DeaRising4 (7)

Análise: Dead Rising 4 (Actualização “Frank’s Big Package”)

De todos os títulos criados na “febre” dos zombies, esta série sempre foi a mais singular. A premissa de Dead Rising 4 é igual à dos jogos anteriores: um mundo aberto a abarrotar de zombies para aniquilar com as armas mais dementes possíveis. Resta saber se a fórmula ainda tem interesse.

[Actualização “Frank’s Big Package” (PS4)]

Título sugestivo, não? Mas será o “pacote de Frank” assim tão grande? E será que se justifica voltamos à sua companhia, mais ou menos um ano depois? Talvez devesse formular a pergunta de outra forma. É que esta versão tem uma finalidade muito distinta. Será que os jogadores da PlayStation 4 têm aqui motivos para descobrir este jogo? É que Dead Rising 4 foi originalmente lançado como um exclusivo Xbox One. Este pacote, aliado à campanha da Capcom de trazer os demais jogos da série à actual geração, incluindo à PS4, é uma chamada de atenção para esta importante fatia do mercado.

Além da insinuação, diria, “descontraída”, o “grande pacote de Frank” refere-se a todos os DLCs lançados para este jogo durante os últimos meses pós-lançamento. Ou seja, a Capcom não se limitou a simplesmente reeditar o jogo, mas criou uma edição definitiva com toda a oferta possível em jogo. Se este jogo sempre se pautou pelo humor algo negro e corrosivo, isso está bem patente nos add-ons que este pacote trouxe. Desde um lendário simpático modo de mini-golfe até uma série de itens decorativos singulares, a diversão esteve sempre garantida. Ah! E é óbvio que o tal jogo de acção desmiolada para desancar zombies aos milhares (literalmente), está felizmente intacto.

Nesta reedição encontram o jogo base, no seu modo carreira e multi-jogador cooperativo mas também o divertido modo Super Ultra Dead Rising 4 Mini-golf, onde poderão jogar esse “exigente” desporto com os amigos ou, ainda, o intenso modo Frank Rising em que o protagonista se transforma num poderoso zombie e dá um fim à sua história. Contudo, a adição mais interessante ao nível de modos de jogo está em Capcom Heroes. Basicamente, este é um novo modo de exploração Willamette em que podemos escolher fatos inspirados em 16 heróis da Capcom (escolhemos Ryu de Street Fighter, claro) para desancar nos zombies.

Contem também com uma série de itens exclusivos como um conjunto de decorações de Natal que torna todos os zombies em elfos e coloca decorações alusivas no nosso ecrã, além da música sugestiva nos menus. Ao nível de armamento, nada como umas belas Candy Cane Crossbow, Slicecycle, Sir-Ice-A-Lot ou X-Fists para dar pancada nos mortos-vivos. E se Frank tiver frio, vistam-no com uma daquelas horríveis camisolas de lã do Natal. Apetece-vos dar murros nos zombies? Que tal o pacote decorativo de Street Fighter? E nem os apaixonados foram esquecidos, com o pacote do dia de S. Valentim um pouco atrasado (ou adiantado, se forem optimistas).

Veredicto desta nova edição

Quase um ano depois, confesso que Dead Rising 4 caiu um pouco no esquecimento na minha Xbox One. Agora na PlayStation 4, (re)instalei o jogo com alguma relutância. Afinal, ao fim de todo este tempo, pouco ou nada foi adicionado ou modificado na jogabilidade, além destes itens de DLC, para todos os efeitos, meramente opcionais. O que (re)descobri, porém, foi um jogo amadurecido que me tinha esquecido de quão divertido pode ser. Esta acção desmiolada merece ser descoberta por quem ainda não a conhece na PS4. E mesmo que eu já a conheça da Xbox One, não consigo parar de jogar na consola da Sony. Nada será igual depois de andarem com um martelo com granadas atadas a explodir zombies aos magotes.

 

[Artigo Original de 13 de Dezembro de 2016]

Convenhamos que o anterior Dead Rising 3 não teve o sucesso desejado. É possível que o facto de ter sido um exclusivo Xbox por tanto tempo o tenha limitado em vendas e presença no mercado. Contudo, uma das maiores queixas levantadas nesse jogo tinha a ver com a sua repetição e história pouco inspirada. Basicamente, tínhamos um mundo gigante cheio de zombies para matar com combinações insanas de armas e veículos. Horas mais tarde, porém, instalava-se o aborrecimento por causa das missões sem substância e repetitivas, além da banalidade com que se matam centenas e milhares de zombies. Faltava, talvez, algum desafio ou sensação de progresso. Quem sabe se Dead Rising 4 nos traz isso tudo. Afinal, o grande herói do primeiro jogo Frank West está aí com a sua câmara fotográfica. Vamos lá dar uma chance.

