1945Alcatraz-WASD

Análise: 1954: Alcatraz (PC)

Conseguimos contar com os dedos da mão os poucos jogos que exploram os anos 50, uma época em que o mundo tinha acabado de recuperar da segunda guerra mundial,  a televisão tinha invadido todo o tempo livre do cidadão comum, partidos comunistas e capitalistas chocavam pela supremacia politica. Ao mesmo tempo iniciava-se a consciencialização da nova ameaça nuclear que inevitavelmente despoletou a guerra fria (não se podem queixar que não vos dou lições de história).

São Franscisco mais propriamente Alcatraz é um dos cenários peculiares e o foco desta aventura point n’click dos criadores da saga Deponia, a Daedalic Entertainment. Apesar de ser conhecida por ter reacendido um pouco a chama do género através da sua forte apresentação gráfica e diálogos cómicos, inspirando-se nos clássicos da Lucas Arts, decidiu nesta nova aposta seguir um tema mais sério.

Joe é preso por ser o motorista de um assalto à mão armada e por não serem encontrados os restantes assaltantes, acaba por ser considerado o principal culpado do crime. A sua mulher Christine, ao visitar Joe, esclarece que membros da Máfia desconfiam do desfecho do assalto e do verdadeiro paradeiro do dinheiro, ameaçando-a assim para pressionar Joe para contar a verdade ou pagar o que deve até ao final do mês.

A premissa não é nada demais, mas a atmosfera criada está bem assente no verdadeiro espírito da época e isso beneficia muito o enredo, alimentando a contextualização das personagens para com os desafios colocados ao jogador. Contudo senti uma enorme ausência de verdadeiro perigo para com as ameaças dos antagonistas, visto que todo o jogo se desenrola em 2 ou 3 dias, quando o prazo da ameaça seria até ao fim do mês, eu sei que pode parecer relativo mas esta situação anula o sentimento de urgência e de preocupação para com o destino dos protagonistas.

A apresentação de 1954: Alcatraz, pode ser um pouco difícil de digerir, pela sua incoerência gráfica. Por vezes deslumbra-nos com fantásticos cenários detalhados desenhados à mão que evocam dramatismo, contrastando com outros que nem parecem ser do mesmo jogo por não manter o mesmo nível de qualidade. Sente-se um sabor amargo e acaba por penalizar a apresentação por dar a entender que alguns locais foram menos pensados que outros ou então apressados na sua criação.

Outro factor penalizador é a escolha de integração dos modelos 3D sobre cenários 2D, embora tenhamos visto esta técnica bem aplicada em jogos como o recente Broken Sword. Contudo, a decisão de manter este estilo perante uma fraca execução é que foi má. Ainda assim, quero esclarecer que não está horrendo mas as animações demasiado mecânicas das personagens também não ajudam. Por outro lado, na maior parte do tempo os fantásticos cenários 2D cumprem a sua função de criar a atmosfera certa. Como por exemplo perspectivando ângulos claustrofóbicos dentro de Alcatraz com Joe e cenários amplos e melancólicos quando jogamos com Christine.

O jogador pode alternar entre Joe e Christine em qualquer altura, dando assim ao jogador a hipótese (ás vezes o placebo) de poder ver as coisas de outra maneira de forma a esquematizar a nossa linha de pensamento. Basicamente quando estamos entalados com uma personagem temos a ideia que podemos avançar com a outra. O que torna esta mecânica mais interessante é que ao longo do jogo o jogador tem escolhas a fazer que irão afectar o relacionamento entre o casal. Por exemplo, podemos optar por aprofundar uma pesquisa de rumores que Joe teve no passado enquanto estivermos a jogar com Christine, ou então ceder à tentação de uma outra rapariga enquanto jogamos com Joe. Estas escolhas são parte do que faz 1954: Alcatraz destacar-se acima de outros jogos de aventura point n’click, onde o desenvolvimento das personagens é regra de ouro, ao podermos influenciar o relacionamento das personagens principais levando assim a diferentes comportamentos e conclusões.

Quanto aos puzzles, é refrescante testemunhar um jogo desde género que apresenta múltiplas soluções para o mesmo puzzle. Não é nada de inovador, mas raro pelo menos. Infelizmente, muitos dos puzzles que permitem estas variantes não têm qualquer impacto sobre a forma como o jogo se desenvolve e poderiam definir um novo trajecto no jogo, como por exemplo acontece em Indiana Jones and The Fate of Atlantis que foi dos poucos jogos do género a usar esse esquema elaborado na perfeição.

Contudo, existe alguma satisfação na possibilidade de escolha de resolução dos puzzles mas que não é evidenciada da forma que estamos à espera. Outra ideia original é que alguns destes puzzles são completamente opcionais, dando largas ao jogador a possibilidade de aprofundar ainda mais algum tema que lhe tenha interessado e explorá-lo.

O design de som é bem sucedido com um trabalho de voz sólido. Cada individuo apresenta um timbre distinto que se encaixa perfeitamente na personagem, algumas mais caricatas que outras mas fazendo parte, ajudando assim a destoar um pouco de toda a atmosfera noire. Tudo isto complementado pela música dos anos 50, com o uso de jazz e blues que ajudam imenso a solidificar todo o período histórico onde decorre a aventura.

VEREDICTO

Nota-se que 1954: Alcatraz tentou ser ambicioso dentro do possível, abordando mecânicas de jogo fora do comum no género. Infelizmente, não se destacou em nenhuma exceptuando a época histórica, conseguindo assim recriar uma excelente atmosfera com a ajuda de um bom elenco e direcção de arte. Pese também aqui uma qualidade irregular com as más animações e fraca implementação dos modelos 3D nos cenários, quebrando a humanização das personagens com as quais nos poderíamos identificar. Aconselho esta aventura aos fãs do género pelos seus toques de originalidade.

  • ProdutoraDaedalic Entertainment
  • EditoraDaedalic Entertainment
  • Lançamento11 de Março 2014
  • PlataformasPC
  • GéneroAventura, Puzzle
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Poucas repercurssões nas escolhas
  • Fraca integração entre 3D/2D

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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