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Análise – Assassin’s Creed: Valhalla

Definitivamente, a famosa série dedicada à Ordem de Assassinos da Ubisoft, está apostar em criar algo verdadeiramente épico. Depois de nos deslumbrar com as pirâmides no Antigo Egipto ou com as grandes cidades da Antiga Grécia, chegou a vez da Inglaterra dos Saxões e dos invasores Vikings de Assassin’s Creed: Valhalla.

De certa forma, a série tem vindo a divergir um pouco do conceito original. Inicialmente, os primeiros jogos focavam-se no credo de um grupo de assassinos que lutava contra uma ordem mundial toldada pelo anonimato. Subitamente, a série regressou no tempo, até à génese da Ordem em Assassin’s Creed: Origins e, desde então, essa história tomou um lugar secundário. A produção prefere contar porções da História Universal, encaixando o seu enredo fictício pelo meio, tornando-nos observadores e intervenientes de grandes desenlaces históricos. A queda dos grandes faraós em Origins, a grande história da guerra de Esparta, o declínio do império Grego e Romano, em Assassin’s Creed: Odyssey e, agora, as invasões Viking na Grã-Bretanha. Esta visão torna estes títulos bem maiores e épicos, sem dúvida. Contudo, há neste jogo um claro “regresso às origens”, algo muito bem vindo.

Este novo jogo conta-nos as aventuras de Eivor um soldado Viking e as suas conquistas pelos reinos que um dia se chamarão Inglaterra. O nórdico parte para a aventura nestas terras, depois de se aperceber que a sua Noruega está a saque de manobras políticas que visam pacificar o território. Um guerreiro será sempre um guerreiro. Sabendo do sucesso recente do famoso conquistador Ragnar Lothbrock entre os Saxões, Eivor parte em busca da glória, juntamente com o seu amigo Sigurd e dois estranhos “novos amigos”, pertencentes a uma seita que dá pelo nome de “Hidden Ones”. Ao que parece, Eivor parece um bom candidato para esta ordem, recebendo até uma arma estranha, a Lâmina Escondida ou Hidden Blade.

A história que se segue, desenrola-se bem ao estilo de Assassin’s Creed. Vamos, literalmente, participar na conquista de Inglaterra, um pedaço de terreno de cada vez. Bom, na verdade, vamos apenas conquistar uma vila, o resto é explorado e descoberto, mas também conquistado por maquinações políticas, guerras e saque, muito saque. Além de Ragnar, quem assistiu à série de TV “Vikings” vai reconhecer muitas outras personagens e eventos. Afinal, tanto essa série, como este jogo, roçam eventos reais históricos documentados. Contudo, desenganem-se se acham que este é um jogo historicamente preciso. Já deviam conhecer bem as histórias desta franquia.

Como já tem vindo a ser recorrente, a Ubisoft tem de contar a história de maneira a que encaixe no seu lore geral, ao mesmo tempo que tenta fazer um jogo “para todos”. Isto significa que, não só teremos uma única perspectiva das batalhas (a dos conquistadores), como há uma tentativa constante de “branquear” os eventos ou situações no ecrã. Os Vikings reais ficaram para a história como sendo implacáveis guerreiros que assassinavam, pilhavam e violentavam tudo e todos nos seus infames raides. Aqui, matar um civil dá-nos um aviso no ecrã que iremos “dessincronizar” se voltarmos a fazer isso. Não quero dizer com isto que devêssemos cometer genocídio por diversão mas não deixa de ser uma descaracterização clara do que foram este guerreiros.

Felizmente, esta “pacificação” deste lendário povo não é muito mais profunda. Nota-se que houve respeito pelas tradições, pela mitologia e pelos hábitos desta civilização. Um bom título desta franquia que se preze, age também como uma visita histórica a eventos de grande relevância na história da Humanidade. E esses não faltarão no jogo, quanto mais não seja para nos dar uma imagem interactiva da fundação da Inglaterra. Isto não significa que a Ubi não tente constantemente recordar-nos que esta nova aventura é apenas um pedaço de uma outra que tenta contar amiúde. De vez em quando, lá voltaremos à agente Layla e a sua batalha contra a Abstergo. Mas, provavelmente, irão fazer skip às suas cenas…

Tal como no jogo anterior, gostarão de saber que Valhalla é também um título “politicamente correcto”. Embora possam escolher o género de Eivor no arranque do jogo, poderão escolher o outro em qualquer ocasião e até terão um modo em que o Animus (o sistema de realidade virtual que permite a Layla “viajar no tempo” pelas memórias do ADN) alterna automaticamente para o género que melhor se adeque à trama. Confesso que não me apercebi ao início qual o critério para este alternar de género. É bem possível que escolham um dos “Eivors” no início e com ele fiquem até ao final. Saibam apenas que é possível alternar, embora não me pareça haver nenhuma vantagem aparente entre os dois.

