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Análise: Carmageddon Max Damage

Vinte anos depois, a Stainless Games, a mesma produtora responsável pelos dois primeiros jogos desta polémica série, surge no Kickstarter com uma campanha para trazer de volta a carnificina ao volante de bólides pós-apocalípticos. Escusado será dizer que a campanha foi bem sucedida e, depois da versão de PC, chega-nos Carmageddon Max Damage para as consolas, com ainda mais conteúdo.

Foi em 1997, que um jogo de corrida se destacou dos restantes devido à sua extrema violência. Foi das primeiras vezes que ouvimos falar que um jogo foi banido em vários países e que em alguns destes teve de receber modificações para poder ser comercializado. Podemos considerar que Carmageddon foi o primeiro exemplo de como os temas em jogos podiam ser socialmente incorrectos. Mas, para alguém que viveu nessa altura, este era um jogo divertido e diferente de tudo o resto. Afinal, até podíamos atropelar os peões livremente. No entanto, muito mudou em duas décadas desde o final dos anos 90. E, felizmente, já não é apenas a violência que torna um jogo popular. Como tal, Carmageddon tem de se evidenciar mais como um jogo de corridas e destruição de veículos. Vamos ver o que mudou durante estes anos.

Para os recém-chegados, saibam que Carmageddon não tem qualquer história. É dada a possibilidade de escolher o nosso condutor entre o Max Damage ou a Diana e, depois, oferecem-nos um carro equipado com armaduras, lâminas ou outras “decorações” e somos colocados numa cidade onde podemos atropelar todos os seres vivos presentes. E é isso… Se procuravam um enredo digno de Hollywood, uma carreira de glamour a coleccionar veículos de luxo ou a bater recordes de velocidade, olhem noutro lado da prateleira.

Carmaggedon nunca foi como os restantes jogos de corrida. Ao contrário do género, onde é necessário terminar em primeiro lugar para sair como o grande vencedor, aqui é possível explorar livremente todo o mapa e terminar cada corrida de três formas distintas: Correndo normalmente pelos diversos checkpoints, destruindo todos os adversários ou a conseguir matar todos os peões do mapa. Este último, é o objectivo mais complicado dos três, visto que podem haver qualquer coisa como 800 peões pelo mapa.

Os peões nunca deixam de ser os danos colaterais das mais violentas corridas que já pudemos testemunhar, mesmo que tentem ser certinhos e, por exemplo, optem por ultrapassar todos os checkpoints. É inevitável que acabem por esmagar um ou outro peão. E os coitados existem em várias formas e feitios: velhinhas com andarilhos, ciclistas que vão a passear descontraidamente e até pessoas com cadeiras de rodas. Mas, também há freiras, líderes de claque e até pessoas obesas com problemas de mobilidade. Carmageddon não descrimina ninguém e… também não perdoa.

Cada um deste tipo de transeunte, quando atropelado, adiciona mais tempo ao nosso relógio e aumenta também o nosso fundo de maneio. Com este dinheiro podem reparar o vosso carro, desbloquear novos níveis no modo carreira ou até novos upgrades no final de cada corrida. Ou seja, o jogo “quer” que os atropelemos. E nós também passamos a querer, se desejarmos um bólide cada vez melhor. Incentivo à violência?

No que diz respeito às físicas em jogo, apesar de achar que estão bem representadas, a condução em si continua um pouco tosca, como nos restantes jogos clássicos. Ao início, requer algum hábito à forma como se controlam os veículo. Isto porque não interessa o terreno em que estão, o carro escorrega e desliza sempre, por vezes perdendo completamente o controlo. Felizmente é possível melhorar a performance e peças de mecânica. Mesmo assim, este problema é atenuado, mas nunca realmente resolvido. Parece que a intenção é mesmo que estejamos na orla da perca de controlo.

