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Análise – Dreams

Fruto de uma visão que já tínhamos visto na série Little Big Planet, a Media Molecule volta a dar o poder aos jogadores. Desta vez, não apenas jogar, mas também para criar. Dreams é muito mais que um mero ensaio no género sandbox. É mesmo um verdadeiro sonho tornado realidade para as melhores mentes criativas.

Apesar do nosso acesso antecipado em alguns dias para esta análise, infelizmente não tivemos acesso às várias fases de testes deste título. E tenho muita pena que tenha sido assim. Entrei neste Dreams sem qualquer tipo de preparação, além de imensos vídeos e promoções que acompanhei com entusiasmo. Resultou numa pura descoberta de algo verdadeiramente diferente do que estamos habituados. Eventualmente, exploramos o potencial lúdico deste “jogo”, mas não temos aqui algo realmente convencional. Há até uma componente de puro jogo, é certo. Contudo, a principal oferta está no robusto motor de criação propriamente dito. E aqui estamos perante algo verdadeiramente fantástico.

https://youtu.be/Btj6Ziu_QpU

Como é que sequer vou começar a analisar Dreams? Noutros títulos começo pelo enredo, depois passo para uma análise da jogabilidade e outros pormenores técnicos. Só que este não é um jogo na plenitude da palavra, nem sequer o posso classificar em algum género em particular. Como ficou implícito acima, este título possui duas vertentes: experimentar e criar. A primeira parte é totalmente dependente da veia criativa de terceiros, inclusive da produção da MM, ao criar jogos e toda a sorte de experiências recorrendo às ferramentas disponíveis. Estas experiências ficam disponíveis num extenso catálogo (“Dreamiverse“) curado pela produção e que podemos participar assistindo e dando o nosso aval.

No outro lado, está a gigante secção de construção dessas experiências. Podemos saltar de uma para a outra facilmente e em qualquer ocasião, bastando retroceder no menu. Quando optamos por dar largas à imaginação, temos todo o tipo de ferramentas que um bom motor de criação artística possui, desde ferramentas de modelação, editores de animação e vídeo, sonoplastia, efeitos visuais, enfim, mesmo tudo o que possam imaginar para criar jogos inteiros, filmes de animação, arte abstracta, esculturas, pinturas ou qualquer outra obra que decidam criar com estas ferramentas. O limite é a vossa imaginação e capacidade de pegar nesse vosso sonho e materializá-lo. A publicação dessa visão também é feita em jogo.

No cerne da oferta, Dreams é um hub criativo, uma comunidade que auto-publica as suas criações. Está totalmente dependente da criatividade de cada um, dando uma rampa acessível para tentar um “magnum opus” digital. Regra geral, os motores gráficos para criação de jogos (como o Unreal Engine, por exemplo), exigem bastante conhecimento técnico para tirar pleno proveito das suas ferramentas. Não posso dizer que Dreams seja tão robusto como essas ferramentas, mas será para muitos um dos primeiros passos neste meio, recorrendo a um interface simples e amigável. Sim, também exige bastante do vosso tempo a aprender a usá-lo na sua plenitude. Mas, mesmo nos seus níveis mais avançados vão descobrir uma complexidade acessível. Não se deixem intimidar.

Bem sei que nem toda a gente vai conseguir atingir a mestria necessária para criar boas experiências. Eu, certamente não tive, mesmo com algumas horas gastas até hoje. Estou certo que há quem ache que este título não é para si, talvez porque nunca tenha apostado nesta vertente. É legítimo, mas não há que ter receio de não tirar proveito deste título. No meu caso, não possuo qualquer experiência a criar jogos e, mesmo assim, nunca me senti completamente desorientado. As secções de ajuda que não se limitam a descrever como se faz algo, tem mesmo demonstrações práticas e interactivas, especialmente as fantásticas aulas da produção, as “masterclasses”. A aparente complexidade que algumas tarefas possuem, mesmo as mais avançadas, rapidamente são dominadas. Tudo depende do vosso engenho e interesse em aprender.

Por outro lado, se jogaram Little Big Planet, já sabem que a Media Molecule gosta de dosear bem as coisas, para que não fiquemos inundados com demasiada informação, dando-nos uma “escada” para subir e evitar confusão. Começamos logo por perceber como interagimos com o título, com uma breve introdução ao pequeno “imp”, basicamente um cursor animado que nos acompanhará doravante em quase todo o processo de interacção. Para o controlar, podemos usar tanto o Dualshock 4, que usará o sistema de sensor de movimentos SixAxis, em conjunto com os botões e comandos normais. Contudo, é também possível usar o PlayStation Move e aconselho vivamente esta segunda opção.

Bem sei que não é assim muito justificável pedir aos jogadores que comprem um sistema adicional para jogar um determinado título. Contudo, neste caso, é mesmo algo que considero imprescindível para a melhor experiência. Com alguma prática, conseguem usar o DS4 com alguma facilidade e até é possível trocar o controlo do SixAxis para os dois analógicos do DS4. Mas, não só a precisão não é das melhores, como a confusão de eixos e botões dará alguma frustração. Inicialmente, isto não é grande problema para colocar peças maiores num cenário vasto. No entanto, consoante avançamos na criação, sobretudo no momento de modelar peças ou a colocar pormenores de forma precisa, vão perceber o que digo. Com o PS Move tudo fica mais facilitado.

Confesso que perdi imenso tempo a simplesmente criar algo significativo nestes dias. Muitas vezes fiquei confuso sobre como fazer algo e simplesmente recorri a algum tutorial, das dezenas que a produção criou. De facto, entre simples tutoriais de ferramentas e “missões” para o pequeno “imp”, sem esquecer as tais preciosas “masterclasses”, não faltarão ajudas para entendermos como tudo funciona. Envolve, obviamente, imensa dedicação da vossa parte, até porque há pequenas nuances e elementos que poderão não ser intuitivos na primeira abordagem. Tentei fazer pequenos jogos de plataformas, depois um sucinto “shooter” e ainda tentei fazer umas esculturas… No final, acabei por não publicar nada, até porque, entretanto, visitei alguns projectos de terceiros e percebi que tinha muito para trilhar.

No repositório, o tal “Dreamiverse”, encontrei peças tão criativas que me senti humilde com o que já tinha feito. Aconselho a experimentarem os mini-jogos criados pela própria Media Molecule, até porque ficam com uma clara ideia do que o jogo tem para oferecer na sua plenitude. “Art’s Dream” é a melhor dessas experiências, resultando numa epopeia que envolve plataformas, shoot’em up e até algum role play pelo meio, num óbvio showcase de capacidades visuais e técnicas. Mas, também devem experimentar outras criações de jogadores, algumas delas bem capazes de vos surpreender. A tal ponto que estão a decorrer diversas “Game Jams” na comunidade para premiar os mais criativos.

Também é uma chamada clara a Little Big Planet o design geral deste jogo. Quase tudo nos faz lembrar aquele ambiente simpático, como uma grande caixa cheia de brinquedos, pelo menos nos menus e nas primeiras experiências. Pode parecer um ambiente mais virado para os mais novos, sendo este o registo da Media Molecule, mas não se deixem enganar por este aspecto “fofinho”. Em nada o jogo nos restringe no uso das suas ferramentas (além das óbvias quebras nos termos de serviço) para a publicação das experiências, podendo mesmo criar “coisas sérias” e até com óptimo aspecto semi-realista. Dreams dá-nos imensa liberdade, podendo até mesmo apostar em algo bem mais experimental ou artístico, como uma animação num ambiente pixelizado ou com “cell-shading“, por exemplo.

Dos elementos mais interessantes que pude experimentar, são as físicas em jogo. É possível criar peças complexas e com imensos objectos, para depois usarmos físicas realistas. Por exemplo, uma roda sujeita a inércia ou um objecto em queda sujeito a gravidade, tudo com parâmetros que podemos ajustar. Mas, também a iluminação, os efeitos especiais e o próprio som têm um papel fundamental nas criações, com ferramentas próprias para experiências, tanto surreais, como hiper-realistas. Tudo isto com o poder de processamento da PlayStation 4 ou PlayStation 4 Pro e com a consola aguentar-se bem. Tal como em LBP, temos sempre um prático gráfico de utilização disponível para vermos até onde podemos chegar. Mas, há imensa tolerância neste aspecto.

 

Por último, tenho de realçar a excelente ferramenta social que nos permite interagir com esta comunidade. Em indreams.me conseguimos vislumbrar o que o tal repositório “Dreamiverse” tem disponível. Uma vez publicada a nossa criação, pode aparecer aqui para todos consultarem. Nesta comunidade paralela, que podemos aceder num PC ou num dispositivo móvel, podemos registar-nos e consultar também o nosso feed e até lançar experiências para jogar na PS4. Não é a primeira aplicação paralela criada para um jogo, mas é das mais promissoras, sem dúvida. Resta só saber se, tanto o jogo, como esta comunidade, se enchem de mais sonhos realizados.

Veredicto

Não é bem um jogo, mas pode ser jogado. Não é bem um motor de criação de jogos “puro e duro”, mas pode-se criar nele experiências fantásticas. Dreams, como o próprio título indica, é um local onde podemos materializar ideias e onde também podemos ver os outros fazer o mesmo. Como ferramenta criativa, é das experiências mais robustas que conheço, sem as chatices e peripécias de programas “mais sérios”. Ensina-nos a criar com a precisão necessária e com recursos quase infinitos em ambiente amigável, interactivo e acessível. Mas, acima de tudo, ensina-nos a sonhar. E só por isso, merece a vossa atenção.

  • ProdutoraMedia Molecule
  • EditoraSony Interactive Entertainment
  • Lançamento14 de Fevereiro 2020
  • PlataformasPS4, PS4 Pro
  • GéneroArcade, Criação
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Curva de aprendizagem exige dedicação
  • Controlo via SixAxis falível

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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