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Análise: F1 2017

A Codemasters está de regresso com aquele que pode ser o seu maior trunfo: replicar a prova-raínha do automobilismo num jogo. F1 2017 já chegou e não perdemos tempo nem nos treinos, nem nas qualificações para vos dar um lugar privilegiado na grelha de partida.

Por esta altura, o Campeonato do Mundo de Fórmula 1 está já a todo o gás. Por isso, foi muito interessante estar a olhar para a televisão e ver o Grande Prémio da Bélgica que decorreu neste fim de semana e depois saltar para a PlayStation 4 tentar bater o tempo do vencedor Lewis Hamilton. Obviamente que não é sentados num sofá, que vamos bater recordes, até porque aqui os erros são bem mais fáceis de corrigir que na vida real. A exigência desta competição, aliada às características dos automóveis são sempre apaixonantes, mesmo que a FIA (Federação Internacional do Automóvel) crie novas regras todos os anos para condicionar, cada vez mais, os pilotos e as equipas. Estes jogos anuais, são também uma recriação destas regras, por mais que nos interesse conduzir os carros nas pistas correctas com as equipas devidamente reproduzidas.

E todos os anos sentimos que há uma repetição nestes títulos. Algumas alterações cosméticas, umas quantas novidades em modos e mecânicas mas tudo parece sempre o mesmo, com menus diferentes. Contudo, esta é a Codemasters. A mesma produtora de Dirt Rally e Dirt 4, dois grandes jogos de desporto motorizado. Embora a Formula 1 seja de um calibre completamente diferente, este não deixa de ser um jogo com edição anual. Por isso, é francamente importante inovar ou cairá rapidamente na repetição. Neste ano, a produção não desapontou, apostando num robusto modo de carreira e mais algumas novidades sobre as quais já falarei. Há também uma actualização visual, embora com algumas imperfeições.

Começo exactamente pelo modo de carreira. Todos gostamos de correr um grande prémio para descontrair, quem sabe, criar um campeonato personalizado ou até atacar uns contra-relógios, sozinhos ou contra adversários online. Mas, sem dúvida, é o espírito do “grande Circo” que atrai milhões às corridas milionárias da Fórmula 1. Não só as máquinas, mas os próprios pilotos e equipas são alvo do interesse de fãs de todo o mundo. A carreira de piloto desta competição é, para muitos, o auge da sua carreira. E que carreira. Além de restrita em acesso, os pilotos são autênticos atletas de alta competição, pagos a peso de ouro. Infelizmente, nem sempre esta carreira de sonho teve a melhor das representações. Os modos de carreira, costumam ser meras cenas de cosmética entre provas. Até agora…

Não basta simplesmente replicar o paddock de uma equipa em que falamos com o engenheiro e nos preparamos para cada prova. Já outros jogos souberam trazer as interacções com elementos da equipa, os emails trocados entre managers e até as questões de contrato e as negociações com novas equipas. Até mesmo os jogos anteriores da série Dirt desta produção foram exímios a replicar esse tipo de gestão. Embora um pouco mais comedida, esta gestão de carreira vai prender-nos a uma apaixonante progressão com desafios variados. Escolham, como eu, uma equipa de menor gabarito (não se metam logo numa Ferrari) e batalhem pelos lugares medianos. Primeiro por um simples lugar na grelha e depois pelo pódio e toda a glória molhada de champagne.

Para ajudar nessa epopeia, tudo tem um custo e é preciso algo em troca. Temos de ganhar pontos de experiência por cada objectivo e por cada meta atingida. E há várias formas de pontuar. Desde o objectivo por corrida, começando com modestas metas de atingir o 19º lugar (de 20), manter consistência nos lugar na grelha ou na classificação geral, passando por ser melhor que os pilotos rivais eleitos pelo jogo, até conseguir bater tempos estipulados, pontuar para o campeonato de pilotos e de construtores e, claro, vencer grandes prémios e campeonatos. Contem também com provas adicionais promocionais que podem levar-vos a fazer pequenos eventos promocionais, como conduzir clássicos da Fórmula 1 a troco de mais alguns pontos.

Os pontos ganhos servem para gastar, não em vida boémia, mas no próprio carro. Cada veículo possui potencial de ser um campeão. Contudo, temos de apostar na engenharia para conseguir mais potência, mais aerodinâmica, mais potencial de travagem, etc. Para isso, há uma complexa (mesmo complexa) árvore de progressão onde vão perder imenso tempo. Ganhar velocidade de ponta é importante, mas é preciso que os travões acompanhem. Melhor aerodinâmica é essencial, não só em recta, mas também em curva. Enfim, é preciso muito ponto de investimento para criar um carro vencedor. E tudo isto é prejudicado quanto menor for a equipa. Se é que na Formula 1 se pode falar em “equipas menores”.

Notem que este desenvolvimento tem algumas contrapartidas. Alguns dos projectos demoram imenso tempo a ser concluídos. E, pior, somos logo avisados que “nem sempre vamos ter boas notícias da fábrica”. Por outro lado, quantos mais problemas criamos com a nossa condução, mais desgaste vemos no veículo e nos seus componentes, obrigando-nos a despesas desnecessárias. Só temos uma quantidade limitada de peças para trocar durante o ano da prova. Qualquer necessidade adicional de peças resulta numa penalização. Junte-se a tudo isto, a necessidade de gerir os objectivos da equipa e temos aqui uma interessante jogabilidade, estilo Role Play. Estamos a poupar as peças e, de repente, a equipa pede-nos um 10º lugar… Será que o compromisso de ficar dentro dos limites dá lugar à ambição?

Se decidirem levar o carro além do razoável, até podem fazer a diferença mas é bem possível que paguem um preço elevado. Por exemplo, a meio da prova do Grande Prémio da China, decidi tentar qualificar-me para um lugar na grelha acima (18º) do objectivo da equipa (19º). Para isso, enriqueci a mistura de combustível numa das últimas voltas. No final da qualificação, consegui de facto não um, mas dois lugares acima. Contudo o motor não aguentou tanta pressão e tive imensos problemas electrónicos durante a corrida em si. Acabei… dois lugares abaixo do desejado e a lutar para não ser ultrapassado. Esta estratégia mantém tudo muito mais interessante, sem dúvida. Tivesse jogado pelo seguro, teria cumprido objectivos e o motor ainda cá estava entre nós.

Outros exemplos de estratégia estão na mecânica do veículo e na gestão de pit-stops. A primeira obriga-nos a entender um pouco de mecânica de automóveis, alguma física e alguma aerodinâmica. Nada de extraordinário, uma vez que o jogo nos ajuda bastante a explicar o que cada opção oferece ou retira. A melhor estratégia é a do equilíbrio, como podem imaginar. Com a evolução da engenharia, vamos tendo com um carro balanceado com pouca necessidade de personalização. Só devemos mexer nas configurações caso as características das pistas o obriguem, ou se forem preciosistas. É para isso que servem as sessões de treinos antes das qualificações, para testar configurações em cada prova. A outra opção estratégica, porém, só é válida nas corridas.

Pouco antes de começar a corrida propriamente dita, temos de escolher a nossa estratégia de paragem nas boxes, as já mencionadas pit-stops. Nessas paragens temos duas acções elementares a fazer: trocar pneus e reabastecer. Correr com tanque cheio é um risco por causa do peso, escolher o jogo de pneus errado é a receita para acabarem em último. Contudo, pior pode ser escolher fazer paragens tardias ou prematuras. Os nervos ficam à flor da pele quando estão num lugar cimeiro e o nível de combustível desce. Entram na box e… perdem essa vantagem toda. Resta esperar que os adversários também precisem de abastecer ou trocar pneus. Melhor, que tenham reparações de danos que os atrasem.

Tudo o que descrevi até agora soa a realista. É mesmo assim que o mundo da Fórmula 1 apaixona tanta gente. Gestão, estratégia, audácia e algum perigo. Contudo, é preciso que o resto seja igualmente realista ou, pelo menos, credível num videojogo. A começar na interacção, obviamente, terminando no seu aspecto, sem nunca esquecer as tão importantes físicas da condução. Nos anos passados, não fiquei particularmente desiludido com nenhum destes aspectos. Neste ano, porém, a ambição da Codemasters não se ficou apenas pelo modo de carreira envolvente e credível. O seu esforço foi no sentido criar uma interação realmente realista, inovadora e com bom aspecto. Com resultados mistos, diria.

Alguma vez viram como é um volante de um carro de Fórmula 1? Têm todos uma série de dígitos, botões e selectores. Todos possuem uma função. Desde ajustar consumos na hora, ver tempos em prova, pedir algo à equipa, etc. Em conjunto com as comunicações por rádio, são peças de engenharia que facilitam a vida ao piloto. Pois bem, nas consolas, mesmo com volantes de controlo complexos instalados, duvido que conseguíssemos replicar esses volantes com todas essas funções. E a solução da Codemasters também não é a mais prática. Um menu lateral controlado com o d-pad é um terror para quem em está a fazer curvas a 200 km/h. Pior, está numa posição complicada no canto inferior direito.

