image7

Análise: Abzû

Esta foi a primeira vez que experimentei um simulador de natação. É mesmo assim que é descrito este Abzû da Giant Squid Studios. Mas não pensem que vão aprender a mergulhar com garrafa ou a fazer snorkel. Esta é uma aventura subaquática diferente. 

Em primeiro lugar, o nome. O que quer dizer Abzû? Uma busca “exaustiva” (leia-se “pesquisa no Google”) fez-me saber que se trata de uma palavra Suméria, traduzida da escrita Cuneiforme, em que ab significa “oceano” e zu significa “profundo”. Literalmente, é o nome do “Mar Primordial” na antiga religião mesopotâmica. E se acham que esta lição de História foi inútil, saibam que é importante saber isto antes de jogar este título. Da estranheza dos primeiros minutos deste jogo até à constatação que muito do que aqui se passa é uma representação religiosa da Criação (segundo os Sumérios), os desenlaces até começam a fazer algum sentido.

No momento em que mergulhamos no profundo azul e somos rodeados de gigantes baleias azuis que fitam a personagem com olhar inteligente, apercebemo-nos que esta não é uma simulação acéfala como fomos levados a crer pela descrição de “simulador de natação”. Sim, é um jogo de natação, claro, com físicas muito bem reproduzidas, ambiente subaquático de imenso rigor científico e onde nem faltam os nomes dos peixes e mamíferos que nos rodeiam ou os corais cheios de vida. Contudo, quando descobrimos um dos muitos pontos de meditação espalhados pelo fundo do mar, constatamos que este é um jogo de outro calibre.

Embora nenhuma palavra seja dita, apercebemo-nos que a nossa personagem é um ser especial com um mistério para resolver. Nos primeiros minutos de jogo, vemos que algo aconteceu na sua descida inicial ao abismo do fundo do mar, deixando-a inconsciente. Acordando à superfície, tentamos saber o que se passou por descer novamente ao fundo. Só que para o fazer, temos de vencer diversos perigos, seja com a vida marítima menos amistosa (um tubarão branco) seja por outros perigos mecânicos que “guardam” os segredos mais preciosos. A viagem, essa, é uma gigantesca epopeia de descoberta e de beleza visual, absolutamente relaxante.

Ao que parece, tendo em conta o que lemos sobre o tal “Mar Primordial” Sumério, estamos a acompanhar um pretenso processo de redescoberta da criação dos seres marítimos. Comandamos uma personagem que parece sobrenatural, ora não tenha uma estranha capacidade de respirar debaixo de água e uma estranha invencibilidade. Sim, nunca morremos neste jogo, até mesmo quando enfrentamos perigos mais destrutivos lá mais para a frente. Apenas somos convidados progredir nas diversas secções para chegar ao fundo e perceber o que aconteceu a uma civilização em ruínas com que nos cruzamos. A curiosidade acaba por tomar conta do lugar de algum engenho ou perícia.

Pelo caminho, vamos apreciar autênticos aquários gigantes, com os mais diversos ecossistemas complexos. Nadamos com golfinhos, tartarugas, tubarões e lulas gigantes em mapas cada vez mais profundos e com novos animais para conhecer e áreas para explorar. Pelo meio há alguns coleccionáveis e uns pequenos submersíveis que nos acompanham e ajudam a romper barreiras, além dos tais pontos de meditação que já mencionei e que servem para apreciar a vida animal ao nosso redor, dando-nos até o nome dos seres vivos.

A nível visual, já deu para perceber que o jogo é uma ode aos sentidos. Somos levados pelos ambientes mais coloridos com paletas de cor exageradas, claramente criadas para impressionar. Temos cardumes e cardumes de peixes, mamíferos e invertebrados das mais diversas espécies, em animações credíveis e gigantescas. Até mesmo a personagem sem nome com que jogamos possui uma graciosidade quase hipnotizante. Ao avançar na profundidade, os ambientes vão ficando cada vez menos coloridos e mais sombrios, as espécies animais cada vez mais estranhas e em menores grupos. Mas, no geral, é um jogo visualmente fantástico, onde até a banda sonora inspiradora ajuda a relaxar.

Cada secção é passada com transições, que vão desde a entrada em zonas de velocidade chamadas jetstream onde nadamos alta velocidade com os demais peixes, até descidas suaves ao azul profundo. Todas estas secções são incrivelmente bem feitas e cheias de animações e pormenores que poderiam figurar num daqueles programas da National Geographic. Pelo meio, chegamos a algumas áreas em que tudo está destruído e desprovido de vida. Aí, entramos em misteriosos templos invertidos em que só temos de activar uma bola flutuante de modo a devolver vida à secção. E é tudo em termos de variedade.

Minutos depois de apreciar esta beleza natural e a incrível mecânica da natação, é inevitável chegar a um ponto de aborrecimento. Não está em causa qualquer questão técnica, mas há aqui algumas reticências na lógica de progressão. É notória a inspiração em jogos como Journey ou Flower que também sofrem do mesmo problema da “imortalidade” das personagens, não havendo um desafio real. No entanto, em Abzû a questão que me desaponta é que não temos o mesmo sentimento de missão como temos nos jogos em que se inspira. Exploramos, nadamos, seguimos pelos tais jetstreams, abrimos cavernas, exploramos mais um pouco, mas… tudo aponta para um rumo pré-definido e inevitável. A única variância real está nas áreas distintas que encontramos.

Sim, temos alguns pequenos puzzles simples, por exemplo para passar determinadas áreas em que é preciso abrir portões. No entanto, tirando alguma necessidade de explorar antes de agir, nenhum destes puzzles é realmente complexo ou difícil de resolver. Haverão secções mais lá para a frente no jogo em que temos de usar toda a nossa destreza com os comandos (entre nadar e olhar em volta) para evitar armadilhas mas, dado que não morremos nunca, podemos sempre escolher avançar sem receio que, apesar de uns tombos, não sofremos pela impetuosidade.

Veredicto

Abzû não é bem um jogo. É uma experiência visual interactiva que vai agradar tanto aos que procuram jogos pela experiência espiritual ou emocional, como os amantes da biologia submarina. É como uma enorme pintura em movimento, que capta bem a beleza da vida subaquática. Contudo, quando o jogo pretende dar-nos a entender que estamos a ter um papel importante num enredo maior, falha em dar-nos um objectivo claro ou em oferecer algum desafio real. No fundo, é a viagem e não o destino. Coloquem as barbatanas, procurem uma estátua de um tubarão em pedra e meditem. Vão poupar imenso dinheiro num aquário lá em casa…

  • ProdutoraGiant Squid Studios
  • Editora505 Games
  • Lançamento2 de Agosto 2016
  • PlataformasPC, PS4
  • GéneroAventura Gráfica
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Enredo algo acessório
  • Ausência de real desafio

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários