cookingsimulator (hdr)

Análise – Cooking Simulator

Por qualquer motivo, os programas de culinária tornaram-se fenómenos de audiência televisiva nos últimos anos. Senão, vejam a quantidade de programas e canais dedicados ao tema na televisão actual. E que tal um Cooking Simulator para complementar esta tendência?

Hoje em dia, parece que qualquer tema serve para criar um simulador. Já tivemos de tudo, desde os óbvios automóveis, camiões, aviões ou navios, até aos temas mais rocambolescos como de cabras, abelhas, relva, pão ou até mesmo de cirurgias… Um simulador pretende ser uma recriação próxima da realidade de uma actividade, geralmente complexa, arriscada ou que envolva alguma perícia. E, digo-vos, esta actividade de gerir uma cozinha é verdadeiramente exigente. Não acreditam em mim? Vejam um qualquer episódio de Master Chef ou Kitchen Nightmares com o lendário Chef Gordon Ramsey. Enquanto estamos sentados na mesa à espera, não nos passa pela cabeça a ciência, o stress do cronómetro e a coordenação necessária que vai dentro da cozinha. E este jogo do Big Cheese Studio tenta transmitir essa tensão por nos dar o chapéu de cozinheiro.

Embora possamos passar por uma “escola” de culinária, o que para todos os efeitos é um tutorial, ou então pelo divertido modo Sandbox para testarmos tudo sem limites, é no modo de carreira que vão querer jogar Cooking Simulator, pelo menos numa fase de experimentação. A ideia é que são um humilde cozinheiro contratado para gerir (sozinho) uma cozinha de um restaurante igualmente humilde. Inicialmente, temos a vida facilitada nos primeiros pratos, com receitas verdadeiramente simples, passando depois para autênticas peças de arte gourmet com a nossa evolução. Para isso, teremos de mostrar o que valemos, vivendo de cada prato confeccionado e da avaliação de cada cliente que o come.

A curva de dificuldade torna-se bastante acentuada, consoante o jogo evolui. Isto porque existem três factores muito importantes que constituem a tal ciência que já mencionei: As quantidades certas dos ingredientes correctos, os tempos necessários para confecção e a nossa precisão de coordenar tudo o que acontece até ao prato final. De facto, a melhor definição deste título é que é um jogo de gestão multi-tarefas, sobretudo quando começamos a ter pratos cada vez mais delicados ou complexos. É que o ritmo dos pedidos também começa a aumentar com a nossa fama, trazendo-nos mais dinheiro para melhorias e novidades, mas também mais trabalho e menos tolerância de erros.

Como seria de esperar, estamos na primeira pessoa a gerir esta cozinha. Temos à nossa disposição tudo o que é necessário para confeccionar os pratos, por um preço claro. Cada ingrediente e cada prato custam dinheiro. Por isso, primeiro precisamos aperfeiçoar a nossa arte, por “aprender” receitas que desbloqueamos com pontos de evolução. Isto é feito numa pequena secretária adjacente, onde também podemos pegar no telefone para pedir reparações de fogões ou de outros utensílios. Uma vez “aprendida” a receita, passa automaticamente para o menu. Portanto, convém escolherem receitas simples no início para que os pedidos não vos façam passar um mau bocado.

Isto porque, como já disse, é a avaliação do cliente que nos dá a pontuação de evolução e o dinheiro na conta, que pode ser alargado por gorjetas generosas. Quanto melhor confeccionamos os pratos, mais estrelas e reputação ganhamos. Existem uma série de habilidades para nos facilitar a vida, inclusive aumentos de tolerância dos tempos de espera ou de maiores gorjetas. Por isso, a cada novo nível, explorem as habilidades e não deixem de escolher sempre aquelas que melhoram as vossas prestações.

É que vamos cometer erros muitas vezes. Inicialmente, um chef (demasiado parecido com Gordon Ramsey) vai dar-nos dicas importantes em jeito de mini-tutorial. Mas, depois, estamos por nossa conta. Os pedidos surgem num ecrã, tendo (felizmente) a receita mesmo ao lado. Se quiserem, podem sempre ignorar a receita e fazer “à vossa maneira”. Se já tiverem conhecimento de receitas e tempos de confecção, será particularmente útil, obviamente. Para todos os outros, anotem bem os tempos de cozedura, as quantidades de sal, os pesos das proteínas, enfim, sigam tudo à risca. Há espaço para invenção, obviamente, mas lembrem-se que tudo o que conta é que o cliente goste.

Acontece que o que torna depois tudo mais complicado (e por vezes caricato) são os controlos. O jogo tem um sistema meio complexo de pegar nas coisas, que nem sempre funciona a 100% e que tantas vezes me frustrou. Algumas das ideias são bem vindas, como o corte de precisão com a faca ou podermos inclinar líquidos para os verter. Também é de apreciar que a vasta maioria das receitas sejam fiéis à realidade e que possamos criar pratos realistas. E, a embrulhar a interacção, também apreciei que todo o interface seja intuitivo e fácil de interpretar. A questão é que há uma imprecisão latente que, honestamente, só consegue frustrar e não devia ter lugar na cozinha.