Confesso que simplesmente desisti de tentar dominar melhor o menu lateral. Isto porque sempre que tentei, as coisas não correram bem. Tudo ocorre tão depressa e em meros segundos estamos a procurar o botão para ajustar alguma coisa e acabamos a embater no rail por estamos a tentar perceber onde está o raio da opção que queríamos. Contudo, também não estou a ver outra alternativa para interagir nesta questão em particular. Um menu de pausa? Talvez fosse mais simples, mas iria quebrar todo o ritmo de jogo. Comprar um volante igual aos dos carros de Fórmula 1 para programar cada botão? Perfeito, aceitamos investidores!

No que toca à condução e às físicas de controlo, porque poucos de nós alguma vez teremos um termo comparativo, gosto de imaginar que são realistas. Olhando para as imagens na TV, consigo dizer que estes bólides se comportam com o esperado. Nas repetições no jogo, parece mesmo que estamos a ver a transmissão em directo. Cada veículo é reproduzido com fidelidade dos modelos actuais de cada equipa, incluindo os infames apoios aerodinâmicos, dimensões e design geral. Por isso, só podia esperar que a produção também se empenhasse em recriar todos os efeitos físicos dos veículos. Gostei particularmente que os pilotos virtuais, de um modo geral, são mais inteligentes que o costume, pressionando, fechando trajectórias (dentro da legalidade, diga-se) e até cometendo alguns erros pelo meio.

Se as provas modernas não vos satisfizerem, não estão sozinhos. Eu, por acaso, tenho alguma saudade dos motores V12 aspirados. E foi com muito agrado que pude voltar ao passado com os veículos clássicos. Esta é toda uma nova diversão com modelos e motores com outro tipo de capacidades e outro tipo de restrições. Desde o lendário McLaren MP4 de Ayrton Senna ou o não menos mítico Ferrari F2002 campeão de Michael Schumacher, poderão experimentar toda a sorte de potências e apoios aerodinâmicos que estes veículos tinham, já para não falar na inconfundível sonoridade dos motores estridentes. Só falta mesmo o cheiro de pneus queimados. Além dos tais eventos especiais de carreira, experimentarão estes clássicos no modo Championships.

Falta só falar do aspecto técnico. Sim, este jogo iria facilmente para a prateleira se assumirmos que (quase) todos os jogos de competições oficiais não possuem grande qualidade visual ou técnica. Este novo título usa o mesmo motor gráfico proprietário EGO 4.0 usado em Dirt 4, com o mesmo potencial de fidelidade que esse jogo tem. Contudo, não sei dizer se este motor gráfico ainda é experimental (esta versão já tem dois anos de vida), ou se a equipa lutou para optimizar este título nas consolas. Na versão que analisei na PS4 Pro, o jogo luta bastante para se manter fluido, com constantes quebras de sincronismo vertical, texturas sem definição ou mesmo em falta. Será optimização ou má programação?

Outras questões prendem-se com a tentativa da produção de criar uma imersão com o modo de carreira, incluindo cenas com actores recorrendo a captura de movimentos. Essa captura até funciona bem, mas as texturas, iluminação e sombras são, no mínimo atrozes, nada comparáveis ao resto do jogo. Uma vez mais, estou na dúvida se esta é uma limitação do motor gráfico ou se a optimização na plataforma em causa não permitia mais. A julgar por outros jogos em que estes problemas não são verificados, aposto mais que o motor gráfico precisará de uma versão 5.0. Por outro lado, pode ser que a produção acabe por corrigir alguns dos problemas com actualizações.

Veredicto

Todos os apaixonados pela “prova-rainha”, “grande Circo” ou qualquer outro nome que gostem de dar à Formula 1, são uns grandes sortudos. Todos os anos contam com uma boa representação do seu desporto automóvel favorito, vindo de uma das melhores empresas a pegar no volante destas simulações. A Codemasters esforçou-se muito com o modo de carreira deste F1 2017. Tem alguns problemas técnicos e alguma necessidade de optimização mas, como sempre, é uma evolução positiva dos anos anteriores. Os veículos históricos são um enorme trunfo adicional para os mais nostálgicos. Não arranca a Pole Position, mas leva uma lugar no pódio, sem dúvida.

  • ProdutoraCodemasters
  • EditoraCodemasters
  • Lançamento25 de Agosto 2017
  • PlataformasPC, PS4, PS4 Pro, Xbox One
  • Género
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Alguns problemas visuais
  • Precisa de optimização na performance
  • O menu lateral de interacção em prova

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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