gears4_heroes_desktop_1920x1080-cf19fc32daa94cbbb6a806a8444ff88e

Análise: Gears of War 4

Numa série de sucesso que, literalmente, vendeu consolas e que até ajudou a definir um género, uma passagem de testemunho é um processo delicado. Cabe à recém-formada The Coalition pegar na herança deixada pela Epic Games e continuar a contar a história desta série com Gears of War 4

Em Gears of War 3, parecia que a série teria atingido o seu pináculo. Afinal, a história estava contada, o enredo tinha feito um ciclo completo e algumas personagens tinham também atingido o seu limite de relevância. Somente a sua jogabilidade online parecia sobreviver e dessa queríamos mais, nem que fosse com uma nova história por contar. Quando a The Coalition anunciou que iria dar continuidade ao enredo, porém, surgiram logo dúvidas sobre a sua viabilidade. A dada altura, ficámos a saber que afinal os eventos seguiriam personagens numa geração posterior à de Marcus Fenix e companhia. Depois surgiu a dúvida se uma nova produtora estaria à altura de reinventar Gears of War, talvez perpetuando os pontos fortes, inserindo algo novo pelo meio. Com uma fase de testes Beta que não correu muito bem no plano técnico, a nova produtora tinha também muito que provar a esse nível. Vejamos o resultado final dos seus esforços.

https://www.youtube.com/watch?v=ji2aU4EdQww

25 anos depois do fim da guerra contra os Locust e Lambent no planeta Sera, a humanidade sobrevive como pode, em acampamentos improvisados. A COG (Coalition of Ordered Governments) é apenas uma sombra do que foi outrora, reconhecida pelos seus edifícios e monumentos um pouco por todo o lado. Infelizmente, os sobreviventes têm de viver com tempestades devastadoras causadas pela arma definitiva despoletada nessa guerra e a opressão do remanescente da COG, agora tornada uma força de manutenção da ordem. Mas nem todos se conformam. Um grupo chamado de Outsiders luta pela sua independência, iludindo os planos da COG ao mesmo tempo que tenta roubar recursos precisos para a sua subsistência.

É no meio desta luta que encontramos JD Fenix (filho do lendário Marcus Fenix) e Del Walker. Inicialmente dois soldados voluntários da COG, cedo desertaram para o lado dos Outsiders, prestando auxílio e ajudado nos esforços de resistência, ao lado da filha da líder dos resistentes, Kait Diaz. Só que as suas curtas operações de guerrilha cedo chegam ao fim quando duas novas ameaças devastadoras se levantam: A COG quer algo de lhe pertence de volta, estando disposta a tudo para reaver isso e há uma nova ameaça monstruosa chamada de “Swarm” que está a raptar humanos para um propósito desconhecido. Cabe-nos investigar o que está por detrás de tudo isto e, claro, disparar contra tudo o que nos tente impedir de o fazer.

Embora arranque com muitas ganas de ser algo novo na série, o enredo acaba por ir buscar os mesmíssimos ingredientes dos demais jogos: uma ameaça que é suplantada por outra ainda maior, uma arma secreta que é necessária para as travar e o esforço de uns heróis improváveis para derrotar essas ditas ameaças. E essa recuperação de ADN fica bem patente nos primeiros minutos de jogo. Durante o prólogo, encarnamos um soldado nas fileiras da COG em diversas missões icónicas que nos recordam eventos importantes da história da série. Eventualmente, também vamos acabar por reencontrar Marcus Fenix, pouco conformado na sua reforma e com uma sumptuosa barba. A ideia, julgo eu, será dar uma ideia mais vincada de uma passagem de testemunho.

Infelizmente, nem mesmo com as abundantes cenas intermédias fiquei mais entusiasmado pelo novo enredo. Na verdade, nos momentos em que o jogo nos tenta contar uma boa história de amizade, família e valores morais, estamos só a preencher o espaço entre zonas de combate. Basicamente, assistimos pontualmente a um pedaço da história, entre diálogos cheios de qualidade e com algum humor pelo meio, vindos de um competente elenco de vozes, enquanto andamos por zonas de transição até à próxima área aberta de combate. Agachar, limpar tudo e repetir a dose na próxima área. Acaba por ser um jogo extremamente cíclico, para não dizer repetitivo. De qualquer modo, com os seus combates constantes e intensos, focados na sua violência excessiva, a repetição é inevitável. Como sempre foi na série, aliás.

Quando pegamos na lendária espingarda Lancer, temos aqui um jogo familiar. Continuamos a ter toda a acção directa desta série de acção na terceira pessoa com um dos melhores sistemas de cobertura de sempre. De facto, neste campo da jogabilidade, a The Coalition soube aproveitar todas as mecânicas anteriores, aprimorou alguns pormenores, como uma Inteligência Artificial bem melhor, enquanto nos traz algumas novas armas e adversários para apimentar a acção. Está de volta o lendário “active reload” que nos obriga a um mini-jogo de precisão para carregar a arma ou… falhar nesse processo. E não há nada que consiga ultrapassar o uso da moto-serra da Lancer para cortar adversários incautos ao meio. Nada!

Ainda no primeiro capítulo, vamos ser introduzidos a uma nova dinâmica de protecção de base que nos lembra o modo Horde. Aqui vamos poder usar recursos limitados para levantar protecções temporárias para defender essa área, enquanto os inimigos nos tentam invadir em vagas de assalto. Como surge algures ainda no início do jogo, serve também como showcase desse lendário modo de jogo cooperativo, sobre o qual já falarei mais um pouco. Só tenho pena que o modo de carreira só possa ser jogado de forma cooperativa com dois jogadores apenas. Se bem se recordam os jogos anteriores permitiam até quatro jogadores, tornando a acção bem mais interessante e dinâmica. Assim, neste modo de protecção de base, por exemplo, por mais que a IA esteja melhor, seria bem mais útil jogar com a coordenação de jogadores humanos ao invés de uma IA falível.

