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Análise – Hot Wheels Unleashed

Já passaram mais de cinquenta anos desde que a Mattel lançou a marca de miniaturas Hot Wheels. Os famosos carros de brincar chegaram em 1968 e rapidamente conquistaram o coração de milhões de pessoas em redor do mundo. Agora, é a vez da Milestone tentar transmitir esse legado num videojogo, com Hot Wheels: Unleashed.

A enorme popularidade da marca de brinquedos inevitavelmente chegou ao mercado dos videojogos, com muitas tentativas de capitalizar a marca. Infelizmente, não foram muito empolgantes e não conseguiram realmente deixar a sua marca nesta indústria. Com isso em mente, a produtora Italiana enfrenta o desafio e dar aos fãs um produto oficial capaz de captar, não apenas aqueles que ainda brincam com as miniaturas mas também qualquer adulto que procure a devida nostalgia. Assim nasceu Hot Wheels Unleashed, um novo jogo de corridas arcade que, mesmo com algumas limitações inevitáveis, é certamente o jogo de corridas que desejaríamos ter quando éramos mais novos. E o melhor é que faz jus ao mundo destes mini-bólides amados por milhões de jogadores.

Logo que arrancamos pela primeira vez, vem logo aquele espírito de coleccionismo desta famosa marca. Ganhamos logo três modelos aleatórios com um sistema de caixas surpresa. Mas, descansem… Estas caixas não podem ser compradas com dinheiro real, algo que fica logo no ar assim que as vimos. Felizmente, aqui a produção optou pela mecânica de desbloquear progressivamente todos os carros disponíveis. Por um lado, convida-nos a continuar a jogar e, assim, testar a nossa sorte. Por outro lado, não permite escolher imediatamente o nosso carro favorito ou replicar aqueles carrinhos dos nossos filhos (ou nossos?) espalhados pela casa. E os coleccionistas ainda terão de “penar” um pouco para coleccionar todos os exemplares.

Para o lançamento deste jogo, foram disponibilizados 66 carros diferente, que incluem não só os mais icónicos, mas também as reproduções fiéis de carros pertencentes a marcas famosas como a Ford, Fiat e Chevrolet. Como sabem, este mundo das miniaturas tem também algumas edições especiais, algumas bem raras e valiosas. Aqui, não temos bem essa lógica de raridade, mas vão encontrar algumas colaborações especialíssimas com algumas importantes franquias. Encontrarão bólides famosos como a carrinha das Tartarugas Ninjas, o famoso Batmobile de Batman ou o lendário KITT de Knight Rider.

Cada caixa surpresa tem um custo de 500 moedas do jogo, apenas ganhas ao completar as corridas. Em alternativa, há uma loja no jogo com ofertas limitadas, onde é possível escolher entre cinco carros do catálogo que ficarão disponíveis por várias horas. Esta selecção não pode ser actualizada manualmente e será necessário aguardar o tempo necessário por uma nova actualização de ofertas. E não vale a pena desligar a consola e voltar mais tarde. O cronómetro só conta durante o tempo que estão dentro do jogo. Se saírem, o contador pausa. É por isso que digo acima que os coleccionadores ficarão um pouco frustrados por não haverem atalhos para completar a colecção.

Mesmo assim, a loja pode ser particularmente útil se procuramos um determinado carro, podendo mesmo servir de repositório da colecção real. Contudo, também pode ser algo irritante se não tiver nenhum modelo realmente interessante para a colecção, obrigando-nos a esperar cerca de 4 horas para refrescar o catálogo. Além disso, a loja não toma em conta os carros que já temos na nossa colecção. O que nos força a ir verificar manualmente a lista para evitar compras em duplicado. Caso tenham carros repetidos, já agora, podem sempre escolher vender ou desmontá-los para ganhar as suas respectivas moedas no jogo. Claro que quanto mais raro, maior será essa recompensa.

