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Análise – Age of Empires: Definitive Edition

Não foi só este primeiro jogo, mas toda a série de jogos de estratégia em tempo real Age of Empires ficou gravada nas nossas memórias. Vinte anos depois, estamos a jogar Age of Empires: Definitive Edition, confirmando porque gastámos tantas horas no original.

Em 1997 tivemos jogos verdadeiramente fantásticos, como temos vindo a mostrar na rubrica que estreámos há umas semanas. E Age of Empires também lá está nessa colectânea, trazendo boas memórias de muitas horas a fio a jogar. A par do outro colosso de estratégia StarCraft que também chegou nesse ano, recordo-me de o jogar até à exaustão nos meus primeiros PCs. Isto, por causa da sua lógica que mistura estratégia, sobrevivência e planeamento. 20 anos depois, esta “edição definitiva” visa fazer renascer o mito sem as limitações visuais do original, aproveitando para renová-lo onde era possível e introduzindo umas pequenas novidades. Só queria que não o tornassem irreconhecível.

Ao contrário da sua concorrência nos anos 90, Age of Empires não partiu para o espaço ou para alguma guerra futurista. Estamos a acompanhar civilizações que marcaram a História da Humanidade, com os Gregos, Egípcios, Persas e tantos outros povos que, em tempos, conquistaram meio mundo. Estes povos precisam evoluir de uma simples povoação para um império, colhendo bens de sobrevivência, expandindo fronteiras e, claro, criando inteiros exércitos. O grande foco de Age of Empires sempre foi a guerra em terra ou no mar. Longe estava a guerra política de Civilization ou as batalhas de atrito de Command & Conquer. Aqui mandamos exércitos dizimar cidades inteiras. E o mesmo nos pode acontecer.

Começamos com edifícios básicos, um centro comunitário, um armazém, um celeiro, umas quantas casas de habitação e uma base de infantaria. Usamos os nossos aldeões para construir estas estruturas e para angariar madeira, pedra, ouro e alimentos. É uma corrida contra o tempo para construir tudo, evoluir tecnologias e angariar exércitos para defesa ou ataque. Eventualmente, passamos de era em era, até chegarmos à Idade do Ferro. Aí, no pináculo da evolução tecnológica, temos mais edifícios importantes, tecnologia mais evoluída, armamento mas eficaz e unidades militares mais fortes e resilientes. Contudo, não esperem facilidades, porque o adversário está a fazer exactamente o mesmo.

Um dos destaques do Age of Empires original em 1997 era a sua Inteligência Artificial. Sem qualquer intervenção nossa, vemos os jogadores artificiais a criar cidades inteiras e a fazer praticamente o mesmo que nós. Constrói, expande e combate. Organiza mesmo forças multi-disciplinares, por terra ou mar para nos enfrentar. Ergue edifícios essenciais, evolui a sua árvore de habilidades e chega mesmo a fazer de tudo para vencer a partida. Contudo, em 1997 a IA não era perfeita e parece que nada mudou nesta reedição. Continua a construir aleatoriamente, não se interessa por muros e a organização de espaço e dos exércitos é francamente desenfreada.

Vou assumir que é uma homenagem ao original, mas gostava que a IA tivesse sido mexida um pouco. Numa reedição deste calibre, não fazia mal algum dar um pouco de lógica na construção da IA. Se tiverem muitos recursos, os inimigos da IA vão construir que nem loucos, colocando edifícios espalhados pelo mapa e unidades militares exageradas em número e dispersão. E mesmo com poucos recursos, ignoram a colocação de muros ou de torres de defesa, facilitando demasiado invasões. Também enviam exércitos de forma muito faseada, mesmo tendo centenas de unidades. Se atacassem em bloco davam muita mais luta. Assim, facilitam um pouco a nossa vida, como devem imaginar.

Esta imprevisibilidade da IA também se reflecte na forma como os nossos soldados e aldeões decidem trajectos. Muitas vezes queremos que sigam um caminho de forma organizada, mas, invariavelmente, fazem o que querem, insistindo em fazer filas até aos pontos, claramente enfraquecendo os flancos. Noutras ocasiões, ficam “presos” no mapa e, ainda pior, por vezes, nem fogem de setas ou arpões dos inimigos. Também penso que era preciso melhorar a distância de activação dos nossos soldados perante inimigos. Muitas vezes só se activam já demasiado perto ou apenas em contra-ataque, o que, numa situação de invasão, torna tudo muito mais complicado de gerir.

As coisas ficam um pouco melhoradas quando jogamos as campanhas de cada civilização. Isto porque, não só os objectivos são mais focados e centralizados, mas também temos menos unidades no geral para lidar (até 50). Jogar estas campanhas pode não ser o modo mais popular deste jogo, mas servem de tutorial para entendermos as mecânicas mais ou menos básicas. Cada civilização terá os seus próprios objectivos, seja de defesa, de ataque, de conquista ou de sobrevivência. E isto ajuda, sobretudo aos recém-chegados, a entender as dinâmicas subtis entre cada fase de jogo, assim como entender as reais prioridades para vencer os objectivos.

