Mais infoProdutora: Guerrilla GamesEditora: Sony Interactive EntertainmentLançamento: 18/02/2022Plataformas: , Género: ,

A fama das sequelas é oscilante. Por vezes não conseguem viver à altura dos títulos originais, noutras vezes superam o jogo-base, criando algo ainda mais grandioso. Felizmente, Horizon: Forbidden West é um bom exemplo deste último caso.

A par de God of War, Gran Turismo e de Uncharted, sempre considerei a franquia Horizon como absolutamente essencial para quem uma consola PlayStation. Um marco técnico e narrativo na PlayStation 4, Horizon: Zero Dawn tornou-se facilmente num dos meus jogos preferidos da última geração e, arrisco dizer, dos meus jogos preferidos de sempre. Apresenta-nos uma boa intriga com personagens relevantes, uma jogabilidade impecável entre o combate directo ou furtivo, plataformas quanto-baste e muita exploração, sem esquecer um visual arrebatador. Agora na nova geração PS5 (também disponível na PS4), a fasquia só podia elevar-se.

Embora o programa chamado “Zero Dawn” tenha sido travado, não significa que o mundo esteja a salvo de futuras ameaças. Ainda não se sabe o que activou esse programa de extinção usando a Inteligência Artificial Hades. Por outro lado, há uma nova praga que está a destruir a vegetação e a enraivecer as máquinas. Ao que parece, o misterioso Sylens tem uma ideia do que poderá estar a acontecer. Cabe uma vez mais à heroína Aloy partir no seu encalço para tentar perceber o que esta misteriosa personagem esconde. Esta nova jornada leva a heroína e os seus amigos rumo ao Oeste Proibido.

Embora exista uma secção de códice no menu para conhecer os eventos de Zero Dawn e entender como Aloy chegou até esta segunda história, é normal que, quem só chegar agora à franquia, se perca um pouco no início. Afinal, todos os eventos do primeiro jogo foram-se desenrolando de forma compassada, até porque o lore pode ser um pouco complexo de explicar numa só assentada. Se se perderem, mesmo assim, é fácil seguir os novos eventos, partindo de alguns pressupostos. Contudo, não se esqueçam que há sempre esse códice para consultar.

Obviamente, não vou abordar muito o novo enredo, até para não estragar alguns desenlaces que estão relacionados com as novas linhas narrativas que depois até proporcionam umas reviravoltas interessantes. Explico apenas que o Oeste está repleto de novas personagens, novas tribos e novas culturas para interagir e é óbvio que há novos antagonistas, além das novas máquinas que encontra nas novas secções de mapa. Confesso que o seu impacto não é tão memorável como no primeiro jogo. Há uma explicação para isto, mas terão de jogar até ao fim para entender.

Se bem se recordam, em Zero Dawn tudo evolui para o grande confronto na cidade de Meridian para salvar os seus cidadãos. Aqui, a aposta é bem mais alta, igualmente com um confronto final, mas que necessita de muito trabalho de liderança e angariação de meios para salvar… a Humanidade. Obriga-nos a alianças por vezes relutantes, algumas até dependentes de decisões que tomamos. Não achei nenhuma dessas decisões muito profunda no desenrolar da história, confesso, mas a interacção com personagens e intervenção nas suas histórias é que torna tudo inesquecível.

E não, a história não terminou aqui. O “cliffhanger” do final é sintomático da ambição da Guerrilla Games. Há algo mais ainda para mostrar na franquia Horizon e é por isso que nestas 20 horas de jogo, a passar calmamente, explorando a meu bel-prazer e sem pressa para chegar ao fim (há mais horas de jogo se quiserem fazer mesmo tudo), concluí que esta história é uma autêntica rampa de acesso. Zero Dawn foi um projecto ambicioso para a sua era. Forbidden West é uma expansão dessa aventura que prepara algo ainda maior no horizonte. E… mais não digo.

A receita de jogo é praticamente a mesma, o que é um ponto positivo se gostámos tanto da jogabilidade de Zero Dawn. Associada a uma narrativa corrida e evolutiva, Aloy é uma autêntica “moça de recados” para um mundo a tentar sobreviver como pode. No rigor, o mundo de Forbidden West é um local de exploração, com muitas distracções e ainda mais desafios. Há imensas novidades, como uma árvore de evolução ainda mais complexa, novo equipamento e novas armas para abordar os perigos e desafios e até uns novos truques que fazem a diferença em combate.

Temos uma nova corda com gancho que é útil para abrir acessos ou subir para plataformas específicas. Aloy também recebe um novo respirador para abordar as secções subaquáticas bem mais extensas. E temos também uma nova dinâmica para destruir cristais ou flores mecânicas para aceder a áreas novas. Nenhuma destas novidades é tão relevante como o novo planador para descer para áreas de outra forma inacessíveis e uma outra que nos permite voar no dorso de uma máquina alada. Esta é, já agora, uma peça importante da história.

De um modo geral, porém, tudo será francamente familiar para quem dominou Zero Dawn. Continuamos a ter de subir aos Tallnecks para “abrir” áreas oclusas do mapa, teremos na mesma de entrar nos Cauldrons para desbloquear montadas e, claro, há imensas missões para nos distrair, com caçadas, corridas e até assaltos a fortalezas inimigas. Os novos seres mecânicos são diferentes de aspecto, voracidade e até no tipo de ataques com elementos. A Guerrilla não quis arriscar muito no que toca à oferta geral. Já que funciona tão bem, não tenho nada contra.

Graças a novas opções de acessibilidade e de dificuldade, a maioria dos jogadores encontrará um jogo relativamente fácil de dominar, especialmente se já conhecem as lógicas do primeiro jogo. Contudo, se entenderem desligar estas ajudas, encontrarão um bom desafio nos novos seres mecânicos . Especialmente contra novos bosses mais poderosos, desde serpentes gigantes a imponentes mamutes, a estratégia é o elemento mais importante, usando o Focus, estudamos os pontos fracos de cada máquina, que depois abordamos de forma metódica.

Uma vez mais, por mais que evoluam Aloy, as suas armas ou o seu equipamento, nunca dobrarão realmente a curva de dificuldade. O jogo adapta-se bem ao nível da heroína, dando-nos desafios ajustados, especialmente quando a história avança para outro capítulo. Nunca é realmente injusto, apenas acompanha a evolução para que não sejam só “favas contadas”. Isto é, para mim, um bom equilíbrio entre desafio e prazer de jogar. Há, claro, momentos algo frustrantes quando não entramos logo no ritmo ou cometemos um erro. Faz parte.

Infelizmente, notei uma certa falta de explicações nas novas dinâmicas. O novo sistema de Valor em combate, por exemplo, é um tanto complicado de usar, mesmo parecendo simples na sua premissa. Basicamente, Aloy pinta a cara e obtém um boost temporário no seu ataque mas, como preencher a barra de energia que liberta esse boost, é algo que passa por segundos no ecrã. Por outro lado, qual é a habilidade mais interessante desbloquear na árvore? Que modificadores devo optar para o meu estilo de jogo? Confesso que tive de reler vários aspectos das mecânicas de jogo no codex porque realmente não vi grandes explicações ou dicas em jogo.

Há outros pormenores em que pensei que a produção pudesse aprender com a experiência do primeiro jogo. Zonas com becos sem saída, sem uma ajuda visual ou em texto (uma dica) para sair, como uma caverna onde caímos sem querer, por exemplo. Subir escarpas continua a ser algo tosco, agora com uma lógica de “escalada livre” que só funciona se usarmos o Focus. Continuamos a ter zonas impenetráveis no mapa, mesmo que pudéssemos facilmente partir aquela parede ou vidro. Enfim, nada realmente importante mas que faz pensar que a Guerrilla ainda tem algo para aprender neste género de mundo aberto.

Visualmente, pronto, é tudo o que esperam de um “showcase” de produção interna. Jogar este título na PlayStation 5 é um regalo constante, sempre com imensa vontade de activar o modo de fotografia. Desde os desertos cálidos onde todos suam nas cenas intermédias, às praias paradisíacas da costa da Califórnia, sem esquecer os picos gelados no Leste ou as cidades fantasma, como a reluzente Las Vegas, tudo emana qualidade, com uma fidelidade visual sem precedentes. Complementa-se com um áudio fantástico e uma banda-sonora exemplar, numa mescla que têm tanto de zen como de entusiasmante.

Só tenho um último reparo a fazer no campo técnico e notem que surge somente no âmbito de uma análise profunda nestas várias horas de jogo em que passei em acesso antecipado. Nas cenas intermédias, o olhar das personagens nem sempre está síncrono, criando situações caricatas em que parecem estar a “evitar-se”. Também achei os movimentos corporais algo exagerados demais nestas cenas, numa pantomina escusada e um tanto forçada. Enfim, nada de realmente relevante mas que quebra um pouco o deslumbre que temos a nível técnico com este jogo.

Veredicto

Quando temos uma história, jogabilidade e lógicas de jogo tão apuradas, basta-nos criar um mundo fantástico e cheio de vida e detalhe para criarmos uma óptima experiência interactiva. Isso foi o que a Guerrilla Games conseguiu no primeiro jogo. Contudo, em Horizon: Forbidden West fez mais que apenas repetir a fórmula. Expandiu este mundo, o seu combate desafiante e a sua história rica em lore e desenlaces. Deu-nos ganas de ir até ao fim… e mais além. Por tudo isto, é absolutamente obrigatório, um showcase da qualidade dos PlayStation Studios e da PlayStation 5.

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.