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Análise – Crysis Trilogy Remastered

Depois do “teste” com o primeiro Crysis Remastered, chega a “concretização” com Crysis Trilogy Remastered, também a derradeira oportunidade para Crysis 2 e Crysis 3 nos convencerem. Esta é uma trilogia que reúne os três jogos, devidamente revistos pela Crytek a nível técnico…mas deixando algumas coisas para trás.

Lendo a minha análise ao jogo original remasterizado, fica bem claro que o trabalho de recuperação técnica do primeiro jogo foi exemplar. Talvez um pouco excessivo em requisitos para depois não entregar nada assim tão deslumbrante. Como disse na altura, os tempos são outros, de facto. A esperança para estes dois jogos, porém, não era uma de um simples renascer técnico. Havia aqui também uma oportunidade soberana para fazer com que estes dois jogos se tornassem finalmente relevantes. Embora Crysis 2 fosse um título muito esperado na altura, não se firmou no que na altura se pensava ser o início de uma série de sucesso. Não foi. Crysis 3, então, ainda foi menos relevante, basicamente capitalizando o que o segundo jogo tinha feito, com “uns pózinhos”. Esta é, para mim, a última chance para a franquia.

Embora esta seja uma trilogia comprada num pacote com os três jogos, é possível adquirir apenas os jogos individuais. Como o primeiro Crysis Remastered foi lançado em Setembro do ano passado, é possível que o tenham jogado então e agora pretendam apenas adquirir os outros dois. Da mesma forma, não parece que valha a pena recuperar a minha avaliação do primeiro jogo, podendo facilmente ler o que achei na minha análise original. Nesta outra análise, vamos apenas falar de Crysis 2 e Crysis 3. Contudo, no final temos sempre de avaliar o pacote no total. Deixo isso para o veredicto. Por agora, precisamos de falar do que o segundo e terceiro título nos trazem.

Crysis 2 traz-nos a história de “Alcatraz”, um Marine inserido numa força de reacção da famosa Marine Force Recon. Por força da invasão extraterrestre do Ceph que lançou um vírus mortal pelo planeta, os Marines precisam infiltrar-se em Manhattan para extraír o Dr. Nathan Gould. Contudo, o submarino onde vão a bordo é atacado e apenas Alcatraz sobrevive, resgatado pelo famoso Major Laurence Barnes, nome de código “Prophet” e o seu nanofato com tecnologia alienígena. Para salvar o Marine e porque foi infectado pelo vírus, “Prophet” cede o avançado nanofato a “Alcatraz” para que sobreviva e cumpra a sua missão. Acontece que a empresa CELL tem outros planos e persegue o protagonista para reaver esse fato.

Ao contrário do primeiro jogo passado numa ilha remota, a história de Crysis 2 desenvolve-se na cidade de Nova Iorque, dando-lhe um ambiente urbano. A cidade em si também se torna parte da história, uma vez que “Alcatraz” passa da missão de salvar Gould para outra tarefa de erradicar os Ceph e travar a ameaça do vírus na cidade. Pelo meio, o protagonista descobre uma enorme conspiração que o levará a uma batalha de duas frentes. Eventualmente, consegue travar a ameaça extraterrestre mas o seu fato continua a ser muito desejado. Como que ressurgindo das trevas, a memória de “Prophet” no nanofato toma conta de tudo e a história termina com uma nova ameaça global para ser travada.

É aqui mesmo que Crysis 3 pega no enredo. Com o fato capturado, tendo “Prophet” assimilado em “Alcatraz” lá dentro, um dos soldados originais do primeiro jogo, “Psycho” executa uma operação para resgatar o seu antigo companheiro. A ideia, agora, é combater a CELL e encontrar um tal de Alpha Ceph. Só que a organização consegue capturar os insurgentes, em busca da tecnologia alienígena retida nos nanofatos. Uma vez mais, “in extremis” “Prophet” é salvo por uma unidade de resistentes. Porque a missão continua a mesma, para travar a Cell, “Prophet” decide atacar o misterioso sistema de protecção da organização, o System X. Só que nesse acto, descobrem que é esse sistema que retém a maior ameaça Ceph. Inadvertidamente, “Prophet” acaba de piorar a situação da Humanidade.

