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Análise – Heavy Rain & Beyond: Two Souls Collection

Já que há uma tendência para relançar jogos com algum tipo de remasterização nesta actual geração de consolas, que tal uma reedição dos dois jogos mais recentes da Quantic Dream? Se Heavy Rain foi um jogo aclamado pela crítica, o dispendioso Beyond: Two Souls nem foi assim tanto. Por isso, nada como lançar os dois em conjunto.

Um foi uma aventura fantástica, inédita e bem estruturada, com interessantes momentos e reviravoltas num thriller de investigação. O outro foi um exemplo de como um casting digno de Hollywood (Ellen Page e Willem Dafoe) não salva uma narrativa fraca e mecânicas de jogo falíveis. Talvez esteja a ser muito duro com Beyond, mas a verdade traduz-se, não só nas análises menos positivas, como também no interesse geral em volta do título. Heavy Rain, por seu lado foi um título aclamado (e premiado), recebendo até uma reedição para jogar com o PlayStation Move. Pode-se dizer que o sucesso desse jogo deu lugar a Beyond que, se calhar, não soube aproveitar essa esteira.

Ainda estou para decidir se o que se faz nestes títulos se pode chamar de “jogar”… Se nos acompanham há algum tempo, já sabem que eu simplesmente abomino essa muleta criativa que são os Quick Time Events. Ora, tirando os momentos em que movimentamos as personagens e interagimos de forma directa, muitas das acções destes dois títulos envolvem pressionar teclas no momento e ordem certos, para dar seguimento a sequências de acção. Para mim isto não é jogar mas, sim, ver um filme e carregar no “Play” quando este pausa amiúde. E já que falamos de cinematografia, gostaria de classificar estes dois títulos como filmes interactivos e nem tanto videojogos.

Gostos à parte, Heavy Rain e Beyond Two Souls estão de volta. Depois da sua estreia na PS3, foram devidamente reeditados na PlayStation 4 (Beyond no final do ano passado e agora Heavy Rain com este bundle) com algumas novidades interessantes e que até podem convidar quem já os conhece a regressar. Saibam que, apesar deste conjunto trazer os dois títulos, estes podem ser comprados em separado. E mesmo se comprarem este pacote, os jogos são instalados como títulos individuais. Ou seja, podem escolher se querem instalar os dois jogos ou apenas um deles de cada vez. Alguns bundles não fazem isto, muitas vezes instalando tudo e oferecendo um portal para escolha dos jogos em pacote. Considerando que estes são dois títulos de considerável dimensão, é algo bem vindo.

Começando com Heavy Rain, esta reedição conta com o redimensionamento da imagem dos nativos 720p da PS3 para 1080p, tirando proveito da resolução Full HD da PS4. Para além disso, a produção adicionou diversas melhorias técnicas, sobretudo ao nível visual. Listando directamente da sua descrição, adiciona: melhorias nas sombras dos modelos, melhorias no processamento gráfico, adição de um novo algoritmo de pós-processamento e uma geral melhoria na iluminação de cenários e objectos. O que parece é que houve uma actualização no grafismo com o aproveitamento das capacidades do hardware da PS4. Isto implica que o jogo, já de si fortemente focado no aspecto visual na PS3, está ainda melhor.

Este título fala de uma investigação de um assassino em série, dado a fazer Origami. A trama desenrola-se na perspectiva de quatro pessoas: Um pai que perde o seu filho e vê a sua vida despedaçada, uma mulher que fará de tudo para desvendar o mistério do assassino do Origami, um detective privado que investiga os mesmos casos por sua iniciativa e um agente governamental destacado para apanhar o perigoso assassino. O tema da chuva é omnipresente, ora não fornecesse o respectivo título e não tivesse um papel a cumprir na narrativa. Com temas adultos e momentos nada próprios para os mais novos, Heavy Rain é uma experiência interessante e uma história como há poucas em videojogos.