Todos os carros em jogo estão divididos em três raridades distintas, que estão directamente relacionadas com o já mencionado valor de venda ou desmontagem, mas também com o seu desempenho. Podem ter uma classificação de Comum, Raro e Lendário. O seu desempenho individual é depois definido por cinco estatísticas: velocidade, travagem, aceleração, manuseio e boost (nitro). Dependendo do carro escolhido, o boost também pode aparecer em duas variantes com efeitos diferentes: Uma única barra de boost ou um número pré-estabelecido de descargas.

Todos os carros podem ser melhorados com engrenagens ganhas através de corridas, outro bónus que se junta às moedas da sua divisa. Ao melhorar o desempenho dos carros, também muda o seu nível de raridade. O que é, por sí só, outra chamada de atenção aos que gostam de coleccionar e completar os seus jogos. Além de querer todos os carros, também quererão melhorá-los o mais possível, não só para ganhar corridas mais facilmente, mas também para compor a vossa coleccção.

Recordo que a Milestone tem a devida experiência em jogos de condução. Mas, não esperem aqui o realismo das demais séries da produtora. Em termos de jogabilidade, Hot Wheels Unleashed inspira-se em outros jogos de corrida populares no estilo arcade, como Mario Kart 8 ou Crash Team Racing. Ainda assim, mesmo perante estas inspirações consagradas, consegue manter de forma consistente a sua própria identidade. Até porque o tema é muito peculiar, baseando-se nas lógicas das famosas pistas de plástico laranja onde correm as miniaturas reais.

Contudo, vão encontrar algumas semelhanças. Por exemplo, como acontece na famosa série da Nintendo, na contagem inicial da partida, se começarem a acelerar antes do número 2 aparecer, recebem uma quantidade de boost relativa à vossa reacção, o que pode ajudar a iniciar a corrida e subir alguns lugares na grelha. Há mais semelhanças que irão notar, certamente. Não é que a Milestone pudesse criar aqui algo verdadeiramente único se muitas das mecânicas do género estão já consolidadas. O elemento único aqui são as miniaturas, como não podia deixar de ser.

Como devem calcular, a física tem um papel algo volátil num jogo baseado em carrinhos miniatura em pistas de curvas e loops avulsos. Exige constantemente cuidado na forma como posicionam o vosso carro após alguns saltos particularmente desafiadores. Caso contrário, podem acabar com o carro virado ou fora da pista e serão reforçados a fazer “respawn“. Esta mecânica, felizmente, até é acessível em qualquer momento com um botão apropriado. É justamente esta característica que pode dificultar a vitória das corridas. Notei que em alguns casos os carros não se comportam como seria de esperar o que gera momentos caricatos que, inevitavelmente, atrasarão os nossos tempos.

De qualquer das formas, o esforço feito pela produtora é muito apreciável. Temos de considerar que dificilmente seria possível tanta atenção à condução dentro de um jogo dedicado a carrinhos de brincar. Surpreendeu-me positivamente a dificuldade crescente das pistas, particularmente exigentes, mesmo para os jogadores mais experientes. Para as podermos ultrapassar sem problemas é necessário praticar muito e familiarizar-nos com os perigos que escondem. Além disso, será necessário familiarizar-se imediatamente com o efeito de drift, outra influência de outros jogos do género. É fundamental, não só para fazer as curvas, mas também para acumular mais rapidamente a carga do boost.

Quanto aos circuitos, foram projectados para encorajar os jogadores a memorizá-los perfeitamente. No entanto, esse elemento de design pode entrar em conflito com alguns elementos mais aleatórios. Por exemplo, em algumas pistas temos de superar os “monstros” mais famosos da Hot Wheels, como a aranha gigante, cuja teia pode bloquear o nosso carro ou o veneno da víbora que queima o nosso precioso boost. Além destes “monstros” há ainda a interactividade com os próprios circuitos, o que pode forçar os carros a mudarem a sua posição durante a corrida devido à mudança de gravidade repentina ou às ventoinhas que empurram os carros para fora de pista.