Vou dar um exemplo prático. Vamos confeccionar um simples prato de peixe no forno. O jogo diz-nos para pegar o dito peixe do frigorífico, colocá-lo numa bandeja, polvilhar com sal e especiarias e colocar a bandeja no forno num tempo deliberado. Simples, feito. Agora, pede-nos para pegar num tacho, encher com um 1 litro de água, juntar sal e colocar duas batatas a cozer. Igualmente simples, feito. Esperamos os tempos de confecção para ambas as partes e surge a hora de “empratar”. Ora, pegar no peixe quente com as mãos não é opção, por isso, temos uma pinça para pegar no peixe e… largamos “ao calhas” para o prato, o mesmo acontecendo com as duas batatas cozidas. Vai para a janela… serviço!

Se alguma coisa o intempestivo Ramsey, o cool Jamie Oliver e até a não menos carismática Filipa Gomes do 24 Kitchen nos ensinaram, é que um prato não é só bem confeccionado, também tem de ter bom aspecto. Fiquei mesmo perplexo que a produção não tivesse pensado neste pormenor. A montagem dos pratos é, de facto, um dos elementos mais imprecisos, mesmo por causa dos já mencionados controlos falíveis. Pior, acabei por deixar cair imensas coisas no chão, inclusive molhos, por causa da falta de controlo latente de pinças, bandejas ou espátulas. Serve de “comic relief” e ri muito das patacoadas, mas qualquer perfeccionista queria que isto fosse mesmo um simulador de cozinha… ora não fosse esse o seu título.

Para dizer a verdade, há duas formas de jogar este título. A forma mais casual, onde talvez seja melhor abordar o modo “sandbox“, é experimentarmos tudo para ter os resultados mais hilariantes, rindo-nos dos controlos que nos fazem lembrar Surgeon Simulator nos seus tempo áureos. A outra forma que me parece mais na linha do que a produção do Big Cheese Studio pretendia, era levar isto mais a sério como um jogo de precisão, em que estamos na primeira pessoa realmente a tentar ser um cozinheiro decente. Por isso, apanhar coisas do chão sem penalização ou fazer um fogão explodir, parece-me um tanto “fora de carácter” para este jogo. Mas, hey, cada um encontra o jogo que quer.

No plano do conceito, já agora, fico um pouco na dúvida porque motivo a produção não optou pela Realidade Virtual. Este jogo tem todo o potencial de nos imergir neste papel de cozinheiro e só beneficiaria do VR, especialmente com os controlos de captura de movimento. Também não entendo a dimensão exagerada da cozinha, sobretudo ao início. Temos pratos tão simples que metade (um terço?) do espaço era suficiente. Não sei se o plano era ter algum elemento multi-jogador onde o espaço faria mais sentido. Aliás, numa cozinha moderna deste calibre, a dada altura, fazia imensa falta um par de ajudantes.

Só me falta falar do plano mais técnico, além do interface positivo e dos controlos mais falíveis. Este não é um título em que esperava ter grande grafismo ou deslumbrantes efeitos visuais. Como qualquer outro “simulador” Indie de uma actividade tão específica, é cumpridor quanto baste. Puxando os presets ao máximo não deambula muito pelo realismo, tendo mesmo alguns elementos que considero visualmente simplistas. Alguns efeitos também podia ser melhores, como desgaste dos equipamentos ser sempre na forma de marca redondas de ferrugem, por exemplo. Enfim, como já disse, é cumpridor num jogo independente com um claro orçamento mais limitado.

O mesmo acontece a nível sonoro, com os esperados sons característicos de uma cozinha. Sinto que falta aqui algum elemento mais envolvente, tendo em conta esta cozinha tão vasta e deserta. Por exemplo, porque não alguns diálogos com voz? As curtas interacções que temos com os gerentes são só em texto, infelizmente. Se desejarem, podem sempre ligar o rádio presente para ouvir a sua música. Mas, dada a repetição dos temas, vão desligá-lo rapidamente, quase de certeza. E o que raio é o som ambiente da rua onde passam carros a buzinar desalmadamente a cada minuto?

Veredicto

Não será aqui que vão iniciar a vossa carreira de Master Chef. Contudo, Cooking Simulator é o mais próximo que vão chegar do papel de cozinheiro, sem a responsabilidade inerente. Aqui, é a vossa melhor gestão de tempo e de ingredientes que vai fazer a diferença na hora de facturar. Tem a tensão e a gestão que esperariam num título deste género. Infelizmente, os controlos não são os melhores num jogo que devia exigir precisão, sobretudo no momento de levar o prato ao cliente. Mas, no que toca ao elemento de diversão, seja a jogar pela pura gargalhada de ver uma cozinha a arder, seja por genuinamente aprender ou praticar a arte da cozinha, vale a pena o tempo investido. Apenas não sirvam aquela posta de salmão que deixaram cair no chão…

  • ProdutoraBig Cheese Studio
  • EditoraPlayWay SA
  • Lançamento6 de Junho 2019
  • PlataformasPC
  • GéneroSimulação
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Controlos algo frustrantes
  • Simplicidade visual e sonora
  • Oportunidade perdida para o VR
  • Falta Multi-jogador

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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