Perante a ameaça, a CELL entra em pânico e tenta activar Archangel, uma super-arma para aniquilar o tal Alpha Ceph. Só que, ao fazê-lo, a própria Terra poderá ser destruída. É preciso novamente travar a ameaça Ceph mas também a loucura da CELL. E os extraterrestres não estão parados, uma vez que abrem portais para fazer chegar poderosas naves para consumar a invasão da Terra. Como devem calcular, sim, “Prophet” acaba por conseguir esse feito enorme de travar uma organização tresloucada com sede de poder e uma invasão extraterrestre. O final do jogo, porém, é um pouco complicado de descrever ou justificar. Para quem não o jogou, não vou estragá-lo, mas honestamente é dos “volte-face” mais caricatos que me recordo no mundo dos videojogos.

De um modo geral, não há grande surpresa no seu término. A história que se expande pelos três jogos é um tanto rocambolesca. Começa bem, com um mistério numa ilha remota, expande-se com uma conspiração mais profunda e uma ameaça alienígena mais vincada no segundo título e acaba por completar-se um círculo no terceiro jogo, depois de “explodir” para dimensões “estratosféricas”. Talvez essa “explosão” seja o seu principal problema, no que me parece uma constante tentativa de “complicar”, como se a produção quisesse, de alguma forma, suplantar-se a cada novo capítulo. Não havia nada de errado nisto, não fossem os desenlaces tão estranhos e algumas decisões narrativas tão complicadas de justificar. Por vezes, é melhor simplificar um pouco.

Se bem se recordam, Crysis 2 e Crysis 3 estrearam esta série nas consolas, na altura a PS3 e X360. O primeiro jogo foi um “colosso” técnico para o PC, literalmente “torrando” computadores quando os jogadores tentavam jogar com tudo no máximo. Mas, ficou-se por uma plataforma menos popular (na altura). A ideia da Crytek era levar a série a uma audiência maior, portanto. Infelizmente, as coisas não correram bem tecnicamente. No segundo jogo, não só a performance era inconsistente, como haviam sérios problemas de optimização de texturas. O terceiro jogo não teve muito melhores prestações, em particular na versão PS3. O que é irónico, a Crytek já tinha tido uma má experiência e devia ter aprendido a lição. Em paralelo com a história complicada demais, os problemas técnicos praticamente “enterraram” estes dois jogos pouco depois do seu lançamento.

O que esta remasterização nos traz é uma “limpeza” técnica profunda, tal como no primeiro Crysis Remastered. Em Crysis 2, o jogo foi revisto na resolução de texturas e definição dos modelos, optimização e a iluminação foi praticamente reconstruída. Também aquela tonalidade acastanhada desse jogo foi praticamente eliminada, dando-nos uma melhor atmosfera, de acordo com o ambiente urbano onde se passa. Para mim, a principal mudança é na iluminação, bem mais reactiva e realista. Mas, também gostei das animações das armas, parecendo bem mais suaves e realistas, mais de encontro ao que vemos em jogos de acção modernos. Infelizmente, a linearidade dos níveis não foi revista, mantendo-se fiel ao original. Mas, enfim, isto não é um remake.

Quanto a Crysis 3, bom, a ideia é praticamente a mesma. Embora no PC as diferenças sejam bastante residuais, nas consolas temos também o “tal jogo prometido” e que nunca veio a acontecer. Crysis 3 estreou muitas técnicas e ideias que hoje são convencionais neste género. Por isso, arrisco dizer que este jogo podia muito bem estrear-se hoje, com as melhorias técnicas que já traz nas consolas, como um título moderno. Tem muito mais atenção ao detalhes dos cenários, aos efeitos visuais e ao jogo de luzes de algumas secções. Ao contrário do segundo jogo, os seus níveis são menos lineares e mais abertos, permitindo explorar melhor as capacidades do nano-fato. De um modo geral, o terceiro jogo é o mais bonito e ambicioso dos três.

Tal como o primeiro jogo, tive a oportunidade de testar estes dois jogos também na versão PC, o que me deu a oportunidade de, na prática, jogar a sua melhor versão. A par da optimização providenciada pela tecnologia Nvidia DLSS, inclui a adição de reflexos e efeitos de iluminação Ray Trace, também presentes nas versões PS5 e Xbox Series X|S. De um modo geral, mesmo no preset Ultra, consegui sempre uma performance sólida, na ordem dos 60FPS. Mesmo sem testar nas consolas, do que me foi dado a entender, a diferença dos jogos originais para estas remasterizações na PS5 e XSeries X|S é absolutamente incomparável. Finalmente os jogos têm bom aspecto e performance numa PlayStation ou Xbox. Demorou mas finalmente temos ports decentes dos jogos nas consolas, hã Crytek?

No que toca à jogabilidade, houve uma tentativa de uniformizar a fluidez e as lógicas de movimento e tiroteio. Infelizmente, a inteligência artificial continua, para mim, demasiado inconsistente. Ora é demasiado reactiva a descobrir-nos nas secções que pedem mais acção furtiva, sendo novamente demasiado certeira a longas distâncias, ora é demasiado “burra” a esconder-se, ficando ridiculamente exposta ao nosso flanqueio. Não creio que a Crytek tenha mexido muito nestas lógicas para estas remasterizações mas era bom termos um ou outro “tweak”. O mesmo acontece com a detecção de danos em alvos em movimento, algo que poderá frustrar alguns jogadores. Outros tempos exigem outras lógicas. Estamos, se calhar, habituados a outros títulos.

Resumindo, em termos visuais e de interacção, a trilogia remasterizada concretizam visual e tecnicamente o que que queríamos jogar há uns anos, especialmente nas consolas. Contudo, como sempre, há aqui alguma margem para crítica. Não vou discutir se era preciso tanto tempo para a Crytek ressuscitar estes jogos para a sua glória original nas consolas, por exemplo. O tempo dirá se ainda há espaço para a série Crysis no panorama actual ou se este é apenas um (re)lançamento para recuperar uma licença, outrora editada pela Electronic Arts, diga-se. Também é discutível se o aspecto técnico destes jogos, mesmo com as melhorias que assinalo, sobrevive ao teste do tempo e da concorrência neste género tão exigente.

O que critico mesmo são as omissões, não apenas num ou noutro jogo mas na inteira trilogia. Simplesmente foram removidos todos os modos multi-jogador dos jogos. Acredito profundamente que não hajam aqui muitos argumentos para implementar servidores e esperar que os jogadores continuem a jogar por meses ou anos. Ainda assim, é uma perda de assinalar. Recordo com alguma saudade algumas sessões online bastante divertidas com os nano-fatos. Poderia haver um modo online transversal aos três jogos, com mapas simples baseados nos modos de carreira. Algo simplificado que, se “pegasse”, pudesse ser expandido. Não sei se teria sucesso, confesso, mas os fãs agradeciam. Especialmente os que suportaram os jogos originais nas consolas.

Outra omissão difícil de explicar nesta trilogia é a ausência de Crysis: Warhead. Esta foi uma espécie de expansão standalone do primeiro Crysis, desta feita a contar a história do já mencionado “Psycho”. Foi lançada apenas no PC um ano depois do primeiro jogo, quando o “mal” já estava feito. Nesta expansão, a Crytek pegou em tudo o que os fãs e crítica apontaram a Crysis e recriaram o jogo com uma nova campanha que, quanto a mim, é a melhor da série. Como as consolas nunca chegaram a ver Warhead, esperei sinceramente que figurasse na trilogia. Assim não aconteceu. Outra omissão menos importante mas igualmente de assinalar é a perda do acesso ao editor de mapas online CryEngine Sandbox, que tanto fez pela comunidade. Enfim.

Veredicto da Trilogia

Como sempre, há jogos que, ou atingem a “marca” no seu tempo, tornando-se clássicos, ou falham o objectivo e entram no esquecimento. Esta série é um bom exemplo de como três jogos perdem a oportunidade de fazer algo único, muito por causa de problemas de conceito. Crysis Trilogy Remastered é uma boa oportunidade para estes três jogos ressurgirem, com a possibilidade de revivermos três títulos repletos de boas ideias, que ainda hoje “inspiram” este género. De facto, estas são as edições definitivas de três jogos incompreendidos. Infelizmente, esta trilogia renascida perde algum do protagonismo por causa das suas omissões. Contudo, não deixa de ser uma oportunidade única de (re)encontrar a sua história, jogabilidade e design tão únicos.

  • ProdutoraCrytek
  • EditoraCrytek
  • Lançamento15 de Outubro 2021
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox One X, Xbox Series X|S
  • GéneroShooter
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Omissão dos modos multi-jogador
  • Omissão de Crysis: Warhead
  • A história continua confusa

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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