Devido às altas velocidades que iremos percorrer e também com base no comportamento dos nossos próprios adversários, nem sempre será possível evitar estes elementos em tempo útil, proporcionando assim um elemento de imprevisibilidade que pode ser frustrante. Ou seja, a tal facilidade em memorizar pistas acaba por ser irrelevante. Até considero esta aleatoriedade bem vinda, para evitar a repetição. Contudo, também gera alguma frustração desnecessária.

Em termos de modos de jogo, temos os habituais “Quick Race“, “Time Attack” e o que podemos chamar de modo campanha com “Hot Wheels City Rumble“. Este último será certamente o modo onde os jogadores passarão a maior parte do tempo. Aqui, o objectivo é completar o maior número de pistas possível e derrotar os cinco bosses que estão a causar estragos na cidade. No entanto, fiquei desapontado ao perceber que as batalhas contra esses bosses não são mais que simples corridas mais exigentes. Esperava uma “batalha” de 1 contra 1, por exemplo. Penso que tornaria o desafio final mais interessante que apenas uma corrida um pouco mais difícil.

Em termos de variedade, gostarão de saber que esta campanha conta com mais de 50 pistas diferentes, contando com diversos planos de fundo que lembram as pistas improvisadas lá de casa. No total, esta campanha irá ocupar-vos entre 8 a 10 horas, principalmente se tentarem descobrir cada segredo escondido neste modo. Completar este modo é essencial para desbloquear as mesmas pistas para jogar a solo ou na companhia dos nossos amigos mas também para ganhar dinheiro, conseguir outros carros, mais caixas surpresa ou mais elementos para personalização dos carros.

Um dos aspectos que acho que será de maior sucesso neste título, é precisamente a liberdade que oferece, especialmente na personalização dos carros e pistas. Não seria aceitável que um jogo sobre carros e pistas de brinquedo não nos desse essa liberdade criativa. Felizmente, não só podem encontrar o vosso carro favorito, como podem também torná-lo diferente do modelo inicial usando o editor de cores. Mas, para mim a grande atracção deste jogo, é o Track Builder, o seu robusto editor de pistas, através do qual é possível criar de raiz um circuito completo.

Inicialmente, o editor pode parecer algo confuso mas, se dedicarem algum tempo a estudar cada opção e ferramenta, vão perceber o seu potencial. Acredito que ainda seja aprimorado no futuro para ser mais intuitivo ou obter mais opções. Contudo, para já, acho-o relativamente versátil e funcional. Rectas, declives, curvas, obstáculos, aceleradores, há várias secções para criar a vossa própria pista única. Também podem escolher um ambiente envolvente, entre uma taberna, uma garagem, uma sala universitária, um canteiro de obras, entre outros locais.

Por fim, temos de falar do grafismo de Hot Wheels Unleashed. Considerando que está a recriar brinquedos, gostei bastante do seu visual. Tenta criar um equilíbrio certo entre o estilo de caricatura ou banda-desenhada característico desta marca de miniaturas, ao mesmo tempo que cria momentos semi-realistas, capazes de reproduzir o plástico dos circuitos Hot Wheels. A reprodução dos carros está muito bem conseguida e é impossível não esboçar um sorriso quando desbloqueamos um carro que temos lá por casa. É um feito técnico que, não sendo particularmente exigente no hardware, faz um bom trabalho de dar vida a estes brinquedos de uma forma credível.

Veredicto

Hot Wheels Unleashed é uma excelente recriação visual destes icónicos carros de brincar produzidos pela Mattel. Foi capaz de capturar a experiência de ver as loucas pistas ganharem vida num divertido jogo de corrida. Não é um jogo perfeito é certo mas a sensação que fica é de grande diversão, provavelmente a única coisa que se procura num título destes. A Milestone conseguiu provar que esta licença tem um potencial enorme e mal podemos esperar para ver como será explorada no futuro.

  • ProdutoraMilestone
  • EditoraMilestone
  • Lançamento30 de Setembro 2021
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroArcade, Condução
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Batalha com bosses são só corridas mais difíceis
  • A física nem sempre age como devia

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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