Desde os áureos tempos das arcadas com Outrun ou Sega Rally, que prefiro os jogos de corridas com a câmara na terceira pessoa. No entanto, esta tendência mudou bastante com jogos modernos. E agora, graças a este DriveClub VR, posso sentir-me realmente dentro de um automóvel, olhar livremente em redor no seu interior e até usar os espelhos de forma intuitiva.
O Driveclub original teve um lançamento na PlayStation 4 bastante atribulado. Depois de vários adiamentos, de uma edição prometida que teimou em não surgir no serviço PlayStation Plus e com um modo multi-jogador cheio de problemas, o exclusivo da PS4 acabou por ficar manchado. Hoje é inegável que é um bom título de corridas automóveis, mas nem mesmo o empenho da produtora Evolution Studios com todas as correcções e os vários DLCs, a salvou de fechar as suas portas. Com este novo Driveclub VR, perguntámos-nos se quem tinha sido responsável por esta produção estaria a altura do original? Ou seria apenas uma adaptação ou um jogo inteiramente novo focado no PS VR? São questões que iremos responder a seguir na nossa análise.
Resolvendo já as dúvidas iniciais, posso dizer-vos que o Driveclub VR é um jogo totalmente independente do original. Não necessitam do original para o jogar, o que significa também que terá de ser adquirido em separado. Contudo, quem adquiriu o Season Pass de DriveClub até ao dia 28 de Setembro de 2015, terá direito a um desconto de 50% na compra da versão digital, ficando com um custo final de 19,99€. Em relação à produção, esteve a cargo na maioria pela Evolution Studios. tendo o restante sido terminado com uma equipa dedicada e constituída por alguns dos veteranos dessa produtora original. É seguro assumir que o jogo esteve em boas mãos, apesar de tudo.
Em comparação com a primeira versão, esta adaptação para o PS VR, traz novas pistas e novos modos de jogo. Contudo, infelizmente também traz consigo menos veículos. Os restantes elementos são inspirados no jogo original. Há provas para todos os gostos, desde corridas tradicionais contra outros veículos, provas contra-relógio e até corridas de drift para usarem e abusarem desse travão de mão. No entanto, é necessário começar tudo do zero, uma vez que o nível de piloto e o nível de clube não são transportados da versão original, mesmo que a tenham instalado na PS4. Vão ter mesmo que optar por um “New game“.
O foco principal da experiência está no modo World Tour, que irá apresentar vários circuitos novos e outros já conhecidos. No total são 36 testes em que têm de obter um certo número de estrelas para poder avançar e aceder aos seis campeonatos incluídos neste trajecto. A maioria das estrelas é dada ao pisar o pódio no ponto mais alto, mas há outros desafios que passam por superar os tempos ou chegar a uma determinada velocidade máxima. Tal como o original, não há grande sentido de evolução, na realidade. As estrelas aumentam a nossa fama e a cada nível são desbloqueados novos automóveis. E é só. Não há personalização, nem pequenos ajustes e acabamos por escolher sempre o carro mais rápido.
Ao longo do vosso caminho pela World Tour, tal como indica o título, vão conhecer pistas inspiradas em diversos locais do mundo como Canadá, Chile, Índia, Japão, Noruega e Escócia. Desde as desafiantes pistas rurais na Índia até aos picos nórdicos cheios de neve, as provas tornam-se cada vez mais complicadas, consoante a velocidade que, logicamente, vai aumentando consoante experimentamos automóveis mais exóticos e potentes.
Antes de cada corrida é dada a possibilidade de ver o carro em todos os ângulos e apreciar as linhas da sua aerodinâmica. Mas o expoente máximo é quando entramos no cockpit de cada um dos 88 carros. Tudo foi criado com rigor e a sensação que estamos realmente dentro de um super-carro é simplesmente deslumbrante. Sempre que me sento num carro novo, dou por mim a contemplar o seu interior durante largos minutos, enquanto tenho os adversários à minha espera para iniciar a corrida. Só faltam mesmo o odor característico de um carro novo.
Depois de conhecer todas as linhas do carro, até podem ajustar o vosso banco, seja em altura ou profundidade. Idealmente podem tentar replicar a vossa pose no momento, para sentirem o mais próximo possível da realidade. E essa total imersão na experiência é o Santo Graal deste título. O PlayStation VR assume o controlo da câmara, que reflecte os movimentos da nossa cabeça e mesmo sem usar um volante, dei por mim a olhar instintivamente para os espelhos laterais e para o retrovisor para ver os meus adversários. No caso dos drifts (que eu sempre detestei) tornaram-se bem mais fáceis ao poder virar a cabeça para o ápice da curva e aperceber-me exactamente da trajectória do carro. Se possuírem um volante, toda a experiência será ainda mais realista, mas com o DualShock 4 não ficarão mal entregues.
Um pormenor interessante é o facto de não existir o típico HUD, com o mapa, as informações sobre as voltas e a velocidade do carro. A produção decidiu criar uma espécie de computador de bordo para toda esta informação que poderia ocupar demasiado espaço no campo de visão. Assim, durante as corridas, podem simplesmente olhar para o lado e saber as voltas que ainda faltam para a meta ou como será a próxima curva. Nos carros monolugares onde não há muito espaço no cockpit, porém, voltamos a ter um HUD semelhante ao jogo original, mas com o pressionar da seta para cima do vosso d-pad, podem desligá-lo. A ideia é que não hajam dígitos a flutuar no ar que nos tapem pormenores da condução.
Entre as novidades desta versão para realidade virtual, destacamos o Cruise Mode. Trata-se de um modo de puro prazer e que permite apreciar os bólides e cenário com mais pormenor, além de permite conhecer melhor e planear cada curva entre competições. Vamos sentar-nos no lado do pendura e apreciar todo o cenário a velocidade de cruzeiro. A qualquer momento também podemos parar o carro e sair para apreciar o pano de fundo com o vosso bólide, tudo como uma câmara livre e em todo o seu esplendor. É aqui que vão poder apreciar toda a beleza desta produção apostada no pormenor e no realismo visual, mesmo com algumas cedências óbvias, limitadas pela qualidade do próprio dispositivo PSVR.
Apesar do grafismo ser no geral bastante agradável, notei que para chegar aos 60 fotogramas por segundo, houve sacrifício de alguns detalhes do jogo original. Detalhes esses que dava ao primeiro DriveClub uma qualidade visual invejável. Agora só existem no máximo oito veículos em pista e os cenários em si perderam alguma qualidade no detalhe de objectos, animações e polígonos. Mesmo que em corrida estes pormenores passem despercebidos, quando paramos a acção, notam-se estas cedências visuais. Já os efeitos de luz foram algo melhorados para esta versão, só que conduzir de frente ao sol a 240km/h e “cegar” é uma experiência um tanto assustadora.
Por fim, devo falar sobre as lendárias questões de saúde, com as muito faladas náuseas a usar o PS VR com este tipo de jogos. Este título, com toda a sua velocidade, é realmente propenso a alguns indesejáveis enjoos. Aqui na redacção jogámos várias horas seguidas sem grandes problemas, mas temos relatos de jogadores que nem conseguiram terminar uma única corrida. Acaba por ser uma reacção fisiológica que varia de pessoa em pessoa, mas este DriveClub VR está a receber uma conotação de “enjoativo” um pouco por todo o lado. Talvez seja porque temos o habitáculo mais próximo da nossa perspectiva, enquanto a imagem de fundo avança a toda a velocidade… mas nós estamos parados. Como aviso, se tencionam comprar o jogo, tentem experimentar antes em qualquer ponto de demonstração, como o VR Portal.
Veredicto
Até à data, este é, sem sombra de dúvidas, o melhor jogo de corridas para o PlayStation VR. É imersivo, graficamente cumpridor e tem uma boa variedade de veículos, pistas e modos para acelerar ou simplesmente apreciar. Infelizmente, há algumas diferenças visuais importantes em relação ao jogo original nesta adaptação à realidade virtual. Também as infames náuseas que parecem mais frequentes neste título podem afastar alguns jogadores. Contudo, Driveclub VR certamente manter-se-á como um dos títulos de referência para o PlayStation VR por vários meses. E é também o capítulo final para a história atribulada deste exclusivo da PlayStation 4, que se despede com grande estilo.