fishingBarentsSea (4)

Análise – Fishing: Barents Sea

Uma vez mais, entro no mundo da simulação pouco convencional. Já vos levei a lavrar, já vos levei a minar e até já vos levei a conduzir pesados. Parece que a oferta deste tipo de simuladores não pára. Agora, temos Fishing: Barents Sea e lá vamos nós pescar.

Confesso que o que mais me interessou neste jogo foi a promessa de navegação marítima. Já que tenho queda para os simuladores, porque não juntar os navios à lista? Contudo, depois de o jogar por algumas horas, entendi que este não é bem um simulador de navegação de barcos, se é que tem alguma intenção de simular seja o que for. Algo desapontado, continuei mesmo assim a passar pela sua oferta. O tutorial pareceu-me simples de dominar e entrei de imediato no modo de carreira. Ao fim de várias horas, dei por mim envolvido no jogo, com o mesmo fenómeno de atracção que encontrei nas outras simulações. Levantem âncora e aprontem o isco.

A ideia é dar-nos a perspectiva de ser um pescador no infame Mar de Barents, parte do que conhecemos por Mar do Norte na costa da Escandinávia. Começamos o modo de carreira com um humilde barco motorizado de madeira que temos de usar para angariar pescado para sobreviver. Com a venda desse pescado, podemos comprar combustível, fazer reparações do barco ou adquirir valiosos upgrades de motor ou capacidade de carga e até contratar ajuda para as mais diversas tarefas. A nossa evolução permite depois ganhar reputação em cada porto, assim como adquirir licenças para outro tipo de embarcações mais avançadas… e mais caras.

Estão a ver a lógica deste simulador? Temos de pescar mais para termos mais dinheiro e assim expandir a experiência. Se quiserem evoluir mais depressa, podem sempre aceitar trabalhos específicos, geralmente envolvendo entregar quantidades específicas de pescado em portos indicados. Outra forma de evoluir mais rápido é por pedir empréstimos bancários para comprar upgrades ou novos modelos de barcos. E quando maiores forem os barcos, terão maiores capacidades e equipamento que permitem ganhar ainda mais dinheiro das toneladas de peixe que angariam. É uma lógica algo repetitiva, tenho de admitir.

Contudo, este jogo não se prende muito no conceito da jogabilidade desafiante ou complexa. Pegamos no leme da nossa pequena embarcação e partimos para o mar. Ou navegamos directamente para zonas de pescado ou podemos usar o prático “fast travel“. Notem, porém, que precisam de desbloquear porções do mar antes de usar esta ferramenta. E isso, só o fazem navegando e desbloqueando o “nevoeiro” no mapa. Também no mapa, devem activar a visualização de zonas de espécies de peixe para decidir qual devem pescar. As espécies surgem no mapa com manchas coloridas para ajudar a encontrá-las.

Uma vez na zona de pescado, é altura de lançar as linhas com isco. Nos portos, podemos abastecer vários tipos de isco que terão efectividade nos diferentes tipos de peixe. Inicialmente, só poderão usar 4 redes, mas com embarcações maiores poderão lançar mais. O lançamento é simples com duas boias a marcar a posição da armação. Consultando o importante manual em jogo, vemos que temos um tempo específico para aguardar antes da recolha das linhas, geralmente são 24 horas de repouso. Podem passar este tempo lançando mais linhas, desbloqueando porções do mapa, descobrindo novos portos ou até a saltarem tempo no porto mais próximo.

Quando é hora de recolher a linha, é que as coisas complicam. Primeiro, temos de alinhar o nosso lado de estibordo (direita) com a primeira boia. Depois activamos recolha que se faz com um carreto mecânico. Depois é que vem o desafio. Cada peixe precisa ser removido da linha com um arpão e isso requer que passemos um mini-jogo que mais não é que um Quick Time Event (QTE). O peixe surge e com ele um círculo que vai diminuindo de diâmetro. Temos de apanhá-lo o mais próximo possível da sua posição menor, um “perfect”. Todos os outros pontos (good, ok, etc) são válidos e dão bónus de quantidade. Fora disso, perdem o peixe. Não é difícil de executar este mini-jogo e acabamos por fazer muitos “perfects”, mas já sabem que eu não gosto muito de QTEs.

