FullThrottleRemastered (6)

Análise: Full Throttle Remastered

Em 1995, a LucasArts estava bem firmada como uma das grandes impulsionadoras do género da aventura gráfica “point and click“. Nesse ano Full Throttle marcou uma geração, estando no top dos jogos que marcaram a adolescência de muitos. Este é o seu muito aguardado regresso numa versão inteiramente remasterizada.

Parcialmente por uma questão de nostalgia, mas também porque sempre gostámos do género, Full Throttle Remastered, a par dos anteriores clássicos remasterizados Grim Fandango e Day of the Tentacle também da produtora Double Fine Productions, foi muito aguardado aqui no WASD. Fez no dia 20 de Abril 22 anos desde o seu lançamento. O que significa que esta remasterização, que nos traz melhorias visuais e sonoras, além de uma adaptação às tecnologias modernas, tem de provar que resiste à prova do tempo. Se as anteriores aventuras conseguiram, será que a Double Fine fez um bom trabalho com este jogo? Liguem a motorizada e preparem-se para viver sob a “lei da estrada”.

Para quem não conhece (ou não se lembra) da história, este jogo acompanha a aventura de Ben Throttle, o líder do bando de motoqueiros Polecats. No ano de 2040, as lendárias motas de motor a combustão estão em declínio, numa era em que a tecnologia anti-gravitacional ganha proeminência. Por isso, parece muito fortuito que Ben dê de caras com o dono da última grande fabricante de motorizadas, Malcolm Corey da Corey Motors. Malcolm tem uma proposta para Ben, mas há algo que não bate certo nessa proposta. Sem querer revelar demais, após uma série de eventos, Ben acaba incriminado por um assassinato que não cometeu e precisa fazer-se à estrada para limpar o seu nome.

Olhando em jeito de retrospectiva, este enredo era, de facto, muito bem criado, numa altura em que os jogos apostavam em enredos quase cinematográficos. O que me parece que ajuda bastante é a caracterização das personagens, habilmente trazidas à vida por actores de voz competentes. A voz de Roy Conrad é irrepreensível no papel de Ben Throttle, mas são as prestações de Mark Hamill (Luke Skywalker em Star Wars), Hamilton Camp (diversos filmes Hanna-Barbera e Disney), Maurice LaMarche (Futurama) ou de Jack Angel (diversos jogos e filmes Disney), que tornam os diálogos tão ricos e envolventes. Obviamente, há mais neste jogo que os diálogos, no entanto, 22 anos depois, mesmo com algumas novidades visíveis, nada mudou em termos de qualidade.

Costuma-se dizer que “equipa que ganha não se mexe”. Este provérbio encaixa perfeitamente nesta reedição. Tim Schafer foi o director original lá nos idos anos 90, responsável pelo sucesso de tantos outros jogos do género, além dos já mencionados Grim Fandango e Day of the Tentacle, mas também pela aclamada série Monkey Island, Psychonauts e outros títulos de sucesso. Agora com Schafer como director da Double Fine, a remasterização de Full Throttle não podia estar em melhores mãos. Contudo, o jogo original não foi isento de críticas, por mais que permanecesse no nosso imaginário e que tanto desejássemos o seu regresso.

Com cerca de oito horas de jogo, Full Throttle foi alvo de alguma insatisfação pela sua relativa simplicidade genérica e menor dimensão. Apesar do enredo envolvente e da vontade dos fãs, o jogo nunca chegou a ser expandido. Chegaram mesmo a haver duas sequelas programadas, mas acabaram canceladas em 2000 e 2002, respectivamente, mais ou menos quando a LucasArts já tinha ultrapassado a sua fase de aventuras gráficas e se virava para outros géneros. Com esta remasterização, poderia haver uma hipótese de Full Throttle se expandir. Contudo, numa entrevista recente, Schafer alega que não está nos planos uma sequela ou expansão, concluindo que a história do jogo está confinada ao título original. Infelizmente, Roy Conrad faleceu em 2002, inviabilizando também um possível regresso de Ben Throttle.

E que tal está a remasterização? Se acompanharam as nossas análises a Grim Fandango e Day of the Tentacle, já saberão o que esperar. Uma total fidelização ao produto original, reeditando os conteúdos originais com mais qualidade, mas podendo comutar com um simples botão para o grafismo e sonoridade original, nem que seja para matar saudades. De facto, a LucasArts fez um trabalho tão bom, que só mesmo os modelos visuais, a resolução e a compressão do áudio precisam de uma modernização. Só que muitos dos que tomarão contacto com Full Throttle não jogaram o título original. Ou seja, este jogo terá de sobreviver ao teste do tempo de duas formas: Como remasterização de um jogo clássico e como um novo jogo para quem não o conhece.

