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Análise: Batman – The Telltale Series (Episódio 5) – Conclusão

Com o último episódio de Batman- The Telltale Series esperávamos que as diversas falhas dos episódios anteriores fossem resolvidas ou melhoradas. Até este episódio, a Telltale Games tem vindo a antecipar um grande final. Ou então, a adiar uma inevitabilidade.

Leiam aqui a análise ao primeiro, segundo, terceiro e quarto episódios.

Se seguiram a nossa avaliação aos anteriores episódios, devem ter notado que haviam, pelo menos, duas questões que levantámos de forma recorrente. A sensação constante que as nossas decisões não estavam a contar para nada no desenrolar da história, foi a questão mais pertinente. A cada episódio, parecia que estávamos a assistir a um guião pré-definido com um enredo que pouco queria saber das nossas decisões ou reacções. Outra questão que levantámos sucessivamente foi a alteração constante do cânone de Batman. Uma série gigante de banda-desenhada, videojogos e filmes é sempre propensa a algumas liberdades. Contudo, há algumas interacções, relações de personagens, biografias e desenlaces que estão já instituídos. Alterá-los é arriscado, a não ser que esta alteração seja feita para um desenlace surpreendente. Será que é?

 

Já tinha perdoado que Harvey Dent fosse amigo de Bruce Wayne ou que Oswald Cobblepot ter sido amigo de infância de Bruce. São ideias plausíveis em alguns universos das histórias de Batman. Agora que Selina Kyle (Catwoman) fosse namorada de Dent, que Vicky Vale seja um alter ego de uma outra personagem, que Thomas Wayne fosse um vilão e até que Alfred trate o seu patrão como “Bruce”, já começo a não gostar. Suponho que todas estas alterações de enredo surjam desse interesse em tornar o enredo mais “novelizado”, graças à arriscada nova abordagem da série de TV “Gotham”. No entanto, ao contrário da série da FOX, neste jogo nenhuma das alterações melhoraram realmente a história geral do Homem-Morcego, nem adicionaram nenhuma substância às personagens.

Parece-me que a Telltale queria contar uma história à sua maneira, não querendo ficar presa às convenções. Noutras séries da produtora, vimos como esta prefere histórias paralelas ou complementares, não forçosamente em conflito com algum cânone instituído. Estivemos à espera de um final surpreendente e, a julgar pelas liberdades da produção, alguma reviravolta ou revelação chocante que justificasse tudo o resto. No ponto de vista da narrativa, há margem para criar algo novo, diferente e realmente bom, mesmo tomando liberdades que os fãs mais acérrimos podem não gostar. Mas, para isso é preciso que entreguem um desfecho também alternativo e interessante. Mas, isso não chega a acontecer.

Então, como é a história deste episódio? Dependendo do que decidiram nos capítulos anteriores, a trama deverá começar com o vosso confronto com Cobblepot ou com Dent. Contudo, apesar dessa decisão parecer ter algum peso no desenrolar de eventos, acabamos por confirmar que não interessa muito para o resto do episódio. Com os dois vilões travados, temos a tecnologia de Batman de volta se derrotamos primeiro o Penguin ou travamos a tentativa de destruir a Mansão Wayne por parte de Two-Face. Ambas as decisões acabam com o Comissário Grogan a ser assassinado e Alfred a ser sequestrado pela Lady Arkham. E, então, acabamos a correr para o confronto final. Digo-vos que neste episódio, apesar das mais chatas cenas de investigação, temos também das melhores cenas de acção. Limitados aos Quick Time Events, é certo, mas, não deixam de ser interessantes.

Então e as descobertas que fizemos no passado da família Wayne, a relação de Bruce com Alfred, a terrível revelação de quem é Vicky Vale e o que pretende, a vingança demente de Harvey Dent, os planos engenhosos de Oswald Cobblepot, a relação com Selina Kyle ou a introdução de Joker? Tanta trama foi levantada nos episódios anteriores que até estava a antecipar este ponto final. No entanto, acaba por ser um ponto final… parágrafo. Sim, as linhas mais importantes de enredo pendentes encerram-se neste episódio, de uma forma ou de outra. O que fica por contar, porém, parece reservado para uma segunda temporada. Já era de prever que isto acontecesse, avaliando outros jogos da produtora. No entanto, nunca gostamos de deixar assuntos a meio.