Falando da experiência visual, preparem-se para um jogo deslumbrante a todos os níveis, com um ambiente absolutamente fantástico, sobretudo nas áreas infestadas pela Swarm. E parece que produção encontrou uma nova fórmula para a intensidade e caos visual: O abuso de partículas! Basicamente, quase todas as protecções em jogo, as que usamos para sistema de cobertura e não só, são destrutíveis, enviando pedaços de cenário para todo o lado. Contudo, também os corpos dos inimigos se desmembram e tudo o que é objectos soltos dançam a cada impacto ou explosão. Se aliarmos a isto, projécteis das armas, fragmentos de explosões e os momentos em que apanhamos tempestades devastadoras, todo isto proporciona momentos absolutamente caóticos de objectos, tijolos, braços ou pernas e muitas outras partículas a pejar o cenário de destruição.

O que é notável é que tanto na versão testada da Xbox One como no PC com Windows 10 (com definições em Ultra) nada se parece ressentir da quantidade de objectos e fragmentos no ecrã. Infelizmente, na Xbox One a campanha está limitada a 30FPS mas no PC isso não acontece e temos uma fantástica experiência visual a todos os níveis. Só tenho pena que essa acção caótica fique confinada a arenas mais pequenas que no título anterior, talvez fruto dessa enormidade de objectos renderizados. Há muitas áreas claustrofóbicas onde podemos ficar confusos com tantas animações e objectos num espaço confinado, sobretudo se a cada morte de adversário, o nosso ecrã fique “sujo” com sangue ou detritos. Umas arenas maiores com acção mais ampla, não eram mal pensadas.

Terminada a acção do modo de carreira, Gears of War 4 continua nos seus modos de acção multi-jogador. E tenho de falar primeiro do modo mais icónico da série e que até já o mencionei acima. O modo Horde regressa cheio de vontade de se reafirmar como um dos melhores modos de acção cooperativa que há memória, tendo até inspirado outros jogos de acção. No Horde 3.0 passamos a ter classes distintas com papéis definidos, além de um novo esquema de construção de defesas, recorrendo a uma máquina chamada de Fabricator, em que podemos gastar pontos ganhos entre vagas. Como sempre, a dificuldade e número de adversário vão aumentando a cada vaga, mas também aumentam as opções de defesa.

Claro que muitos outros jogadores quererão voltar à visceral acção competitiva multi-jogador. Não só neste modo a produção apostou em diversas mecânicas adaptadas na jogabilidade, tornando-a mais reactiva, como conseguiu pings baixos graças aos servidores dedicados e ainda aumentou o rácio de fotogramas na Xbox One para 60 FPS. Claro que isto significa que há pequenas cedências na qualidade visual, mas nada de realmente assinalável. Os mapas respectivos estão muito bem equilibrados e há modos de jogo para todos os gostos, entre os clássicos e alguns novos. E todos gostarão de saber que agora o matchmaking é bem mais justo e permite ajustar ao nível de cada jogador.

Tanto os modos cooperativos como os competitivos podem ser modificados em termos de aumentos de dano, boosts de pontuação e outros bónus com recurso a cartas modificadoras. Estas podem ser adquiridas com pacotes de bónus que são oferecidos em determinadas metas do jogo ou comprados com recurso a micro-transacções. Além disso, o passe de época também dará acesso a diversos outros bónus exclusivos. De resto, gostarão de saber que no futuro a The Coalition promete lançar 24 novos mapas multi-jogador (2 por cada mês) de forma inteiramente gratuita.

Por fim, já devem saber que Gears of War 4 possui a funcionalidade “Xbox Play Anywhere” que permite jogar tanto na Xbox One como no PC com Windows 10, como um só jogo. Este jogo foi analisado sobretudo na versão Xbox One, tendo recorrido à versão PC para comparação gráfica e avaliação do seu sistema de cross-platform. Toda a evolução, compras online, desbloqueios, achievements e outras operações transitam entre plataformas. Além disso, foi possível jogar com jogadores de ambos os lados de forma irrepreensível. Estou realmente surpreendido pela qualidade deste serviço, sobretudo num jogo tão dinâmico com este.

 

Veredicto

Bom trabalho, The Coalition! Conseguiram trazer-nos um Gears of War 4 digno de pertencer à série com toda a legitimidade, mesmo assim honrando os caminhos trilhados da Epic Games. Não inova muito no modo carreira, é certo, mantendo muitas das famosas mecânicas de jogo, dando apenas algumas melhorias na sua jogabilidade. Online, porém, está melhor que nunca, com o novo e viciante Horde 3.0, além dos populares modos competitivos. Como passagem de testemunho, nota-se algum receio de ser algo novo, apostando mais num arrojado visual e em polimentos pontuais, mantendo-se algo dado à repetição. Contudo, a horda de fãs em que me incluo, agradece esta entrada de qualidade, desejando mais e melhor no futuro desta série.

  • ProdutoraThe Coalition
  • EditoraMicrosoft Game Studios
  • Lançamento11 de Outubro 2016
  • PlataformasPC, Xbox One
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Campanha algo repetitiva
  • Áreas de combate precisavam ser maiores
  • Carreira cooperativa apenas para dois jogadores

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários