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Análise: Hello Neighbor

“Olá vizinho! Ouvi uns ruídos, está tudo bem?” Da próxima vez que se sentirem compelidos a dizer estas palavras, Hello Neighbor pode mudar o samaritano que há em vocês. Ou, por outro lado, vai ajudar a manter o vosso espírito de curiosidade mais controlado.

Este não é o jogo que estão a pensar. O que parece ser um simpático jogo inspirado em algum filme da Pixar, na verdade, é uma aventura arrepiante, alimentada pela nossa curiosidade e engenho. Com essa máscara colorida de design único, no início da trama pode parecer que este é apenas um jogo de puzzles em que temos de evitar um vizinho com a paranoia da segurança. Alguns minutos depois, apercebemo-nos que nada é o que parece. Confesso que o jogo me surpreendeu quando descobri a sua verdadeira essência. Sabia que se tratava de um thriller com elementos de exploração e resolução de puzzles, mas nada me preparou para o que encontrei na famosa cave do vizinho.

Um pacato rapaz joga à bola na rua quando, de repente, ouve sons arrepiantes vindo da casa do seu vizinho da frente. Numa análise mais cuidada, reparamos que um automóvel embateu na vedação e que o vizinho parece impaciente. E também há muitos elementos estranhos em volta da casa. Porque todos temos curiosidade do que se passa em paredes alheias, na sua bisbilhotice, queremos acompanhar o rapaz que quer desvendar este mistério. E, como é lógico, temos também algum tempo para gastar.

A sua premissa é bastante simples, mas a forma como desvendamos esta história envolve decifrarmos puzzles nem sempre intuitivos ou de fácil execução. É também uma espécie de sandbox na forma como não nos obriga a executar nenhuma acção em particular ordem ou esquema. Coloca-nos o problema e espera que o resolvamos, o que também pode ser o seu problema. Mas, já lá iremos. Acima de tudo, fica claro que este título envolve a vossa curiosidade, isto se não for suplantada pelo receio de serem apanhados pelo vizinho.

Como um jogo de acção furtiva, o objectivo é decifrar esse mistério dos ruídos arrepiantes vindos da casa, que logicamente parecem envolver um crime ou alguma actividade sinistra. Ao fim de uns minutos a explorar a casa por fora, como seria de esperar, eventualmente temos de entrar nela. E lá dentro, apesar de algumas coisas estranhas aqui e ali, nada parece estar fora de contexto. Mas, as aparências iludem. E é evidente que temos de descobrir o que se passa na cave, para onde o vizinho desce frequentemente. Eventualmente, tudo é deitado a perder se o vizinho nos encontrar, obviamente.

Preparem-se para momentos de grande tensão. Se o vizinho se aproximar de nós, um ruído ensurdecedor sobe de tom, o ecrã vibra e a visão distorce. Se nos vir, parte no nosso encalço com um ritmo frenético, piorado pelo nosso pânico. Podemos esconder-nos em diversos locais, inclusive armários ou em quartos fechados. Se formos apanhados, tudo se reinicia, recomeçando da estaca zero, embora haja uma persistência de objectos e itens para evitar que tenhamos de fazer algumas coisas outra vez. Não há nenhuma cena violenta quando somos descobertos, mas o terror gerado pelo vizinho a correr e a lançar objectos é intenso, com a sua face irada a ser última imagem que vemos.

Devo dizer-vos que a inteligência artificial deste jogo está muito bem desenvolvida. Ao fim de algumas tentativas, o nosso vizinho começa a adaptar-se às nossas ideias. Se desligarem a luz, ele vai lá ver o que se passa, dando-nos uma oportunidade de entrar na casa. Mas fará isto cada vez mais depressa, antevendo a estratégia. Se criarem uma plataforma com caixas para subir a janelas e ele as descobrir, vai acabar por ir lá chutá-las. Se entrarem sempre pelo mesmo sítio, ele monta armadilhas nessa entrada. Ao longo dos seus três actos, há uma evolução na dificuldade e nas manobras do vizinho de nos manter à distância. Eventualmente, até câmaras de vigilância são adicionadas, só para nos dar mais dificuldade.

E o jogo compensa bastante o nosso engenho. Há muitas formas de entrar na casa ou de obter os objectos necessários para o desenrolar da trama. Há escadas e portas que nos levam directamente aos objectivos, mas pode ser preciso obter chaves para abrir cadeados, por exemplo. Nesse caso, podemos usar caixas e criar rampas para acessos improváveis. Uma das primeiras ideias que tive no primeiro acto, foi amontoar essas caixas para subir ao telhado e entrar pelo sótão. Só que, para isso, tive se arremessar uma tampa de caixote do lixo para partir o vidro. Tudo isto parece simples, até se aperceberem que os controlos não estão a vosso favor.

Testei este jogo no PC, mas usei um controlo Xbox One. Como este título está também disponível na consola da Microsoft, a integração é completa. No entanto, apesar da simplicidade da interacção, nem sempre é fácil dominar movimentos ou mecânicas. Temos um inventário limitado a quatro itens. Podemos ir apanhando vários objectos até encher esse inventário e, depois, seria uma questão de os pousar ou arremessá-los. Contudo, usamos o mesmo gatilho direito do comando para o fazer. Um toque devia pousar objectos e manter premido devia arremessá-los. Contudo, acabo sempre a lançar o objecto, mesmo que o faça a curtas distância. O que dificulta bastante, por exemplo, o tal acto de empilhar caixas de forma razoável.

Por outro lado, os movimentos do nosso rapaz curioso são muito comprometedores. Saltar, por exemplo, resulta muitas vezes em direcções inesperadas. Ou então, saltamos demasiado alto ou demasiado baixo. Nas secções em que precisamos usar plataformas é frequente falharmos a direcção porque as leis da Física não estão assim muito aprimoradas. E tudo isto piora quando encontramos algum glitch e ficamos presos no cenário ou quando não conseguimos interagir com objectos porque não estamos no ângulo certo. Uma actualização após o lançamento corrigiu muitos destes problemas, mas há ainda algum trabalho para a produção.

Felizmente, esta interacção menos consistente torna-se algo secundária, uma vez que estamos quase sempre ou a esgueirar sorrateiramente ou a fugir desalmadamente. E isto é ainda mais evidente quando chegarem à cave que não me canso de mencionar. Mas, afinal o que há na cave? Dependendo da vossa curiosidade e da forma como a fomentam, pode ser algo aterrorizador ou francamente aborrecido. Não vou revelar o que se trata, mas tenho de reforçar que este é um thriller psicológico profundo, com muitas referências que podem não entender sem uma vossa maior atenção aos detalhes. E nem vou falar de algumas cenas intermédias que vão dar mais perguntas que respostas.

Penso que o que torna este jogo tão perturbador é mesmo o seu ambiente. A casa e tudo o resto parecem uma reprodução dos desenhos animados de Dr. Seuss, em que tudo tem dimensões estranhas e linhas desviadas. Esperamos sempre que estes jogos de terror tenham ambientes sombrios de casas abandonadas ou florestas fantasmagóricas. Estarmos num ambiente colorido digno de um jogo infantil parece desarmar-nos. Obviamente que vamos acabar por ignorar esse palco algo inocente, sobretudo quando descemos à cave e regressam as cores mais sombrias e a fraca iluminação. Até lá, sinto que menosprezei a mensagem deste jogo, pensando ser algo diferente.

No entanto, o que será ainda mais desconcertante é a falta de diálogos ou de explicações. A nossa interpretação é mesmo o factor mais curioso neste jogo em que o terror é criado por nós próprios. E não é só o vizinho, qual Xenomorph em Alien Isolation, a perseguir-nos que causa esse terror. Para mim é a interrogação do que se vai passar a seguir, onde é que ele pode estar, o que é esta estranha simbologia escondida um pouco por todo o lado. Talvez esteja a elaborar demais, talvez a mensagem do jogo seja bem mais linear que eu penso. Pode ser só um jogo em que somos um rapaz bisbilhoteiro da vida alheia. Ou talvez seja mesmo este o seu trunfo, este jogo psicológico com a nossa percepção.

Infelizmente, creio que muitos dos que não estão dispostos a usar a sua imaginação, vão acabar por ignorar esta ambiguidade aliada ao convite à nossa liberdade criativa. O jogo podia dar mais dicas ou indícios sobre o que fazer, sobretudo nos primeiros momentos. É frequente esbarrar no que parecem ser “becos sem saída” porque nem tudo será intuitivo. Diria até que há algumas coisas que nem fazem sentido sequer. Falta-lhe um pouco de narrativa, mesmo que fosse escassa ou esporádica e talvez algumas dicas também ajudassem. A produção até podia espalhar indícios pelo mapa jogo sobre o que fazer a seguir. Sem dúvida, haviam muitas opções indirectas para ajudar os jogadores.

Veredicto

Todos os amantes de jogos de acção furtiva, com puzzles e estratégia à mistura e que recorram ao jogo psicológico para nos aterrorizar, devem experimentar Hello Neighbor. Não se deixem enganar pela aparência de filme de animação inocente. As mensagens escondidas, os momentos de tensão criados pelo vizinho desconfiado e o que fica por dizer na trama, criam um ambiente de terror psicológico muito interessante. Infelizmente, nem tudo será de feição ao nível de interacções e físicas. Também não ajuda que o jogo tenha um duração de apenas umas 3 ou 4 horas divididas em três actos. Contudo, o desafio é interessante e dará muito que fazer e pensar, com muitos momentos de… OH, NÃO! O VIZINHO VEM AÍ, CORRAM!

  • ProdutoraDynamic Pixels
  • EditoratinyBuild
  • Lançamento8 de Dezembro 2017
  • PlataformasPC, Xbox One
  • GéneroPuzzle, Terror, Thriller Psicológico
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Ausencia de ajudas
  • Interacção e físicas fracas
  • Algo curto

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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