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Análise: Kona

Depois de passar pelo Early Access do Steam, a produtora Parabole lança finalmente o seu muito aguardado título de aventura na primeira pessoa, Kona. E este pode muito bem ser uma das agradáveis surpresas deste ano, sobretudo para quem ainda não tinha ouvido falar.

Antes de mais, vamos por de lado esses inúmeros sorrisos maldosos. Apesar de soar mal na nossa língua, Kona até é uma palavra anglo-saxónica banal, desde uma localidade no Hawai, até uma marca famosa de bicicletas. Neste caso, é apenas o título do jogo, não podendo explicar a sua origem a bem da narrativa. Piadas fáceis à parte, para mim este jogo foi uma agradável supresa a vários níveis. Temo que o seu infeliz título o torne pouco popular por cá. Que não faz jus ao jogo muito interessante que temos em mãos. Espero, honestamente, que vos consiga explicar como eu gostei tanto deste título.

Em plenos anos 70, o detective privado Carl Faubert está de visita à região rural no Norte do Canadá. Foi contratado pelo magnata W. Hamilton para investigar umas suspeita de conspiração contra si. Nada de realmente importante parece esperar Carl numa insuspeita viagem de carro até à região do lago Atamipek. Contudo, um incidente logo o desperta para uma curiosa situação, enquanto luta para sobreviver. E o que raio aconteceu à meteorologia? Subitamente a nevar abundantemente, o protagonista está agora a braços com um mistério de proporções inimagináveis.

Porque o enredo deste jogo é o seu maior trunfo, não vou acrescentar muito mais a esta introdução. Descrevi exactamente o que se passa nos primeiros minutos de jogo. Na maior parte do tempo, um narrador (a voz de Carl Faubert) irá dizer-vos tudo o que precisam saber do enredo, inclusive com dicas e pistas de desenvolvimentos. Considero a história realmente empolgante e sentimo-nos mesmo a investigar pequenos e grandes mistérios. Pelo menos até aos últimos eventos, que me parecem surgir um pouco rápidos demais. Mesmo assim, a história deste jogo é digna de qualquer thriller de investigação, com alguns momentos de acção empolgante e alguns laivos de mitologia pelo meio.

Poderia classificar este jogo como um “walking simulator” e possivelmente concordariam comigo. No entanto, dadas as inúmeras interações, consequencias e momentos de acção directa, penso que será mais justo chamá-lo de “aventura gráfica”. Entre exploração, gestão de inventário, sobrevivência, tiros e crafting, acaba por chegar-se muito próximo de um shooter, não fosse esta acção com armas claramente uma mecânica secundária. Assim de repente, Kona faz-me lembrar um Firewatch com elementos de acção e muito mistério digno dos mais proeminentes Ficheiros Secretos. Será justa esta comparação? Talvez. Regra geral, quando um género é complicado de definir, o jogo tende a ser irrelevante. Mas não é o caso, felizmente.

Depois de percebermos que a acção é inteiramente na primeira pessoa e do narrador nos dizer algumas palavras para nos orientarmos, rapidamente percebemos que nada mais será feito para nos ajudar. Temos de nos desenvencilhar e usar de raciocínio para, em primeiro lugar, sobreviver e, em segundo lugar, desvendar o enorme mistério que se vai adensando. Não esperem muitas ajudas, até porque vão deambular por cenários (quase) desprovidos de vida. Além da omnipresente neve, as casas, lojas, armazéns e desertos farão companhia na nossa aventura. Não vamos encontrar (praticamente) ninguém para nos orientar. Apenas a voz do narrador, as notas do nosso diário e as pistas que encontramos nos apontam uma direcção. Como lá chegamos, temos de descobrir.

E essa liberdade é interessante. Tanto nos desorienta, como nos move a explorar. Ao andarmos com a nossa carrinha com o mapa aberto, vamos percebendo que a aparente pequena localização é, afinal pejada de inúmeros segredos, além das localidades marcadas pelo mapa. E em diversos locais poderemos encontrar pistas, mas também mantimentos e armas diversas. É que nesta questão de sobrevivência, não é só preciso contar com fogueiras para aquecer ou kits de médico para curar feridas, é preciso uma boa caçadeira ou uma faca para estarmos preparados para perigos mais severos.