Uma curva mal calculada é o suficiente para saírem de pista, atropelar cinco pessoas (celebrar o feito) e serem atingidos por um adversário. Claro, tudo isto faz parte do jogo em questão. A Inteligência Artificial não tem qualquer misericórdia e qualquer oportunidade é boa para abalroar e tentar destruir o nosso carro. A IA é tão brutal que me leva a acreditar que o objectivo principal dela é só evitar que sejamos vencedores em vez de tentar ela própria atingir o primeiro lugar. O que pode ser aborrecido quando sentimos que somos sempre o alvo preferencial dos demais adversários, ao mesmo tempo que estamos encurralados contra um prédio.

Contudo, existe sempre a habilidade de recuperar e reparar o carro com o pressionar de um botão. Isto ajuda, principalmente quando o carro está completamente destruído. O arranjo leva-nos algum dinheiro e enquanto o botão está pressionado vemos as peças a virem em direcção ao carro levando tudo à frente. Um autêntico festim a roçar o perverso enquanto as peças levam também os incautos inocentes. Tecnicamente, não temos a culpa, ok?

A melhor defesa contra os adversários, são os diversos power-ups espalhados por todos os mapas em formato de barris coloridos. Alguns melhoram o nosso carro, seja com novas armas ou através de melhorias na performance. Mas tenham cuidado que outros barris de power-ups fazem precisamente o inverso. Por tempo limitado, pode transformar-nos em alvos fáceis para os adversários. Sim… o jogo consegue ser ainda mais difícil.

Os níveis da campanha são desbloqueados através do dinheiro ganho em cada corrida, o que significa que terão de repetir alguns destes locais até conseguirem desbloquear o nível seguinte. A campanha está dividida em 16 capítulos, cada um deles com cerca de 5 eventos. Contudo, a maior parte dos níveis têm lugar nos mesmos mapas genéricos, apenas com locais diferentes e outros objectivos. É normal sentirem alguma repetição ao longo da carreira.

O maior problema deste novo título Carmageddon: Max Damage, no entanto, é que não tenta de forma alguma trazer algo de novo à série. A dada altura, sinto que é muito idêntico aos dois primeiros jogos. Não é necessariamente um ponto contra e pode servir como uma boa homenagem aos clássicos. Contudo, apesar de algumas melhorias visuais, estamos a falar de jogos que viram passar 20 anos de evolução nesta indústria. Se, por exemplo, DOOM conseguiu reinventar-se enquanto se manteve fiel ao original eu acredito que este título também conseguiria fazer o mesmo, mantendo a mesma brutalidade, mas tentado oferecer algo de novo. Assim, não passa de uma reedição.

E em relação ao grafismo do jogo, deduzo que a produtora tenha optado por, de forma consciente, seguir um visual semelhante aos jogos anteriores. As texturas são de grande formato com aspecto poligonal (leia-se “quadradas”). A nível de modelos, pesar dos veículos possuírem modelação competente, as vítimas parecem ter saído da geração anterior. Contudo, são mesmo os carros o principal destaque e estão todos muito bem concebidos. E  no caso dos que são revisitados dos primeiros jogos, estão muito fiéis aos modelos originais.

Veredicto

Apesar de Carmageddon: Max Damage me ter proporcionado uma excelente viagem ao passado, ao relembrar-me de um dos clássicos mais polémicos de sempre, apresenta um conceito datado. Quem já conhece a série irá, sem dúvida, gostar deste regresso nostálgico. No entanto, os recém-chegados não vão encontrar um jogo tão divertido e diferente como conseguiu ser em 1997. Os tempos são outros e a violência não justifica tudo. Em suma, Max Damage é uma excelente homenagem aos primeiros títulos da série, mas podia ser muito melhor. Mesmo assim, é de esperar que ouçamos falar dele, nem que seja porque foi banido em algum país.

  • ProdutoraStainless Games
  • EditoraStainless Games
  • Lançamento8 de Julho 2016
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAcção, Condução
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Não traz novidades para a série
  • Condução tosca
  • Grafismo podia estar melhor

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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