Onde passarão mais tempo, porém, será nos jogos individuais personalizados, criando sessões como inimigos, mapa e objectivos criados no momento. Há algumas opções curiosas, como começar já com todos os itens dá árvore de evolução já disponíveis, aumentando o desafio imediato. Outro local onde vão passar bastante tempo é no editor de mapas. Aqui poderão dar largas à imaginação a criar arenas, vastos campos de batalha ou fortalezas impenetráveis. Este editor, já agora é muito semelhante ao de Age of Empires II, com todas as suas capacidades de criação. As possibilidades são quase infinitas, com ferramentas de terraplanagem e todos os edifícios e unidades das facções à disposição.

E se se fartarem muito da inteligência artificial do jogo, também podem sempre aventurar-se no online. O modo multi-jogador foi sempre onde esta série nos deu o seu maior desafio. Ter outro adversário humano a controlar uma civilização dá-nos outro tipo de prioridades e obriga-nos a uma estratégia bem mais defensiva. Também podemos optar por fazer parcerias, lutando lado-a-lado contra outros jogadores ou contra a IA. Contudo, todas as alianças são ténues e a qualquer momento o nosso império torna-se apetecível. Sem dúvida, uma excelente forma de apreciar a acção e estratégia mais profunda do jogo.

Sim, há muito para jogar, entre as campanhas, os jogos personalizados e o online. É por isto e pela sua jogabilidade fácil que o vício se instalou desde 1997, passando por duas sequelas e imensas expansões. Contudo, por detrás desta simplicidade de interacção, esconde-se uma complexa estrutura que depende de um balanço constante. Mesmo a melhor estratégia pode ser posta em causa bastando, por exemplo, que um ataque inimigo mais eficaz mate todos os aldeões. Game Over. E se o inimigo construir uma Wonder (monumento especial) e o defender durante um período de tempo. Game Over. Ou se ele angariar todas as relíquias presentes no mapa e não as conseguirmos recuperar a tempo. Game Over.

Em todos estes pormenores, o jogo permanece intacto, fiel ao original. Então onde está a justificação para o título de “edição definitiva”. Antes de mais, além das civilizações base, entre elas a Grega, Macedónia, Cartaginense, Egípcia, Persa, entre outras, temos também a civilização Romana que só foi adicionada depois como um pacote de expansão. Também no interface há algumas melhorias mais ou menos subtis. Desparece a barra gigante na parte inferior, por exemplo. O mini-mapa, os ícones de jogo, os menus no geral, também mereceram uma reorganização mais limpa e arrumada. E a integração com o Windows 10 permite um ícone especial para chamar a barra de Início. Prático.

O que saltará mais à vista em termos comparativos, porém, é o seu visual. Com esta remasterização, a Microsoft trouxe-nos uma total reconstrução de modelos e texturas, apostando também em novas animações e efeitos de arregalar os olhos. O resultado é uma melhoria considerável na qualidade geral, sem nunca perder a sua essência original. Os modelos estão mais definidos, assim como a resolução geral (agora suporta resoluções até 4K), contando ainda com algumas melhorias na iluminação global. Também a banda-sonora foi alvo de uma remasterização, com os temas originais inteiramente revistos. Tudo tem melhor aspecto, sendo, de facto, a edição definitiva deste clássico.

Infelizmente, notei uma enorme quebra de performance quando cheguei próximo das 200 unidades de combate numa das sessões personalizadas. Não sei bem se é uma limitação de gestão da memória ou algo mais profundo. Nem ao salvar, sair e voltar a entrar no jogo recarregando a sessão, pareceu resolver este problema. Não é, certamente, uma limitação do hardware, uma vez que o jogo exige muito pouco do computador e o nosso Orion cumpre e ultrapassa os requisitos e as recomendações. A produção continua a lançar actualizações e talvez esta questão venha a ser resolvida em breve.

Veredicto

Age of Empires: Definitive Edition é a revisita ideal a um clássico viciante, “cravado em pedra” na nossa memória. Na sua renovação técnica, traz-nos um grafismo e sonoridade mais polidos e também a jogabilidade foi ligeiramente aprimorada e polida, mantendo sempre a sua personalidade única. Contudo, neste seu renascimento, mantém igualmente algumas das questões da Inteligência Artificial do jogo original. Para bem e para o mal, é o mesmo jogo de 1997 com “upgrade” técnico. Os mais nostálgicos não podiam pedir mais.  Os demais talvez quisessem algo novo ou mais na linha do que e faz hoje. Aí só podem esperar por Age of Empires IV, a chegar algures no futuro. O vício, esse, está garantido.

  • ProdutoraForgotten Empires, Microsoft Studios
  • EditoraMicrosoft
  • Lançamento20 de Fevereiro 2018
  • PlataformasPC
  • GéneroEstratégia
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Inteligencia Artificial podia ter sido revista
  • Algumas questões pontuais de performance

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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