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Análise – Marvel’s Spider-Man 2

É mais um dos jogos mais esperados do ano. A Insomniac Games arregaçou as mangas para mostrar quem é que consegue criar outro jogo de super-heróis de categoria, com Marvel’s Spider-Man 2.

Mesmo quem não gosta das aventuras da Marvel, com certeza consegue reconhecer a qualidade dos anteriores Marvel’s Spider-Man e Marvel’s Spider-Man: Miles Morales. São duas histórias fantásticas, baseadas numa premissa muito interessante de fidelidade às histórias originais do aranhiço. Tudo bem, há uma série de “liberdades criativas” com o enredo, histórias que são recontadas a nível de personagens e eventos para satisfazer a nova narrativa. Mas, no rigor, estes dois outros jogos, na verdade um jogo e uma expansão glorificada, são já dois marcos na História dos videojogos, pela sua qualidade narrativa, rigor técnico e jogabilidade apurada. Sem, pressão, Insomniac, só têm de repetir a fórmula novamente.

A nova história deste jogo é uma de amizade e de sacrifício pessoal para ajudar os nossos amigos. O título geral do marketing usado para o jogo é taxativo: “Be Greater Together” ou “Sejam Melhores Juntos”, é uma clara explicação da abordagem à dinâmica entre as principais personagens do jogo. E é também uma notória referência ao que acontece quando não nos unimos em prol de um objectivo comum. É evidente a analogia que este jogo faz aos eventos reais recentes com pandemia, guerras, recessão económica e outros problemas sociais.

Depois dos eventos das duas últimas aventuras, Nova Iorque é uma cidade em recuperação. Com os principais vilões atrás das grades, Peter Parker e Miles Morales não estão particularmente de férias, continuando o habitual combate ao crime. A dupla de aranhiços é agora a principal fonte de segurança na Grande Maçã, dividindo o devido protagonismo. No entanto, as coisas não estão realmente bem entre a dupla, com Miles a dividir a sua atenção com os estudos e Peter a lutar pela sua relação com MJ. A vida continua, portanto, com ou sem o fato de herói vestido.

Só que, algures, alguém ouviu os relatos de um tal de Homem-Aranha que desanca uma série de vilões igualmente poderosos. Um caçador sem escrúpulos, Kraven vira a sua atenção para Nova Iorque, com a intenção de a tornar o seu campo pessoal de batalha. O súbito aparecimento do seu bando de caçadores e o rapto dos principais vilões, alguns deles a tentar fazer nova vida, é um prenúncio de uma grande caçada que acabará inevitavelmente por destruir a cidade e ameaçar os seus habitantes. Contudo, Kraven cedo descobre que a sua verdadeira caçada é outra.

Harry Osborn é o amigo de longa data de Peter Parker. O amigo regressa a Nova Iorque para recordar memórias do passado e… informar que está gravemente doente, restando-lhe pouco tempo de vida. O seu pai, Norman Osborn, investe todo o dinheiro e esforço na sua Oscorp para criar uma cura… e uma pode muito bem ter sido encontrada. Só que o preço a pagar pode ser demasiado arriscado. A origem da cura não é deste mundo e a sua real eficácia é ainda desconhecida. Como devem calcular, com algo tão incerto, é daqui que sairá o verdadeiro desafio de Peter e Miles, mas também o grande troféu que Kraven busca: Venom!

Este enredo é incrivelmente denso, muito mais denso que posso alguma vez explicar aqui, até porque não quero estragar a vossa experiência a passar esta trama. Se viram todas as promoções deste jogo, sabem que a grande ameaça do jogo é mesmo o temível Venom, deixando Kraven para segundo plano. Aliás, a presença do caçador em jogo passa subitamente a algo residual na sua segunda metade, tornando-o um pouco esquecível. Já no jogo anterior alguns vilões claramente serviram para preparar o verdadeiro embate entre Peter e Doctor Octopus. Aqui, no entanto, achei que Kravinoff merecia um pouco mais de “tempo de antena”.

Mas, claro, Venom é o vilão por excelência da Marvel nesta série, especialmente na banda-desenhada. O jogo capitaliza muitíssimo bem na sua presença, na sua violência e no seu paralelismo com o(s) Homem-Aranha. Se leram as comics, sabem que, a dada altura, Peter é “infectado” pelo ser extraterrestre, o Symbiote, que lhe dá (ainda mais) super-poderes e… uma nova personalidade. Eventualmente, nas comics, Peter separa-se do Symbiote, dando origem ao vilão que conhecemos. Mas, a forma como o faz é aqui verdadeiramente única.