Independentemente de quem escolhem, poderão personalizar inúmeros aspectos do vosso protagonista. Não só cortes e cores de cabelo (ou barba), mas também tatuagens, armaduras, utensílios e, claro, armas. Além dos tradicionais machados de guerra, teremos também espadas, escudos, lanças, arpões, arcos e outras ferramentas de violência. Eivor é exímio em qualquer uma delas, embora cada uma seja apropriada para tipos de combate específicos. Um machado longo é óptimo para multidões, por exemplo, mas péssimo em combate próximo. A espada é perfeita para embates com outro inimigo de arma curta, mas tem pouco alcance para inimigos de lança. Enfim, é preciso apostar na arma certa.

Isto porque o combate é quase uma arte, muito semelhante ao combate de Odyssey em quase todos os aspectos. Continuamos a ter de optar por combate em distância com lanças ou arco e depois em combate próximo com as armas já mencionadas. Também teremos ataques especiais, cujas técnicas vamos encontrando com runas escondidas pelo mapa, disponíveis com atalhos durante o combate. Uma novidade importante é a inclusão de uma barra de energia (stamina) que se desgasta com ataques mais exigentes ou com defesas mais fortes. Outra novidade importante é que podemos usar o escudo em paralelo com um machado ou dois machados para golpes mais rápidos.

Um dos aspectos que irão notar é que Valhalla irá muitas vezes regressar às origens desta franquia para recuperar algumas convenções. A maior delas é, de facto, a inclusão da Hidden Blade, que faz aqui o seu desejado regresso. Eivor pode, pura e simplesmente, evitar o combate directo (salvo algumas excepções que já vou mencionar), enfiar o célebre carapuço e “desaparecer” na multidão, ou simplesmente misturar-se como um comum aldeão. Isto permite-nos fazer missões de infiltração sem atrair atenções e depois usar a lâmina para assassinar guardas incautos. Há quanto tempo não tínhamos esta mecânica na série? Eivor não é um Ezio, longe disso, mas já tínhamos saudades de limpar áreas inteiras desta forma.

Para nos ajudar nesta missão de nos tornarmos um assassino silencioso, temos duas ferramentas. A mais importante é a famosa “Eagle Vision”, aqui chamada de “Odin Sight”. Tal como nos primeiros jogos, esta visão permite-nos identificar objectos de interesse mas, mais importante, a posição dos inimigos, ficando com uma silhueta vermelha. É mais uma recuperação de uma mecânica original muito útil. A outra ferramenta preciosa é Sýnin, a pega (é um pássaro, ok?) que sobrevoa o campo de batalha, dá-nos uma visão dos céus do que nos espera, podendo marcar pontos de interesse. E também age como companheiro de batalha, podendo distrair adversários ou atacá-los em nosso auxílio (via ataques especiais).

Só que nem sempre podemos usar subterfúgios para cumprir a missão. Inevitavelmente, Eivor terá de lutar abertamente com os inimigos, sejam Saxões armados com espadas e lanças, sejam outros Vikings cheios de ira. Algumas secções envolvem invasões em larga escala a fortificações e aldeias inteiras, sem esquecer os muito importantes raides que podemos fazer a povoados mais enriquecidos com as suas igrejas cheias de saque. Estes raides são, na realidade, bastante desafiantes, podendo iniciá-los pelo rio a bordo do nosso drakkar, ou infiltrando-nos no seio meio e chamando os aliados soprando um corno. São missões exigentes, sobretudo se estão num nível abaixo do recomendado, acreditem.

Desafiante mesmo, são os bosses e mini-bosses que vamos encontrando. Além das personagens da história com que nos cruzamos e teremos de desafiar, também terão diversos “guardiões” especiais de alguns locais. Como nos jogos anteriores, é um combate de atrito, onde teremos de apostar num misto de defesa e ataque pontual para prevalecer. E tal como nos raides que descrevo acima, é importante que não os desafiem se não têm o nível recomendado. Não é que não os consigam derrotar, eles é que fazem dano mais grave se o fosso de nível for assinalável. Tenham muito cuidado com os Zelotas que percorrem o mapa e vos atacam à vista. Se não têm nível suficiente, fujam para o drakkar.

Sim, temos um drakkar (“navio-dragão” ou longship) para navegar pelos muitos rios que atravessam a região. Este navio tem a particularidade de ser pequeno e rápido, pelo que será a melhor forma de explorar o vasto mapa. Não temos um grande mar cheio de ilhas como em Odyssey, um jogo impossivelmente grande para explorar por inteiro. Este é um mapa também grande mas mais confinado, o que é um ponto positivo, quanto a mim. No drakkar podemos também guerrear com arco e lança contra meliantes na margem e até descontrair um pouco da acção, navegando ao sabor do vento e ouvindo uma canção clássica ou uma história (por vezes cómica) dos marinheiros a bordo.

No que toca à estrutura, esperem mais do mesmo. Na realidade, o menu é francamente semelhante aos dois jogos anteriores, pelo que a familiaridade até ajuda. Podem alternar no menu a escolha entre missões principais e secundárias, explorar o mapa, fazer raides, procurar coleccionáveis, etc. Não há uma ordem concreta para o fazer. Contudo, gostei de ver que o jogo não nos inunda de missões às dezenas como Odyssey, algumas delas fora do nosso nível e que não devíamos abordar. Sinceramente, nunca percebi porque esse jogo não doseava a quantidade de missões, chegando mesmo a tornar-se confuso.

Também aqui temos um esquema de progressão, com uma complexa árvore de evolução, agora dedicada mais a perícia (skill). Há uma intrincada rede de vilões para combater e um enorme compêndio de histórias e tutoriais para nos ajudar. Também o inventário está de volta mais ou menos semelhante. As únicas novidades são algo subtis. A árvore de evolução é bem maior mas os bónus são menores a cada evolução. A escolha de ataques especiais tem agora um menu próprio e é dependente da nossa exploração do mapa em busca de runas. Também a personalização do navio e de outros elementos está agora confinada aos vendedores e desaparece do menu de inventário. Estas são as alterações mais evidentes, entre várias outras que certamente notarão dos jogos anteriores.

Uma vez mais, muitos dos desenlaces do jogo são dependentes de decisões nossas. Um rei deposto demonstra altivez e não quer ceder o trono facilmente. Após uma ameaça, parece quebrar e mostrar arrependimento. Executamo-lo para dar o exemplo ou exilamo-no, com o risco de um dia voltar a oferecer resistência? Que dizer do seu general que, após derrotado em combate, pede uma morte de guerreiro mas, ao mesmo tempo, não merece morrer porque o seu líder o traiu e abandonou? Algumas decisões são meramente morais, outras possuem repercussões no jogo. Poupar o general, por exemplo, dá-nos a possibilidade de “limpar” o nosso nome na lista da omnipresente ameaça dos Zelotas. Tudo tem um preço.

Outro regresso importante na jogabilidade, é algo que já não víamos desde Assassin’s Creed: Black Flag. Temos o regresso das colónia. Neste caso, temos um local onde podemos erguer uma aldeia funcional, repleta de habitações, lojas e vendedores, sendo também um local que podemos chamar de “casa”. É um autêntico hub para comprar e vender, fazer upgrades de equipamento e armas, melhorias cosméticas, entre outros bónus. Não é propriamente algo que seja importante para a jogabilidade mas é francamente recompensador pensar que a conquista tem algum valor. Erguer uma colónia usando os recursos ganhos nos raides e na exploração, dá sentido à missão de Eivor, sem dúvida.

Outros pormenores são mais ou menos interessantes neste jogo. Gostei bastante das “rap battles” estilo Viking, em que podemos desafiar eruditos das palavras em rimas (de escolha múltipla). Também gostei das várias actividades paralelas, como a caça, pesca e até concursos de bebida ou um complexo jogo de dados. Também teremos a possibilidade de formar vikings mercenários, os Jomsviking, para nos ajudar nos raides e até participar em raides de outros jogadores, dando-nos bónus por tal. E, claro, Eivor também terá tempo para procurar um flirt ou uma relação a sério no meio das suas outras conquistas. De um modo geral, este é o vosso típico Assassin’s Creed nesta sua nova era.

O que não é típico é a altura em que nos chega. Tivemos a oportunidade de o jogar onde se sentirá mais “em casa”, na recém-chegada Xbox Series X. Visualmente, este é um dos mais vistosos títulos de sempre nesta franquia. Com o seu ciclo de dia e noite, meteorologia variável, ambiente luxuriante e muito rigor na construção de cenários, tem momentos absolutamente arrebatadores, tudo com um polimento irrepreensível. Apenas notei alguns erros esporádicos nas animações, com transições estranhas de personagens, sobretudo em combate. E notei também algum “screen tear”, com o Vsync a precisar de alguma atenção. Nada de relevante, contudo. De um modo geral, o jogo proporcionou-me momentos verdadeiramente fantásticos, muito graças ao hardware, claro.

De notar que também nos foi possível testar o jogo na versão PC. Apesar do hardware ser bastante diferente da consola, o mesmo problema de Vsync não se verificou nesta versão. O que me leva a crer que será uma questão de optimização na nova consola, algo que a Ubisoft deverá abordar numa próxima actualização. À data desta análise, jogámos a versão 1.02 já com imensas correcções de assinalar. Já agora, uma interessante vantagem de jogar na versão PC e/ou Xbox Series S|X (e PS5) é que podemos transitar o progresso entre as duas plataformas pela aplicação Ubisoft Connect. Algo realmente prático e que estreia neste título.

Veredicto

O que a Ubisoft fez com Assassin’s Creed: Valhalla, foi aproveitar a chegada da nova geração de consolas e criar um épico deslumbrante com algumas novidades na jogabilidade, entre a simplificação e um maior foco no que realmente interessa. Mas, este também é um regresso a algumas ideias originais da franquia, com algumas mecânicas muito bem recuperadas e que fazem parte do ADN original desta série. No fundo, é uma boa soma de muitos pontos positivos, com algumas boas ideias adicionadas, criando um óptimo jogo de aventura, ainda por cima sobre um momento histórico tão interessante de seguir.

Skol, drengr!

  • ProdutoraUbisoft
  • EditoraUbisoft
  • Lançamento10 de Novembro 2020
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroAcção, Aventura
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algumas falhas nas animações
  • Algum "screen tear" (vsync) na versão analisada

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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