No que toca ao que é realmente concluído, não há, de facto, lugar para surpresas ou reviravoltas. Queria mesmo que a Telltale desse alguma nuance no final. Porque é que a vilã final principal usa máscara até ao fim se já sabíamos quem era? Era só uma decoração ou escondia outra pessoa? A opção de fazer uma analogia à máscara de Batman, pareceu-me demasiado dramática para algo tão simplista. Joker que aparece no anterior episódio? Só uma nota de rodapé. E depois há o desfecho também superficial das relações das personagens. A nossa despedida de Selina pode ser amarga ou… menos amarga. Podemos perdoar Alfred pelo seu papel no passado ou… perdoar Alfred na mesma mas com antipatia. Podemos prender Oswald ou Dent com arrogância ou… prendemo-los com empatia. Enfim.

Talvez a única importante decisão que o jogo nos dá é escolhermos enfrentar personagens como Bruce Wayne ou Batman. Nenhuma altera o desfecho realmente, apenas cria nuances cosméticas nos diálogos, eventos ou personagens. Contudo, permite experimentar abordagens diferentes aos mesmos confrontos. Já sabíamos que a Telltale queria dar mais ênfase a Bruce neste jogo. De facto, há mais dessa ênfase, mas acabamos por pender mais para o Cavaleiro das Trevas no que toca a resolução de problemas. Não deixa de ser interessante, porém, ver como usar ou tirar a máscara pode ter diferentes repercussões. E mesmo no final, o jogo deixa-nos antever que numa possível segunda temporada esta dualidade terá igual importância.

Mas é bom que a Telltale prepare bem uma segunda temporada com Batman. Não estou a falar apenas das questões de enredo ou fraca de intervenção na trama. Falo mesmo do plano técnico. Conforme fui dizendo ao longo dos últimos episódios, este jogo demonstrou ter algumas questões pontuais de performance. Por vezes, o jogo teve faltas de sincronismo de áudio, ou ficou sem áudio de todo. Houve até alguns freezes aqui e ali, mas o mais frequente foram quebras de fotogramas por segundo. Nada de extraordinário, mas denota alguma falta de optimização ou de programação. Estas questões tornaram-se particularmente frequentes nos dois últimos episódios e a produção chegou mesmo a mencionar que haveriam actualizações de correcção.

No entanto, este episódio não alterou muito esse panorama. Confesso que, na maior parte do tempo que estive com este episódio, só notei mesmo alguns problemas de quebra de performance pontuais. Contudo, as cenas finais de combate estavam, uma vez mais, pejadas de problemas de sincronização de áudio. Esta situação parece ser bem mais evidente nas consolas. Na versão PC que também testámos, não é tão evidente, mas acontece, mesmo assim. Isto leva-nos a perguntar se é só uma questão do port feito para consolas ou se é algo mais profundo. Lendo os fóruns de suporte, porém, parece uma questão geral. Num jogo episódico com meses de separação desde o seu lançamento, não faz muito sentido.

Veredicto

Tantos eventos, tantos vilões, tantas linhas de enredo e o final apenas apressou a levá-los a uma conclusão previsível para a maioria das personagens, com um irónico “até já” para as demais. Também as liberdades tomadas pela produção de alterar algumas pedras basilares do cânone acabam por cair por terra. Sim, eu critiquei a produção por causa dessas liberdades e regressar ao cânone podia agradar-me. No entanto, já que embarcámos nessa premissa, queria ir até ao fim. A Telltale Games travou o seu ímpeto criativo no fim de Batman: The Telltale Series. Mesmo com problemas técnicos persistentes e uma conclusão previsível, no entanto, não deixa de ser um jogo interessante, com uma arte visual de qualidade, vozes e diálogos muito ricos e quase tudo o que a produtora sabe fazer. Mas, porque a narrativa é o foco principal deste tipo de jogos, não é, com certeza, o seu melhor título.

  • ProdutoraTelltale Games
  • EditoraWarner Bros.
  • Lançamento13 de Dezembro 2016
  • PlataformasAndroid, iOS, PC, PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One
  • GéneroAventura Gráfica
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Problemas técnicos diversos
  • Enredo termina de forma previsível
  • Decisões não têm peso no final
  • Quick Time Events

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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