Análise – Intruders: Hide and Seek
Para quem não conhece, Intruders: Hide and Seek venceu o Prémio PlayStation Talents para Melhor Jogo do Ano em Espanha. Não podíamos deixar de conhecer que jogo é este, um indie para PlayStation VR e que qualidades fizeram dele um vencedor.
Mesmo antes da análise, tenho de dizer que a qualidade que irão comprovar neste título, é um sintoma claro que o programa PS Talents tem resultado em excelentes descobertas. Por um lado, dá oportunidades únicas a criativos e produtores de lançar os seus jogos. Por outro, traz para a “montra” jogos que, de outra forma, possivelmente nos passariam ao lado. Não há muitos programas com este tipo de suporte e com tanta vontade de ajudar pequenos produtores. E tanto em Portugal como em Espanha, temos visto autênticas pérolas surgirem deste programa. Não só dos galardoados nas várias disciplinas, obviamente. Mas, os vencedores, como este, dão provas que o talento, de facto, está lá. Mas, já me adiantei. Vamos lá falar do jogo.
A história de Intruders leva-nos a controlar Ben, um pequeno rapaz que vai de férias com os seus pais e irmã Irene, para uma enorme casa no meio da floresta. Só nesta descrição, já conseguimos antever algum tipo de evento terrível para quebrar esta situação. Tudo corria bem, até que, numa noite, um grupo de assaltantes entra em casa e faz os pais reféns. Com a irmã doente e no interior de uma sala de pânico, cabe ao pequeno Ben encontrar uma forma de pedir ajuda sem ser descoberto. É uma premissa simples e que não precisa de mais explanação. O que salta à vista imediatamente quando começamos a jogar, é a grande ênfase dada à história. E, sem querer explicar mais, posso já adiantar que é bastante solida.
Há espaço para surpresas e revelações inesperadas que nos mantém atentos desde o início da aventura. Vão surgir muitas questões interessante, como saber quem são realmente os assaltantes e o que querem dos pais de Ben e Irene. Todas as questões são respondidas a seu tempo, sem nenhuma sensação de pressa. Como temos um grupo pequeno de personagens, cada uma terá o seu momento de glória. Há vários finais diferentes que podem ser activados com uma decisão que terão de tomar no final. Seria interessante recordar as nossas escolhas ao longo do jogo mas, mesmo assim, os finais apresentados são empolgantes e foram bem desenvolvidos.
Felizmente, não foi só a história que me cativou. Antes de começar a jogar, é possível escolher a forma como irão abordar esta aventura: Através de um modo clássico, em que jogamos na primeira pessoa ou com a ajuda do PlayStation VR para tornar toda a experiência mais imersiva e rica e alguns pormenores únicos. Qualquer que seja a vossa decisão, recomendo que preparem o ambiente da vossa sala de jogo e usem uns bons auscultadores. A experiência não pretende ser propriamente assustadora, mas envolve alguma tensão que nos concentra. Ainda mais com a realidade virtual.
Optei mesmo pelo PS VR, visto que este jogo foi pensado com esta plataforma em mente. Em VR é possível definir uma série de opções nas mecânicas do jogo, como a velocidade da rotação, a suavidade de algumas animações (como a de espreitar) e, claro, a forma de locomoção ao longo do jogo. O mais correcto será experimentarem ajustar cada opção, até encontrarem um ponto de equilíbrio onde não existam quaisquer inibições à jogabilidade e, obviamente, evitar as típicas náuseas que este sistema pode causar.
Nos mais recentes jogos de terror, principalmente em VR, não há forma de nos defendermos fisicamente dos inimigos e isso acontece também em Intruders: Hide and Seek. No entanto, neste título senti que até há uma justificação para tal limitação. Afinal de contas, estamos no papel de um rapaz de 10 anos e que não é propriamente um exemplo de um “herói” típico. Portanto, a única coisa que poderemos fazer ao longo do jogo é esconder e fugir. Se o título deste jogo não vos der essa dica, não sei o que dará. Vamos mesmo jogar às “escondidas”. Só que perder aqui não nos dá “1, 2 , 3, apanhei-te”.