16 anos depois, West está mais preocupado em esconder a sua identidade do que regressar à acção. Acontece que o, agora, professor de fotografia acaba arrastado de volta à lendária cidade de Willamette no Colorado, por causa de uma sua estudante. Vicky Chu tem um autêntico furo jornalístico: Parece que uma misteriosa empresa está a fazer testes secretos em zombies. Contudo, durante a sua missão, são descobertos e têm de fugir. Frank e Vick acabam indiciados por terrorismo e com a cabeça a prémio. Eventualmente, o protagonista é descoberto na sua fuga mas o agente da ZDC Brad Park tem uma proposta: Perseguir a verdade e desvendar os segredos destas pesquisas em troca da sua liberdade. Logicamente, nesse acto, Frank acaba novamente em Willamette no meio de uma nova invasão zombie e em plena época Natalícia.

É sempre bom ter Frank de volta. O irreverente jornalista e a sua imaginação tanto para tirar fotografias como para piadas fáceis vão colocar um sorriso em qualquer jogador. Vick é também uma adição interessante que permite alguns desenlaces curiosos no enredo. Acima de tudo, há uma forte componente cómica com uma estrutura simplista de argumento que quase não havia nos jogos anteriores. O tom de Dead Rising 2 era incrivelmente sério, com laivos de comédia, já o de Dead Rising 3 era demasiado descontraído, tentando ser sério. Este outro enredo, quanto a mim, consegue algum equilíbrio, embora, por vezes, as piadas não sejam de qualidade e o tom desça à seriedade, para Frank estragar tudo com uma frase caricata. Não é perfeito, mas sempre é um pouco mais competente a divertir-nos.

Todos sabem o que fazer num jogo deste calibre. Matar zombies como se não houvesse amanhã. Só que nesta série, isto é feito com toda a sorte de armas exóticas. Além de bastões, martelos, machados, ferros e outros utensílios óbvios, há também armas brancas e de fogo, explosivos e até veículos para usar. Mas, é quando os combinamos que o jogo consegue brilhar. Que tal um martelo com granadas acopladas que explodem a cada impacto? Ou então um pequeno kart equipado com lâminas e um canhão? Ao longo dos mapas vão encontrando blueprints para criar estas e outras armas improváveis para espalhar o caos. A ideia que é que Frank precisa matar, não dezenas ou centenas de zombies mas milhares. E, por isso, é preciso ter armas que visem destruir muitos de uma só assentada.

A grande oferta desta série é mesmo essa grande quantidade de zombies no ecrã para usarmos as tais armas ridículas. Contudo, esta fórmula, quanto a mim, já acusa o peso da idade. Não é porque já não seja divertido jogar este género tão banalizado. Se os zombies ainda estão “na moda” é uma interpretação de cada um. O que eu acho é que este não é um jogo de terror no seu pleno sentido. Não há qualquer atmosfera de perigo. Na verdade, não há qualquer pormenor que faça deste jogo um verdadeiro “survival horror“, tirando um desgaste de armas que já falarei e de termos de carregar curativos para recuperar energia. Não há o sentido de urgência que tínhamos, por exemplo, com o cronómetro em contagem decrescente dos outros jogos. Tudo leva mais tempo, a limpar todos os zombies do ecrã e seguir em frente. Podiam ser zombies ou sacos de areia, o efeito era o mesmo.

Quando o combate é feito contra soldados, porém, as coisas mudam. E não é bem para melhor. Deixa de haver tanta ênfase dada às armas de combate próximo e passamos a depender de armas de fogo e explosivos, ou seja, torna-se num shooter. E nesta vertente, logicamente, a nossa exigência como jogadores é outra. Infelizmente, estes combates mais lineares contra soldados equipados com armas de fogo e armaduras ou escudos, não funcionam muito bem. O sistema de cobertura é muito falível, as armas convencionais ou modificadas não são muito eficazes e os combates resultam em momentos frustrantes. Quando ficarem sem munições e tentarem flanquear com um machado na mão, irão perceber o que eu digo.

E para piorar esta situação, notem que as armas não são eternas. Sofrem desgaste gradual por cada uso até que ficam obsoletas e são descartadas do inventário. O mesmo acontece com as pistolas, caçadeiras ou metralhadoras que fiquem sem munição. Andamos constantemente em busca de novas armas ou blueprints para criar versões mais destruidoras. Até mesmo os veículos se vão desgastando, obrigando-nos a meio caminho a improvisar na deslocações para locais mais remotos. Isto é particularmente mais condicionador quando encontramos inimigos mais fortes ou bosses. E havia uma nova arma que queria mesmo experimentar neste novo título: um novo exoesqueleto mecânico que nos dá mais força e ataques mais potentes. Contudo, é também limitado na sua bateria e utilização, além de ser raro encontrarmos um. É realmente interessante usá-lo, mas desaponta a sua curta utilidade.

Quanto não estiverem em combate, contem também com muitas situações em que passarão boa parte do tempo a explorar o cenário. Há até missões em que é preciso usar a nossa câmara fotográfica polivalente para, não só tirar fotografias dos adversários, mas também entrar numa espécie de modo de detective para descobrir pistas ou investigar cenas de crimes. A câmara possui ainda duas visões distintas, uma de análise de espectro que destaca inimigos ou objectos de interesse e uma útil câmara de visão nocturna. Apenas gostava que estas opções visuais fossem permanentes, talvez comutáveis, e não temporárias só com a câmara equipada. Também não era mal pensado que essas missões de investigação fossem um pouco mais intuitivas, acabando muitas vezes sem sabermos bem onde ou o que procurar.