Após apanhar os peixes, numa consulta à carga do barco irão notar que os 8 ou 10 peixes que apanhámos são uma espécie de percentagem. Na verdade apanhámos dezenas de cada espécie de peixes. Só que agora temos de os estripar (tenham calma que não envolve vísceras de peixe). Este é outro mini-jogo e só estripam um peixe de cada espécie. A vossa prestação, contudo pode dar mais ou menos qualidade ao pescado, traduzindo-se no seu preço na lota. O mini-jogo consiste passar uma faca com o rato da esquerda para a direita, mas há o que parecem ser ímanes que puxam a lâmina de um lado para o outro. Ou seja, exige calma e movimentos precisos. Uma vez mais, não é difícil, mas pode frustrar um pouco, mesmo assim. Com barcos maiores, estas tarefas que menciono acima tornam-se diferentes e passamos a confiar mais no staff, felizmente.

Ao fim de umas quantas linhas puxadas, levam o peixe para o porto e vendem-no na lota. Convém consultarem as tabelas de cada porto para verem que peixes compram e a que preço. Pode valer a pena vender peixes em portos diferentes, mesmo que signifique umas horas a mais a navegar para outro ponto. Também convém aceitar trabalhos específicos que dão mais alguns bónus de dinheiro e reputação. Ao fim de um tempo, pagamos dívidas bancárias e é quase tudo lucro. Com um negócio rentável, podemos começar a investir num barco melhor, mais staff, mais equipamento e upgrades e… bom… é só mesmo isso.

 

Não há mesmo um objectivo de carreira ou algo “end game”. Com embarcações maiores fazemos o mesmo, mas numa escala maior. Não há um “fim”, propriamente. O melhor trunfo deste tipo de jogos é que nos relaxa com uma actividade pouco desafiante, com objectivos de dificuldade acessível e um elemento de repetição e que não exige grande perícia ou estratégia complexa. Onde mais se irão “stressar” é na gestão do combustível e nos tempos para recolher linhas (o peixe apodrece ao fim de um tempo se não for capturado). De resto, este é mais um daqueles jogos zen, para onde escapamos entre sessões de jogos mais exigentes.

Para este elemento zen que menciono, contribui o ambiente de jogo. Graficamente, não se pode dizer que seja deslumbrante como um todo, mas os efeitos de água serão dos melhores que irão encontrar, por exemplo. De um modo geral o grafismo transmite a necessária envolvência, com ciclo de dia e noite, estações do ano e até meteorologia variável. Esperem até navegar por largos minutos na cabine do barco na primeira pessoa, à noite, só vendo as ondas até onde os holofotes apontam. Pelo meio, escutam a água a passar pelo casco, as gaivotas e… a música… Ok! Ao fim de algumas horas poderão ter de desligar a música electrónica de qualidade questionável.

Infelizmente, penso que o potencial deste jogo não é aproveitado ao máximo. É discutível se este tipo de simulações podem ser realmente divertidas online, mas o elemento de solidão é francamente devastador. No meio do mar, sem nada à vista, estamos sempre sozinhos, mesmo com o staff contratado. Seria óptimo ter uma pessoa no leme a orientar o barco e alguém a recolher as armações, por exemplo. Algum tipo de interacção ou algum tipo de cooperação. Este é o mal de muitos simuladores deste género, esta atitude um tanto egoísta de um mundo desprovido de interacção. Gostava mesmo, nem que fosse, que outros jogadores aparecessem com os seus próprios barcos. É que as gaivotas não são grandes conversadoras.

Quem sabe o que irá desapontar mais gente é que este jogo parece-nos algo inacabado. Não basta a tal falta de modos de jogo, componente online e a repetição constante. Há imensos bugs e erros de lógica, alguns relativamente frustrantes. Notem que nenhum é grave propriamente. Tive imensos bugs a atracar nas docas com o barco a recuar sem explicação ou acelerar contra o cais sem que pudesse fazer nada. Também me aconteceu inúmeras vezes ficar com o barco imobilizado. Também há uma certa falta de explicação em algumas mecânicas. Começo a soar a repetitivo nestes dias, sempre a dizer que também este jogo “precisa de algum trabalho da produção”. Sinais dos tempos?

Veredicto

Fishing: Barents Sea tem um preço simpático para uma oferta igualmente simpática. É um simulador mas não é bem um simulador. Ou seja, tem a premissa de nos colocar lá no Mar de Barents a pescar, dá-nos alguma envolvência necessária, mas não exige que tenhamos a licença de pescador ou algum curso de navegação. Simplifica muita coisa a bem da jogabilidade fácil de aprender. Tem alguns problemas aqui e ali, mas de um modo geral cumpre o objectivo de nos entreter. Nem que seja como a tal escapatória dos outros jogos mais intensos. A tal ponto que agora que terminei esta análise, vou zarpar…

  • Produtora Misc Games
  • EditoraAstragon
  • Lançamento7 de Fevereiro 2018
  • PlataformasPC
  • GéneroSimulação
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Música
  • Alguma repetição
  • Pequenos bugs

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários