HaloInfinite (hd)

Análise – Halo: Infinite

Nos 20 anos de franquia, sendo jogo de lançamento da marca Xbox, com quatro gerações de consolas, dois estúdios no leme, vários arcos de história, Halo: Infinite é dos jogos com mais pedigree que recebemos nos últimos tempos. Não podia haver maior expectativa com um lançamento.

A minha espera, no entanto, foi mais longa que o previsto. Infelizmente, para este jogo a Microsoft Xbox Portugal decidiu escolher um punhado restrito de meios para ter acesso antecipado ao jogo. O que me levou a adiar esta análise, ao mesmo tempo que fui jogando na Beta “Free to Play” disponível há algum tempo. Como fãs de Master Chief, tornou tudo mais doloroso. Até porque o último Halo 5: Guardians não foi propriamente um marco inesquecível, com a sua campanha incrivelmente curta e o seu online “mais do mesmo”. Valeu-nos a reedição de Halo: MCC, que nos fez renascer o apreço por esta incrível franquia. Felizmente, Infinite não desaponta. E bastou-nos ouvir a banda sonora ao volante de um Warthog para “fazermos as pazes”.

Se não viveram numa caverna nos últimos meses, devem ter notado que neste ano a Microsoft Xbox e a 343 Industries quiseram fazer as coisas um pouco diferentes. Não só o modo multi-jogador foi lançado em separado e mais cedo, como é inteiramente gratuito numa lógica “free to play”. O modo online de Halo sempre foi um elemento de elevado interesse da comunidade, pelo que lançá-lo antes do restante jogo e ainda por cima grátis, foi uma manobra de mestre. Este foi também o lançamento mais amplo de sempre, com o jogo a estrear-se nas consolas e PC, inclusive em plataformas de terceiros, o Steam.

Contudo, há mais mudanças, que até poderão ser algo divisórias com os fãs, estou certo. Durante estes anos em que joguei Halo, a sua campanha sempre foi o meu primeiro interesse. A saga de Master Chief tem a sua legião de fãs e a sua dinâmica com Cortana tornou-se numa história apaixonante, iniciada pela experiente Bungie e tratada com muito cuidado pela 343 Industries. Contudo, Halo 4 e Halo 5 entraram numa “velocidade de cruzeiro”, sem que a 343i quisesse mudar demasiado a receita. Essa abordagem conservadora, porém, não jogou muito a seu favor, com dois jogos algo inferiores aos antecessores em vários níveis.

Finalmente há uma mudança na fórmula. Como a 343i diz, este é um “reboot espiritual”. Gostava de ter estado na reunião em que a produção lançou todas estas ideias para cima da mesa e alguém com poder lhes disse: “vamos lá”. Há anos que acho que Halo podia ter um jogo de mundo aberto ou algo semelhante. Gosto de acreditar que a produção ouviu os meus lamentos e concordou que, de facto, era possível. Bom, mais ou menos. Este não é bem um jogo de mundo aberto, embora nos dê essa ilusão de forma competente. A sua não-linearidade, pelo menos, é bem vinda, criando uma nova experiência que pode até nem alegrar a todos mas que eu apreciei bastante. Vamos por partes.

Porque o intuito da 343i foi de dar um “reboot”, é bem possível que se sintam um pouco perdidos com os primeiros instantes de jogo. A história começa efectivamente 18 meses depois de Halo 5: Guardians, mas desculpamos quem não entenda o que se está a passar. É mesmo intencional. Ao que parece, a Humanidade perdeu a guerra com os Banished, um grupo rebelde do Covenant que pretende extinguir os humanos. Master Chief, um dos últimos soldados Spartan está à deriva em órbita de Zeta Halo, depois da nave Infinity ter sido sacrificada. Tudo parece estar perdido, até que um piloto, Echo-216 encontra Master Chief e dá-lhe uma pistola com uma só bala. Não é preciso mais nada para desencadear a nossa salvação.

Para quem não conhece, os Halos são sete anéis construídos por uma raça antiga, chamada de Forerunners. Cada anel é como um planeta vivo, com o objectivo de estudar a vida na galáxia. Só que o seu propósito não é apenas de ser um local de estudo. No seu máximo potencial, cada Halo é uma arma de destruição de dimensão galáctica, construída para derrotar a ameaça terrível da Flood em jogos anteriores. Acontece que alguém pretende agora activar este sétimo Halo, com um propósito desconhecido. Felizmente, a última batalha danificou-o seriamente, mas há já tentativas de o consertar. Cabe a Master Chief garantir que isso não acontece.

Para essa missão, depois do prólogo em que foge das garras dos Banished, aterra em Zeta Halo de modo a investigar o que se passa e reunir os sobreviventes da UNSC contra os fanáticos extraterrestres. Contudo, sabendo da sua sobrevivência e dada a suas fama, os antagonistas também lançam os seus trunfos, enviando Jega ‘Rdomnai, o caçador de Spartans no encalço do protagonista. Infelizmente, todos os Spartans que se cruzam consigo, acabam derrotados, pelo que parece que Master Chief poderá ter encontrado o adversário definitivo. Como última oferta, os seus relatórios e as suas peças de armadura, dão o devido apoio a Master Chief.

Falta só aqui uma parte na equação: Cortana. Se bem se recordam, nos últimos dois jogos a Inteligência Artificial estava a sofrer uma degradação, a Rampacy. Em Halo 4, Cortana sacrificou-se para salvar Master Chief mas regressou parcialmente em Halo 5 para criar um exército de Created e Guardians com fins pouco claros. Neste jogo, Cortana tem uma enorme presença, mesmo que passemos uma boa parte do enredo a tentar perceber o que lhe aconteceu. Em compensação, temos The Weapon, uma nova IA criada para conter e destruir Cortana, confiada a Master Chief momentos antes da destruição da nave Infinity.

A forma como toda esta história é contada é francamente brilhante. Entramos no jogo como completos desconhecedores do que se passa, apanhados de surpresa pelos eventos que são explicados atempadamente, ora com cenas intermédias, ora com “flashbacks”. Não quero mesmo estragar os eventos do jogo mas acreditem que, pela primeira vez na era 343i, não há aqui receio de virar histórias “do avesso” para as contar de uma forma que realmente entusiasma. Há vários anos que Halo não inovava assim tanto. E há algum tempo que não tínhamos uma história tão bem escrita num jogo de acção como este.

De facto, isto é um Halo, em todos os sentidos, que tenta não ser “tanto” um Halo. Não apenas na narrativa mas também no elementos considerados “intocáveis” na interacção e também na estrutura de missões. The Weapon não é Cortana, de facto. Faz o mesmo papel, sim, mas é uma personagem totalmente nova, mais jovial, mais “quirky”, o que funciona perfeitamente como contraste perfeito do taciturno John-117. Também Echo-216 é uma importante nova cara, que nos dá tanto um bom sentido de Humanidade perante a escala da missão de Master Chief, como confere algum “comic-relief”, igualmente relevante.

Por outro lado, Infinite preserva todo o foco na jogabilidade, dando-nos combates intensos, como sempre, introduzindo uma série de pequenas mas importantes nuances na acção. Lá em cima, mencionei que vamos encontrando armaduras de soldados Spartan que nos dão equipamento especial. Temos desde arpões com corda para subir paredes, escudos temporários portáteis, sensores de inimigos e outros itens modificadores da acção. Nada é realmente profundamente revolucionário na jogabilidade mas abrem portas a mais e melhores estratégias. Até porque seremos um autêntico “one-man-army” e precisamos de toda a ajuda possível.

Como já disse, temos agora um mundo semi-aberto à exploração, com missões de história principal espalhadas num mapa e tendo bastantes outras missões secundárias como alternativas ao redor. Zeta Halo é quase um mapa “sandbox”, para abordar como bem queremos, de modo a explorar e descobrir os seus segredos no ritmo e intensidade que decidirmos. Conforme vamos libertando zonas e conquistando o anel, teremos mais armas e veículos à disposição, o que também faz com que os próprios Banished adquiram mais e melhores armas e unidades, numa constante evolução.

Entre missões de história e secundárias, temos conquistas de bases, sabotagem, salvamento de Marines e outras. Não há uma missão propriamente igual a outra, contando para isso a aleatoriedade com que as podemos executar. É claro que há alguma repetição nesta lógica, já que conquistar bases não é propriamente algo que se consiga diversificar. Contudo, por vezes temos algumas nuances e até algumas surpresas, como uma base aparentemente abandonada que, na verdade, esconde um par de elites camuflados e que emboscam Master Chief.

Um dos elementos que mais gostei neste jogo, são os veículos. Claro está que temos Warthogs à disposição e até podemos dar boleia a Marines que nos ajudam a desancar Banished. Temos uma mescla de veículos espalhados por Zeta Halo, sem esquecer os que podemos “chamar” nas FOBs. A sua condução não é a melhor, confesso. Até porque as “estradas” são horríveis e proporcionam muitas vezes autênticas cambalhotas involuntárias. Contudo, em combate os veículos que farão a diferença. Há mesmo algumas bases que serão bem mais acessíveis de atacar num veículo, preferencialmente num tanque.

Ao contrário dos jogos anteriores, há muito mais verticalidade nas zonas de combate, convidando mesmo a alguma acção mais furtiva com tácticas mais contidas, até mesmo com tiros à distância. Claro que, ao bom jeito desta série, não bem um “shooter” convencional, pelo que mirar à distância é um tanto infrutífero. Tirando algumas armas de tiro de precisão que obrigam mesmo a mirar. Basta a retícula no sítio certo para acertar nos adversários. Ame-se ou odeie-se, é assim que jogamos Halo há 20 anos. E estou certo que alterar esta lógica seria quase um anátema perante os fãs mais antigos da franquia.