Notem que tudo o que falei até agora vai sendo aprimorado e melhorado com cada evolução da personagem. Não resolve tudo, mas sempre ajuda a melhorar um pouco a nossa prestação. A esse nível, Frank terá diversos pontos de melhoramento e bónus numa árvore de evolução com diversas disciplinas. Vamos desbloqueando determinadas habilidades que vão desde aumento de energia disponível à quantidade de armas ou curativos que podemos levar connosco. Muito importante é que evoluam a vossa proficiência de armas e outros bónus de ataque. A mecânica para o fazer é simples: ganhamos pontos de experiência a cada novo nível e usamos esses pontos para desbloquearmos uma nova habilidade.

No que toca ao cenário, Willemette é uma cidade semi-destruída pela ameaça zombie e pelos confrontos das forças governamentais e dos resistentes e bandidos que por lá deambulam. Entre centros comerciais abandonados a vilas inteiras com ruas estreitas, o Natal está omnipresente como tema decorativo. De resto, há um claro interesse crescente na série em não dar uma atmosfera sombria típica num jogo de zombies. Eventualmente, é possível entrar em zonas que possuem, não só muitas dezenas de zombies, ou soldados barricados que terão um tom mais lúgubre. Frank pode ficar literalmente rodeado de zombies lentos, ou perseguido por soldados mais rápidos que flanqueiam. Mas termina aí a ambiência de terror, não havendo muitos sustos, quase todos algo previsíveis.

Resta-nos a ideia que este é um jogo de teor cómico. Afinal, West está constantemente a cantarolar e a gozar com cada zombie ou sobrevivente. As armas são ridículas, os veículos que construímos são dementes, os fatos que vamos apanhando em jogo e que podemos trocar são, alguns deles, simplesmente parvos (podemos vestir-nos de uma couraça medieval, calções e com uma cabeça de abóbora, só para dar um exemplo). Contudo, esta atitude de gozo perde-se no restante do jogo que, por vezes, tem outro tom mais sério. Subitamente, as piadas de West surgem fora de contexto, quando uma cena de algum peso emocional é quebrada pelo ridículo fato do protagonista, uma piada de mau gosto ou quando fazemos uma selfie inusitada debaixo de perigo.

No plano técnico, Dead Rising 4 não consegue grandes portentos. Na Xbox One, nunca houve um momento em que a consola se ressentisse realmente da quantidade de zombies na imagem, dos efeitos visuais ou das explosões. Contudo, nenhum pormenor das animações, texturas ou efeitos é particularmente destacável. Visualmente, é um título cumpridor que parece ter tentado não arriscar muito. Até mesmo na construção de cenários, nota-se alguma repetição de design, comum em jogos de mundo aberto, mas que aqui se torna um pouco mais notório dada a frequência com que regressamos a locais ou no tempo que passamos por lá. Não pensem que é um mau jogo no plano visual. Apenas esperávamos uma evolução qualitativa, algo que só acontece nas expressões faciais.

Uma das coisas que mais incomoda neste jogo é a inteligência artificial das personagens. Ok, não podia esperar muita inteligência dos desmiolados zombies, mas as restantes personagens são francamente pobres em inteligência, deslocando-se sem cobertura ou ficando imobilizados num único ponto. Se forem amigáves e os tivermos de proteger, torna-se particularmente frustrante. Outra questão que precisava de mais trabalho da parte da produção está no interface. Apanhar itens do chão é uma tarefa nem sempre simples. Por vezes, vamos carregar nos botões para interagir e o jogo não responde, por qualquer motivo. Terá a ver com a perspectiva ou posição da câmara, mas é frequente ficar em apuros a tentar apanhar um simples kit de primeiros-socorros do chão.

Veredicto

Repetição para ênfase, numa altura em que a Capcom está a trazer esta série a outras plataformas. Dead Rising 4 oferece um pouco mais que… mais do mesmo. Muitos zombies no ecrã para matar com armas exóticas. Reciclar e repetir. Tentou inovar com os exoesqueletos, tiroteios com soldados, cenas de investigação e cenários renovados da saudosa Willamette, mas nada disso parece dar mais substância ao jogo. Não consegue recriar a fórmula e é pena. Trazer de volta Frank West é um bónus pela sua irreverência, mas o seu humor acaba por ser algo superficial perante o resto do jogo. De resto, não deve haver por aí jogo mais divertido para chacinar mortos-vivos em quantidades industriais. Aí o jogo não desilude nunca.

  • ProdutoraCapcom
  • EditoraMicrosoft Game Studios
  • Lançamento6 de Dezembro 2016
  • PlataformasPC, Xbox One
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Demasiado repetitivo
  • Novidades não entusiasmam
  • Humor não é consistente
  • Inteligência Artificial

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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