Como já era espectável, uma vez mais a Insomniac decidiu contar a história à sua maneira. Não vou dizer como, mas o famoso Eddie Brock não é o hospedeiro do Symbiote como o é nas histórias originais. Há também uma determinada missão que nos dá uma espécie de história de origem de outro Symbiote antagonista, Carnage. O final do enredo também parece introduzir um potencial novo antagonista a caminho, possivelmente a preparar-nos para uma expansão de enredo como foi Spider-Man: Miles Morales. Por mim, tudo bem, porque já desde o jogo anterior o esperamos.

De um modo geral, os fãs não ficarão desapontados com os múltiplos enredos que envolvem as duas histórias dos aranhiços. Obviamente, como já disse, é na união de Peter, Miles e também de MJ e Harry que esta história se focará. De uma forma um tanto previsível, terá de haver um momento de divisão entre todos, para depois contar a tal história de união e de amizade. Como tudo terminará, porém, terão de jogar para descobrir. Tal como nos jogos anteriores, este é um ponto fortíssimo da Insomniac: contar histórias muito bem escritas e estruturadas, dando-nos um final muito recompensador.

Contribui muito para este enredo tão bem contado o cuidado extremo que a produção teve em criar este mundo e também a transmitir aos actores a emoção devida. As cenas intermédias com interacções com as personagens são qualquer coisa de fenomenal, dando coração à mensagem transmitida, com algumas cenas mais emotivas a dar-nos o devido contexto e sentimento necessários nunca exagerando ou tornando-se sintéticas. Nota muito positiva para mais uma produção nacional na dobragem irrepreensível para língua Portuguesa. Dobrar Venom não é nada fácil, que o diga o actor Português que o fez.

Obviamente, quem leu as comics da saga de Venom, já conhecerá algumas das reviravoltas e desfechos de algumas personagens. Mas, ainda temos lugar para algumas surpresas interessantes, como uma história de despedida para Black Cat, por exemplo. Há também regressos interessantes dos dois títulos anteriores, dando-nos a devida ponte narrativa. Sinceramente, apesar de poderem perfeitamente jogar a história principal deste título sem jogar os dois anteriores, sugiro que os joguem primeiro ou não entenderão algumas porções menores do enredo.

Como já devem ter notado, desta vez teremos o controlo sobre os dois Homem-Aranha, lado-a-lado na luta contra o crime em Nova Iorque. Em Spider-Man: Miles Morales foi possível lutar ao lado de Peter Parker em algumas ocasiões mas neste jogo a dinâmica da dupla é mais evidente e muito bem explorada. Há missões específicas para os dois e há missões em que os dois participam. Nos combates, há até combos realizados entre os dois. Até é possível encontrar o outro Homem-Aranha nas nossas viagens pela cidade, podendo mesmo juntar-nos à acção como duo dinâmico.

Os dois possuem poderes diferentes, fruto das suas experiências anteriores. Cada um possui uma árvore de evolução singular e ainda temos outra árvore com habilidades comuns aos dois. Em termos de ataques especiais, enquanto que Miles continua a evoluir os seus poderes electrificantes Venom (não confundir com o vilão desta história), Peter obviamente ganha novos poderes com a interacção com o Symbiote. A dada altura, terá mesmo o fato negro característico, obtendo poderes dos tentáculos viscosos e um modo “rage” temporário absolutamente destrutivo.

Em termos de combate, porém, não há grande diferença entre os dois aranhiços. A real divisão entre os dois reside nesses poderes especiais, que já mencionei. De resto, lançar teias, usar gadjets e dar grandes golpes acrobáticos é francamente semelhante entre os dois. Este é o compromisso óbvio para que a jogabilidade não se torne muito complexa para os jogadores. Tudo tem de fluir de forma lógica, mesmo que tenhamos habilidades diferentes. Esta fórmula, quanto a mim, funciona muito bem. Mesmo que tenha uma preferência maior por Peter, Miles é um digno Homem-Aranha. O que é, aliás, muito bem enfatizado no final da história.

É também possível angariar e vestir uniformes diferentes para os diferenciar, tendo neste jogo uma incrível selecção de dezenas de fatos (em baixo), alguns com cores diferentes. Há missões de história, crimes ocasionais, objectivos e coleccionáveis comuns aos dois, dando-nos margem para livremente alternar entre Peter e Miles a nosso gosto. Há também algumas fases em que jogaremos com outras duas personagens, regressando MJ como protagonista de algumas missões, desta vez um pouco menos enfadonhas que no primeiro jogo. A outra personagem que controlaremos, prefiro que descubram jogando.

