-nos este título de volta com Ōkami HD, devidamente remasterizado para actual geração.

O lançamento deste jogo foi um caso curioso. Foi lançado no fim de vida da PS2, numa altura em que já todos aguardavam a PS3, resultando em poucas vendas iniciais. Além disso, a produtora original, Clover Studio, foi encerrada pouco depois do seu lançamento. Contudo, embora tudo parecesse jogar contra este título, Ōkami recebeu imensas críticas positivas, tornando-se um ícone da PS2 e, com o passar do tempo, os jogadores foram descobrindo este jogo incompreendido. Ajudou o facto de ter sido portado duas vezes, uma para a Nintendo Wii em 2008 e remasterizado para a PS3 em 2012. Teve até direito a uma sequela chamada Ōkamiden lançada em exclusivo na Nintendo DS em 2011. Perpetuando a sua popularidade, aqui está mais uma remasterização, desta vez para a PlayStation 4, Xbox One e PC com suporte para resoluções 4K e muita vontade de recuperar um ícone.

Vamos acompanhar a aventura de uma deusa Japonesa Amaterasu da mitologia religiosa Shinto. Personificando a loba branca com poderes celestiais Shiranui, a sua missão é combater demónios para trazer a vida de volta ao mundo através das cores. Com a companhia do irreverente Issun, passaremos por diversas histórias e enfrentaremos diversas personagens desta mitologia. Todas as interacções são francamente interessantes, com as intervenções quase sempre cómicas de Issun e as personalidades fortes dos antagonistas, sobretudo o seu líder Yami que quase, quase nos surpreende no final da história.

Apesar do tema não apelar a muita gente ao inicio, tratando-se de uma mitologia algo densa, toda história acaba por ser contada de forma muito descontraída. Na verdade, o enredo é bastante linear, sendo engenhosamente contado através de uma tela sempre a ser pintada para nós. O que resulta num belo conto de gosto requintado e visualmente agradável. Enredo à parte, no entanto, onde este jogo realmente brilha é a dar-nos uma interacção única e bastante criativa.

Onde a interacção realmente toma forma é através da mecânica Celestial Brush. Esta é uma interacção baseada no movimento em que pudemos usar um pincel para interagir com o cenário. Basicamente, podemos pausar o jogo e desenhar na tela usando os comandos analógicos (ou o PlayStation Move). Existem diversos comandos de acção para interagir, não só durante puzzles, mas também em combates e noutras ocasiões. Podemos, por exemplo, eliminar adversários por desenhar uma linha para os cortar ou criar passagens por completar zonas, entre outras mecânicas. Francamente compensador, digo-vos.

E há novas habilidades com este pincel são desbloqueadas ao longo do jogo, criando novos padrões de interacção. Esses desbloqueios fazem-se através de alguns elementos RPG que permitem evoluir Amaterasu. Como temos tinta limitada, não podemos abusar desta habilidade, obrigando-nos a procurar potes de tinta para a restaurar. Considero esta uma das mecânicas mais interessantes que jamais experimentei num videojogo. Tenho ideia de ter visto outros jogos em que certamente se inspiraram aqui para este tipo de interacções. Mas, não é só com a Celestial Brush que essa inspiração é notável.

A acção em plataformas, o estilo de aventura em exploração com busca de tesouros e outras mecânicas parecem sempre familiares. Seja porque jogos posteriores vieram aqui buscar elementos de inspiração, seja porque a própria produção fez o mesmo com outros títulos da altura. Os fãs da série The Legend of Zelda serão os que mais similaridades vão encontrar. Isto porque o director Hideki Kamiya nunca escondeu que é um fã desses jogos da Nintendo e que os usou como fonte de inspiração. E não há nada de errado nisso, certo?

No entanto, o jogo possui o seu próprio ADN bem definido. Existem outros modelos de interação para Amaterasu, incluindo armas e técnicas de combate. Por cada encontro bem sucedido contra os demónios, recebemos divisa de jogo (Yen) e bónus especiais, como um que é atribuído por não receber dano, por exemplo. A divisa permite comprar diversos itens de vendedores, como armas melhoradas, curativos e outros elementos importantes, mas também podemos usar a mesma divisa para recorrer a ginásios (dojos) e treinar novas técnicas de combate.

Outra forma do jogo deixar a sua marca está no seu visual. Apropriadamente, o jogo aposta numa arte estilo “cel shading” com figuras e cenários desenhados e engenhosamente pintados à mão. Se na PS2 e depois na PS3 estes desenhos já eram soberbos, imaginem ver esta arte fantástica em toda a glória Full HD ou UHD 4K se tiverem uma PS4 Pro ou Xbox One X. Claro que não devem esperar grandes proezas técnicas para um jogo de 2007. Afinal, este não é um remake, mas sim uma remasterização. O rácio de ecrã foi expandido para as novas resoluções (não iriam querer jogar com 4:3), permitindo também melhor definição. Mas, no plano técnico, é tudo o que podem esperar em termos de evolução.

Notem que, apesar de uma remasterização competente, há algumas falhas pelo caminho. Já no jogo original a sua perspectiva de câmara não era muito intuitiva, sobretudo nos combates. A maior dimensão da resolução só piora esta sua fraqueza. E pela sua interacção com base nem movimentos, não entendo porque a produção não aproveitou a ocasião para implementar o touchpad do comando Dualshock 4. Dada a tradição com as consolas Nintendo, também gostava de ter visto este título na Nintendo Switch onde julgo ser a plataforma ideal para esta remasterização.

Veredicto

Esta é uma recuperação de um excelente título que merecia a nossa atenção, mas que pode ter facilmente passado despercebido no seu lançamento original. Ōkami HD é uma adição importante à vossa biblioteca actual de jogos, tenham ou não jogado o original. Irão experimentar uma arte visual única e uma jogabilidade francamente criativa, agora com resoluções dignas da sua qualidade. Contudo, ao fim de 10 anos, a sua câmara temperamental nada mudou e seria óptimo que pudesse aproveitar melhor as tecnologias modernas. Vamos aguardar por uma possível versão na Nintendo Switch que parece mesmo que estaria “em casa”.

  • ProdutoraClover Studio / Capcom
  • EditoraCapcom
  • Lançamento12 de Dezembro 2017
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAventura
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Câmara de jogo
  • Não aproveita bem o Dualshock 4
  • Seria perfeito na Nintendo Switch

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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