DragonQuestXI (4)

Análise – Dragon Quest XI: Echoes of an Elusive Age

Se há série que tem ditado modas e tendências nos JRPG, é mesmo esta. Dragon Quest XI: Echoes of an Elusive Age carrega em si vários anos de experiência da Square Enix neste género. Lançado há um ano no Japão, finalmente chega até nós.

Esse legado confere sempre um peso tremendo a qualquer título, correndo o sério risco de “chegarmos tarde” a uma série lendária. Até porque, ao contrário de outras séries, Dragon Quest persiste sempre em honrar as suas raízes, tornando-se cada título uma evolução consciente do conceito original. O que me criou alguns problemas na minha própria abordagem ao jogo. O histórico intrincado e vasto criado em volta desta série, aliado à sua jogabilidade tão “old school“, intimida qualquer recém-chegado como eu. Não só porque os jogos deste género evoluíram muito desde as aventuras de 8-bits, como raramente é assumido que possamos não ter acompanhado os títulos anteriores. Cada JRPG assume que somos fãs e “ponto final”. O que cria um inevitável fosso para quem só agora chega à série.

A fórmula é francamente familiar. Passado num mundo de fantasia (Erdrea), um jovem cedo descobre que a sua marca de nascença é, na verdade, um sinal de que é alguém especial. Após um ritual de iniciação à vida adulta, descobre que é uma reencarnação de um herói lendário. Esse herói salvador do mundo, tem agora de se erguer de novo contra novas ameaças lideradas pelo “Lord of Shadows”. E é aqui que a nossa aventura realmente começa, na companhia de amigos que vai angariando ao longo da sua jornada à volta do mundo. Pelo caminho, esta aventura leva-nos a reinos mágicos, combatea ferozes, muita exploração e tantos outros ingredientes tradicionais.

Talvez digam por esta altura que “já chega de estereótipos” ou que estes género JRPG já está saturado. Concordo que chega a ser complicado manter um registo actualizado de cada novo JRPG. Contudo, também temos aqui uma prova de que é possível manter-se tradições neste vasto mundo dos videojogos modernos vindos do Japão. Nem só os nostálgicos procuram o regresso ao passado, notem. Há muitos jogadores que procuram só mesmo isto: Uma história de contornos clássicos de como um herói improvável chega ao centro de uma trama e salva o dia. Não há nada de errado nisto se a narrativa e a jogabilidade o acompanhar, obviamente.

No fundo, tudo se resume ao convite para jogarmos e por lá nos mantermos. Para isso, temos muitas personagens e desenlaces interessantes, desenhados de forma exemplar para nos contar um conto empolgante. Depois, junta-se a isso um design único, algum humor (esperem até conhecer Sylvando) e umas quantas cenas memoráveis e estamos “agarrados”. Obviamente que tudo depende da vossa própria preferência e gosto pessoal mas, já sabem que sempre dou muito valor ao aspecto narrativo, construção de personagens e envolvência do seu lore, por mais complicado que seja abraçar todo um novo conceito e história. E se a acção acompanhar, temos sempre um bom jogo em mãos.

Em termos de interacção, esperem um jogo francamente directo ao assunto. Entre uma série de combates (no clássico turn based) contra monstros, pequenos puzzles ou alguma exploração em busca de um ou outro item, há bastante que fazer. Contudo, há uma certa orientação constante para objectivos fixos e alguma repetição entre cada nova missão. Mesmo que queiram fazer as coisas pela ordem que entenderem, o jogo obriga-vos a passar determinadas missões numa ordem própria para, por exemplo, desbloquear novas áreas. Estamos muito longe dos conceitos mais modernos de jogabilidade encadeada e não-linear.

Esta linearidade pode trazer alguns problemas. O combate travado por turnos é um pouco divisório para os jogadores. Há quem ame e há quem odeie. O que é certo é que clicar em opções de ataque ou defesa tem muito mais táctica que possam imaginar. Há todo um conjunto de combinações, efeitos e contra-golpes que nos podem ajudar ou trair. Ainda por cima, alguns combates parecem-me algo difíceis demais. A questão aqui não é o desafio criado por um combate mais difícil. A questão prende-se com alguma inconsistência nessa dificuldade, oscilando muito de encontro em encontro.

Se considerarmos que este jogo é tão grande (até 100 horas, se decidirem fazer tudo o que oferece), é complicado manter o nosso interesse sem conferir alguma dificuldade para nos obrigar a melhorar e a continuar a jogar. E a orientação linear não ajuda muito a evitar a repetição, levando-nos por vezes de um conflito para outro logo a seguir. Felizmente, o jogo oferece imensas missões e actividades paralelas para nos distrair pelo meio. Mas, nem sempre é positiva. Por vezes, essa oferta adicional abranda demais o ritmo com algumas tarefas algo aborrecidas. De um modo geral, porém, essas pequenas actividades preenchem bem o tempo, sobretudo se gostam de revisitar estes jogos longos de forma mais casual.

Em termos técnicos, testámos este jogo na PlayStation 4 e creio que nunca foi intenção da produção em criar uma arte foto-realista. Uma vez mais, tudo o que verão aqui é uma evolução clara dos primeiros jogo. O que significa que há qualidade no grafismo mas não há nenhum interesse em competir para algum prémio de realismo ou de avanço visual. Todo o design faz-nos recordar o público-alvo mais juvenil, tendo alguns modelos de personagem com um aspecto típico da manga e com as suas famosas animações exageradas. Aliás, tudo tem um aspecto inspirado na banda desenhada, criando uma atmosfera, diria, amigável, mesmo nas cenas de maior “violência”.

Uma nota muito positiva para a localização ocidental do jogo, trazendo traduções muito competentes e que, curiosamente, fogem um pouco aquele tom meio “formal” que vemos tantas vezes nestas traduções de jogos nipónicos. Um ano depois, a Square teve um cuidado muito grande em adaptar o jogo ao nosso mercado. Os textos e mesmo os títulos das personagens são engraçados, alguns diálogos contém boas passagens e mesmo as poucas linhas de voz são interpretadas com o devido cuidado. Continua a ser um jogo Japonês, o que pressupõe sempre algumas frases estranhas. Contudo, acompanhamos tudo muito bem. Só é pena que as animações faciais sejam um pouco, vá lá… vagas…

Veredicto

Numa era em que tantos jogos tentam reinventar-se em busca da fórmula perfeita, talvez o tradicional ainda seja o mais relevante. Dragon Quest XI: Echoes of an Elusive Age é mesmo uma ode aos JRPG da velha guarda. Renovado onde consegue, inovando onde é preciso, nunca menospreza as mecânicas e lógicas que já são apanágio desta série e de outros tantos jogos que o seguiram. Por vezes, mais que inventar, é preciso apenas refinar. E este é um bom exemplo de como os produtos amadurecem sem necessidade de adulteração. Se são fãs do género, nem preciso dizer-vos que já deviam estar a jogá-lo…

  • ProdutoraSquare Enix
  • EditoraSquare Enix
  • Lançamento6 de Setembro 2018
  • Plataformas3DS, PC, PS4, Switch
  • GéneroRole Playing Game
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Passada é algo inconsistente
  • Alguma dificuldade exagerada em alguns combates

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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