O palco para esta densa trama é também outro. Não, não vamos sair de Nova Iorque, calma. É que temos uma nova recriação impressionante desta cidade, cuja dimensão quase duplicou. Neste jogo foram adicionados novos distritos no lado de Queens e Brooklin, dando também umas quantas áreas de jogo diferentes, por vezes com menos arranha-céus e mais áreas planas. Parece uma contradição que haja menos verticalidade, até para lançar teias e navegar pelas ruas. Só que os aranhiços aprenderam um novo truque no passado para tornar a navegação mais interessante.

Sim, as já conhecidas asas planadoras são o gadget que mais usarão para transitar de missão em missão. Ao longo do mapa há túneis ventosos que nos empurram a alta velocidade entre zonas, sem esquecer umas plataformas de fisga que nos catapultam em altura e velocidade. Há também novas habilidades para nos ajudar a ter um impulso de velocidade e altitude, com um cooldown para não abusarmos deles, claro. Resumindo, transitar pelas ruas de Nova Iorque é ainda mais excitante nesta sequela, tanto que quase nunca recorri ao fast travel para o efeito.

Em termos de novidades, o interface está um pouco menos dependente do menu. Este menu, já agora, está francamente igual aos jogos anteriores, talvez por uma questão de familiaridade. Não é propriamente um mau elemento de interacção, é intuitivo quanto baste mas, claro, remove-nos da imersão, devendo ser só usado para questões de upgrade, mudança de fato ou algo semelhante. Felizmente, a aplicação móvel que nos dá missões está de volta ainda mais robusta, como todas as missões disponíveis com um toque no touchpad e muita facilidade de navegação.

E o que é melhor é que não precisamos de olhar para o mapa para ver onde está uma missão ou alguma tarefa, já que temos um novo conjunto de ícones visuais à distância para ajudar na navegação. Tarefas, missões, coleccionáveis e pontos de interesse, todos são devidamente sinalizados de forma intuitiva. Claro que, inicialmente, há demasiadas coisas a aparecer no horizonte mas é algo que lentamente vão “limpar” consoante vão cumprindo missões e objectivos. Considero este um passo positivo nesta sequela, perdendo muita da dependência do menu que tínhamos anteriormente.

Claro que o que mais saltará à vista é o visual. Este é o primeiro jogo desta série a estrear-se de raiz na PlayStation 5. Já Spider-Man: Miles Morales nos tinha impressionado bastante pelas sua qualidade visual e integração com o comando DualSense e Áudio 3D. Contudo, Marvel’s Spider-Man 2 é uma completa evolução técnica em quase todos os pontos na consola mais recente da Sony. Temos disponíveis os inevitáveis modos de qualidade e performance para obtermos o que queremos do jogo. Quem quiser algo mais visualmente bonito, tem um bom compromisso entre performance e qualidade visual. Quem se foca mais nos FPS, tem também a sua opção.

Só tenho um reparo a fazer. O modo de performance é francamente bom, dando-nos as devidas altas taxas de fotogramas para uma fluidez irrepreensível. Será o modo que irei recomendar, especialmente lá mais para frente quando começarmos a ser desafiados a sério e precisarmos de atacar e defender no tempo certo. Contudo, neste modo notei uma série de artefactos que me parecem relacionados com a constante alteração de resolução para optimização. É algo que a produção poderá corrigir no lançamento, notem. Ainda assim, o (d)efeito nota-se bem em alguns momentos. De resto, este é um atestado de qualidade sem precedentes.

Veredicto

Tão grande que é a cidade de Nova Iorque, ainda maior neste jogo. De facto, esta cidade gigante, a história emocionante, a qualidade visual, a sua jogabilidade espectacular, o incrível cuidado em tratar estas personagens intemporais com o devido respeito e, claro, a enorme língua de Venom, quase não cabem em Marvel’s Spider-Man 2. É uma oferta voluptuosa, um jogo que reúne tudo o que a Insomniac Games sabe fazer tão bem, aliado ao poder incontestável da PlayStation 5. Mais que um jogo recomendado, é um dos melhores do ano, representando um novo nível de qualidade e excelência para os PlayStation Studios.

  • ProdutoraInsomniac Games
  • EditoraSony Interactive Entertainment
  • Lançamento20 de Outubro 2023
  • Plataformas
  • GéneroAcção, Aventura
e
Épico

Simplesmente imperdível, candidato a melhor do ano.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Kraven passa rapidamente para o esquecimento
  • Alguns artefactos no modo performance

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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