Full Throttle não possui uma acção linear, nem é composto por objectivos marcados em mapas ou propenso a “speed runs” (a não ser que já o tenham jogado, claro). Para dar continuidade à história, é preciso pensar. É preciso combinar acções e objectos, resolver puzzles, dialogar com as personagens e até pensar “fora da caixa”. Mesmo assim, comparado com Grim Fandango, por exemplo, é muito mais simplificado nestas acções, algo que também na altura foi muito criticado pelos fãs, mas que hoje em dia me parece bem mais ajustado. Afinal, vivemos numa era de jogos acéfalos de saltar pelas paredes e onde os enredos são meramente acessórios. Diria que a relativa simplicidade deste jogo não assustará os que temem ficar horas a puxar pela massa cinzenta.

Convenhamos que os tempos áureos das aventuras “point and click” já lá vão. Apesar do género nunca ter desaparecido, contam-se pelos dedos das mãos os títulos deste calibre que se tornaram sucessos. Saibam, porém, que estes jogos ditaram muitas convenções para outros jogos géneros modernos. E é inegável que continuam a possuir o seu charme com puzzles desafiantes, diálogos interessantes e história envolvente. Full Throttle, porém, atém nem é o melhor jogo deste género vindo da LucasArts. Mas, não deixa de ser um testemunho da qualidade dos jogos de aventura gráfica dos anos 90, possivelmente até é o último bom exemplo dessa era. Por isso, se este género vos apela, este é mais um que não devem deixar fugir.

Jogo moderno que se preze, tem de suportar o hardware mais recente. Apesar do destaque nesta remasterização ser a modernização da versão PC e Mac para os sistemas operativos modernos, o suporte para a PlayStation 4 e PlayStation Vita, obrigaram também a uma revisão nos controlos para trocar o teclado e rato pelos comandos de controlo das duas consolas. O próprio interface foi todo remodelado com grafismo mais polido e há diversas modificações nas mecânicas. Obviamente que o que saltará mais à vista é o seu grafismo totalmente redesenhado. Mas, se comutarem para a versão original (carregando no botão do touchpad no Dualshock 4 na PS4), irão ver que toda a nova arte do jogo está muito fiel ao original, tirando os falíveis modelos 3D de alguns veículos.

Como um todo, Full Throttle Remastered é uma junção de dois jogos e duas realidades. Num lado temos um jogo de 1995 em formato 4:3, som Mono e grafismo pixelizado. Por outro, um jogo Full HD, incrível som remasterizado e com grafismo polido. Em jeito de complemento desta oferta, poderão aceder a uma sempre interessante galeria de imagens de produção e até ouvir os comentários da produção ao longo do jogo (opcional via menu). Infelizmente, esta última opção parece um tanto colocada de forma aleatória. Nem sempre os comentários coincidem com a cena em causa e também não levam em conta os diálogos ou cenas intermédias da acção. Por outro lado, o som parece ser francamente mais comprimido e de pior qualidade que o jogo em si.

Tecnicamente, o jogo não possui muito grafismo complexo que se possa ressentir, mesmo com texturas e modelos novos adicionados. Não houve nenhuma questão de assinalar na versão analisada na PS4, à excepção das questões que já assinalei com os comentários da produção. Pude testar a funcionalidade de cross-buy e cross-save com a PlayStation Vita e funcionam perfeitamente. Continuo a achar, porém, que este tipo de jogos terão uma melhor experiência se jogados no PC ou Mac. Compreendo, obviamente, a questão de abranger uma maior audiência. Contudo, afinal estas são aventuras “point and click” e o uso dos comandos, embora não seja mau de todo, não faz jus a essa mecânica.

Veredicto

Full Throttle Remastered é um bom exemplo do que se pode fazer para trazer de volta um clássico de culto, sem se resumir a uma simples reedição adaptada. As remasterizações precisam trazer a qualidade original para uma modernização que não coloque a originalidade em risco. Não sendo o melhor jogo de sempre no seu género, mesmo para a data em que foi concebido, este é um projecto de restauração de um clássico de culto. Todos os que o jogaram na sua versão original, vão adorar regressar ao jogo, podendo até comutar entre o grafismo origina e remasterizado. Os que só agora o descobrem, terão uma nova oportunidade de visitar uma era tão diferente, mas ao mesmo tempo, tão rica da história dos videojogos.

  • ProdutoraDouble Fine Productions / LucasArts
  • EditoraDouble Fine Productions
  • Lançamento18 de Abril 2017
  • PlataformasMac, PC, PS4, Vita
  • GéneroAventura Gráfica
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Comentários áudio têm alguns problemas
  • Queríamos mais jogo

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários