Dishonoreddoto (2)

Análise: Dishonored: Death of the Outsider

Nesta nova aventura na série, Billie Lurk deixou de ser uma personagem secundária para se tornar na protagonista de Dishonored: Death of the Outsider. E é bom que os semi-deuses se cuidem, porque Billie tem a maior das motivações a movê-la: a vingança.

Deverão recordar que gostei muito de Dishonored 2. Na altura, disse que era “um dos melhores títulos” de 2016, “honrando e expandindo a excelente experiência que foi o primeiro jogo”. Por isso, é sempre bem vindo um regresso à série. Contudo, apesar do primeiro jogo introduzir novas histórias com DLC, esta não é uma expansão para o segundo título da série. Trata-se de um título isolado (standalone) que pode até contar uma história paralela a Dishonored 2, com mecânicas e aspecto semelhantes, mas é uma aventura totalmente nova e independente. Corvo Attano e Emily Kaldwin cedem o lugar para Billie Lurk, oferecendo toda uma nova aventura. Venham daí esgueirar pelas sombras de espada em riste… outra vez…

Se há personagem persistente, estando por detrás de quase todos os eventos relevantes desta série, é o enigmático e poderoso ser a quem chamam de “Outsider”. Demónio, semi-deus, ilusionista com bons truques, charlatão, ninguém sabe muito bem como o descrever. Uma coisa é certa, Daud tem razão, tem de ser eliminado. E essa tarefa complexa só pode ser executada pela maior assassina de sempre, a aprendiz do próprio Daud, outrora mera capitã de um navio no enredo de Dishonored 2. Billie Lurk fai fazer mais que apenas eliminar um importante antagonista com motivações dúbias. Vai vingar muita gente, de uma vez por todas!

Este propósito é introduzido logo no início do jogo, depois de uma breve missão para libertar Daud. Como mestre e mentor de Lurk, Daud é uma força imparável, mas a protagonista não está muito atrás. Ao contrário de Corvo ou Emily na última aventura, a nova protagonista é muito mais focada no seu propósito de vingança, enquanto se debate com questões de moral e com as consequências das acções do Outsider. Karnaca, a mesma cidade do último jogo, nunca mais será a mesma depois de Lurk cumprir a sua missão. Imobilizar ou matar é uma decisão nossa, como sempre. E, para isso, contem com alguns truques que já conhecem.

Como seria de esperar, Billie Lurk tem as mesmas habilidades dos protagonistas anteriores. Contudo, tem também outros trunfos na manga para lidar com a nova missão. Apesar dos poderes impressionantes de Corvo e Emily nos trazerem toda uma nova acção no jogo anterior, Lurk é capaz de proporcionar algumas das melhores habilidades nesta série. Para já, todo o seu potencial está desbloqueado desde o início, o que é uma boa notícia para quem gosta de levar a jogabilidade ao limite bem cedo. De resto, contem usar as mesmas mecânicas na mesma acção furtiva que penaliza o ataque directo e onde esconder e iludir trará mais vantagens que simplesmente matar.

Algumas das novas capacidades de Lurk são… interessantes. Uma é a capacidade de cair dentro (sim, dentro) dos corpos do inimigos e explodi-los. Também pode escutar ratos a falar (sim, a falar) para descobrir segredos e opções tácticas, pode enviar a sua mente vaguear (sim, vaguear) pelo mapa como um drone e até pode roubar faces de adversários para esconder a sua identidade. Se estão a estranhar estes poderes, é porque não conhecem o poder criativo da produtora Arkane. Todos os mapas são autênticos puzzles gigantes em que temos de explorar caminhos alternativos e usar os poderes de forma estratégica.

Contudo, é melhor que não sejam descobertos em áreas restritas por patrulhas de inimigos. O combate directo, tal como em Dishonored 2 é francamente penalizador. Não, não é um erro de interacção. Este é um jogo de acção furtiva. Se formos detectados, sentinelas e cães (sobretudo cães!) partirão todos em grupo no nosso encalço. Ou fogem ou escondem-se. Tentar lutar apenas adia o vosso final inevitável. E também não convém realmente matar os adversários incautos. Poderão imobilizá-los e esconder os seus corpos para que não sejam vistos. Os ruídos também devem ser reduzidos ao mínimo ou usados como engodo. Enfim, já perceberam o que é para fazer.

De facto, ser detectado ou matar adversários chega a parecer uma derrota. Passamos na mesma para as próximas secções, mas o resumo do nível deixa bem claro que, nesse caso, não recebemos nenhum bónus de prestação. Pesquisem bem as vossas opções. Por exemplo, poderão haver sentinelas que podem simplesmente subornar com dinheiro. Ou então há um caminho escondido numa sala remota que nos leva onde queremos ir em segredo. Tentem roubar os sentinelas de chaves ou de apontamentos com informação preciosa. Enfim, não partam para o ataque sem a certeza que não há nenhuma outra opção. Ser letal não é fácil, mas o contrário é muito mais desafiante e até mais recompensador.

Tal como já tem vindo a ser hábito, a barra de vida da personagem não é regenerável, obrigando a procurar por frascos de recuperação ou por comida. Também todas as habilidades sobrenaturais da personagem custam energia. Ao contrário da barra de vida, porém, esta energia vai lentamente regenerando depois de a usarem. Também podem contar com um leque variado de armas, entre letais e não letais. Lurk pode usar o seu braço mecânico para disparar dardos, usar a sua espada, lançar minas, entre outras opções. O que mais gosto de usar são os dardos atordoantes. Ou então, umas minas que podemos colar em qualquer superfície (inclusive no tecto) e que literalmente capturam os inimigos.

A escolha das armas é particularmente importante nas missões secundárias que o jogo chama de Contracts. Nestas missões adquiridas no mercado negro, podem haver alguns requisitos precisos ou a missão em si falha. Pode ser necessário, por exemplo, assassinar alguém sem ser visto ou dar a entender que foi um acidente. Alguns destes contratos são bastante desafiantes e passei alguns minutos largos a tentar passar alguns. Não oferecem algo realmente novo, porém. São, quanto a mim, algo redundantes e só serão interessantes para quem quer ganhar dinheiro de jogo para comprar novos itens de equipamento.

A nível de grafismo, se gostaram (como eu gostei) da arte de Dishonored 2, contem com mais do mesmo. O ambiente de Karnaca é virtualmente igual, devidamente ornamentado com pormenores de riqueza e progresso, misturados com destruição e miséria, numa constante batalha visual. A arquitectura e design geral estilo steampunk é familiar e muito cuidada, tendo sempre aquele aspecto quase de banda-desenhada, com personagens caricaturadas. As animações são fluidas e refinadas e parece que a qualidade não foi reduzida para esta história paralela. E ainda bem.

Ao fim de umas 20 horas de jogo, poderão querer voltar a repetir tudo com tudo o que aprenderam e com mais poderes disponíveis. O jogo oferece essa possibilidade através de um “New Game +” que aconselho vivamente a passar, ainda por cima se a vossa primeira passagem pelo jogo foi inteiramente letal. Agora repitam tudo sem matar ninguém… Se é que o quererão fazer. Para dizer a verdade, todo o jogo é, em si próprio, uma repetição. Não há aqui nada de novo para a série, excepto no enredo que cria um ponto final num vilão recorrente e num punhado de habilidade da personagem. Apesar de Lurk ter um carisma muito seu, não nos oferece nada realmente inovador. O que é para mim uma enorme oportunidade perdida para a Arkane. Dishonored 3 a caminho?

Veredicto

Dishonored: Death of the Outsider é uma despedida de um arco de história que nos acompanhou desde o primeiro jogo. Se Billie Lurk conseguir cumprir a sua missão, o Outsider “já era” e, com ele, todo um legado encerrado. Diria que é uma despedida em beleza, num título com todos os ingredientes que aprendemos a gostar. A acção furtiva, as escolhas com consequências, o visual competente e rico em pormenores, em conjunto com uma heroína e um vilão à altura. Contudo, embora tudo o que gostámos de Dishonored 2 esteja lá, parece-me que a produção não arriscou quase nada. Encerra este ciclo sem inovar muito, num jogo que, para todos os efeitos, é uma repetição do que já conhecemos. A inovação, se calhar, só será possível num próximo título. Assim sendo, este capítulo podia muito bem ser apenas uma expansão do jogo anterior e não um título separado.

  • ProdutoraArkane Studios
  • EditoraBethesda
  • Lançamento15 de Setembro 2017
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAcção
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Não traz muito de novo
  • Podia ser só um DLC

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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