Com estas palavras de apreço, concluirão que jogar Halo: Infinite neste novo formato, mantendo ao mesmo tempo tanta familiaridade na jogabilidade e uma história riquíssima e empolgante, é a melhor experiência de sempre. Bom, é e não é. Um dos efeitos “secundários” deste formato de “mapa conquistado” é que não podemos repetir missões de história. Foi algo que os jogadores receberam com alguma insatisfação, especialmente porque sempre tivemos a lista de missões concluídas para escolher e usar os célebres crânios modificadores. Era óptimas formas de jogar novamente e escolher outras opções o procurar locais que nos passaram ao lado. Enfim.

Também ainda não temos a opção de jogar a campanha em modo cooperativo, outro elemento que sempre me atraiu em Halo, tão bem implementado nos últimos jogos. Há mesmo algumas secções que quase jurava foram criadas para mais que um jogador. Tudo é jogável a solo, notem, apenas acho que o factor “diversão” só ficaria completo com mais um amigo ao lado. Para ambos os casos, a 343i promete novidades. No caso das missões repetíveis, é algo que planeia rever no futuro e a opção de jogar a campanha em modo cooperativo será adicionada durante o próximo ano.

Se não se renderam também ao “vício”, há umas semanas atrás poderão ter notado que os vossos amigos já estavam a jogar Halo: Infinite. Bom, não propriamente este modo de campanha que falei até agora mas, sim, o seu modo online, como já mencionei, “Free to Play”. Não havia melhor forma de arrancar a celebração destes 20 anos de franquia, que oferecer aos jogadores a sua componente competitiva online. Desde que foi lançado, este modo online tem sofrido imensos refinamentos e melhorias, num trabalho contínuo para criar a melhor experiência online possível.

Convenhamos que nestes dias, o que não faltam é jogos online gratuitos para entreter toda a gente. Contudo, a 343i fugiu à tendência da actualidade de criar (mais) um jogo “battle royale”, para nos dar um completo e robustíssimo conjunto de modos de jogo competitivos online, entre modos clássicos e novidades para todos os gostos. E a adesão dos jogadores foi notória. Apesar de alguns problemas na progressão online, entretanto já mitigados, a sua popularidade é inquestionável e não me recordo de ver tantos jogadores da minha lista de amigos entretidos com este jogo. É grátis, bem sei, mas não é propriamente descartável.

O ritmo continua frenético como sempre, com os mesmos golpes e movimentos a alta velocidade a testar os reflexos de toda a gente. Halo continua a ser um jogo de reacção, de movimentos súbitos, de emboscadas. É quase impossível “acampar” (há sempre quem consiga, obviamente), obrigando-nos a jogar no topo das nossas capacidades. É assim há anos e está melhor que nunca em Infinite. Apenas acho que os jogadores dependem demasiado do arpão e corda, “saltitando” ainda mais pelo mapa numa estranha “dança” caricata. Mas, é algo que consigo digerir muito bem.

Boas notícias para quem chegar agora à “cena” online de Halo, a Academy é o local que devem apostar. Como o nome indica, é mesmo uma academia que serve de tutorial para os jogadores menos familiarizados com as mecânicas desta franquia. Em vez de jogadores, enfrentam Bots e experimentam armas na segurança de um ambiente controlado. É também possível participar em mini-jogos para verificar a nossa destreza. De facto, todos os jogos deviam ter uma área assim, até ajuda a melhorar prestações, que no online são tão difíceis de aperfeiçoar.

Tive a oportunidade soberana de jogar Infinite tanto na sua versão Xbox Series X, como numa versão “cheia de sumo” no PC. O que posso relatar é um constante deslumbre em ambas as versões, com particular destaque para a versão de consola, que faz um óptimo trabalho de puxar tudo para um patamar elevado sem se ressentir. No PC, obviamente, é onde o jogo mais brilha, mesmo que notasse que as cenas intermédias e algumas porções da jogabilidade offline têm ligeiras perdas de performance pontuais, especialmente nos presets mais elevados. Também notei alguns ecrãs de carregamento mais longos que o habitual mas nada de especial. De um modo geral, este é Halo mais deslumbrante de sempre.

Veredicto

Sem qualquer demérito para tudo o que Bungie fez pela série, sinto que o que a 343 Industries trouxe em Halo: Infinite é a “melhor coisa” que podia acontecer a esta franquia. É uma autêntica mudança de direcção, sempre com o devido cuidado para não alterar demasiado a fórmula que aprendemos a gostar desde há 20 anos atrás. O modo de carreira é como uma revolução “controlada”, o modo online é uma aposta forte na abrangência, cheio de argumentos para entusiasmar, sem propriamente cair em estereótipos. É o jogo de acção do momento que todos deviam jogar, para mim um dos melhores deste ano.

  • Produtora343 Industries
  • EditoraXbox Game Studios
  • Lançamento8 de Dezembro 2021
  • PlataformasPC, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Falta repetição de missões no modo campanha
  • Falta modo cooperativo
  • Alguns problemas pontuais de performance

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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