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Dishonored

São poucos os momentos em que podemos dizer que um jogo é original. Tudo bem, há determinados pontos que não se inventa nada, como no género, jogabilidade ou interface. Mas de quando em vez surge um jogo que nos surpreende pela audácia de querer ser diferente. Os primeiros momentos de Dishonored fizeram-nos crer que ainda há esperança para títulos originais que não sejam só plágios ou sequelas.

Se pudéssemos comparar esta aventura da Arkane Studios pela mão da Bethesda, como o jogo de acção na primeira pessoa que é, talvez o colocássemos num patamar paralelo ao mítico “Bioshock”. Até mesmo a atmosfera Steampunk está presente tal como no famoso shooter da 2K. Mas Dishonored dá um passo para o lado, não diríamos em frente, em relação a Bioshock. Limita-se a seguir um caminho próprio sem querer inventar demasiado. Não deixa de ser um shooter com componentes interessantes de jogo furtivo, armamento pouco convencional e até um rudimentar sistema de cobertura. Até mesmo a inclusão de alguns poderes especiais que a personagem principal ganha lá mais para a frente no jogo nos fazem lembrar Bioshock. Mas acabam aí as semelhanças.

Dishonored passa-se numa cidade fictícia chamada Dunwall que mistura a arquitectura clássica com algumas inovações tecnológicas avançadas. Jogamos como um dos guarda-costas da Imperatriz de Dunwall, Corvo Attano. Corvo tem um dilema, porém. A cidade está a braços com uma estranha doença que é trasmitida pelos ratos da cidade. Corvo parte numa missão de tentar obter ajuda de uma cidade vizinha, só que ao regressar  é emboscado e incriminado pela morte da Imperatriz e o rapto da sua filha. Na sua desonra (daí o nome do jogo), Corvo tem de provar a sua inocência e devolver a ordem a Dunwall por remover os conspiradores do Império e já agora salvar a cidade da praga que a assola. Pelo meio conhece algumas personalidades que o irão ajudar nesta tarefa. Inclusive uma personagem sinistra chamada Outsider, a tal que lhe confere os poderes especiais que incluem a possibilidade de ver através de paredes, correr e saltar a velocidades incríveis e até possuir pessoas ou animais para disfarce, entre outras mais ou menos estranhas.

Assim, Corvo torna-se num assassino. Presenteado com uma máscara para esconder a sua identidade e com um seleccionado número de armas à sua disposição, Corvo está pronto para trazer justiça. Temos sempre uma espada na mão direita e na mão esquerda podemos alternar armas especiais, desde uma pistola tipo bacamarte, uma besta que dispara setas, explosivos incendiários ou dardos tranquilizantes. Estas armas podem ser melhoradas com upgrades que custam dinheiro virtual ganho em missões ou em pilhagens pela cidade. Mas, depois do encontro com o Outsider, passamos também a contar com a mão esquerda para os tais poderes especiais. Poderes esses que podem ser adquiridos e melhorados por encontrar objectos espalhados pelo mapa chamados de Runas. Essas runas são encontradas recorrendo a um macabro coração mecanizado. Sim, leram bem é um coração que bate com um mecanismo no seu interior. Depois de acalmarem o vómito de pensarem que têm um coração alheio na mão, vão encontrar as tais runas por apontar o órgão e observar o batimento do mesmo. As runas nem sempre estão acessíveis na fase de jogo que nos encontramos. Apesar da cidade ser gigantesca e podermos movimentar livremente, jogamos apenas em partes da mesma de cada vez. Talvez aqui pudesse ser um pouco melhor com a lógica Sandbox, mas não chateia muito.

Com o seu arsenal, Corvo tem de se esgueirar por Dunwall usando técnicas para se esconder do inimigo que na verdade são várias facções. Entre os infectados pela peste, os rufias e ladrões e a própria guarda Imperial leal aos golpistas, é essencial dominar a arte furtiva de ataque. Corvo pode esgueirar-se carregando num botão para se agachar. Até o ecrã muda para um tom mais escuro. Nesta pose, pode correr entre obstáculos e não ser visto. Pode também andar pelos telhados e acessos acima dos insuspeitos e evitar o contacto directo. Mas se chegar a tanto, o combate com uso da espada é não só entusiasmante com alguma dose de autenticidade a bloquear ou desferir golpes, como chega a ser grotesto e brutal com decapitações ou desmembramentos avulsos. Mas apesar de toda esta violência possível, saibam que os vossos actos se vão reflectir na própria estória. Se Corvo for agressivo e causar muitas mortes, não só a população de Dunwall se torna menos cooperante, como mais guardas vão aparecer para reforçar a sua intervenção. Pior, quantos mais cadáveres mais ratos aparecem e assim mais doença. Por isso a nossa acção tem de ser aperfeiçoada para evitar o contacto e estrategicamente ponderada. Mas podemos sempre preferir o “entrar com tudo” mas vão sofrer as consequências. Por exemplo, podem preferir roubar silenciosamente a fonte de energia de um sistema de protecção e desactivá-lo, ou simplesmente rebentar com essa mesma fonte e assim alertar para dezenas de guardas. Podemos chamar ratos para matar um guarda enquanto nos esgueiramos ou simplesmente damos-lhe um tiro com um dardo tranquilizante. A escolha é nossa.

Mas enquanto não se estão a esgueirar pelos becos e esgotos ou a decapitar guardas alheios, parem para apreciar a beleza deste grande jogo. Dishonored, já foi dito algures, podia muito bem ser descrito com uma obra de arte tornada viva. O design Steampunk está patente em quase todo o lado, mas ou é polido e enquadrado numa arquitectura clássica em tons de pastel ou em zonas de escombros e sujas. Esta característica faz com que em muitos casos o contraste seja enorme de zona para zona, conferindo ao jogo zonas de tons claros e agradáveis (até desmembrarem um guarda e sujarem tudo com sangue, mas isso é secundário) e zonas escuras e sombrias como os esgotos ou as partes baixas da cidade infectados com a peste. A cidade faz-nos lembrar uma Londres em plena Revolução Industrial, onde até se vêem os polícias fardados com os capacetes característicos. O design das personagens, já agora, também é genial, embora algo exagerado e quase cartoonesco, mas é essa mesmo a intenção. Os efeitos e animações são competentes com expressões faciais que acompanham os diálogos ricos e frequentes. Nota positiva também para os efeitos sonoros e banda sonora eficazes em transmitir a atmosfera necessária.

Veredicto

O jogo não é perfeito. A linha ténue entre a acção furtiva e a directa torna-se um empecilho porque não há real recompensa por sermos discretos nas nossas acções e chega a ser aborrecido esse tipo de jogo. O combate directo é bem mais apetecível mas a dada altura pode-se tornar incrivelmente difícil e frustrante. Algumas missões são repetitivas, mas é a facilidade de fazermos as missões a nosso bel-prazer sem directrizes que atrai os jogadores. Se bem que ao início sem todas as armas disponíveis o jogo se torne algo difícil de gostar. É preciso jogar mais um pouco para começar a ser mais interessante. No final, fica para a memória um jogo original, dentro dos limites do que outros jogos já conseguiram. Não inventa a pólvora mas usa-a muito bem, o que é uma lufada de ar fresco nos clichés dos jogos do género. Vale a pena ser desonrado por este jogo!

  • ProdutoraArkane Studios
  • EditoraBethesda
  • Lançamento12 de Outubro 2012
  • PlataformasPC, PS3, Xbox 360
  • GéneroFPS
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Apesar de ser jogo aberto à exploração é demasiado linear
  • Pode ser frustrante e repetitivo ao início
  • Algumas missões são incrivelmente difíceis de agir furtivamente

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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