Em Beyond: Two Souls não há novidades aparentes. Afinal, esta versão foi lançada na PS4 em Novembro passado e já a conhecíamos. Nessa altura esta reedição trouxe resolução 1080p, houve algumas melhorias nos efeitos visuais com o acrescento de arrastamento nos movimentos, brilhos, efeitos de foco, iluminação e efeitos de sombras. Já no que diz respeito à jogabilidade, temos diversos ajustes nas sequências de luta, sobretudo ao nível de dificuldade e controlos. Uma interessante inserção são as estatísticas das nossas escolhas ao longo do enredo, comparadas com jogadores de todo o mundo (obrigado Telltale Games). E aproveitando as capacidades do Dualshock 4, agora o infame Aiden já usa o altifalante no comando para comunicar. De resto, acrescenta a funcionalidade de poder jogar de forma inteiramente cronológica (sem os flashbacks constantes) e o DLC “Experiências Melhoradas”.

Jodie, a protagonista, tem um segredo. Uma entidade, de nome Aiden acompanha-a ao longo da sua vida. Nos bons e nos maus momentos, a entidade interfere na vida da jovem, ao ponto de receber o interesse da CIA, que decide usar as capacidades paranormais de Jodie em actividades governamentais. Só que nem tudo é o que parece e a protagonista acaba a fugir do governo, enquanto Aiden se revela cada vez mais incontrolável. Uma vez mais, os temas abordados são adultos e até estão bem narrados. Infelizmente a experiência fica um pouco aquém do jogo anterior. Não deixa de ser uma aventura interessante, sobretudo na dinâmica de controlar os poderes sobrenaturais de Aiden ou os actos mais convencionais de Jodie de forma alternada.

É discutível se os imensos fins alternativos de ambos os jogos convidavam à repetição nos títulos originais. No meu caso, como Heavy Rain até tem um enredo sombrio que pode ter imensas repercussões, foi mais fácil regressar. Mas, como me revela uma reviravolta que tira a surpresa de o jogar novamente, não é a mesma coisa, mesmo que os fins alternativos sejam interessantes. Já Beyond: Two Souls, apesar dos excelentes actores principais e da qualidade visual geral, não me apelou tanto a jogar novamente depois de terminado. De facto, apesar do orçamento astronómico no segundo título, achei sempre Heavy Rain superior. Por isso, voltar aos dois jogos, sobretudo quando as surpresas do enredo já não existem, é uma decisão complicada.

Agora, que os jogos estão visualmente fantásticos, disso não há dúvida. A nível de cenas intermédias, irão ver uma qualidade quase, quase de filme de animação no Cinema. As expressões faciais, sincronismo de lábios e movimentos corporais são do melhor que vão ver, mesmo que, depois, as partes interactivas tenham ainda algumas questões que nos fazem recordar que são videojogos. As melhorias técnicas nesta remasterização são realmente significativas e só nos imergem ainda mais nos ambientes dos jogos, sobretudo no molhado ambiente de Heavy Rain.

Se nunca jogaram estes dois jogos, este pacote será bastante atraente, nem que seja porque há algumas novidades com o poder de processamento superior da PS4. São títulos incontornáveis, como exclusivos da Sony PlayStation. Tal como foram Uncharted ou God of War, devidamente remasterizados para PS4 estes dois jogos exclusivos fazem parte da história da marca. Com as Aventuras Gráficas tão na moda entre o recente Life is Strange ou os títulos da Telltale Games, estes dois jogos ainda dão cartas.

Veredicto

Se este pacote com preço simpático apelar a alguém, será a novos jogadores que não conheçam os títulos originais da Quantic Dream. Visualmente são competentes e possuem imensos momentos interessantes graças aos seus actores, sobretudo em Beyond: Two Souls. Heavy Rain, por seu lado, possui uma narrativa interessante, com direito a uma reviravolta surpreendente. Ambos são boas experiências interactivas remasterizadas para a PS4, dois importantes e inovadores jogos na história da PlayStation. Agora, será que quem jogou os originais vai querer este pacote? É discutível. Os jogos tiveram o seu tempo e quem os jogou na altura acredito que tivessem gostado, sobretudo de Heavy Rain. As novidades, se calhar, é que não chegam para regressar.

  • ProdutoraQuantic Dream
  • EditoraSony Computer Entertainment
  • Lançamento1 de Março 2016
  • PlataformasPS4
  • GéneroAventura Gráfica
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Beyond continua um título inferior
  • Quick Time Events
  • Nada de realmente novo na jogabilidade

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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