Mas tomem cuidado com a aparente facilidade de Kona. A tal omnipresente neve não está lá para decoração. Podemos morrer de frio, uma vez que a baixa temperatura afecta a visão e o raciocínio de Carl. Lá porque as áreas remotas parecem desertas, tomem cuidado com os lobos selvagens que não se comportam de forma particularmente amistosa. A dificuldade está lá, escondida em movimentos e puzzles simples. Quando puxarem da pistola para dar um tiro e falharem cada um por causa do frio. Ficam sem munições e vão-se lembrar que, se calhar, deviam-se preparar melhor para explorar aquela nova área.

Já agora uma nota curiosa. As habitações com electricidade ou lareiras não servem apenas para proteger do frio. São também os únicos locais disponíveis para salvar o jogo. Só que nem todos estarão disponíveis. Por vezes é preciso ligar a energia ou reunir madeira, fósforos e acendalhas para acender fogos. Para encontrar estes itens, temos muitas gavetas, armários e prateleiras para vasculhar em cada habitação ou edifício. Muitas vezes, há determinados puzzles para resolver. Por exemplo, para obter um pé de cabra, é preciso levantar um elevador numa garagem. Para isso precisamos de energia que, por sua vez, foi cortada. Teremos de procurar um gerador, ligá-lo e ir ao quadro de electricidade ligar o disjuntor respectivo.

Penso que perceberam a lógica. Alguns destes passos, porém, não são muito intuitivos e obrigam a alguma experimentação. Uma das primeiras “barreiras” que encontrei foi não conseguir tirar a pickup de uma valeta, só descobrindo mais tarde que tinha correntes no inventário para as rodas. O narrador ajuda a perceber o que falta, mas as vezes estamos tão compenetrados na acção que não ouvimos tudo o que diz. Outras vezes não consideramos a informação dada de forma vaga. Quando assim for, poderão ficar estagnados.

Numa aventura tão profunda e repleta de mistério, é de assinalar que no resto, ao nível técnico, Kona é um jogo com altos e baixos. Se, por um lado, toda a arte do jogo é fácil de apreciar, dada a atenção ao detalhe de cada uma das porções de cenário, por outro lado o motor gráfico parece lutar para manter uma performance aceitável. Notam-se oscilações nos fotogramas por segundo (FPS), parecendo que na versão analisada (PS4) o jogo não está bem optimizada. Mas há ocasionais pausas momentâneas, como se o jogo parecesse estar com dificuldades em acompanhar a nossa velocidade, sobretudo quando corremos ou fazemos movimentos mais rápidos.

O pior de tudo, no meu ponto de vista, são os curtos mas constantes ecrãs de carregamento entre zonas. Honestamente, não são muito longos, durarão uns 7 ou 8 segundos, mas são constantes e não ajudam no ritmo de jogo. Notem que não são realmente ecrãs de carregamento, mas uma imagem pausada com um círculo de carregamento no meio. Isto acontece ao entrarem em novas zonas, o que gera uma situação caricata quando têm de cruzar zonas várias vezes. Nos dias que correm, seria de esperar que as produções encontrem boas soluções para evitarem estas quebras. Num jogo que pretende de ser de exploração e de movimentação livre tornas-se ainda mais flagrante.

Veredicto

Como disse no início, Kona é uma agradável surpresa. Num mercado saturado de jogos mais virados para a acção directa, é interessante ver um jogo que puxa pelo nosso intelecto. O que se quer de um jogo senão que nos conte um boa história? Infelizmente, Kona acaba algo cedo numa aventura de apenas 5 ou 6 horas, dependendo das vossas prestações e vontade de explorar. E acho o fim um pouco apressando considerando a antecipação que sentimos ao longo da trama. Contudo, mesmo com algumas questões técnicas pelo meio, é um jogo obrigatório para todos os amantes de “walking simulators” que pretendam um pouco de acção que puxe pela massa encefálica.

  • ProdutoraParabole
  • EditoraRavensCourt
  • Lançamento21 de Março 2017
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAventura
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Oscilações de performance
  • Ecrãs de carregamento constantes
  • Combate podia ser melhor

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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