Toda a aventura decorre durante a noite. Podemos usar lanternas para tentar antever os passos dos inimigos e para nos ajudar a deslocar furtivamente pela casa. A acção do jogo está toda focada na mansão, no início podemos explorar livremente, sem qualquer assaltante e depois todos deambulam à procura das duas crianças. Notem que o caminho dos assaltantes vai mudando, o que nos obriga a encontrar novas formas de os evitar. A Inteligência Artificial não é brilhante, infelizmente. Facilmente conseguimos enganá-los. Ainda assim, o que realmente interessa é que o sentimento de urgência e perigo iminente é bem transportado para a acção e trama em si.
Apesar de ser descrito como um jogo de terror, diria que se assemelha mais a um thriller psicológico. A tensão está mesmo presente em toda a aventura, dando-nos um constante sentimento de algo “iminente”. Ainda assim, não há quase nenhum jump scare. É verdade que me assustei com situações inesperadas mas atribuo o susto à grande tensão do momento. Por falar nisso, há um mini-jogo onde temos de abrandar o ritmo cardíaco de Ben. Para tal precisamos de agitar o comando, como se estivesse a tentar acalmar. É uma mecânica interessante mas… que só funciona com o protagonista. Para vocês, um chá de camomila e uns exercícios de respiração poderão ajudar…
Mesmo com todos estes aspectos positivos, infelizmente o jogo apresenta algumas questões que considero menos positivas. Existem alguns elementos em que, apesar de vencedor de um prémio, fica claro que este é um título com um orçamento mais limitado. O primeiro ponto a notar, é a já referida IA limitada dos inimigos. A outra questão é a falível detecção de colisões com os objectos, conhecido tecnicamente clipping. É frequente e precisava mesmo de uma optimização mais cuidada. Acredito que possa ser facilmente corrigido com uma actualização. Assim espero, pelo menos.
A nível visual, este título oferece um resultado final bastante positivo, pelo menos do que já estamos habituados a jogar no PS VR. Um pormenor que achei especialmente bem feito é a escala dos ambientes. Com a ajuda do VR senti-me realmente com a altura de uma criança e isso contribui para o sentimento de suspense do jogo e tensão com os inimigos. Outro elemento que me surpreendeu foram as sombras dinâmicas do jogo. Normalmente, nos jogos de Realidade Virtual as sombras são fracas, devido às limitações técnicas. Contudo, parece que os Tessera Studios conseguiram contornar esse problema.
No som, temos algumas músicas de fundo que ajudam a aumentar a tensão. O normal, portanto. Contudo, o uso de som tridimensional ajuda-nos a ouvir os passos dos inimigos e a perceber a sua localização, óptimo para a tal imersão pretendida. Na versão inglesa, temos vozes conhecidas e bem interpretas de actores como Miguel Angel Jenner e Samuel L. Jackson. Contudo, há aqui um desaproveitamento. É que as vozes não usam som 3D e ouvimo-las sempre com o mesmo volume, estejamos perto delas ou não, mesmo estando num piso diferente. O que acaba por, de certa forma, quebrar a concentração.
Veredicto
Se o objectivo de Intruders: Hide and Seek era oferecer uma experiência imersiva com muita tensão à mistura, podemos dizer que foi conseguido. É uma excelente experiência para PlayStation VR, num jogo das escondidas muito perigoso e tenso. A história é cativante e, mesmo terminando em pouco mais de 4 horas, não senti que tenha sido apressada. Dá também boas provas também da qualidade do programa PlayStation Talents. Tem as suas falhas, é certo mas, não é nada que a produtora não possa remediar.
- ProdutoraTessera Studios
- EditoraDaedalic Entertainment
- Lançamento13 de Fevereiro 2019
- PlataformasPS4
- GéneroAventura, Thriller Psicológico
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Perspectiva de uma criança de 10 anos
- História não complicada e cativante
- Imersão e tensão ao longo da aventura
- Alguns problemas de "clipping"
- Diálogos não usam som tridimensional
- Inteligência Artificial não é brilhante
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.