Agony Cover Art

Análise – Agony

Depois de ser notícia pelo choque que provocou em tantas pessoas, eis que Agony chega finalmente às nossas mãos. Falta saber se este jogo de terror é apenas controverso ou se consegue manter-se fiel ao que foi prometido pela produtora. 

Essa promessa era simples: tentar sobreviver aos confins do inferno, apostando no género “survival horror”. Parece que muita gente estava interessada nesta oferta, uma vez que o jogo foi financiado com a ajuda de angariação de fundos via Kickstarter. Todos os trailers revelados na sua promoção mostravam um jogo de terror interessante, com uma apresentação demente e grotesca, como se tivesse vindo directamente dos nossos piores pesadelos. Será o que muitos dos fãs deste género procuram, de facto. Fiquei mesmo curioso com o jogo, sobretudo pela sua atmosfera aterradora. Mas… parece que algo não correu bem nesta viagem macabra.

Como já adiantei, Agony leva-nos para o Inferno. Estaremos a assumir o papel de uma alma atormentada que não tem qualquer memória do seu passado. O objectivo será descobrir uma forma de escapar deste mundo tenebroso com vida. Ao explorar este ambiente hostil e ao interagir com outras almas condenadas, rapidamente percebemos que a única forma de fugir do inferno será através da mítica Red Goddess, que alguns apresentam como sendo a própria criadora do Inferno.

Conforme o jogo progride, vamos descobrindo um pouco mais sobre a nossa personagem. Eventualmente, também será dado um melhor entendimento do nosso envolvimento com a tal Red Goddess. A jogabilidade consiste em vários elementos misturados, entre o tal jogo de sobrevivência e um jogo de terror. Na teoria, isso deveria funcionar muito bem, como já vimos em muitos outros jogos do género. Na prática, porém, nenhuma das opções criativas da produção consegue despertar alguma emoção, além do tédio e do desapontamento.

Primeiro de tudo, o pedido mais comum ao longo do jogo é para coleccionar objectos. Estes vão desde caveiras, a corações que terão posteriormente de ser colocados em altares para podermos continuar a jornada. Infelizmente esta componente que nos obriga a explorar os níveis está longe de ser divertida. Isto porque cada mapa em jogo tem um design confuso, labiríntico, francamente mal iluminado (entendo que seja para dar atmosfera, mas por vezes não se vê mesmo nada) e com imensas falhas na detecção de colisões, com tantas das infames “paredes invisíveis”.

Adicionalmente, o fraco esquema de controlo só piora a frustração e a dificuldade. Principalmente porque a jogabilidade é baseada maioritariamente na acção furtiva, numa espécie de jogo de escondidas com os antagonistas. Para ser mais específico, existem territórios no jogo que estão cheios de demónios prontos para nos esventrar num ápice. Na maior parte das vezes, suster a respiração é o suficiente para sobreviver, mas também será necessário esconder-nos. É uma lógica, que funcionou em jogos como Alien: Isolation, mas que necessita de mecânicas e animações à altura. Aqui, nem sempre resulta.

A morte, contudo, não significa forçosamente o fim do jogo. Ao morrer, voltamos na forma de uma alma etérea, sendo imperativo encontrar outra alma perdida neste inferno para possuir e voltarmos ao jogo. Se não encontrarmos essa vítima rapidamente, é declarado o “Game Over” e seremos enviados para o último checkpoint. O que, muitas das vezes, significa voltar a passar uma grande parte do nível. Tendo em conta o que já mencionei, só agrava a frustração graças aos momentos de quase plena escuridão e aos controlos pouco colaborantes.

Se olharmos para o lado artístico de Agony, podemos encontrar algo positivo neste jogo. Logo nos primeiros momentos torna-se inquietante, fruto dos inúmeros e grotescos corpos nus e empalados ou das partes de corpos espalhadas pelo cenários. Já para não falar do som de pessoas a chorar e a pedir por misericórdia. Esta atmosfera inicial deixou-me arrepiado e na expectativa. Se tivermos só de avaliar o primeiro impacto do jogo, daríamos uma nota elevadíssima. Mas, obviamente, é preciso jogar mais para irmos ao cerne da sua oferta. E é aí que “a máscara cai”.

Apesar dessa arte no geral parecer visualmente impressionante, as coisas acabam por não brilhar muito bem para o lado da produtora ao nível técnico. Algumas texturas estão bem detalhadas, mas falta expressividade às personagens. Os sons arrepiam mas rapidamente se tornam repetitivos ao fim de uns minutos. No geral, o grafismo não é particularmente surpreendente. Sendo construído no venerável Unreal Engine 4, nota-se que, por motivos desconhecidos, o potencial deste motor acabou por não ser atingido. O que é irónico, dado ser um dos melhores motores gráficos dos últimos tempos.

O que mais me desapontou nesta questão do grafismo é que existe uma descontinuidade de todo o aparato aterrorizante. Aquele impacto inicial que menciono nunca é realmente aproveitado para algo mais dentro do estereótipo do terror. O tal receio inicial desvanece-se quando percebemos que o jogo só nos quer chocar e pouco mais. Depois, surgem momentos simplesmente desinteressantes, que quebram todo o ritmo do jogo. Para não falar no nível desconcertante e francamente desnecessário nível de obscenidade ao chegar aos níveis mais fundos do inferno. Não sei o que esperava, mas não era bem ver orgias com mártires, por exemplo.

Veredicto

Agony podia ter sido o melhor retrato do inferno num jogo. Podia também ser um excelente título de terror. Contudo, a realidade dos factos é bastante diferente. O jogo da Madmind Studios simplesmente não é divertido de jogar, dando-nos uma jogabilidade abstracta, previsível e bastante monótona. A nível técnico também não é particularmente memorável, nem no grafismo que tanto prometia, nem nas mecânicas de jogo que podiam ser mesmo muito melhores. Nada disto faz jus à sua direcção artística que tanto interesse despertou na sua produção. O que é uma oportunidade perdida para um projecto financiado por fãs.

  • ProdutoraMadmind Studios
  • EditoraPlayWay
  • Lançamento29 de Maio 2018
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroSurvival Horror, Terror
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Este título ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Este título ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Interacção com problemas
  • Desenho de níveis confuso
  • Monótono

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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